top of page

#92 - Aileen Wuornos, a Dama da Morte | SERIAL KILLER

Foto do escritor: Rodolfo BrennerRodolfo Brenner

Entre 1989 e 1990, 7 homens foram mortos a tiros e tiveram seus carros roubados na Flórida. O caso ganha o mundo quando a polícia prende uma única mulher pelos crimes, que viria a ser conhecida como a mais famosa assassina em série da história.


Essa é a versão escrita do episódio #92 - Aileen Wuornos, a Dama da Morte.



Aileen Carol Pittman nasceu em 29/02/1956 em Rochester, no estado do Michigan. Ela era filha de Diane Wuornos e Leo Pittman, que se casaram quando ele tinha 18 anos e ela tinha apenas 14. Um ano antes, em 14/03/1955, Diane deu à luz ao irmão mais velho de Aileen, Keith. Nessa época do casamento de Diane e Leo já não ia bem, e dois meses antes dela nascer, eles se divorciaram. Em 1960, Diane decidiu deixar Keith e Aileen com os avós, Lauri e Britta Wuornos, que adotaram legalmente os dois depois de alguns meses. Como eles não tinham tantas lembranças da mãe, os avós decidiram dizer que eles eram os seus pais biológicos e que seus tios, irmãos da Diane, eram seus irmãos.

A vida na casa dos avós não era fácil: ambos eram alcoólatras e o avô era muito violento, agredindo os netos com castigos físicos e abusos psicológicos, como dizer que eles não prestavam ou que não valiam nada.- Segundo o que Aileen conta na biografia “Monster: My True Story”, escrita pelo autor Christopher Barry-Dee, a vida sexual dela começou muito cedo, com o próprio irmão Keith. Dizem até que o avô teria pego os dois em atos sexuais e teria dado uma surra em ambos.


Aileen com 8 anos


Aos 11 anos e já “acostumada” com o sexo, Aileen começou a usa-lo como moeda de troca com os meninos da sua escola, pedindo cigarro drogas e até comida como pagamento. Foi nessa época que ela descobriu que seus pais eram na realidade seus avós, e isso trouxe uma revolta muito grande, e ela passou a ser muito mais agressiva com todos a sua volta. Ela também passou a beber muito, chegando a ficar inconsciente algumas vezes. Em 1969, o Leo, pai da Aileen, estava cumprindo pena pelo sequestro e estupro de uma menina de 7 anos, quando ele cometeu suicídio na prisão. Dizem que ele tinha um histórico de esquizofrenia e já estava mal há algum tempo. Ele nunca teve qualquer tipo de contato com o Keith ou a Aileen.

Em 1970, aos 14 anos, ela engravidou após ser estuprada por um amigo da família, que teria feito isso com o consentimento do avô. Quando a família já não podia esconder a gravidez, ela foi enviada para dar à luz em um lar para mães solteiras no começo de 1971, e a criança foi colocada para adoção. Após voltar para casa, Aileen decidiu abandonar a escola por ter perdido boa parte do último ano escolar. Nessa mesma época, sua avó, que era uma das poucas pessoas com quem ela era próxima, acabou morrendo de insuficiência hepática. Quando Aileen fez 15 anos, seu avô a expulsou de casa, e ela foi obrigada a dormir em uma floresta que ficava próximo dessa sua antiga moradia e recorreu a prostituição para conseguir sobreviver.


Foto da prisão de Leo Pittman, pai biológico da Aileen


Em maio de 1974, aos 18 anos, Aileen foi presa pela primeira vez: ela estava no Condado de Jefferson, no Colorado, quando foi parada por dirigir sob influência de álcool e má conduta. Segundo testemunhas, ela teria se envolvido em uma briga com um cliente e disparado com uma pistola calibre 22 contra o seu carro.

Em 1976, Aileen pegou carona até a Flórida, e foi lá que ela conheceu o Lewis Gratz Fell, de 69 anos, um milionário que era presidente de um iate clube. Os dois começaram um relacionamento e resolveram se casar pouco tempo depois, e como o Lewis era importante, saíram até notícias do casamento em alguns jornais locais. Entretanto, a felicidade durou só 9 semanas, já que o comportamento destrutivo e violento da Aileen acabou afetando o casamento: ela se envolveu em diversas brigas de bar e o Lewis, por mais de uma vez, precisou pagar fiança para retirar ela da prisão. O final definitivo veio quando ela agrediu o Lewis com a bengala que ele usava, e ele conseguiu uma ordem de restrição contra ela.


Aileen e Lewis: o casamento durou apenas 9 semanas


Em julho de 1976, Aileen voltou para o Michigan para morar com o irmão Keith e buscar uma nova vida, mas poucos dias depois ela foi presa novamente por agressão, depois de ter atirado uma bola de sinuca na cabeça de um garçom em um bar. Para piorar, no mesmo mês, seu irmão morreu de um câncer de esôfago. Ela ficou abalada emocionalmente, mas ficou surpresa quando descobriu que o Keith tinha deixado um seguro de vida no valor de US$ 10.000 e colocado ela como beneficiária. Sem nenhum controle, ela gastou todo o dinheiro em apenas dois meses, incluindo um carro novo que ela destruiu em um acidente.

Nessa época a Aileen já era conhecida pela cidade por conta do seu histórico de agressão, principalmente depois de se embriagar. Em 1978, aos 22 anos, ela tentou suicídio atirando no próprio estômago, mas sobreviveu. Essa já era sua sexta tentativa de suicídio, sendo que a primeira tinha sido aos 14 anos. Na década de 80, a Aileen decidiu voltar para a Flórida e passou anos entrando e saindo da cadeia: em maio de 1981, ela foi presa na cidade de Edgewater por assaltar uma loja de conveniência; em maio de 1984 foi por tentar passar cheques falsificados em um banco em Key West; em janeiro de 1986 foi por roubo de carro em Miami; e em 1986 foi por roubar US$ 200 de um homem que ela estava saindo na época. Em todo o período ela continuava trabalhando como prostituta.

Em 1986, a Aileen conheceu uma mulher chamada Tyria Moore em um bar em Daytona Beach. As duas acabaram entrando em um relacionamento e indo morar juntas pouco tempo depois. Um ano depois, em 1987, a polícia de Daytona Beach prendeu as duas por agressão após elas se envolverem em uma briga de bar.


Tyria Moore


No final da década de 80, o trabalho como prostituta já não ia tão bem assim: muitos clientes que eram mais frequentes e tinham vidas mais estáveis foram chamados para servir na Guerra do Golfo, sobrando apenas os clientes que ela não gostava de atender: homens mais problemáticos e violentos, muitas vezes eram alcoólatras ou viciados em drogas.

No dia 30 de novembro de 1989, a Aileen foi oferecer seus serviços na Rodovia 65, onde ela geralmente ficava. Naquela manhã ela tinha brigado com a Tyria por telefone, o que tinha deixado a Aileen muito irritada. Ela ficou um tempo na rodovia até ela ser chamada por um homem chamado Richard Mallory, de 51 anos. Não se sabe exatamente o que aconteceu, já que a própria Aileen deu versões diferentes ao longo do tempo, mas a versão mais contada é que o Richard ofereceu dinheiro para ela e os dois foram para uma área afastada perto de Orlando. Lá ele teria ficado violento e tentado estuprá-la, e foi quando ela conseguiu sair do veículo e pegar um revólver que ela levava na bolsa. Ele então teria ido para cima dela, e foi quando a Aileen deu 5 tiros no Richard: 1 pegou no braço e 4 foram direto no peito.

Após averiguar que o Richard realmente tinha morrido, a Aileen roubou o dinheiro na sua carteira, algumas roupas e objetos de valor e foi embora com o seu carro. Quando a Tyria voltou do trabalho a noite, ela contou o que tinha acontecido e disse que tinha escondido o carro do Richard no meio do mato- O carro dele foi encontrado alguns dias depois, mas o seu corpo só foi achado no dia 13 de dezembro. Após ser identificado, a polícia descobriu que o Richard tinha um histórico de violência sexual, inclusive ele já tinha sido preso no estado de Maryland por conta desses crimes.


Richard Mallory


A próxima vítima foi em maio de 1990: um homem chamado David Spears, de 47 anos, deu carona para Aileen até o Condado de Citrus. Segundo o que ela contou, os dois estavam se beijando na traseira da caminhonete dele, quando o David começou a ser violento e tentou introduzir um cano de chumbo na sua genitália. Ela correu para dentro do carro, pegou a sua arma e atirou seis vezes nele. O corpo foi encontrado no dia 01/06/1990, sem roupas.

No dia 31/05/1990, a Aileen fez mais uma vítima: um homem Charles Carskaddon, de 40 anos, que trabalhava em um rodeiro. Aileen pegou carona com ele, mas os dois teriam se desentendido e o Charles teria ameaçado ela com uma arma. Ela então pegou a sua pistola calibre .22 e atirou por trás do banco do motorista 7 vezes, e depois mais 2 vezes para garantir que ele estava morto. Seu corpo foi encontrado no dia 06/06/1990, no condado de Pasco. Foi a partir do caso do Charles que a polícia começou a ligar os casos: todos os corpos eram de homens, na média de 40 a 50 anos, que tinham sido baleados com o mesmo calibre e encontrados em áreas de mata.

Como a Aileen não era cuidadosa com seus crimes, ela e a Tyria foram vistas andando com o carro do Charles Carskaddon, e essa informação chegou tanto na polícia quanto nos jornais, que passaram a chamar as duas mulheres de “anjos da morte”. Os noticiários alertaram que elas supostamente pediam carona na estrada para depois assaltar e matar o motorista, só que essa informação não era 100% correta, já que a Tyria nunca participou de nenhum assassinato da Aileen.


David Spears e Charles Carskaddon


No final de junho de 1990, Peter Siems, um aposentado de 65 anos, deu carona para Aileen próximo da cidade de Jupiter, na Flórida. Os dois foram para o estado da Georgia e combinaram de ter relações sexuais, mas acabaram brigando, a Aileen atirou nele e fugiu com o carro. Peter ficou mais de um mês desaparecido, e a polícia não tinha nenhuma pista do seu caso, até que em 04/07/1990, a Aileen e a Tyria estavam dirigindo o carro roubado quando elas sofreram um acidente. Elas até tentaram voltar para a pista, porém, um dos pneus estava furado.

Um motorista que passava pelo local perguntou se as duas precisavam de ajuda, elas disseram que não, mas a Aileen pediu carona para ele. Como esse motorista percebeu que ela estava muito bêbada e lembrou daquela história das supostas mulheres que estavam pedindo carona para roubar os motoristas, ele achou melhor não levá-las, e quando ele recusou, a Aileen ficou descontrolada e o motorista fugiu, mas avisou a polícia.- As autoridades foram até o local e entrevistaram algumas pessoas que tinham visto o acidente ou as duas mulheres pedindo carona por ali e fizeram um retrato falado. O carro foi encontrado posteriormente e a perícia achou uma impressão palmar da Aileen na maçaneta da porta. Peter foi a única vítima da Aileen que nunca teve o corpo encontrado.

No mês de agosto, a Aileen fez mais uma vítima: o vendedor Troy Eugene Burress, de 50 anos. Ele morava em Ocala, na Flórida, e foi dado como desaparecido no dia 31/07/1990. Segundo o que a Aileen confessou posteriormente, ela estava fazendo um programa com ele quando o Troy tirou uma nota de US$ 10 do bolso, jogou nela dizendo que aquilo era só o que ela merecia, e em seguida partindo violentamente para cima dela enquanto xingava ela de puta. Os dois brigaram, mas Aileen conseguiu pegar a sua arma e atirou nele. Quando o Troy tentou correr, ela atirou mais uma vez. O seu corpo foi encontrado no dia 04/08/1990.


Peter Siems e Troy Eugene Burress


Em setembro de 1990, um engenheiro aeroespacial chamado Curtis Reid avisou sua irmã, Linda, que iria até a cidade de Cocoa Beach para uma consulta médica e para visitar um amigo, mas os seus colegas começaram a achar estranho quando ele faltou vários dias seguidos no trabalho. O seu carro foi encontrado em Orlando dois meses depois. Rapidamente esse caso foi ligado com os outros que estavam acontecendo na mesma época. Depois de ter sido presa, Aileen foi perguntada sobre o Curtis, mas ela disse que não sabia de nada.

E realmente ela não sabia, porque em 1992 ele foi encontrado vivo em Las Vegas: na época, ele recorreu de uma multa, e quando foi ao tribunal, o juiz inseriu seu nome no banco de dados e constatou que ele já estava desaparecido fazia dois anos. Segundo o que foi apurado na época, Curtis teria feito isso porque estaria com raiva da sua família, que interferia muito na sua vida. A família negou, dizendo que só se preocupava com ele, pois seu estado de saúde era muito frágil: recentemente ele tinha sofrido uma queda do telhado do Centro Espacial onde ele trabalhava, além de uma parada cardíaca. Quem não ficou nem um pouco feliz de ver o Curtis vivo foi a polícia de Titusville, que tinha gastado mais de 240 horas e muitos recursos procurando ele. Inclusive o detetive Dan Carter disse que Curtis teria que pagar pelos custos da investigação.

No dia 11/09/1990, Aileen assassinou Charles Humphreys, de 56 anos. Ele era aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos e também tinha sido investigador e chefe de polícia. A esposa do Charles relatou o seu desaparecimento depois que ele não voltou pra casa. O corpo dele foi encontrado no dia seguinte, e a causa da morte foram 7 tiros que ele tinha levado na região da cabeça e do torso. Em novembro, já fazia quase um ano que a Aileen estava agindo naquela região da Flórida. No dia 17/11/1990, a Aileen fez sua última vítima: o caminhoneiro e oficial da reserva Walter Antonio, de 61 anos. O seu corpo foi encontrado dois dias depois, no Condado de Dixie, e foi constatado que ele tinha levado 5 tiros. Aileen roubou o carro e também um anel de diamante que o Walter tinha ganhado da sua noiva, que ela posteriormente deu para a Tyria.

Tyria já estava cansada daquela vida que ela estava levando ao lado da Aileen: elas não tinham residência fixa, a Aileen continuava se prostituindo e o retrato falado das duas continuava sendo exibido. Em uma noite, quando estava sozinha no quarto de hotel, a Tyria viu uma nova reportagem sobre os crimes da Aileen, decidiu terminar o relacionamento e voltar para a cidade natal dela na Pensilvânia. A Aileen ficou triste, mas seguiu com a vida de prostituição e brigas de bar que ela tinha.


Charles Humphreys e Walter Antonio


Enquanto isso, a polícia continuava investigando as ligações entre os casos: uma pista levou eles até um homem que disse ter alugado um motorhome para duas mulheres cujas descrições batiam com os retratos falados. Esse homem tinha anotado o nome completo das duas, mas só a Tyria Moore tinha dado o nome real. Com a ajuda da família das vítimas, as autoridades conseguiram rastrear alguns pertencer que a Aileen tinha penhorado ou vendido, porém, como ela tinha usado vários nomes falsos, foi difícil achar uma conexão entre todos eles. O que esses pertences tinham de mais importante eram as digitais da Aileen, que foram comparadas com as que foram encontradas nos carros, e elas batiam. Quando a polícia jogou no sistema, chegou finalmente em um nome: Aileen Wuornos.

No dia 09/01/1991, policiais fizeram uma tocaia na região de Daytona Beach e conseguiram prender a Aileen em um bar chamado The Last Resort. Enquanto isso, a Tyria foi localizada e aceitou fazer um acordo: ajudar a extrair uma confissão da ex namorada em troca de não ser acusada como cúmplice dos assassinatos.- Tyria foi colocada em um hotel e, sob orientação policial, passou a ligar para a Aileen implorando para que ela admitisse a culpa. No início a Aileen relutou, até desconfiou que as ligações estavam grampeadas, mas 3 dias depois ela confessou os assassinatos, porém, sempre alegando legítima defesa.


Bar onde Aileen foi presa


No dia 14/01/1992, começou o julgamento da Aileen pelo assassinato da primeira vítima, o Richard Mallory. A promotoria decidiu fazer algo raro: comentar sobre os outros crimes da Aileen, algo que é muito incomum, mas que serviu de base para, segundo eles, mostrar os padrões de comportamento da acusada. Várias pessoas deram depoimentos, incluindo a Tyria. Quando a agora ex namorada depôs, a Aileen chorou muito.

A defesa solicitou uma avaliação psiquiátrica, e a Aileen foi diagnosticada com dois transtornos de personalidade: Borderline e Antissocial. O transtorno Borderline é caracterizado por uma instabilidade muito grande, em que a pessoa apresenta episódios intensos de alegria, raiva, tristeza ou medo, geralmente são pessoas impulsivas, ansiosas e que acabam dependendo emocionalmente das outras. Já no transtorno Antissocial, a maior característica é a falta de empatia e excesso de agressividade, de mentiras e de manipulação, e são pessoas propensas a terem dificuldade em seguir regras e se enquadrarem socialmente.

O advogado da Aileen tentou mostrar que o Richard tinha um longo histórico de condenações por crimes sexuais, chegando inclusive a ficar internado por 8 anos para tratamento após diversas acusações de agressão e estupro. Segundo os registros da unidade, Richard Mallory “possuía fortes tendências sociopatas”. O juiz não aceitou que esse histórico fosse usado como evidência, e no dia 27/01/1992, a Aileen Wuornos foi condenada e sentenciada a pena de morte. No dia 31/03/1992, ao ser perguntada em tribunal sobre as suas outras vítimas, a Aileen fez uma declaração: “Eu queria confessar a vocês que Richard Mallory me estuprou violentamente, mas esses outros não fizeram o mesmo, eles apenas começaram a fazer isso”.

Até fevereiro de 1993, a Aileen foi julgada pelas mortes das suas outras vítimas, com exceção do Peter Siems, que nunca teve o corpo encontrado. No total, ela recebeu 6 penas de morte. Do tempo em que passou entre julgamentos, a Aileen foi se tornando uma figura peculiar entre os juristas e a população da Flórida: o fato dela ter sido condenada a mais de uma a pena de morte, segundo ela, era um desperdício de dinheiro público, já que ela só poderia morrer uma única vez. Quando ela terminou de ouvir a última sentença, ela disse: “Obrigado, eu vou estar lá em cima no Paraíso enquanto vocês apodrecem no inferno”.


Aileen chorando durante seu julgamento


Enquanto estava presa, o diretor Nick Broomfield começou a gravar um documentário intitulado “Aileen Wuornos: The Selling of a Serial Killer”. A ideia dele era contar a história da Aileen após a prisão, e de como a imagem dela mudava perante o público: hora ela era uma serial killer implacável que odiava homens, hora era uma vítima de todos os maus tratos que ela sofreu durante a vida. Quem também estava muito interessado na história da Aileen eram os produtores de Hollywood, que queriam fazer um filme sobre a “Dama da Morte”. Inclusive houve um escândalo quando alguns policiais foram acusados de vender informações do julgamento. Eles foram afastados, mas até onde se sabe, ninguém foi julgado por isso.

Junto com isso, aconteceu uma das coisas mais inesperadas que poderia ter acontecido na vida da Aileen: ela foi adotada por uma mulher chamada Arlene Pralle. Arlene contou em entrevistas que teve uma revelação em que Deus tinha dito que essa adoção seria uma forma de salvar a Aileen e de colocar ela no caminho de Cristo. Arlene começou a trocar correspondências com a Aileen, até que o processo de adoção fosse finalizado. Posteriormente, a Aileen contou que se arrependeu dessa aproximação, porque a Arlene queria apenas o dinheiro do documentário, já que a sua participação, assim como a do seu advogado, tinham sido pagas.


Arlene Pralle, a mulher que adotou Aileen


Aileen Wuornos ficou no corredor da morte para mulheres da Instituição Correcional Broward, e depois transferida para a Prisão Estadual da Flórida para execução. Ela tentou algumas apelações, inclusive a Suprema Corte dos Estados Unidos, mas todas foram negadas. Em 2001, ela declarou que gostaria de demitir seu advogado e encerrar todos os recursos pendentes: ela estava cansada de todo aquele processo e queria pagar pelos seus crimes.

Apesar de ter sido avaliada várias vezes e ser declarada como uma pessoa apta, a equipe de advogados da Aileen insistia em alegar que ela não era mentalmente sã, o que ia de desencontro com o que a própria Aileen dizia: “Eu matei aqueles homens, sou tão fria quanto gelo, não há chance de me manter viva ou algo assim, porque eu mataria de novo. Eu tenho ódio rastejando pelo meu corpo”. Porém, com o passar do tempo, parecia que a saúde mental da Aileen estava se deteriorando: em 2002, ela passou a acusar os trabalhadores da prisão de cuspir ou colocar sujeira na sua comida. Segundo ela “Estão tentando me levar ao limite para que eu acabasse cometendo suicídio antes da execução". O estado da cela da Aileen também entrou em debate: segundo ela, além dos problemas com a comida, ela sofria ameaças constantes, revistas íntimas, falta de água, mofo e violência psicológica, tanto que ela passou a recusar se alimentar ou tomar banho quando alguns policiais estavam no local. Um dos seus advogados disse: “A Sra. Wuornos realmente só quer ter um tratamento adequado, um tratamento humano até o dia em que for executada”.

A execução da Aileen ocorreu no dia 09/10/2002: foi oferecida para ela uma última refeição, mas ela recusou e pediu apenas uma xícara de café. Suas últimas palavras foram: “Eu gostaria de dizer que eu estou navegando com Jesus, e eu voltarei como no filme Independence Day, com Jesus, no dia 6 de Junho. Como no filme, grande nave-mãe e tudo. Eu voltarei”. Ela morreu às 9h47, via injeção letal. Após sua morte, seu corpo foi cremado e as cinzas foram dadas para sua amiga de infância, Dawn Botkins, que espalhou embaixo de uma árvore na sua propriedade no Michigan.


Aileen Wuornos posa antes da sua execução


Diferente de outros casos de serial killer, parecia que ninguém estava levando a sério o fato de que uma mulher estaria cometendo aqueles crimes, e isso é estatístico: de cada 7 assassinos em série, 1 é mulher. Além disso, as mulheres serial killers costumam matar pessoas conhecidas e familiares. 50% das assassinas em série são do tipo “Viúva Negra”, que matam seus maridos e até filhos por questões de ganho financeiro, como seguros de vida. Esse é o caso da Belle Gunnes, que nós contamos no episódio #32. Outras 40% se incluem nas chamadas “Anjas da Morte”, que são profissionais de saúde que costumam matar por uma questão de poder e controle da vida e da morte. Recentemente o caso da enfermeira Lucy Letby chamou a atenção do mundo: ela foi condenada pela morte de 7 bebês no Reino Unido.

Em ambos os casos, essas assassinas preferem usar o envenenamento como o principal método. Isso faz com que elas sejam mais difíceis de serem percebidas, uma vez que o veneno só costuma aparecer em uma necropsia se for feito um exame específico para ele. Além disso, como o hospital já é um lugar em que pessoas costumam falecer, demora um tempo significativo até que os casos sejam conectados. Aileen Wuornos é um tipo raro de serial killer feminina: além de usar uma arma de fogo como método, ela matava alegando autodefesa, e mesmo assim roubava as suas vítimas. Talvez seja por isso que ela seja tão lembrada como “a primeira serial killer feminina dos Estados Unidos”, mesmo ela não sendo oficialmente.

Além do documentário, a vida da Aileen Wuornos foi mostrada em vários especiais para televisão, podcasts e web séries. Porém, a principal mídia sobre ela é o filme Monster, de 2003, com a Charlize Theron como a Aileen e a Christina Ricci como a Tyria. A performance da Charlize Theron foi muito elogiada, principalmente por conta da sua transformação corporal e maquiagem para a personagem, e ela ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor atriz no ano seguinte.


Charlize Theron ganhou o Oscar com a sua performance como Aileen Wuornos


• FONTES: UPI, Monster: My True Story, DSM-V, Aileen: Life and Death of a Serial Killer, A&E, Superinteressante, The Facts, Biography.

9 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page