#105 - Dennis Rader, o BTK | SERIAL KILLER
- Rodolfo Brenner
- 9 de nov.
- 28 min de leitura
Pai de família, trabalhador e com um cargo importante na sua igreja: essa era a vida tranquila que Dennis Rader aparentava viver. O que ninguém sabia é que, atrás dessa máscara de homem simples, ele escondia sua verdadeira face, a de um assassino cruel, que tinha prazer em torturar suas vítimas e se gabar dos seus crimes para a polícia.
Essa é a versão escrita do episódio #105 - Dennis Rader, o BTK.

Dennis Lynn Rader nasceu em 09/03/1945 na pequena cidade de Pittsburg, que fica no sudeste do Kansas. Ele era o filho mais velho do casal William Rader, um ex-fuzileiro naval, e da Dorothea Cook, que trabalhava como contadora, e tinha mais 4 irmãos. A família frequentava a Igreja Luterana e eram bastante religiosos. Segundo entrevistas do próprio Dennis, os pais eram rigorosos com a educação dos filhos, mas nunca chegaram ao ponto de serem abusivos. Posteriormente a família se mudou para Wichita, a maior cidade do Kansas, e como os pais trabalhavam muito, acabavam deixando os irmãos mais novos aos cuidados do Dennis.
Desde muito jovem, Dennis já tinha fantasias sexuais sobre prender, torturar e estuprar mulheres, algo que foi incluindo no seu modus operandi quando ele começou a matar. Ele também foi pego mais de uma vez torturando animais, um sinal clássico de transtorno de conduta em crianças. Além disso, ele também saía à noite para espionar as suas vizinhas pela janela e roubar as suas roupas íntimas. Ele estudou na Wichita Heights High School e foi descrito como totalmente invisível, uma vez que não praticava nenhum esporte e nem fazia parte de nenhuma atividade extra. Na mesma época, Dennis trabalhava meio-período como estoquista no mesmo mercado em que sua mãe trabalhava como contadora. Ele se formou em 1963 e entrou na Universidade Wesleyan do Kansas, mas desistiu do curso por conta das notas baixas.

Wichita, Kansas
Em 1966, Dennis ingressou na Força Aérea, morando temporariamente no Texas e no Alabama e trabalhando como especialista em manutenção. Ele foi transferido para o Japão, onde trabalhou nas bases aéreas de Okinawa e de Tóquio, e posteriormente serviu na Guerra do Vietnã. Dennis era bastante querido dentro da Força Aérea, chegando a ganhar medalhas por boa conduta, pontaria e ajuda na defesa do país. Ele chegou até a patente de sargento e foi dispensado em agosto de 1970. Um ano após sua dispensa, Dennis comprou uma casa no subúrbio de Park City, ao norte de Wichita. Em maio de 1971, ele se casou com a secretária Paula Dietz e teve dois filhos, Kerri e Brian. Ele decidiu voltar a estudar e obteve um diploma em engenharia eletrônica no Butler County Community College em 1973. Após isso ele foi para a Wichita State University e se formou em ciências em 1979.
Enquanto estudava, ele trabalhou em alguns locais diferentes, mas seu maior tempo de carreira foi entre 1974 a 1988 na ADT Security Services. Quem conhecia Dennis no trabalho disse que ele era “certinho” até demais, repreendendo seus colegas por qualquer deslize que eles cometiam. Ou seja, ninguém sabia que, durante todo esse tempo, o homem trabalhador e que frequentava a igreja era na verdade um serial killer.

Dennis com sua filha, Kerri
A família Otero era composta pelo pai, Joseph (38), a mãe, Julie (33) e os filhos Charlie (15), Danny (14), Carmen (13), Josie (11) e Joey (9), além de um cachorro chamado Lucky. Eles eram imigrantes de Porto Rico e recentemente tinham se mudado de Camden, em Nova Jersey, para Wichita. Joseph era sargento reformado da força aérea, e como Wichita estava ficando conhecida como centro de fabricação de aviões, isso deu uma ótima oportunidade para ele trabalhar dando aulas de pilotagem. Na época do caso ele tinha sofrido um acidente de carro e estava afastado. Certo dia, Dennis acabou vendo a Julie acompanhada da Josie próximo do seu trabalho. Ele então começou a seguir a rotina dela e sabia a hora de saída e de chegada da família.
No dia 15/01/1974, Dennis tinha saído cedo e estacionado o carro a vários quarteirões da residência, caminhando até a casa que ficava na zona leste de Wichita. Ele se esgueirou pela garagem até a porta dos fundos, onde cortou o fio do telefone. Nesse momento, os 3 filhos mais velhos já tinham ido para a escola. Quando Joey abriu a porta para o cachorro ir para fora, Dennis pode entrar dentro da casa, anunciando um assalto. Sob a mira da arma, Dennis conduziu a família para um quarto, amarrando Joseph e Joey no chão, e Julie e Josie na cama. Lembram que o Joseph estava afastado do trabalho? Ele estava com uma costela fraturada, e estava sentindo muita dor no momento e pediu para Dennis afrouxar as amarras. Ele achou isso uma afronta e decidiu matar a família.
Primeiro, ele colocou um saco na cabeça do Joseph, fazendo ele sufocar até a morte. Ele então começou a estrangular a Julie com uma corda, enquanto ela pedia para o assassino não matar seus filhos. Depois que ela faleceu, ele sufocou Joey dá mesma maneira que tinha feito com o pai.- Após isso, ele levou Josie para o porão da casa e a amarrou em um cano. Ele perguntou se ela tinha uma câmera fotográfica, e a menina respondeu que não. Ele então disse que ela “iria para o céu com o resto de sua família” e a enforcou com uma corda enquanto se masturbava. Após matar Josie, ele foi embora dirigindo o carro da família.
Danny e Carmen chegaram por volta das 15:30 e logo notaram várias coisas estranhas: o carro não estava na garagem, a porta da garagem estava aberta e Lucky, o cachorro, estava do lado de fora. Quando abriram a porta da frente, encontraram as bolsas da Julie e da Josie, a carteira do pai no chão e papéis espalhados por todos os lugares. Eles correram para o quarto dos pais e encontraram Joseph, Julie e Joey mortos.- Charlie chegou bem na hora que os irmãos tinham encontrado os corpos. O jovem pegou uma faca, correu para o quarto e também se deparou com a terrível cena. Como o telefone estava mudo, ele correu para a casa de um vizinho para chamar a polícia.

A família Otero
Os policiais Robert Bulla e Jim Lindeburg encontraram Charlie na porta de casa e ele contou o que ele e os irmãos tinham visto. A cena estava mexida, porque a Carmen tinha tentado tirar a corda do pescoço da mãe na tentativa de ressuscitá-la. Os policiais interrogaram os filhos perguntando se eles achavam que o pai deles poderia ter feito aquilo, mas eles negaram. O sargento Joe Thomas chegou minutos depois da primeira ligação e isolou a cena do crime, mas vários policiais, detetives e vizinhos curiosos já tinham passado pelo local. Quem assumiu a investigação foi o major Cornwell, chefe da unidade de homicídios. Ele começou a colher depoimentos de vizinhos: um deles disse ter visto um homem branco, alto e robusto usando um casaco escuro do lado de fora da casa dos Otero por volta das 08:15. Outras testemunhas descreveram um homem baixo, com cabelo preto e pele morena.
Durante dez dias, 75 policiais e investigadores trabalharam dezoito horas por dia no homicídio da família Otero, mas o caso estava difícil, pois a motivação claramente não era pessoal. A variedade de nós usadas para prender e enforcar a família indicava que o assassino poderia ser das forças armadas. A perícia conseguiu recuperar esperma no corpo da Josie, mas não havia com o que comparar.- Charlie, Danny e Carmen foram viver com parentes em Albuquerque. O crime parece ter deixado traumas profundos neles, principalmente em Charlie, que passou a beber e chegou a ser preso por violência doméstica. Ele não conseguia entender como alguém tinha feito aquilo com a sua família. Enquanto isso, Dennis anotou todos os detalhes possíveis para registrar o seu crime. Ele também tinha roubado um relógio do Joseph, que passou a usar. Ao assinar um documento contando o que tinha feito, ele usou as iniciais BTK: Bind (amarrar), Torture (torturar), Kill (matar).

Charlie Otero
A segunda vítima foi uma mulher de 21 anos chamada Kathryn Bright. Ela era loira, tinha cabelos longos e trabalhava na empresa Coleman. Era uma moça tranquila, que cantava no coral da igreja e tinha poucos amigos.- Ao levar sua esposa para almoçar, Dennis acabou vendo Kathryn e decidiu traçar um plano para entrar na sua casa. Ele percebeu que ela morava sozinha e que seria um “alvo fácil”. Como Dennis era aluno da Universidade Estadual de Wichita, ele decidiu que iria até a porta dela carregando livros e então forçaria a entrada.
O que Dennis não contava é que o irmão da Kathryn, Kevin, estava na casa naquele momento. Kevin abriu a porta e Dennis disse que era um assalto, que precisava de um carro e de dinheiro. Ele conduziu os irmãos até um quarto e, como não tinha levado corda, usou meias de náilon. Ele obrigou Kevin a amarrar Kathryn, e depois conduziu ele para outro quarto. Dennis aproveitou o momento para procurar dinheiro pela casa, além de pegar as chaves do carro. Nesse momento, Kevin rompeu as amarras e tentou fugir, mas Dennis deu um tiro na sua cabeça. Ao ouvir o disparo, Kathryn começou a gritar e perguntar pelo seu irmão.- Dennis se aproximou de Kevin para verificar se ele estava morto, mas ele conseguiu se levantar e tomar a arma. Os dois brigaram, Dennis pegou a arma e deu mais um tiro no Kevin, que caiu novamente. Como o plano não saiu como o esperado, Dennis foi até Kathryn e começou a enforcá-la ao mesmo tempo em que dava socos nela, e por fim, decidiu esfaqueá-la.
No meio do processo, Dennis escutou um barulho e percebeu que Kevin tinha conseguido fugir. Ele correu até a casa de um vizinho chamado Edward Bell e contou que alguém estava tentando matar ele e a sua irmã. A polícia chegou a encontrar Kathryn com vida e a levou para o hospital, mas ela morreu durante uma cirurgia de emergência.- Mais tarde, Kevin relatou que o assassino tinha 1,80 m de altura, por volta de 80 kg, 28-30 anos, pele clara, bigode e cabelos escuros. Estava usando uma touca preta e amarela, luvas, casaco do exército e um relógio prata no braço esquerdo. No primeiro momento, o caso da família Otero não foi relacionado, uma vez que a escolha das vítimas e as armas do crime eram diferentes.
Quando voltou para casa depois do ataque, Dennis se limpou e ficou bastante preocupado com a possibilidade de ser preso, mas os dias foram passando e nada aconteceu. Depois de assistir várias reportagens sobre o caso, Dennis escreveu um documento de 7 páginas intitulado “Uma Morte em Abril”. No fim, ele recortou uma foto da Kathryn do jornal e colou para ilustrar sua carta.

Kathryn Bright
Vários meses depois dos assassinatos da família Otero, três presos começaram a insinuar que sabiam detalhes sobre o crime e ofereceram uma delação. A polícia percebeu que não era verdade, entretanto, um jornalista do Wichita Eagle decidiu publicar esse acontecimento, o que causou a ira do Dennis.- Pouco tempo depois do assassinato da família Otero, o Wichita Eagle ofereceu 5 mil dólares para qualquer um que fornecesse informações úteis a respeito do caso, e Dennis decidiu se aproveitar disso. Ele ligou para o colunista Don Granger e disse: “Escute aqui, e com bastante atenção, eu só vou dizer isso uma vez. Tem uma carta sobre o caso Otero em um livro na biblioteca pública”. Don Granger ligou para a polícia, que encontrou a carta no meio do livro Applied Engineering Mechanics. A carta dizia:
“Escrevo esta carta em prol dos contribuintes assim como de seu tempo. Aqueles três cara que vocês têm em custódia só estão falando para conseguir publicidade pelos assassinatos dos Otero. Eles não sabem de nada. Eu fiz aquilo sozinho e sem ajuda de ninguém. Também não teve nenhuma conversa sobre isso.
Vamos esclarecer os fatos.........
Josephine:
Posição: Pendurada pelo pescoço na área noroeste do porão. Secadora ou freezer a norte do seu corpo.
Amarras: Mão amarrada cum fio de persiana. Pés e partes inferiores dos joelhos, parte superior dos joelhos e cintura com corda de varal. Tudo do mesmo cumprimento.
Garrote: Corda de cânhamo % de diâmetro, nó de forca com quatro oucinco voltas. Nova.
Roupas: Escuras, sutiã cortado no meio, meia.
Morte: Estrangulamento uma vez, enforcada.
Comentários: Resto das roupas dela no pé da escada, calça verde e calcinha. O óculos dela no quarto sudoeste.
Sinto muito que isso acontece com a sociedade. São eles que sofrem mais. Difícil me controlar. Vocês provavelmente me chamam de “psicótico com perversão sexual por enforcamento”. Onde esse monstro entra no meu cérebro eu nunca vou saber.
Mas, ele aqui para ficar. Como alguém pode se curar? Se você pede ajuda, que você matou quatro pessoas, eles dão risada ou apertam o botão de pânico e chamam os tiras.
Não posso parar assim, o monstro segue em frente, e me machuca a sim como a sociedade. A sociedade pode ficar agradecida de haver maneiras para pessoas como eu se aliviarem às vez fantasiando com alguma vítima sendo torturada e sendo minha. É um jogo grande compicado meu amigo do monstro brincar de diminuir o número de vítimas, seguir elas, dar uma olhada nelas esperando no escuro, esperando, esperando......a pressão é grande e as vezes ele joga o jogo do jeito que quer. Talvez vocês podem impedir ele. Eu não consigo.
Ele já escolheu a próxima vítima ou vítimas eu ainda não sei quem elas são. No dia depois que eu ler o jornal, eu vou saber, só que tarde de mais. Boa sorte na caçada".
A carta causou um alvoroço entre os jornalistas e a polícia, uma vez que as autoridades vinham sendo cobradas de forma sistemática nos últimos nove meses, e ainda dizia que mataria novamente. Para evitar o pânico entre a população, foi acordado que a carta não seria divulgada.- Alguns dias depois, a polícia deu a ideia do Wichita Eagle entrar em contato com o assassino: o jornal publicou um anúncio com um número de telefone, pedindo que o BTK ligasse antes das 22h.
B.T.K.
Há ajuda disponível.
Como o BTK não entrou em contato, o jornal publicou uma coluna com a primeira menção ao assassino no dia 31/10, mas sem mencionar a ligação. No dia 02/12/1974, o jornal Wichita Sun publicou uma matéria na qual a jornalista Cathy Henkel revelava ter recebido uma cópia da carta do BTK de uma fonte anônima. A jornalista disse que era importante que as pessoas soubessem que alguém estava fazendo aquilo na cidade. Cathy também consultou psicólogos que acreditavam que, sem a publicação da carta, o assassino mataria novamente para chamar a atenção. Acontece que, mesmo com a publicação, o assassino voltou a atacar 3 meses depois.

Sede do jornal Wichita Eagle
Dia 17/03/1975 era dia de Saint Patrick, mas o clima em Wichita estava longe de ser de comemoração: muitos estavam com medo do assassino agora conhecido como BTK. Naquele dia, Dennis decidiu atacar uma moradora de South Greenwood, que ele já tinha visto em um bar universitário algumas vezes. Ele bateu na porta da casa, mas ninguém atendeu. Por causa disso, ele decidiu atacar uma casa vizinha, onde morava Shirley Relford junto com seus 3 filhos: Steven, Bud e Stephanie. Naquele dia, todos estavam em casa porque estavam gripados.
Na hora do almoço, Shirley mandou Steven até o mercado comprar comida e ele acabou encontrando Dennis no caminho. O assassino, fingindo ser um detetive, tirou uma foto da esposa e do filho da carteira e perguntou se o garoto tinha os visto, e ele respondeu que não. Dennis então seguiu o menino até a casa e bateu na porta, sendo atendido pela Shirley. Ele mostrou um cartão de visitas falso e Shirley deixou ele entrar, mas rapidamente ele sacou um revólver e anunciou um assalto. Shirley pediu para que ele não machucasse seus filhos, e ele garantiu que não faria nada se ela colaborasse. Nesse momento o telefone tocou, mas Dennis proibiu qualquer um de atender.
Depois, ele fez Shirley trancar as crianças e a conduziu para o quarto principal, onde tirou a sua roupa, amarrou ela com fita isolante e meias de náilon. Ele então a sufocou com uma corda, mas ela acabou vomitando. Dennis “gentilmente” pegou um copo de água para ela, para depois sufocá-la com uma sacola plástica. Enquanto isso acontecia, as crianças gritavam e batiam na porta do banheiro. Dennis pensou em matar Stephanie, mas como o telefone não parou de tocar durante todo esse tempo, ele achou que era melhor fugir. Depois de alguns minutos, as crianças conseguiram quebrar a janela e fugir até a casa dos vizinhos James e Sharon Burnett. Sharon foi até a casa, viu o corpo de Shirley e chamou a polícia.

Shirley Relford
A próxima vítima do BTK foi a jovem Nancy Jo Fox, de 25 anos. Nancy trabalhava em um shopping no sudeste, e foi descrita como muito simpática, inteligente e trabalhadora, que tocava flauta e cantava no coral da igreja. Ela também adora os seus dois sobrinhos, e estava trabalhando no shopping justamente para ter dinheiro para comprar bons presentes de natal para eles e para sua irmã.
No dia 08/12/1977, depois de seguir Nancy por algum tempo, Dennis estacionou seu carro a alguns quarteirões do apartamento dela, pegou sua sacola de ferramentas e bateu na porta, mas ninguém atendeu. Ele então quebrou uma janela, entrou no local e cortou o fio do telefone.- Quando Nancy chegou, deu de cara com Dennis escondido próximo do gabinete da cozinha. Ela tentou usar o telefone, mas sem sucesso. Ele se aproximou, mostrou o revolver e começou a ameaça-la de estupro. Nancy era diferente das outras vítimas: ela não aparentava estar com medo ou implorando por sua vida, ao contrário, ficou o tempo todo dizendo para que o intruso saísse da sua casa.
Dennis puxou as mãos dela para trás, prendeu com algemas nos pulsos e a fez se deitar de bruços na cama. Ele então subiu sob a jovem, enrolou um cinto em volta do seu pescoço e começou a estrangulá-la. Quando ela estava quase sufocando, ele afrouxava, deixando com que ela voltasse a respirar. A tortura durou alguns minutos, até que ele decidiu mata-la. De souvenir, ele levou um colar de pérolas que deu para sua esposa.

Nancy Jo Fox
Na manhã seguinte, Dennis foi até um telefone público e ligou para o 911. Ele disse “Vocês vão descobrir um homicídio no número 843 da South Pershing .Nancy Fox”. A atendente não entendeu direito e pediu para que ele repetisse, mas Dennis já tinha ido embora. Pouco tempo depois, uma pessoa pegou o telefone fora do gancho e tentou usar, mas foi interrompido pela atendente, que perguntou quem tinha usado o telefone antes dele, mas a única característica que ele se lembrava é que tinha sido um homem. Posteriormente esse homem foi reentrevistado e deu mais algumas descrições: o homem teria cerca de 1,80 de altura, cabelos loiros escuros e usava um uniforme cinza.
A polícia chegou na casa de Nancy por volta das 08:20. Um policial bateu na porta, mas ninguém atendeu. Ele percebeu que havia uma janela quebrada e, quando olhou para dentro, viu uma mulher seminua, imóvel, deitada de bruços na cama, com os tornozelos amarrados. Ele arrombou a porta, mas viu que a mulher já estava sem vida. A mãe de Nancy, Georgia, trabalhava na lanchonete do Hospital St. Joseph, não muito longe do apartamento de sua filha. Por volta das 10:30, ela estava se preparando para abrir o estabelecimento, quando recebeu o telefonema de um vigia para que ela fosse até o escritório do serviço de segurança. Lá, ela encontrou dois policiais, seu ex-marido – pai da Nancy – e o capelão do hospital, que informaram sobre a morte da filha. Georgia acabou desmaiando e foi amparada pelos presentes.
Enquanto isso, Richard LaMunyon, chefe da polícia de Wichita, já sabia que o BTK tinha atacado novamente. Ele estava muito frustrado, pois mesmo com muitas pistas deixadas para trás, incluindo sêmem, não havia nada que ajudasse a encontrar a identidade do assassino, já que suas vítimas não seguiam uma ordem lógica. É importante lembrar que, mesmo com material biológico, ainda não existia teste de DNA na época. A coisa mais precisa em termos de perícia eram digitais, mas Dennis sempre usava luvas nos crimes, e por isso a dificuldade era tão grande. LaMunyon até pensou em recorrer ao FBI, mas era uma época em que as análises comportamentais e perfis criminais ainda estavam começando, então a ajuda acabou se mostrando insuficiente.

Richard LaMunyon
Enquanto isso, Dennis aproveitou o seu tempo livre para escrever um poema sobre a vítima anterior, Shirley. Enquanto escrevia, sua esposa acabou chegando e ele rapidamente enfiou o papel em um vão do sofá, mas acabou esquecendo de tirá-lo de lá. Sua esposa acabou encontrando, e quando questionou o que era aquilo, Dennis disse que estava escrevendo sobre o BTK para um trabalho da universidade. No dia 31/01/1978, Dennis terminou o poema e enviou pelo correio para o jornal Wichita Eagle. Em letras maiusculas se lia:
CACHOS DA SHIRLEY! CACHOS DA SHIRLEY!
TU SERÁS MINHA?
TU NÃO GUITARÁS
TAMPOUCO SE LIBETARÁS DO FIO
PORÉM JAZERÁS SOBRE ALMOFADAS
E PENSARÁS EM MIM E NA MORTE
E EM COMO ELA SERÁ
B.T.K.
POEMA PARA FOX POR VIR
Por um descuido da equipe, o poema acabou indo parar no arquivo morto do jornal. A não publicação deixou Dennis profundamente irritado, que escreveu uma nova carta no dia 10/02, dessa vez endereçada para a KAKE-TV, afiliada da ABC em Wichita. Além da carta, havia um desenho de uma mulher deitada de bruços em uma cama de casal, amordaçada, tornozelos e coxas amarradas e com as mãos atadas às costas:
“Eu acho que não teve graça o jornal não ter iscrito sobre o poema. Um pequeno parágrafo teria sido suficente. Sei que não é culpa da imprensa. O chefe de policia ele mantém tudo em segredo e não quer que opúbico saiba que existe um psicopata por aí estrangulando principalmente mulheres, tem 7 pessoas debaixo da terra; quem será a próxima?
Quantas eu tenho que matar antes que eu tenha meu nome no jornal ou alguma atenção nacional. Será que os tira acham que todas essas mortes não estão relacionadas?”
Larry Hatteberg, fotojornalista da emissora, ligou para a casa de seu diretor, Ron Loewen, alguns minutos depois de ler a carta. Ron correu para o bar onde os jornalistas da emissora se encontravam e ficou chocado e entusiasmado ao mesmo tempo. Seria mesmo uma correspondência do BTK? Larry e Ron decidiram ir até a polícia procurar o chefe LaMunyon, que assim que viu os jornalistas já sabia sobre o que se tratava. LaMunyon fez um verdadeiro desabafo sobre o caso, alegando que já se suspeitava de pelo menos 7 vítimas do BTK. Os jornalistas fizeram uma matéria exclusiva para o jornal da noite da KAKE-TV, além de uma entrevista com LaMunyon.
LaMunyon convocou uma coletiva de imprensa na prefeitura no mesmo dia e reafirmou o que tinha dito na entrevista. No dia seguinte, a manchete do Wichita Eagle dizia: ESTRANGULADOR BTK ALEGA TER MATADO 7 NA CIDADE um assassino reivindicando a responsabilidade por sete assassinatos em Wichita — pelos menos seis deles estrangulamentos — ainda está na região e ameaçou atacar novamente, alertou o chefe de polícia Richard LaMunyon em um pronunciamento conciso e bombástico na sexta-feira. “Sei que é difícil pedir para que as pessoas permaneçam calmas, mas estamos pedindo exatamente isso”, disse LaMunyon. “Quando uma pessoa desse tipo está à solta em nossa comunidade, são necessárias precauções especiais e atenção especial por parte de todos.”
Como era esperado, a população de Wichita se assustou com o que ouviu. Apesar de ter matado Jospeh e Joey Otero, o principal alvo eram mulheres que moravam sozinhas. Nos dias seguintes, as vendas de alarmes e armas dispararam. A polícia aumentou o patrulhamento da cidade e ofereceu proteção para os jornalistas da KAKE-TV.

Sede da KAKE-TV
No dia 28/04/1979, mais de um ano depois da última vítima do BTK, uma viúva de 63 anos chamada Anna Williams chegou em casa por volta das 23h, encontrando a porta de um dos quarto escancarada, uma gaveta da penteadeira aberta e roupas pelo chão. Quando descobriu que alguém tinha cortado a linha de telefone, ela fugiu correndo. Naquele momento ela não sabia, mas tinha escapado de um ataque do BTK.
Semanas depois, no dia 14/06, uma atendente que abria a agência dos correios no centro da cidade encontrou um homem esperando por ela às 4h da manhã. Ele lhe entregou um pacote e disse “Coloque isto na caixa postal da KAKE-TV”. A atendente mais tarde o descreveu como um homem com 1,75 m de altura, casa dos trinta anos. Ele usava uma jaqueta jeans, calças e luvas. O cabelo era cortado curto acima das orelhas e estava com a barba feita.
Dentro do pacote havia uma echarpe e uma joia roubada da Anna Williams. Também havia um desenho de uma mulher amordaçada, apenas de meias, deitada na beirada de uma cama, com as mãos e os pés amarrados a uma vara, algo conhecido como hogtied. Havia também um poema enorme e lotado de erros gramaticais sobre como Anna tinha conseguido escapar. Quando ficou sabendo do pacote, Anna Williams ficou tão abalada que decidiu se mudar de estado.
Após o ataque falho com Anna Williams, Dennis decidiu dar um tempo na sua vida de assassino. Ele tinha sido promovido no emprego, seus filhos estavam crescendo e ele tinha muito menos tempo livre.- Em 1984, 10 anos depois do assassinato da família Otero e 5 anos depois do último ataque, uma força tarefa se uniu para tentar reanalisar o caso do BTK. No total, a polícia chegou a 30 suspeitos, que seriam meticulosamente investigados. A grande maioria eram criminosos de carreira ou criminosos sexuais. Infelizmente, todos foram descartados.
Em outubro, o especialista em perfis criminais do FBI, Roy Hazelwood, forneceu à polícia suas primeiras impressões detalhadas sobre o BTK: por conta das amarras, ele acreditava que o assassino era um sádico sexual obcecado por bondage, além de ser incapaz de interagir com outras pessoas além de um nível superficial. Ele também teria uma boa carreira profissional e colecionava itens relacionados aos seus crimes. Enquanto isso, a força-tarefa trabalhava 14 horas por dia, sete dias por semana na tentativa de localizar novas pistas. A equipe ficou conhecida como “Caça-Fantasmas”, por perseguir um assassino que nem eles sabiam como era. Infelizmente, o BTK matou mais algumas vezes antes de ser pego.

Roy Hazelwood
Em abril de 1985, Dennis saiu do hiato para fazer mais uma vítima: Marine Hedge, uma recém viúva de 53 anos que morava no subúrbio de Park City. A vida da Marine era simples: ela se dedicava aos netos, frequentava a cafeteria do Centro Médico Wesley e ia ao bingo da Igreja Batista. Dennis passou a observar Marine e a cronometrar quando ela saía e chegava em casa. No começo ele exitou, já que a senhora morava a apenas a seis casas de distância, mas preferiu arriscar, e iria usar um acampamento do grupo de escoteiros do filho como álibi.
Dennis deixou o acampamento, dirigiu até o nordeste de Wichita e, de lá, pegou um táxi até Park City. A ideia inicial era invadir a casa e atacar Marine de surpresa: ele então cortou o fio da linha telefônica com um alicate e arrombou a porta com cuidado. Alguns minutos depois, ouviu a voz de Marine junto com um homem, o que poderia estragar todo o seu plano. Dennis então se escondeu em um closet e ficou lá até que o homem fosse embora.- Depois que Marine se deitou, Dennis saiu do esconderijo e atacou a senhora. Ela foi estrangulada com uma meia-calça, teve o corpo embrulhado em colchas e levado até a igreja que Dennis frequentava. Lá, ele prendeu plástico preto nas janelas com fita e manipulou seu corpo de diversas formas, tirando fotos de todo o processo. Ele então largou seu corpo em uma vala e fugiu com o carro de Marine até conseguir trocar pelo seu, que tinha ficado estacionado em um centro comercial na noite anterior.
Dennis pode perceber de perto a comoção sobre o caso, afinal, ele era vizinho da vítima. Muitos moradores de Wichita, incluindo policiais, temiam que isso fosse a volta do BTK, que já estava fora de atividade desde dezembro de 1977. O que jogava contra era que a vítima era de Park City, e também era muito mais velha que as outras mulheres que ele tinha atacado.

Marine Hedge
O casal Bill e Vicki Wegerle morava na West Thirteenth com seus filhos Brandon e Stephanie. Bill era zelador e Vicki era dona de casa, além de servir como babá dos dois filhos de uma amiga. Ela também tocava piano. Depois de perder o emprego, Bill começou a trabalhar como pintor.
No dia 16/09/1986, Bill avisou Vicki que estaria pintando uma casa não muito longe e que passaria em casa para almoçar. Dennis, que já tinha seguido os passos de Vicki antes, foi até a casa se passando por um funcionário da companhia telefônica. Quando ela abriu a porta, ele disse que precisava verificar a linha e ela o deixou entrar. Vicki mostrou o telefone da sala de jantar, Dennis abriu abriu a maleta e começou a jogar conversa fora, retirando um aparelho que parecia um verificador de telefones. Depois de falsamente verificar o aparelho, ele sacou uma arma e obrigou Vicki a ir para o quarto de casal.- Ele a obrigou a deitar no colchão, atou os pulsos e os tornozelos, mas Vicki rompeu as amarras e começou a lutar contra Dennis. Ele desferiu vários socos no seu rosto, conseguiu amarrar ela novamente e tirou uma foto dela com sua câmera polaroid. Depois, terminou de enforcá-la e foi embora com o carro da família. Bill chegou a cruzar com o próprio carro, mas achou que era Vicki dirigindo.
Ao chegar em casa, encontrou o pequeno Brandon sozinho. Ele almoçou e ficou esperando ela voltar, mas isso não aconteceu. Ao dar uma volta em casa, 45 minutos depois, encontrou a esposa já falecida. Quando a emergência chegou, encontraram Bill gritando e dando socos na parede “Se eu tivesse chegado cinco minutos mais cedo, poderia ter feito alguma coisa”. Os detetives que investigam a morte de Vicki Wegerle não pensaram no BTK no primeiro momento, já que nesses casos o marido costuma ser o principal suspeito, ainda mais por ter demorado 45 minutos para encontrar o corpo. Bill foi interrogado por várias horas, e concordou em fazer um teste de polígrafo, que ele não passou.
O polígrafo funciona medindo respostas fisiológicas — como frequência respiratória, pulso, pressão arterial e transpiração — para “determinar” se alguém está mentindo ao responder perguntas, enquanto um examinador interpreta os resultados. Na teoria, mentir causa estresse, o que leva a alterações involuntárias do corpo que poderiam ser medidas. Na prática, os resultados não são confiáveis, uma vez que muitos fatores, internos e externos, podem influenciar no resultado. No caso do Bill, ele tinha acabado de perder a esposa, é normal que suas emoções estivessem alteradas e o resultado desse falso positivo. O polígrafo é tão inseguro que não é aceito nos tribunais como prova. O interrogatório ficou mais pesado após o teste acusar Bill de ter mentido. Um dos parentes dele chegou a pedir para que ele parasse de falar até contratar um advogado, e foi isso que ele fez. Sem pistas decisivas, Bill nunca foi acusado de ter assassinado a esposa, embora fosse considerado o principal suspeito.

Vicki Wegerle
Em 1991, Dennis fez sua última vítima: Dolores Davis, de 62 anos. Dee, como era chamada, era uma avó zelosa que vivia em Park City, em uma casa com vista para a zona rural. Ela trabalhava a mais de 25 anos como secretária para a Lario Oil & Gas Company, além de ser revendedora Mary Kay. Ela também era defensora da causa animal e criava alguns gatos. Dennis morava a cerca de 1,5 km da casa da Dee, e vez ou outra espiava ela pelas janelas. Quando decidiu matá-la, pensou em usar os escoteiros novamente como álibi.
No dia 18/01/1991, Dennis foi o primeiro a chegar no acampamento, mas saiu avisando que iria pegar suprimentos. Ele dirigiu por alguns quarteirões até a igreja batista em Park City, e de lá foi até a casa de Dee.- Ele ficou do lado de fora esperando Dee ir dormir. A temperatura estava negativa, mas ele permaneceu do lado de fora até as 22:30, quando pegou um bloco de concreto no lado de fora e arremessou através da porta de vidro. Assim que o vidro estilhaçou, Dee veio correndo ver o que tinha acontecido, mas deu de cara com Dennis, que anunciou o assalto. Ele disse que iria amarrá-la, pegar dinheiro, comida e fugir com o seu carro. Ele então a levou para o quarto, algemou, amarrou os pés com meias-calças e começou a revirar a casa através da chave do carro. Dennis então removeu a máscara de meia-calça que estava usando, e Dee sabia que isso não era bom: ela pediu para que ele não a matasse, mas ele a sufocou até a morte.

Dolores Davis
Após isso, ele arrastou o corpo da Dee e o colocou no porta-malas do carro dela. Primeiro, a levou para um lago pertencente ao Departamento de Transportes do Kansas e a escondeu entre alguns arbustos. Sua ideia era amarrá-la e tirar algumas fotos, mas estava muito frio e Dennis precisava voltar logo para o acampamento. Ele então decidiu ir com o corpo até a Igreja Luterana, onde enfiou a caixinha de joias e outros pertences da mulher embaixo de um barracão nos fundos. Em seguida, dirigiu de volta à casa, limpou o carro dela, jogou as chaves no telhado e caminhou de volta à igreja onde deixou o próprio carro. Dirigiu de volta para o lago, pegou o corpo da Dee e largou embaixo de uma ponte ao longo da 7th Street North.
Pouco depois do meio-dia de sábado, um amigo de Dee chamado Thomas Ray foi até a sua casa para arrumar o seu carro, mas achou estranho que a luz da varanda estava acesa e as cortinas estavam abertas, além do carro estar fora da garagem. Decidiu entrar na casa e encontrou tudo revirado, além do fio de telefone cortado. Thomas pegou seu carro e foi até um orelhão próximo chamar a emergência. O detetive Sam Houston e outros policiais da delegacia do condado de Sedgwick reuniram grupos de busca para percorrer as estradas de toda a região norte, batendo de porta em porta perguntando se alguém tinha visto a Dee. Um policial encontrou algumas roupas de cama da Dee enfiadas em uma galeria de esgoto a quilômetros da casa, mas ela ainda estava desaparecida.
No dia 01/02, treze dias depois do desaparecimento de Dee, um adolescente chamado Nelson Schock saiu para uma caminhada matinal acompanhado do seu cachorro, quando o cão correu para debaixo de uma ponte e não quis sair quando foi chamado. Nelson desceu e viu uma colcha de cama e um corpo, que viria a ser o da Dolores Daves. Ao lado do cadáver havia uma máscara de plástico pintada.
Dennis voltou para o hiato após o assassinato da Doloris Davis, e o caso esfriou. Vez ou outra, o Wichita Eagle fazia matérias relembrando os casos do BTK. Apesar de ser considerado um Cold Case, o autor Robert Beattie começou a escrever um livro sobre os assassinatos chamado “Nightmare in Wichita: The Hunt for the BTK Strangler”.- Em janeiro de 2004, o Wichita Eagle publicou uma matéria para lembrar dos 30 anos do assassinato da família Otero. Dennis chegou a ler a matéria, mas achou “entediante”, porque, segundo ele, faltavam detalhes. E foi após ler que ele decidiu se comunicar novamente.

A máscara usada por BTK
No dia 19/03/2004, Dennis mandou uma carta para a redação do Wichita Eagle. Quem abriu foi Glenda Elliott, assistente do editor. Havia uma fotocópia granulada de três fotografias de uma mulher deitada no chão, uma carteira de motorista e um símbolo estranho que misturava B deitada de lado, junto com T e o K escritos juntos para formarem braços amarrados para trás e pernas abertas. Ela já tinha visto esse símbolo em algum lugar e sabia que não era coisa boa. Glenda depositou o envelope sobre a mesa de Tim Rogers, o editor do noticiário local. Ele chamou o jornalista Hurst Laviana, que cobria o jornalismo policial na época, e sabia que o nome na carteira de motorista, Vicki Wegerle, era vítima de um caso não resolvido da década de 80.
Hurst levou o envelope para o capitão Darrell Haynes, que achou que não se tratava de uma falsificação, mas concordou em levar para a unidade de homicídios e falar com um especialista. A coisa que mais chamou a atenção da unidade foi o remetente, Bill Thomas Killman, cujas iniciais eram BTK. Além disso, as fotos da cena do crime eram assustadoramente reais. Com essa confirmação, Hurst correu para escrever a matéria para o Wichita Eagle.

Símbolo usado pelo BTK
Enquanto isso, os detetives montaram uma força-tarefa e um disque-denúncia capaz de rastrear ligações que, com certeza, chegariam. Ken Landwehr, investigador que tinha trabalhado anteriormente no caso do BTK, ainda trabalhava para a polícia e voltou ao caso. Ele telefonou para a Unidade de Ciência Comportamental do FBI e pediu para falar com um especialista em perfis, e foi transferido para Bob Morton, que veio com algumas informações importantes. Primeiramente, era óbvio que o BTK buscava por publicidade, então seria essencial marcar uma coletiva de imprensa para apresentar a sua volta. Outro ponto era selecionar uma pessoa para conduzir todas as coletivas, colocando uma pessoa à disposição para ser o contato do assassino. Por fim, era preciso dizer que a polícia havia feito progressos no caso, para que ele se sentisse acuado e não voltasse a matar.
O Wichita Eagle deu a notícia no dia 24/03: BTK ressurge após 25 anos. O detetive Landwehr fez a coletiva de imprensa confirmando que Vicki Wegerle era uma vítima do BTK e incentivou a população a entrar em contato com o departamento e fornecer informações que pudessem ser úteis. Como era esperado, foi um pandemônio: os telefones do disque-denúncia tocavam sem parar, e as pessoas da cidade estavam com medo.

Manchete no Wichita Eagle sobre o reaparecimento do BTK
Na manhã do dia 17/07 um funcionário da biblioteca do centro de Wichita encontrou uma sacola plástica na caixa de devoluções de livros contendo papéis com as letras “BTK” e chamou a polícia. Havia uma carta de 3 páginas intitulada Jakey, confessando a morte de mais uma vítima. Jake Allen tinha 19 anos, era estudante da Escola Secundária de Argonia e tinha sido atropelado por um trem de carga a 56 km de Wichita. BTK escreveu que eles tinham se conhecido quando Jake passou por uma cirurgia no joelho, e passaram a conversar melhor em salas de bate papo. Ele disse que atraiu Jake para os trilhos, amarrou ele e o deixou para morrer.
Essa nova confissão deixou as autoridades em dúvida, uma vez que o caso do Jake Allen tinha sido classificado como um suicidio: os investigadores concluíram que ele tinha enrolado o arame em volta do próprio corpo e se deitado sobre os trilhos, então o BTK estaria inventando aquela história ou não era o assassino que tinha entrado em contato. Além disso, havia uma ameaça no fim da carta: “Eu encontrei uma moça que acho que mora sozinha e/ou é uma estudante que volta para casa depois da escola e fica sozinha sem a supervisão dos pais. Só preciso planejar os detalhes. Estou muito mais velho (não debilitado) agora e tenho que se condicionar com cuidado. Além disso meu processo de raciocínio não é tão aguçado como costuma ser. Detalhes-Detalhes-Detalhes!!! Acho que o outono ou inverno será a época certa para o ataque. Tenho que fazer isso neste ano ou no próximo! Número X, já que meu tempo está acabando”.

Jake Allen
No dia 25/01/2005, a KAKE-TV recebeu um cartão-postal do BTK, com o endereço do remetente sendo a casa dos Otero. Nesse cartão dizia que havia um pacote entre a 69th e a 77th na Seneca St, uma caixa de cereal contendo informações sobre os casos. Depois de encontrarem a caixa, havia material sobre a família Otero, mas o que chamou a atenção foi um pedido do BTK: “Será que posso me comunicar com Disquete e não ser rastreado a um computador?". Se você é muito novo talvez não saiba, mas um disquete era um dispositivo portátil de armazenamento muito usado nos anos 80 e 90, antes da popularização dos CDs. E sim, ele era rastreável, mas aparentemente o BTK não sabia disso.
Seguindo algumas ordens que o assassino tinha deixado, as autoridades informaram nos classificados do jornal que o BTK poderia sim enviar um disquete, que não seria rastreavel. No dia 16/02, uma recepcionista da KSAS-TV, uma afiliada da Fox em Wichita, encontrou um envelope de plástico bolha na correspondência, com o remetente sendo P.J. Fox. Os jornalistas fizeram um “unboxing” do que tinha no pacote: havia uma corrente de ouro, um pingente e três fichas pautadas — uma delas estava instruindo aos policiais como poderiam voltar a entrar em contato com o BTK por meio de outro anúncio no jornal. Para a surpresa, no fundo do pacote, havia um disquete roxo.

Disquete enviado por Dennis
Os detetives Dana Gouge e Kelly Otis, que estavam presidindo a força-tarefa contra o BTK na época, foram até a emissora e pediram para que eles ainda não divulgassem nada, uma vez que o BTK poderia fugir ao saber sobre o disquete. Eles levaram o disquete para o especialista em informática da força-tarefa e não levou nem um minuto para ele mostrar as informações: havia um arquivo chamado “TestA.rtf”, com a mensagem “Isto é um teste. Veja Ficha 3X5 para detalhes sobre como se comunicar comigo pelo Jornal”. O especialista clicou em “propriedades” do arquivo e descobriu o nome “Dennis”, que o disquete tinha sido usado na Igreja Luterana de Cristo e posteriormente na biblioteca pública de Park City. Ao buscarem na internet por essa igreja específica, eles descobriram que o presidente da congregação se chamava Dennis Rader.
Mesmo com a empolgação inicial, eles precisavam descobrir quem era esse Dennis e também confirmar através do DNA que ele era o assassino. Foi descoberto por meio dos registros públicos que Rader tinha uma filha, a Kerri, que tinha estudado na Universidade Estadual do Kansas, e que ela deveria ter feito algum exame na clínica médica do local. Após um mandado, os testes de DNA mostraram uma "correspondência familiar" entre o exame da Kerri e a amostra das unhas da vítima Vicki Wegerle. A polícia já estava montando uma tocaia para prender o Dennis, e isso aconteceu no dia 25/02/2005, quando ele estava chegando em casa. Em uma entrevista coletiva na manhã seguinte, o chefe de polícia de Wichita, Norman Williams, anunciou: “BTK está preso”.

Matéria do Sunday Eagle sobre a prisão de Dennis
No dia 28/02/2005, Dennis Rader foi acusado de 10 acusações de homicídio de primeiro grau. As vítimas eram: Joseph, Julie, Josie e Joey Otero; Kathryn Bright; Shirley Relford; Nancy Jo Fox; Marine Hedge; Vicki Wegerle e Dolores Davis. Foi estabelecida uma fiança no valor de US$ 10 milhões e um defensor público foi nomeado para representá-lo.
O julgamento começou no dia 27/06, e Dennis se declarou culpado. Ele quase não falou durante o processo, mas descreveu os assassinatos como “projetos” e contou os detalhes para o tribunal. Foi realizada uma avaliação psicológica para basear a defesa na teoria de insanidade. Dennis foi diagnosticado com transtornos de personalidade narcisista, obsessivo-compulsivo e antissocial, com um “senso de identidade grandioso, uma crença de que ele é especial e, portanto, tem direito a tratamento especial, uma necessidade patológica de atenção e admiração, uma preocupação em manter ordem e estrutura rígidas e uma completa falta de empatia”.
No dia 18/08, o dia da sentença, Dennis se desculpou por quase 30 minutos, em um discurso que o juiz comparou a um “discurso de aceitação do Oscar”. No fim, Dennis Rader foi condenado a 10 sentenças consecutivas de prisão perpétua, com um mínimo de 175 anos, e foi transferido para o Centro Correcional El Dorado, onde é mantido na solitária para sua proteção. Em 2023, foi revelado que Dennis estaria bastante debilitado e usando cadeira de rodas. Hoje ele está com 80 anos.- Lembram da Kerri, a filha do Dennis que foi inclusive usada para o teste de DNA? Em 2019, ela publicou o livro “A Serial Killer's Daughter: My Story of Faith, Love, and Overcoming”, que virou série da Netflix em 2025. O foco é um paralelo entre como era a sua vida antes e depois de saber sobre os crimes do pai.

Dennis Rader na formatura da sua filha, Kerri
• FONTES: BTK Profile: Máscara da Maldade.





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