#100 - Jack, o Estripador | SERIAL KILLER
- Rodolfo Brenner
- há 2 dias
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Inglaterra, século XIX: mulheres jovens estavam sendo mortas de formas horríveis por um assassino perturbador que zombava da polícia. O cenário entrou no imaginário da população e é considerado, até hoje, como o maior caso de serial killer sem solução da História.
Essa é a versão escrita do episódio #100 - Jack, o Estripador.

O caso aconteceu em Londres, mais precisamente no distrito de Whitechapel, que fica no leste da cidade. Originalmente, Whitechapel fazia parte de outro distrito – Stepney – mas com o crescimento da população, em 1338, foi estabelecida a igreja de St. Mary, assim as pessoas não precisavam se deslocar tanto para frequentar a missa. Como a igreja era branca, o local ficou conhecido como Whitechapel.
Londres era e ainda é uma das grandes cidades da Europa, e com uma cidade crescendo sem nenhum planejamento, a pobreza era particularmente grande, principalmente no Leste de Londres, e Whitechapel não foi uma exceção. O local atraiu muitos imigrantes, principalmente alemães e irlandeses, tanto que um dos pontos desse distrito ficou conhecido como “Pequena Alemanha”. Como a pobreza era grande, a maioria da população não tinha casa própria. Ao invés disso, eram muito comuns pensões e hostels superlotados em que as camas eram pagas por noite,
E enquanto a maioria dos homens trabalhavam na indústria açucareira, para as mulheres sobrava a prostituição: em 1888, a Polícia Metropolitana da cidade estimou que 1.200 mulheres trabalhavam em 62 bordeis na região. E foi justamente essa população específica, ou melhor, que a maioria acredita ser, que o Jack, o Estripador, atacou.

Whitechapel no século XIX
A primeira vítima canônica do assassino foi Mary Ann Nichols, apelidada de "Polly". Ela nasceu com o nome de Mary Ann Walker em 26/08/1845, em Dawes Court, próximo de Londres, filha do casal Edward e Caroline Walker. Não temos muitas informações da Polly até os seus 18 anos, quanto ela se casou com o pintor William Nichols em 1864 e o casal foi morar com o pai dela em Walworth. Juntos eles tiveram 5 filhos: Edward, Percy, Alice, Elizabeth e Henry.
Por volta de 1875, a família se mudou para Southwark. Depois de descobrir que o marido estava lhe traindo, Polly começou a afogar os seus problemas na bebida. Quando o marido saiu de casa, seu estado mental piorou tanto que o pai levou os filhos embora, com exceção do mais velho que foi morar com o avô. Após o divórcio, William pagava um local para a Polly morar, mas parou ao descobrir que ela levava – segundo ele – uma vida imoral. Aqui é importante frisar uma coisa: é comum ouvir dizer que todas as vítimas do Jack, o Estripador, eram prostitutas, mas não há evidências suficientes para corroborar. Por exemplo: no caso da Polly, William alegou isso diante de um juizado para parar de pagar a pensão para ela, mas o mais provável é que ele só ficou irritado porque ela teria começado um novo relacionamento.
Sem ter para onde ir, Polly até voltou a morar com o pai, mas seus problemas com bebida impediram uma boa convivência entre eles. Em maio de 1882, a Polly conheceu o recém viúvo Thomas Stuart Drew, e se mudou para a casa dele pouco tempo depois. Thomas era ferreiro e tinha sua própria loja em Walworth, no sul de Londres. O relacionamento durou até 1887, e novamente os problemas com bebida colocaram tudo a perder.
Polly chegou a ser presa por estar embriagada junto com outros moradores de rua. Após entrar e sair de várias pensões, as coisas acabaram melhorando em 1888, quando ela conseguiu um emprego de doméstica na casa do casal Samuel e Sarah Cowdry. De lá, ela escreveu uma carta para seu pai: “Eu escrevo apenas para dizer que você ficará feliz em saber que eu estou fixamente em um lugar, e tudo está indo bem agora. Meus patrões saíram ontem e não voltaram, então eu fiquei no comando. É um lugar grande, com jardins e árvores atrás e na frente. Tudo foi reformado. Eles são religiosos e não bebem, então eu me mantenho dentro das rédeas. Eles são pessoas muito legais, e eu não tenho tanto trabalho. Eu espero que você esteja bem e o garoto esteja na linha. Adeus por enquanto. Polly”.
Nunca ficou claro o porquê, mas mesmo com todos esses reforços positivos, Polly acabou deixando o local e levou roupas dos patrões com ela. Em julho de 1888, ela se mudou para um albergue feminino em Spitalfields, e pouco tempo depois, foi para um outro, dessa vez, misto. No dia 30/08, uma forte tempestade causou alagamentos em toda região, inclusive no local onde a Polly estava, e todos os moradores precisaram sair.

Mary Ann Nichols
Na madrugada do dia 31/08/1888, um homem chamado Charles Cross deixou sua casa em Bethnal Green para assumir seu posto como entregador. Quando ele entrou na Buck's Row, percebeu o que parecia ser um pacote estranho próximo de um portão, mas não dava para ver direito já que a iluminação era muito precária. Nesse momento, outro trabalhador chamado Robert Paul estava passando, e como eles se conheciam, Charles o chamou para averiguar o que era aquilo. Os dois viram que era uma mulher caída de costas. Charles tocou a sua face e disse que achava que ela estava morta, enquanto Robert achava que ela ainda estava respirando. Por algum motivo, os dois deixaram ela ali e foram para o trabalho, porque, segundo eles, estavam atrasados, mas concordaram em falar com o primeiro policial que encontrassem.
Pouco tempo depois que os dois deixaram a mulher caída, um policial chamado John Neil entrou no Buck's Row e encontrou o corpo. Segundo ele, quem tinha feito aquilo teve uma janela de meia-hora, pois ele tinha passado ali em patrulha antes. O policial percebeu que a mulher estava com a garganta cortada. Os policiais interrogaram um vigia noturno chamado Patrick Mulshaw, que confessou ter visto um homem estranho dizendo “Acho que alguém foi assassinado descendo a rua”. Esse homem nunca foi localizado. Posteriormente, ela foi identificada como Mary Ann Nichols.
Pela autópsia, foi visto que a garganta foi cortada profundamente. O assassino também introduziu a arma do crime por duas vezes na sua vagina, e a parte inferior de seu abdômen foi parcialmente aberta por uma ferida profunda, fazendo seu intestino se projetar para fora. Haviam alguns outros cortes pelo corpo, mas nada tão profundo. O corpo permaneceu no necrotério até 06/09/1888, quando foi levado para uma funerária.
A família planejou um enterro modesto, já que a família da Polly não queria chamar a atenção para o caso, mas uma notícia no jornal informando que ela era a mulher encontrada com a garganta cortada em um beco fez uma multidão curiosa aparecer para tentar ver o seu caixão fechado, e segundo notícias da época, eram mais de duas mil pessoas. Ela foi enterrada no City of London Cemetery, em Manor Park. Mary Ann Nichols é a primeira das chamadas “Canonical five”, uma das cinco vítimas que são consideradas oficialmente como vítimas do Jack, o Estripador..

Representação do policial John Neil encontrando o corpo de Mary Ann Nichols
Eliza Ann Smith nasceu em 25/09/1840 em Paddington, centro de Londres, filha do casal George Smith e Ruth Chapman, e era chamada pelo apelido de Annie. George era soldado e sua relação com a Ruth era um escândalo para a época, isso porque, na época do nascimento da Annie, eles ainda não eram casados. Após o nascimento de seu segundo filho em 1844, a família se mudou para Knightsbridge e posteriormente para Berkshire. De acordo com o irmão da Annie, ela começou a beber muito cedo, o que se tornou um problema dentro de casa. Ela começou a trabalhar como empregada doméstica por volta de 1860, e em 1861 todo o restante da família se mudou para Clewer, deixando ela sozinha, o que a afundou ainda mais na bebida. Para piorar, o seu pai cometeu suicido em 1863, cortando a própria garganta com uma lâmina de barbear.- Fisicamente a Annie foi descrita como sendo muito pequena, acima do peso, com olhos azuis e cabelos castanhos-escuros. Ela seria muito branca e tossia constantemente, supostamente por conta de uma tuberculose não curada. Annie era inteligente, educada e trabalhadora, porém, quando bebia, costumava ficar muito irritada.
Em maio de 1869, Annie se casou com um parente distante da sua mãe chamado John Chapman, e é por isso que ela “adotou” o sobrenome materno. O casal teve três filhos: Emily, Georgina e John Alfred. O último filho tinha uma deficiência na perna e foi colocado em uma instituição para deficientes físicos perto de Windsor. Nessa época a Annie passou a beber menos, até que Emily morreu de meningite em novembro de 1882, o que praticamente acabou com a família Chapman e fez o próprio John começar a beber.
Em 1884, o casal se separou, e John manteve a custódia da Georgina. Ele pagava uma pensão para a Annie até morrer de cirrose no natal de 1886. Após a morte do ex-marido, Annie passou a viver em pensões enquanto trabalhava como artesã, vendendo objetos de crochê e também flores artificiais, mas recorrida a prostituição quando precisava de dinheiro. Um dos seus clientes fixos era um homem chamado Ted Stanley. Em muitas fontes é dito que ele seria um soldado aposentado conhecido pelos outros hóspedes como "o Pensionista", mas na verdade ele não era nenhuma das duas coisas: Ted era um pedreiro, casado, que costumava passar os finais de semana com Annie.

Annie Chapman
Um mês antes de ser assassinada, Annie teve uma briga com outra inquilina chamada Eliza Cooper: os detalhes da discussão variam muito de pessoa para pessoa, mas o que consta no inquérito é depoimento da própria Eliza é que ela havia emprestado um sabonete para Annie, que por sua vez emprestou para o Ted, que não devolveu mais. Nos dias seguintes, Eliza pediu várias vezes a devolução do item, mas a única coisa que Annie fez foi, dias depois, jogar um meio-centavo nela dizendo para ela comprar outro.
Alguns dias depois, as duas se encontraram em um pub e a briga continuou: dessa vez, Annie teria dado um tapa no rosto da Eliza, que retaliou dando dois socos na Annie, um deles deixou ela com um olho roxo. Novamente, é importante destacar que isso é o depoimento da Eliza no inquérito posterior sobre a morte da Annie, ou seja, se ela falou somente a verdade ou quis sair de vítima, a gente nunca vai saber.
Na segunda-feira, 03/09/1888, Annie encontrou com uma amiga chamada Amelia Palmer, e mostrou seus hematomas para ela. No dia seguinte elas se viram na igreja, e Annie aparentava estar ainda mais doente. Amelia teria dado alguns centavos para ela comprar comida, já que Annie não havia comido nada naquele dia. No dia 07/09, por volta das 17h, Amelia viu Annie vendendo seus artesanatos, mas ela parecia ainda pior fisicamente. Annie então disse: “Preciso me recompor e conseguir algum dinheiro, ou não terei onde dormir”.
Pouco antes das 6h, um senhor chamado John Davis estava saindo pelo portão dos fundos de sua casa quando encontrou o corpo da Annie Chapman. O médico perito Dr. George Phillips descreveu o corpo dela como “terrivelmente mutilado” e com a garganta “profundamente cortada”. Seu abdômen foi aberto e seu intestino foi colocado para fora. Mais tarde, a autópsia revelou que o assassino tinha removido sua bexiga, sua vagina e seu útero com precisão cirúrgica. O inquérito da investigação do assassinato da Annie Chapman foi muito mais curto do que da Mary Ann Nichols: a única pista veio de uma mulher que viu a Annie na companhia de um homem por volta das 5h30 da manhã. Segundo ela, esse homem tinha cabelos escuros, usava um chapéu de caça e um sobretudo. Posteriormente, essa descrição seria a mais conhecida dentro da mitologia do Jack, o Estripador.
No dia 27/09/1888, a Agência Central de Notícias de Londres recebeu uma carta de duas páginas datada do dia 25, escrita com tinta vermelha e que estava endereçada ao “Dear Boss”, ou “Caro Chefe”. Assim como outras cartas de assassinos que falamos aqui, essa carta estava cheia de erros de escrita e de pontuações. A carta dizia:
"Caro Chefe
Eu continuo ouvindo que a polícia já me pegou mas eles não me consertaram ainda. Eu ri quando eles pareciam tão espertos e falavam que estavam no caminho certo. Aquela piada sobre o avental de couro me deu um verdadeiro ataque de riso. Estou a fim de prostitutas e não vou parar de foder elas até que eu consiga me ferrar. O último foi um ótimo trabalho. Não dei tempo para a moça reclamar. Como podem me pegar agora? Amo meu trabalho e quero recomeçar. Em breve vocês ouvirão falar de mim com meus joguinhos engraçados. Guardei um pouco do material vermelho em uma garrafa de cerveja de gengibre do último trabalho para escrever, mas ficou grosso como cola e não consegui usá-lo. Espero que tinta vermelha sirva, ha. ha. No próximo trabalho que eu fizer, vou cortar as orelhas da moça e mandar para a polícia só por diversão, não é. Guarde esta carta até eu trabalhar um pouco mais e depois a distribua imediatamente. Minha faca está tão boa e afiada que quero começar a trabalhar imediatamente se tiver a chance. Boa sorte. Atenciosamente, Jack, o Estripador.
Não se importe que eu dê o nome comercial.
Obs: Não fui bom o suficiente para postar isso antes de tirar toda a tinta vermelha das minhas mãos, droga! Sem sorte ainda. Dizem que sou médico agora. Ha ha"
O avental de couro a que a carta se refere foi um objeto encontrado no mesmo quintal em que a Annie Chapman estava caída. Descobriram que ele pertencia ao John Richardson. O que o John tinha a ver com o caso? Absolutamente nada, já que foi a sua mãe que tinha lavado e colocado ele para secar, mas a polícia e os jornalistas acreditavam fielmente que era uma pista importante. Esse avental acabou caindo como um estereótipo de imigrantes judeus de Whitechapel, já que algumas profissões que o usavam como açougueiro e ferreiro costumavam ser realizadas por judeus. Mais para frente, quando fomos falar dos suspeitos, eu vou explicar mais sobre, mas o importante é perceber que o serial killer verdadeiro estava de olho nas notícias.

A carta "Dear Boss"
Elizabeth Gustafsdotter, apelidada de Liz, nasceu em 27/11/1843 em Stora Tumlehed, uma vila que ficava no oeste da Suécia. Ela era filha dos fazendeiros Gustaf Ericsson e Beata Carlsdotter, todos criados dentro dos preceitos da religião luterana. Ela e os 4 irmãos também começaram a trabalhar na fazenda desde muito cedo.- Em agosto de 1859, então com 16 anos, Liz foi morar na cidade de Gotemburgo, que é a 2ª maior do país.
Ela começou a trabalhar como empregada doméstica, indo de emprego para emprego até realmente começar a se prostituir: em 1865 ela foi presa, já que a prostituição era proibida. Em abril de 1865, Liz ficou grávida e deu à luz a uma menina que nasceu morta. Em fevereiro de 1866, ela se mudou para Londres, e existem duas versões de porque ela teria ido para outro país: a primeira é que ela alegou ter conseguido um trabalho como empregada doméstica de um homem que morava perto do Hyde Park. A segunda é que ela já teria familiares no local e foi viver com esses parentes.
Assim que chegou na Inglaterra, Liz tratou de aprender inglês e se adaptou muito bem ao país.- Em março de 1869, Liz se casou com John Thomas Stride, um carpinteiro naval 22 anos mais velho que ela. Nesse período, ela e o marido abriram uma cafeteria que obteve certo sucesso. Em 1874, problemas financeiros e no casamento começaram a aparecer, e o John chegou a vender a cafeteria por conta disso. Não fica claro quando, mas o casal se separou entre 1877 e 1881. Em dezembro de 1881, Liz foi internada com bronquite em uma enfermaria local, tendo recebido alta em janeiro de 1882. Após isso, ela começou a viver em pensões em Whitechapel.
Em 1885, Liz conheceu um homem chamado Michael Kidney, mas a relação dos dois era muito destrutiva e tóxica, e os dois viviam se separando e voltando. Liz chegou a apresentar uma queixa de agressão contra o Michael em 1887, mas o caso foi arquivado porque a própria Liz não compareceu no tribunal. Nos anos seguintes ao fim do primeiro casamento, Liz voltou a se prostituir, além de trabalhar como costureira e limpando residências. Além de ser detida por prostituição algumas vezes, Liz também chegou a ser presa por linguagem obcena 8 vezes, sendo a última em 03/09/1888.
No dia 26/09/1888, Liz e Michael tiveram uma briga e acabaram mais uma vez o relacionamento. Nessa época, ela estava morando em uma pensão que ficava entre as ruas Flower and Dean Street, um lugar bastante perigoso. Nos dias seguintes, ela fez algumas faxinas e acumulou algum dinheiro. Naquela noite, Liz decidiu fazer um extra com a prostituição: ela colocou uma roupa chique e estava com um buquê de rosas vermelhas e ramos de samambaia.
Ela visitou um pub com uma amiga, e na virada do dia 29 para o dia 30, foi vista na companhia de alguns homens diferentes, provavelmente clientes. Um desses homens era baixo, usava bigode e um chapéu-coco. O outro homem foi descrito como usando chapéu, casaco preto e calças escuras. Além deles, Liz também foi vista em frente ao International Working Men's Educational Club, um clube judaico que ficava na Berner Street. Por último, entre 00h35 e 00h45, uma testemunha viu uma mulher que ele acreditava ser a Liz, em pé, na esquina da Berner Street e conversando com um homem vestindo um longo casaco preto.
Por volta da 1h da manhã do dia 30/09, Louis Diemschutz, que trabalhava no International Working Men's Educational Club, encontrou o corpo de Liz caído no local onde ele deixava sua carroça estacionada. Louis avisou a polícia que chegou rapidamente. O sangue ainda estava escorrendo dos seus ferimentos e ela ainda estava “ligeiramente quente”, o que indicava que tinha morrido a pouco tempo. Quem fez a autópsia do corpo foi o Dr. George Phillips, o mesmo que tinha feito da vítima anterior, Annie Chapman. Segundo ele, a causa da morte teria sido um grande corte na sua garganta, tão grande que chegava até a sua boca. Como esse era o único corte feito no corpo, um dos rumores é que, provavelmente, o assassino foi interrompido antes que pudesse mutilar ainda mais o seu corpo.

Túmulo de Elizabeth Stride
Catherine Eddowes nasceu no dia 14/04/1842 em Wolverhampton, que fica a 200 km de distância de Londres. Ela vinha de uma família humilde, com muitos irmãos, pai operário e mãe cozinheira. A família se mudou para Londres um ano após o nascimento da Catherine, vivendo em vários locais diferentes. Os pais da Catherine morreram de tuberculose em 1855 e 1857, e ela e mais 3 irmãos foram para um orfanato em Bermondsey. Ela também começou a frequentar uma escola junto com um liceu de ofícios, conseguindo um emprego como estampadora na Old Hall Works. Posteriormente ela foi demitida, e se mudou para a cidade de Birmingham para morar com um tio. Lá, ela conseguiu um emprego como polidora de bandejas, mas não se adaptou ao emprego e nem ao local, voltando para Wolverhampton para morar com seu avô. Mais tarde ela voltaria para Birmingham, onde iniciou um relacionamento com um ex-soldado chamado Thomas Conway.
O casal teve dois filhos chamados Catherine Ann e Thomas Lawrence.- Catherine foi descrita como uma mulher de estatura baixa, magra, cabelos ondulados e olhos castanhos. Seus amigos diziam que ela era muito alegre, inteligente e que adorava cantar. Assim como a Mary Ann Nichols, a Catherine nunca se prostituiu. Em 1868, a família se mudou para Londres, onde tiveram mais um filho em 1873. Após essa mudança, Catherine começou a fazer o uso de álcool, o que abalou a estrutura familiar. Depois de várias brigas, inclusive físicas, Catherine foi embora de casa.
Em 1881, Catherine iniciou um novo relacionamento, desta vez com o vendedor de frutas John Kelly. Para ganhar dinheiro, Catherine fazia trabalhos de limpeza e de costura para a comunidade judaica de Brick Lane, além de ajudar na colheita de lúpulo. Quando não tinha dinheiro, ela pedia para sua irmã ou sua filha mais velha. Quando não conseguia, chegava a dormir nas ruas.

Retrato de Catherine Eddows
Depois de aceitar mais um trabalho na colheita em 27/09/1888, Catherine voltou para Londres junto com o John, passando a noite em Shoe Lane. Na tarde do dia 29/09, ela disse para o parceiro que pretendia ir até Bermondsey pegar um dinheiro com a sua filha, que nesse ponto já estava bem de vida por estar casada com um fabricante de armas. Enquanto John estava na pensão, Catherine foi vista bêbada, caída no chão pelo policial Louis Robinson. Ele a ajudou a se levantar, mas ela caiu novamente. Catherine então foi levada para a Delegacia de Bishopsgate, para ficar detida até que estivesse sóbria o suficiente para sair.- Ela foi liberada perto da 1h da manhã do dia 30/09. A última vez que Catherine foi vista foi próximo de Aldgate por três testemunhas que viram ela conversando com um um homem de estatura mediana, jaqueta escura e chapéu.
Próximo das 2h da manhã, um policial de ronda chamado Edward Watkins acabou encontrando o corpo da Catherine Eddowes em um estado terrível. Próximo do corpo, havia um grafite dizendo “Os judeus são os homens que não serão culpados por nada”. Essa mensagem deixava implícito que, o que estava acontecendo com aquelas mulheres, seria culpa dos judeus, mas que eles não seriam responsabilizados. Por medo de reações de ambos os lados, o Comissário da Polícia Metropolitana, Charles Warren, ordenou que o grafite fosse lavado o quanto antes.
Os registros post-mortem indicam que a garganta estava cortada, o abdômen estava exposto e os intestinos foram retirados. Também foi retirado o lóbulo e a aurícula da orelha direita. Como não havia rigidez pós-morte, era provável que a vítima estivesse morta a menos de 1 hora. Também havia cortes nas pálpebras, bochechas, boca e nariz.- Algo que assustou até o legista é que o revestimento peritoneal foi cortado no lado esquerdo e o assassino tinha removido um dos rins da Catherine. O corte era limpo e preciso, o que indicava que, quem quer que tenha feito aquilo, tinha conhecimento do que estava fazendo.

Representação de como o corpo da Catherine foi encontrado
No dia 01/10/1888, o Central News Agency of London recebeu um cartão com carimbo postal onde o assassino reivindicava os assassinatos das vítimas Elizabeth Stride e Catherine Eddowes. O texto do cartão-postal dizia:
"Eu não estava bajulando, querido e velho chefe, quando lhe dei a dica, você ouvirá sobre o trabalho do Saucy Jacky amanhã, evento duplo, desta vez a primeira gritou um pouco e não consegui terminar imediatamente. Não tive tempo de me preocupar com a polícia, obrigado por guardar a última carta até eu voltar a trabalhar".
Jack, o Estripador
Por conta desse cartão, os assassinatos da Elizabeth e da Catherine ficaram conhecidos como “evento duplo”. Alguns autores acreditam que o cartão-postal foi enviado antes que os assassinatos, mostrando que somente o assassino tinha o conhecimento dos detalhes, porém, só foi postado após os crimes.

Saucy Jacky
A última vítima oficial do Jack, o Estripador, foi uma mulher chamada Mary Jane Kelly. Diferente das 4 anteriores, não se tem tantas informações sobre ela: de acordo com Joseph Barnett, o namorado dela na época, Mary Jane disse que havia nascido em 1863 em Limerick, na Irlanda, e que sua família se mudou para o País de Gales quando ela ainda era criança. As falas de Mary Jane sugeriram que ela tinha vindo de uma família com dinheiro, embora tivesse cortado contato com os pais, conversando apenas com uma irmã. Alguns descreviam ela como sendo uma artista, embora John dissesse que ela sempre pedia para que ele lesse o jornal para ela, sugerindo que ela fosse analfabeta, algo que não condizia com uma mulher vindo de família rica.
As descrições da aparência física da Mary Jane variam muito: algumas vezes ela é descrita como loira, ruiva, e até com cabelos escuros, tendo o apelido de “Black Mary”. Ela tinha estatura média, olhos azuis, magra e era muito bonita. Quando Mary Jane tinha aproximadamente 16 anos, ela teria se casado com um mineiro chamado Davis, que acabou morrendo 3 anos depois na explosão de uma mina. Sem qualquer apoio financeiro, Mary Jane se mudou para Cardiff, para morar com um primo, e foi também onde ela começou a se prostituir.
Em 1884, Mary Jane se mudou para Londres, onde trabalhou brevemente em uma tabacaria em Chelsea, antes de conseguir um emprego como empregada doméstica em Spitalfields. Após isso, ela conseguiu outro emprego, dessa vez em um bordel de classe alta em West End. Segundo os registros, Mary Jane era uma das moças mais requisitadas do local.- Assim como as outras vítimas, Mary Jane também começou a beber, o que acabou afastando ela dos clientes mais ricos. Ela acabou se envolvendo com alguns homens que também bebiam, vivendo em um círculo de relacionamentos destrutivos.
No dia 08/04/1887, Mary Jane conheceu Joseph Barnett, de 28 anos. Ele era carregador de peixe em um mercado da cidade, e os dois concordaram em morar juntos já depois do segundo encontro. Os dois iam de pensão a pensão, geralmente sendo expulsos quando deixavam de pagar o que deviam. Aparentemente os dois se gostavam muito, e o único pedido de Joseph era que Mary deixasse a prostituição, e ela fez isso. No início de 1888, Mary e o Joseph se mudaram para um quarto individual que ficava no número 13 do Miller's Court, em Spitalfields. Naquela época era comum pegar uma casa grande e alugar os cômodos como se fossem quartos. O quarto de Mary e Joseph era muito pequeno e contava com uma cama, uma mesa e três cadeiras. Também havia uma lareira e uma banheira, além de duas janelas que davam para um pequeno jardim.
Um tempo depois de se mudarem, a Mary perdeu a chave do local, então, ela trancava e destrancava a porta pelo lado de fora, colocando a mão por uma janela quebrada ao lado da porta. Uma vizinha chamada Julia Venturney alegou que a janela tinha sido quebrada pela própria Mary quando estava bêbada, e vez ou outra ela colocava um casaco do Joseph para tapar o buraco. Joseph acabou perdendo seu emprego em julho de 1888, e por isso, Mary teve que voltar a se prostituir. Joseph até concordou por um tempo, mas seu ciúmes excessivo fez com que ele saísse de casa no final de outubro, porém, segundo relatos, entre 1 e 8 de novembro, Joseph visitou Mary quase diariamente.
Na noite do dia 08/11, Mary teria tomado uma bebida em um pub com uma amiga. Mais tarde, ela foi vista em outro pub na presença de dois desconhecidos. Depois de sair do local, uma testemunha viu ela bêbada, acompanhada de um homem grande, ruivo, que usava um chapéu-coco, bigode e carregava uma lata de cerveja.

Representação de Mary Kelly
Por volta das 2h da manhã, Mary cruzou com um vigia chamado George Hutchinson, e ela pediu 6 centavos emprestados, mas ele alegou que não tinha. Posteriormente, ele viu ela sendo abordada por um homem de “aparência judaica”, na casa dos 35 anos. George disse que o homem era estranho na vizinhança e parecia querer esconder seu rosto com seu chapéu. George ouviu quando o homem disse para Mary: “Tudo bem, minha querida, venha comigo. Você ficará confortável”. Os dois partiram, aparentemente para o quarto onde Mary morava, mas George os perdeu de vista. Uma outra testemunha chamada Sarah Lewis também relatou ter visto um homem alto, de aparência “respeitável” e bigode conversando com uma mulher que ela acreditava ser a Mary. Estranhamente, algumas pessoas ouviram uma mulher gritando “assassino!”, mas não deram atenção.
Na manhã de 09/11/1888, o senhorio do quarto onde Mary estava, um homem chamado John McCarthy, enviou seu assistente, Thomas Bowyer, para cobrar o aluguel. Mary estava devendo pelo menos seis semanas de aluguel, e ela precisava pagar urgentemente, ou seria expulsa. Era perto das 10h45 quando Thomas bateu várias vezes na porta, mas não obteve resposta. Ele tentou abrir a porta, mas ela estava fechada. Thomas então olhou pelo buraco da fechadura, mas não conseguiu ver quase nada. Como ele sabia que Mary colocava roupas para tapar o buraco na janela, ele empurrou para o lado e viu uma cena assustadora: o corpo mutilado da Mary Jane Kelly em cima da cama. Thomas correu para avisar o Sr. John, que foi verificar se era verdade. Depois de constatar o fato, ele mandou Thomas ir até a Delegacia de Polícia da Commercial Street. O jovem estava tão assustado que só conseguiu dizer, gaguejando: “Outro. Jack, o Estripador. Terrível”.
O inspetor Walter Beck solicitou a assistência do médico da polícia George Phillips e deu ordens para impedir que qualquer pessoa entrasse ou saísse do pátio. Ele também providenciou que a notícia do assassinato fosse telegrafada para a Scotland Yard e solicitou a assistência de cães farejadores.- Depois que duas fotos da cena do crime foram tiradas, o corpo da Mary foi levado do Miller's Court para o necrotério em Shoreditch, onde foi formalmente identificado pelo Joseph Barnett. Ela estava tão mutilada que ele só a reconheceu pelos olhos e pelo formato característico da sua orelha. O Sr. John também confirmou que o corpo era dela.
Mary Jean Kelly foi, de longe, a vítima mais atacada e mutilada de todas as cinco. Acredita-se que isso se deve ao fato de que o assassino tinha tempo sobrando e também estava em um ambiente fechado, onde não poderia ser interrompido, diferente do que aconteceu no caso da Elizabeth Stride. O legista sugeriu que a morte ocorreu entre 2 e 8 da manhã. Toda a superfície do abdômen e das coxas foi removida e a cavidade abdominal estava com as vísceras para fora. Ambos os seios foram cortados, os braços foram mutilados, assim como o rosto, o que a deixou irreconhecível. O assassino montou quase um quebra-cabeça com as partes do corpo: o útero, os rins e um dos seios estavam sob a cabeça, o outro seio estava perto do pé direito, o fígado entre os pés, os intestinos ao lado direito e o baço perto do lado esquerdo do corpo. Havia pedaços do abdômen e das coxas sobre uma mesa, sem falar no sangue, que estava por toda a cama e também pelas paredes.
O Dr. Phillips acreditava que a causa da morte provavelmente tinha sido o corte na garganta, assim como as outras 4 vítimas, mas que não dava para dizer se as mutilações começaram antes ou depois dela já ter morrido. Além disso, ele acreditava que lesões daquela magnitude precisavam de pelo menos duas horas para serem feitas.

Dr. George Phillips
Falando agora das investigações, mas já começando com um grande buraco na história, porque a maioria dos arquivos da Polícia da Cidade de Londres relativos à investigação dos assassinatos de Whitechapel foi destruída. O que sobrou foram os arquivos remanescentes da Polícia Metropolitana. Uma equipe de policiais conduziu investigações indo de casa em casa para inspecionar e interrogar possíveis testemunhas. No total, mais de 2.000 pessoas foram entrevistadas, 300 foram consideradas suspeitas e pelo menos 80 foram presas para serem interrogadas.
A investigação foi inicialmente conduzida pelo Departamento de Investigação Criminal da Polícia Metropolitana, chefiado pelo inspetor Edmund Reid. Após um tempo, se juntaram os detetive Frederick Abberline, Henry Moore e Walter Andrews, que faziam parte da Scotland Yard. Depois do assassinato duplo da Elizabeth Stride e Catherine Eddowes, Sir James Fraser, Comissário da Polícia da Cidade, ofereceu uma recompensa de 500 xelins (que era a moeda da época na Inglaterra) por notícias que levassem a prisão do assassino. A Polícia da Cidade de Londres também foi envolvida sob o comando do Inspetor-Detetive James McWilliam. Ou seja, pelo menos 6 pessoas estavam no comando da investigação.
Como as vítimas tinham sido estripadas e tiveram os órgãos removidos, muitos de forma precisa, médicos, açougueiros e trabalhadores de matadouros foram os principais suspeitos. Uma nota do Major Henry Smith, Comissário Interino da Polícia, descreve que 76 açougues e matadouros foram visitados e que cada funcionário teve o álibi checado. Muitos tinham certeza que o assassino era judeu, ou o oposto, alguém tentando culpar os judeus pelo que estava acontecendo. Ainda em setembro de 1888, um grupo de cidadãos voluntários no East End de Londres formou o Comitê de Vigilância de Whitechapel. Liderado por George Lusk, eles patrulhavam as ruas em busca de suspeitos, em parte devido à insatisfação com a falha da polícia em prender o criminoso e também porque alguns membros estavam preocupados com o impacto dos assassinatos nos negócios da região. O Comitê chegou a oferecer uma recompensa própria pelo assassino.
No dia 16/10/1888, foi o próprio George Lusk que recebeu uma carta, dessa vez intitulada “From Hell”, ou “Do Inferno”. Além da carta ainda havia metade de um rim humano preservado. A carta dizia:
"Do inferno:
Sr. Lusk,Estou te enviando metade do rim que tirei de uma mulher e o conservei para você. Outro pedaço que fritei e comi estava muito gostoso. Posso te enviar a faca ensanguentada que o tirou, se você esperar mais um pouco.
Me pegue quando puder, Sr. Lusk"
No final de outubro, o comissário da polícia, Robert Anderson, pediu ao médico da polícia Thomas Bond para dar sua opinião sobre a extensão da habilidade cirúrgica e conhecimento do assassino. Segundo ele: “todos os cinco assassinatos, sem dúvida, foram cometidos pela mesma mão. Nos quatro primeiros, as gargantas parecem ter sido cortadas da esquerda para a direita; no último caso, devido à extensa mutilação, é impossível dizer em que direção o corte fatal foi feito, mas sangue arterial foi encontrado na parede em respingos perto de onde a cabeça da mulher deve ter estado. Todas as circunstâncias que cercam os assassinatos me levam a formar a opinião de que as mulheres devem ter estado deitadas quando assassinadas e, em todos os casos, a garganta foi cortada primeiro”. Entretanto, diferente do que muitos acreditavam, para Thomas, os cortes e retiradas dos órgãos não eram 100% precisos. Talvez o assassino tivesse algum conhecimento, mas não o suficiente.

From Hell
• SUSPEITOS:
1. MONTAGUE DRUITT:
Montague Druitt era um advogado nascido em Dorset, que trabalhava como professor em Londres para complementar sua renda. Ele foi um dos primeiros suspeitos a serem considerados, uma vez que tanto ele quanto sua família materna tinham um histórico de problemas de saúde mental. Membros da sua família consideravam ele “sexualmente insano”, algo que nunca ficou claro, mas uma das hipóteses é de que ele era homossexual. Ele foi considerado oficialmente suspeito em 1894, pelo chefe assistente de polícia, Sir Melville Macnaghten.
Entretanto, algo que joga contra essa teoria é que, durante a morte da primeira vítima, Montague estava jogando críquete em Dorset. Além disso, ele morava em Kent, do outro lado do rio, e a grande maioria dos estudiosos entende que o assassino provavelmente morava em Whitechapel. Montague foi demitido em outubro de 1888, e segundo rumores, foi por ser homossexual, o que era crime na época. Pouco depois da morte da última vítima, ele acabou cometendo suicidio ao se jogar no rio Tâmisa, com seu corpo sendo encontrado em 31 de dezembro de 1888. Ele tinha 31 anos na época.

Montague Druitt
2. SEWERYN KŁOSOWSKI:
Seweryn Kłosowski era um médico cirurgião formado na Polônia, mas que emigrou para Londres em 1887. Quando chegou ao país, não encontrou emprego na sua área, trabalhando como assistente de barbearia. Ele se casou com uma mulher chamada Lucy Baderski e foi para os Estados Unidos em 1891. Os dois voltaram em 1893, e após se divorciarem, ele decidiu assumir o nome de George Chapman. Ele teve alguns relacionamentos antes de conhecer Mary Spink, no entanto, ela morreu no Natal de 1897. Coincidentemente, a sua próxima esposa, Bessie Taylor, também morreu. Ele se casou mais uma vez, com Maud Marsh, e ela também morreu. Preocupados com a morte repentina, a família da Maud procurou a opinião de um médico, que ficou desconfiado do caso. Ele informou à polícia, que exumou o corpo das suas duas primeiras esposas e em todos foram encontrados o mesmo veneno. George foi preso, considerado culpado de assassinato e executado em 07/04/1903.
Fica claro que George era sim um serial killer, porém, essa parece ser a única coincidência, uma vez que não é normal que um assassino mude seu modus operandi. Jack era claramente desorganizada e agressivo, movido pela vontade de matar e por um possível canibalismo, enquanto George para um modus organizado e metódico, movido por ganhos financeiros. Outro ponto relevante é que George tinha experiência cirúrgica, mas não o suficiente para poder trabalhar na própria área. Isso é algo que inclusive foi levantado pelo médico policial Thomas Bond.

Seweryn Kłosowski
3. AARON KOSMINSKI:
Aaron Kosminski era um barbeiro que morava nas imediações dos assassinatos. Por conta da profissão, Aaron teria acesso a várias navalhas que poderiam ter sido usadas no crime. Assim como Montague Druitt, Aaron Kosminski tinha um histórico de transtornos mentais. Ele inclusive chegou a ficar internado no Asilo de Colney Hatch em 1891. Aaron aparece nos relatórios escritos por Sir Melville Macnaghten e pelo ex-inspetor-chefe Donald Swanson. A polícia até chegou a fazer buscas na casa em que ele morava com diversos parentes, mas, segundo um relatório altamente preconceituoso: “a polícia chegou à conclusão de que Jack, o Estripador e seus parentes eram judeus poloneses de classe baixa, e que pessoas dessa classe no East End não entregam nenhum deles à justiça”.
Em 1987, o autor Martin Fido pesquisou os registros de Aaron Kosminski no no Asilo de Colney Hatch e descobriu que ele não era perigoso, muito pelo contrário: ele apresentava apenas alucinações auditivas e mania de perseguição, nunca tendo sido violento com outros internos ou com a equipe. Em seu livro “The Cases That Haunt Us”, do ex-criador de perfis do FBI John Douglas, ele afirmou que “um indivíduo paranoico como Kosminski provavelmente teria se gabado abertamente dos assassinatos enquanto estava encarcerado se fosse o assassino, mas não há registro de que ele tenha feito isso”.
Em 2014, o historiador Russell Edwards arrematou um xale que teria pertencido a vítima Catherine Eddowes, enviando o material para análise. Segundo Russell, teria sido descoberto evidências de DNA de Aaron Kosminski no local. A notícia caiu como uma bomba, afinal, seria essa a resolução do caso do Jack, o Estripador?- Na verdade, não: testes subsequentes realizados por diversas universidades afirmaram que a parte do DNA presente no xale pode ser encontrada em até 90% da população europeia. Aliás, até hoje existem dúvidas se o objeto realmente é autêntico. Ou seja, não deu em nada.

Aaron Kosminski e o suposto xale de Catherine Eddowes
4. MICHAEL OSTROG:
Michael Ostrog era um médico russo com vários antecedentes criminais, desde roubos, fraudes até tentativa de homicídio. Segundo relatórios da época, seus antecedentes eram “os piores possíveis” e ele passou boa parte da vida entrando e saindo da cadeia.- Michel foi descrito como um homem inteligente, que tinha boa educação e “maneiras refinadas”.
Em 1887, ele voltou para a prisão por ter roubado uma caneca de metal da Academia Militar Real em Woolwich. Durante o julgamento no Tribunal Criminal Central, ele começou a apresentar sinais de insanidade, mas nunca ficou claro se ele realmente tinha ou não algum transtorno. Ele foi levado para o Asilo de Surrey Pauper, tendo recebido alta em 10/03/1888.
Enquanto os ataques estavam acontecendo, Sir Melville Macnaghten lembrou que o Michael Ostrog tinha várias características que se encaixavam no assassino: além de histórico de crimes e de possíveis transtornos mentais, ele era médico e sabia como retirar os órgãos das vítimas. Ao ser procurado pela polícia para um interrogatório, Michael não foi encontrado, o que tornou ele um fugitivo da justiça. Ele foi preso somente em abril de 1891, mas negou os crimes, dizendo que estava na França nesse período. Sem poder confirmar ou negar esse álibi, ele foi solto, mas voltou para o manicômio pouco tempo depois.

Michael Ostrog
5. JAMES MAYBRICK:
Para explicar o próximo suspeito, vamos dar um salto até 1992: Michael Barrett era um simples comerciante de sucata de Liverpool, quando encontrou um amigo em um pub. Tony Devereux, o amigo, lhe entregou um diário que, segundo ele, era revelador. O diário teria pertencido ao comerciante James Maybrick, que afirma que sua esposa, Florence Maybrick, a quem ele chama de “prostituta”, o estava traindo com um homem que morava justamente em Whitechapel, só que essa Whitechapel ficava em Liverpool. James então teria ficado com uma raiva descontrolada e decidiu assassinar prostitutas da Whitechapel de Londres. Pode parecer não fazer sentido à primeira vista, mas o diário contém uma descrição detalhada dos assassinatos, além da afirmação: “Eu dou meu nome para que todos saibam de mim, para que a história conte o que o amor pode fazer a um homem gentil nato. Atenciosamente, Jack, o Estripador”.
É impossível comprovar a procedência do diário: por um lado, historiadores dizem que as datas e os detalhes dos casos estão corretos, mas que isso não significa muita coisa, já que alguém da polícia poderia ter esses detalhes em algum relatório. O balde de água fria veio quando Michael Barrett confessou que falsificou o documento em entrevista ao Liverpool Post, porém, ele retirou sua confissão no dia seguinte.
Entretanto, existe um objeto intrigante que realmente liga James Maybrick ao Jack: em 1993, um homem chamado Albert Johnson comprou um relógio de ouro antigo, e no interior ele encontrou as iniciais das cinco vítimas de Jack, o Estripador, juntamente com a assinatura J. Maybrick e as palavras "Eu sou Jack". Assim como o diário, o relógio foi submetido a análises científicas, mas dessa vez os arranhões realmente foram considerados compatíveis com o período de 1888 a 1889. Ou seja, o diário provavelmente é uma falsificação, enquanto o relógio é uma pista mais crível, embora seja impossível garantir a sua autenticidade.

James Maybrick
6. WALTER SICKERT:
Vocês conhecem a escritora Patricia Cornwell? Ela escreve romances policiais e já vendeu mais de 120 milhões de livros. Seus trabalhos mais conhecidos incluem “Post-mortem”, “Restos mortais” e “Vestígio”. Em 2002, ela lançou o livro “Portrait of a Killer - Jack the Ripper Case Closed”, revelando que o verdadeiro criminoso era o pintor Walter Sickert. Patricia acreditava tanto nessa teoria que começou a gastar milhares de dólares em pesquisas forenses para tentar achar alguma prova do envolvimento de Walter nos crimes. Segundo ela, Walter Sickert era impotente desde criança por conta de uma fístula peniana, o que o deixou com cicatrizes emocionais e um ódio crescente pelas mulheres, já que ele não conseguia ter uma relação sexual com elas. Mas tem um problema nessa teoria: Walter chegou a se casar, mas a primeira esposa havia se divorciado dele alegando adultério e que ele teria um filho fora do casamento.
No livro, Patricia cita uma série de pinturas de 1908, inspiradas no assassinato de uma prostituta chamada Emily Dimmock. De acordo com a hipótese da autora, os retratos têm uma semelhança impressionante com as fotografias post-mortem das vítimas de Jack, o Estripador. Outro ponto levantado pela autora seria o fascínio de Walter por assassinatos, crimes e, principalmente, pelo próprio Jack. De acordo com relatos próprios, de amigos e do seu próprio trabalho, Walter realmente tinha uma vibe meio “gótica”, mas os especialistas descartam que isso seria uma prova de que ele era o assassino.
Por fim, o que talvez mais jogue contra a teoria de que Walter é o autor é a falta de provas de que ele esteve em Whitechapel quando os crimes aconteceram. Várias cartas de membros da família deixam a entender que ele estava passando férias na França por um período que corresponde à maior parte dos assassinatos. Patricia até tentou argumentar que ele poderia estar escondido na Inglaterra ou sair da França apenas para cometer os crimes, mas isso é algo impossível de se confirmar.

Walter Sickert
7. FRANCIS TUMBLETY:
Francis Tumblety nasceu na Irlanda, mas se estabeleceu nos Estados Unidos. Porém, ele constantemente visitava a Europa, principalmente o Reino Unido, a Alemanha e a França. Ele dizia ter conhecido pessoas importantes como o escritor Charles Dickens e o Rei Guilherme I da Alemanha. Francis se dizia um médico herborista, que poderia curar qualquer doença através de misturas de ervas. Quem passou esse conhecimento incrível para ele teriam sido os os povos originários dos Estados Unidos, e por isso ele se denominava o "Grande Doutor Americano", tendo se mudado para Liverpool em 1874. Obviamente que Francis era apenas uma fraude, e em 1875 um dos seus elixires acabou causando a morte de um homem chamado Edward Hanratty. A família processou Francis, mas ele fugiu para Londres. Lá ele escreveu não uma, nem duas, mas quatro biografias com a ajuda de alguns jornalistas.
Em 1996, os pesquisadores Stewart Evans e Paul Gainey lançaram o livro “Jack, o Estripador: o Primeiro Assassino em Série Americano”, onde detalham sobre Francis ter residido temporariamente em uma pensão no distrito de Whitechapel durante o período em que o assassino fez as suas vítimas. A Polícia Metropolitana prendeu Francis em novembro de 1888 sob acusações não relacionadas de indecência grave, aparentemente por ter sido flagrado em um encontro homossexual, o que era ilegal na época. Enquanto aguardava julgamento por esta acusação, e sabendo que a Scotland Yard já estava à procura do assassino de Whitechapel, ele fugiu da Inglaterra para a França sob o nome falso de "Frank Townsend", e em 24/11/1888 retornou aos Estados Unidos, onde foi preso por problemas com a justiça americana.
A Scotland Yard tentou extraditá-lo, com o inspetor de polícia inglês Walter Andrews viajando para cuidar do caso pessoalmente. porém, a polícia de New York disse que não havia provas da sua participação nos assassinatos de Whitechapel, e que o crime pelo qual ele estava sendo acusado em Londres não era extraditável”.

Francis Tumblety
8. JOHN PIZER:
John Pizer foi um sapateiro inglês que morava e trabalhava justamente em Whitechapel. Ele era descendente de judeus poloneses e perdeu a mãe quando tinha apenas 3 anos. Ele era conhecido por ser reservado, trabalhador e por falar sem nenhum sotaque da sua família, porém, a maior de suas características era o ódio que ele sentia por prostitutas que, segundo ele, desgraçaram a área de Whitechapel. Importante dizer que John possuía um histórico criminal: em 06/07/1887, ele foi à loja do seu rival, o sapateiro James Willis, caminhou até a vitrine e disse: "Não é de se admirar que eu não consiga trabalho quando você tem tudo". James pediu para que ele fosse embora e, ao se aproximar da vitrine, John tirou uma faca e tentou acertar o seu rosto. Pelo ato, John foi condenado a seis meses de trabalhos forçados.
Em 04/08/1888, John cometeu outro crime, desta vez foi atentado ao pudor e ameaça contra uma mulher.- Lembram o “avental de couro” mencionado na carta “Dear Boss”? Segundo os jornais da época, esse foi o primeiro “apelido” do assassino de Whitechapel, e investigações preliminares consideraram que John poderia se encaixar no perfil, já que tinha um histórico de crimes com facas. John foi interrogado, mas foi liberado por fornecer álibi para a morte da Mary Ann Nichols. Após o assassinato da Annie Chapman, as coisas se complicaram ainda mais para o John, uma vez que um avental de couro realmente foi encontrado na cena do crime. John foi preso no dia 10/09, e a polícia encontrou várias facas na sua residência.
Enquanto ele estava detido na Delegacia, uma multidão se reuniu do lado pedindo justiça. Aqui começou uma confusão de testemunhas porque as últimas pessoas a terem visto Mary Ann Nichols e Annie Chapman não viram John Pizer junto delas antes dos crimes. Timothy Donovan, que alugava um quarto para Annie, disse que havia expulsado um homem parecido com ele do quarto dela alguns meses antes. Uma mulher alegou tê-lo visto na companhia de uma mulher na noite do assassinato da Mary Ann Nichols e que ele a ameaçou com uma faca mais tarde. Posteriormente esse testemunho foi descartado.

John Pizer
• OUTRAS VÍTIMAS?
1. ADA WILSON:
Como falamos no começo, Jack, o Estripador teve 5 vítimas oficiais: Mary Ann Nichols, Annie Chapman, Elizabeth Stride, Catherine Eddowes e Mary Jane Kelly. Mas houveram outros crimes na mesma época que podem ou não estarem ligados com o assassino. A primeira possível vítima seria a Ada Wilson, de 39 anos. Pouco depois da meia-noite do dia 28/03/1888, Ada estava sentada em seu quarto no número 9 da Maidman Street quando alguém bateu à porta. Ao abri-la, ela encontrou um homem de cerca de 30 anos, mais ou menos 1,70 m de altura, bigode claro e rosto queimado de sol. Ele usava casaco escuro, calças claras e um chapéu de aba larga. Esse homem pediu dinheiro e ameaçou matá-la. Quando Ada se recusou, ele sacou um canivete e a esfaqueou duas vezes na garganta.
Os gritos de Ada chamaram a atenção da sua vizinha de cima, que desceu para investigar e encontrou ela quase em colapso no corredor dizendo “parem esse homem por cortar minha garganta". A vizinha viu um homem que ela descreveu como “jovem e bonito” correndo em direção a rua. Apesar dos ferimentos profundos, Ada conseguiu sobreviver. Não se tem certeza, mas a teoria mais provável é que Ada fosse costureira de dia, mas trabalhava como prostituta a noite, e que o homem que a atacou fosse um dos seus clientes. Chama a atenção que o modus operandi desse homem e do Jack são bastantes parecidos, apesar de alguns acreditarem que Ada sofreu uma tentativa de latrocínio.

Representação do ataque a Ada Wilson
2. EMMA SMITH:
Emma Smith era uma uma viúva de 45 anos que trabalhava como prostituta de uma classe baixa, que era conhecida como “unfortunate”: prostitutas que trabalhavam na rua e faziam o que era preciso ali mesmo, em qualquer canto escuro. Era uma profissão extremamente arriscada, e segundo a zeladora da pensão onde ela morava, Emma frequentemente voltava para casa com os olhos roxos. Ela, assim como as vítimas canônicas, também era alcoólatra.
Depois da meia-noite do dia 03/04/1888, Margaret Hayes, uma colega de pensão da Emma, viu ela conversando com um homem que usava roupas escuras e um lenço branco no pescoço. Entre 4 e 5 da manhã, Emma retornou ao local com o rosto sangrando, um corte na orelha e machucados nas partes íntimas. Ao ser questionada, Emma disse que foi surpreendida por dois indivíduos que roubaram todo o seu dinheiro. Ela não deu descrições precisas dos seus agressores, mas disse que o mais novo tinha cerca de dezenove anos. A dona da pensão ficou preocupada e levou Emma ao hospital que ficava na Whitechapel Road.
Quem atendeu Emma foi o Dr. George Haslip, que relatou que a paciente provavelmente tinha bebido, mas não estava embriagada. Foi o Dr. George que percebeu a gravidade dos ferimentos da Emma: além de cortes e lacerações, ela estaria com alguns órgãos colapsados. Quando foi perguntada, ela confirmou que tinha sido atacada por um objeto, mas não tinha certeza se era uma faca. Os ferimentos acabaram causando uma infecção generalizada. Ela entrou em coma na manhã do dia 04/04/1888 e faleceu poucas horas depois. O caso foi amplamente divulgado nos jornais, e mais tarde, ligado a uma possível vítima de Jack, o Estripador. Será que uma das pessoas que atacou Emma foi a mesma que atacou Ada? E será que essa pessoa, que pelo visto tinha ódio de prostitutas, tornaria Jack, o Estripador? É impossível dizer.

Representação do ataque a Emma Smith
3. MARTHA TABRAM:
Assim como as outras vítimas, Martha tinha um histórico familiar ruim e um problema com bebida: seu marido a deixou em 1875 justamente por conta disso. Mesmo recebendo uma pensão semanal, Martha precisou recorrer a prostituição para compleementar sua renda. Posteriormente a pensão, que era paga pelo seu ex-marido, foi suspensa quando ela passou a viver com um homem chamado William Turner. Infelizmente a bebida continuava sendo um problema nesse relacionamento, tanto que William acabou a deixando. Sobre o seu ofício de prostituição, Martha saía tarde e costumava voltar somente no dia seguinte. E assim como outras vítimas, ela também mudava constantemente de pensão ou de quarto alugado.
Na última noite antes de ser assassinada, Martha foi até um pub com uma colega de trabalho, que contou à polícia que elas se encontraram por volta das 23h e beberam até às 23h45. Após isso, Martha teria se encontrado com dois homens, que pagaram bebidas para ela e essa colega. Depois de deixarem o pub, Martha foi com um desses homens em direção ao George Yard, um local que era conhecido por ser muito escuro e perigoso.- Por volta das 2 da manhã, o policial Thomas Barret estava fazendo sua ronda pela Wentworth Stret, e, ao passar pela entrada do George Yard, notou um homem vagando por lá. Por volta das 4h45, um trabalhador saiu de seu apartamento no último andar e, ao descer as escadas, notou uma mulher deitada de costas em uma poça de sangue.
O médico Dr. Timothy Killeen foi quem examinou o corpo e concluiu que Martha Tabram tinha levado 39 facadas por todo o corpo, desde a garganta até a barriga. Pelo exame, também notou que tinham sido usadas duas lâminas diferentes. Não havia nenhum sinal de violência sexual. A identificação do corpo foi díficil: nenhum dos inquilinos do George Yard Buildings a conhecia, então a polícia partiu para os jornais com a descrição “mulher, aparentemente entre 35 e 40 anos de idade, com cerca de 1,60 m de altura, cabelos escuros, usava uma saia verde-escura, uma anágua marrom, uma jaqueta preta longa e um gorro preto”. O corpo foi fotografado e cópias da fotografia foram entregues a detetives e policiais que começaram a mostrá-las às pessoas no distrito na esperança de que alguém pudesse identificar a vítima. Várias pessoas a reconheceram, porém, ela se apresentava com vários nomes, incluindo: Emma Withers, Mary Bryan e Martha Turner.
Como o policial Thomas Barret tinha visto o homem que acompanhava Martha naquela noite, não foi difícil identificá-lo: era um soldado chamado John Leary, que deu um relato completo sobre ter feito um programa com Martha no local, mas que saiu pouco tempo depois, mais ou menos quando o policial o viu. Esse relato foi corroborado por outro soldado, que afirmou que os dois voltaram para o batalhão juntos. Lembram do William Turner, que morava com a Martha antes dela falecer? Ele acabou descobrindo sobre o caso no dia 20/08, e foi até o necrotério, onde o corpo dela ainda estava guardado. Foi ele que revelou a sua verdadeira identidade: Martha Tabram. Além dele, um ex-marido de Martha também a identificou. Além da demora na identificação correta, não havia nenhuma pista sequer de quem tinha cometido o crime, e o crime, assim como os outros, permanece sem solução. Se Martha foi mesmo uma vítima de Jack, na cronologia ela seria a primeira.

Representação da morte de Martha Tabram
4. ALICE MCKENZIE:
Alice McKenzie foi assassinada na madrugada do dia 17/07/1889, quase um ano depois dos primeiros ataques do Jack, o Estripador. Ela trabalhava como prostituta e foi encontrada na Castle Alley, perto da Whitechapel High Street. Sua saia havia sido puxada para cima e havia um corte que ia de seio esquerdo até o umbigo. Ela tinha 45 anos, cerca de 1,62 m de altura, cabelos e olhos castanhos e pele clara.- Quem reconheceu o corpo foi um homem chamado John McCormack, seu ex-marido com quem ela viveu por seis ou sete anos. Segundo relatos, Alice tinha deixado a pensão onde morava por conta de uma briga com outro morador que fumava muito. Inclusive foi encontrado um cachimbo de barro na cena do crime.
Existem discordâncias se a Alice pode ou não ter sido vítima do Jack, e isso vinha da própria polícia: o Dr. Phillips, médico da polícia que tinha feito a autópsia das outras vítimas, não acreditava que o corte era “profundo o suficiente” para ser do serial killer, enquanto o Comissário da Polícia James Monro tinha certeza que se tratava de mais uma obra do Jack, o Estripador. Como o caso aconteceu quase um ano depois da primeira vítima, uma possível volta do assassino causou pânico entre os moradores.
O jornal East London Observer colocou na primeira página “O assassino e seu trabalho terrivelmente medonho atacam novamente”. O jornal também pontuou que o Castle Alley ficava a menos de 400 metros das cenas dos crimes anteriores.- A pergunta que fica nesse caso é: por que o criminoso ficou 1 ano sem atacar? A polícia acreditava que ele poderia ter sido preso ou estar em outro país, e voltou a matar assim que teve oportunidade, se hospedado em uma das pensões para procurar sua próxima vítima.

Alice McKenzie
5. O TORSO DA RUA PINCHIN:
No dia 11/09/1889, enquanto o clima do assassinato da Alice McKenzie ainda estava no ar, a polícia encontrou um torço de uma mulher, sem cabeça e sem as pernas, em um dos arcos ferroviários da Rua Pinchin. Rapidamente esse caso foi ligado com o Jack, o Estripador, uma vez que essa rua era muito próxima de onde a terceira vítima oficial, Elizabeth Stride, tinha morrido. A data também coincidia com 1 ano da morte da segunda vítima, a Annie Chapman. A cena mostrava que o crime e o desmembramento tinham acontecido em outro local. O policial que descobriu o corpo anotou o horário como 5h20, e como ele estava em patrulha, ele tem certeza que, quando passou pelo local por volta das 5h, o corpo não estava lá.
Poucas horas depois que os restos mortais foram descobertos, o inspetor-chefe Donald Swanson se esforçou para salientar que o modus operandi do assassino tinha pouca semelhança com o do Jack, o Estripador. “O que se torna mais evidente é a ausência de ataque aos genitais, como na série de assassinatos de Whitechapel, começando em Buck's Row e terminando em Miller's Court. Certamente, se foi um assassinato, houve tempo suficiente para o assassino cortar a cabeça e os membros, também haveria para mutila-la”. O comissário-chefe James Monro, em seu relatório de 11/09/1889, fez uma comparação detalhada entre os crimes: ele afirmou que, nos casos anteriores, a morte havia sido causada por corte na garganta, enquanto, no caso da vítima da Rua Pinchin, não havia nada que demonstrasse isso. E se antes os corpos haviam sido mutilados e tiveram órgãos retirados, agora os membros foram literalmente removidos.
Hoje, especialistas no caso tendem a concordar que o torso na rua Pinchin não foi obra do assassino. Também nunca foi revelada a sua identidade. No dia 05/10/1889, os restos mortais da desconhecida foram sepultados no Cemitério de East London. Uma placa de metal na sua sepultura diz “Aqui contém o corpo de uma mulher desconhecida encontrada na Pinchin Street em 10 de setembro de 1889".

Representação do encontro do torço
6. FRANCES COLES:
A última possível vítima de Jack, o Estripador foi uma mulher chamada Frances Coles. Na madrugada do dia 13/02/1891, o policial Ernest Thompson estava patrulhando próximo do arco da Great Eastern Railway, quando ouviu passos de um homem se afastando e, olhando para o arco, notou uma figura caída no chão. Iluminando com sua lanterna, ele descobriu o corpo de uma mulher, deitada em uma poça de sangue e com um ferimento horrível de orelha a orelha, passando por sua garganta. Houve relatos na imprensa de que o corte era muito semelhante ao ferimento da Alice Mackenzie. O policial imediatamente apitou para alertar os policiais vizinhos, que vieram correndo para a cena. Um dos policiais disse que tinha ouvido um grito da mulher. Eles checaram os sinais vitais da mulher e viram que ela ainda tinha pulso, mas muito fraco.
Enquanto os policiais se dividiram em chamar um médico e ir até a delegacia, o Inspetor Flanagan, chefe do local, ordenou que o corpo permanecesse na posição em que foi descoberto. Ele também realizou uma busca por pistas nos arredores. Quando o famoso Dr. George Philips chegou ao local, a mulher já estava morta. Vários jornais já tinham conectado a vítima do arco da Great Eastern Railway com os assassinatos do Jack, o Estripador. No dia 14/02/1891, o The Times relatou “Mais um assassinato, embora não tão diabólico em todos os detalhes quanto aqueles que foram cometidos em um período relativamente curto em Whitechapel em 1888 e 1889, foi cometido no mesmo distrito, e as muitas circunstâncias semelhantes que cercam esse último crime misterioso parecem apontar para que seja obra da mesma pessoa. O local, a hora, o caráter da vítima e outros pontos de semelhança lembram da maneira mais óbvia a série de crimes associados na mente popular ao chamado "Jack, o Estripador”.
Na noite de 14/02/1891, os detetives conseguiram localizar alguns familiares que identificaram positivamente o corpo como sendo de Frances Coles, que trabalhava como etiquetadora em uma fábrica de produtos químicos. Segundo o inquérito, Frances deixou seu alojamento na Rua Thrawl há cerca de cinco semanas, mas na última quinta-feira retornou e pediu à sua senhoria, Sra. Hague, que a deixasse voltar, prometendo pagar o que devia. Ela então foi embora, mas a Sra. Hague a viu em um bar na esquina da Rua Montague. Ela estava com um homem que a estava oferecendo uma bebida. Ele era de pele clara e tinha um bigode ralo.
Esse homem foi identificado como James Thomas Sadler, um marinheiro de 53 anos, que tinha conhecido Frances dois dias antes de seu assassinato. Depois de alguns drinques, os dois decidiram passar a noite juntos bebendo por diversos pubs da região. Enquanto passavam pela Rua Thrawl, James foi abordado por três pessoas que roubaram seu relógio e uma quantia em dinheiro. Frances aparentemente não interviu, e por conta disso, os dois discutiram e seguiram caminhos diferentes. Às 23h30, Frances apareceu muito bêbado na pensão onde havia passado a noite anterior. Sentada em um banco da cozinha, apoiou a cabeça nos braços e adormeceu rapidamente. Às 00h30 do dia 13/02, ela acordou e como não tinha dinheiro para uma cama, foi forçada a deixar a pensão. Perto das 2h da manhã, uma mulher chamada Ellen Callana viu quando Frances foi abordada por um homem estranho e seguiu com ele.
Enquanto isso, James tentou voltar ao navio do qual fazia parte, mas entrou em uma briga com um grupo de estivadores e ficou gravemente ferido. Ele tentou entrar em uma nova pensão, mas foi impedido e dormiu na calçada. No outro dia, com o corpo da Frances devidamente identificado, James foi preso. Ele foi interrogado pelo Inspetor-Chefe Donald Swanson: James admitiu ter conhecido Frances e também ter estado em sua companhia, mas negou qualquer crime. Um homem chamado Donald Campbell testemunhou que comprou uma faca de James na manhã de sexta-feira. Donald notou que o cabo da faca estava “pegajoso” e que a lâmina estava manchada. Ele posteriormente revendeu a faca, mas conseguiu fornecer aos detetives o nome da pessoa que a havia comprado dele.
No dia 24/02/1891, James Thomas Sadler compareceu ao tribunal acusado do assassinato da Frances Coles. O legista Wynne Baxter disse ao júri que o caso "tinha muitas características em comum com os assassinatos que o precederam; mas cabia ao júri decidir, levando em consideração o estado de embriaguez de o acusado, as evidências conflitantes quanto aos horários e o relato conectado por ele de seus movimentos antes e depois do assassinato, se eles poderiam acusá-lo de forma justa pelo ato, ou se deveriam atribuí-lo a alguma pessoa ou pessoas desconhecidas”.
Inicialmente o juri decidiu a favor da condenação, mas James conseguiu provar que não estava com Frances Coles nas horas que antecederam o assassinato dela. Também foi revelado que sua faca provavelmente era cega demais para ter causado o ferimento. Além disso, ao ser questionado quanto aos outros assassinatos do Jack, o Estripador, James conseguiu provar que estava embarcado durante todo o período.- No fim das contas, James foi inocentado e o assassinato de Frances Coles permanece sem solução. Será que ela foi a última vítima do Jack, o Estripador? As características são as mesmas, tanto da vítima, quanto dos ferimentos, mas é impossível dizer algo com precisão sendo que nem o assassino é conhecido.

Frances Coles
Jack, o Estripador mudou a vida dos moradores de uma Londres empobrecida e violenta, com péssimas condições de moradia. Locais escuros, becos e vielas, que tomavam conta de Whitechapel, foram aos poucos sendo removidos. As ruas aumentaram de tamanho e ganharam iluminação adequada. Na época do caso, Jack era tratado quase como um bicho-papão, usado em histórias de pais que queriam assustar seus filhos. Nas representações, ele era um ser monstruoso, fantasmagórico e impiedoso, pronto para fazer sua próxima vítima e um símbolo da decadência da época.
Já passa de 100 o número de obras inspiradas na história de Jack e suas 5 vítimas, com filmes, livros, peças de teatro e documentários desde o início do século XX. Algumas obras interessantes são o livro “O diário de Jack, o estripador”, da autora Shirley Harrison, que apresenta o James Maybrick como um dos suspeitos. Outra obra é o filme “Do Inferno”, baseado em uma HQ do autor Alan Moore. O filme conta com Johnny Depp, Heather Graham e Ian Holm nos papéis principais.
Existem também algumas visitas e passeios que você pode fazer para ter uma experiência mais imersiva sobre o caso: existe o Jack the Ripper Museum, com uma exposição permanente que conta com cinco salas que recriam cenários como a delegacia na Leman Street, o quarto da Mary Jane Kelly e a cena do assassinato da Catherine Eddowes.- Também é possível fazer o “Jack the Ripper Tour”, uma visita guiada que passa por alguns pontos marcantes que continuam em pé. Algumas visitas são temáticas, como as que são focadas nas 5 vítimas, e também existem visitas que usam projeções para colocar o visitante em imersão na Londres do final do século XIX.
Jack, o Estripador, juntamente com o Assassino do Zodíaco, são provavelmente os mais famosos serial killers não identificados da história, e enquanto a identidade dele não for relevada, a aura de mistério que paira os assassinatos de Whitechapel continua levando centenas de curiosos a percorrer as antigas vielas londrinas onde esse assassino implacável fez as suas vítimas.

Representação de Jack, o Estripador
• FONTES: jacktheripper.org, The Telegraph, Jack the Ripper: Letters from Hell, The Murders of the Black Museum, Birmingham Daily, Jack the Ripper: The Facts, The Vintage News, Western Mail, National Geographic.
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