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  • Foto do escritorRodolfo Brenner

#80 - Richard Ramirez, o Night Stalker | SERIAL KILLER

Em 1985, a população do condado de Los Angeles e de cidades adjacentes estavam com medo: um serial killer impiedoso invadia casas no meio da noite para cometer os mais atrozes atos contra vítimas inocentes.


Essa é a versão escrita do episódio #80 - Richard Ramirez, o Night Stalker.



Ricardo Leyva Muñoz Ramirez nasceu em na cidade de El Paso, Texas, no dia 29 de fevereiro de 1960. Ele era filho de Julián, um ex-policial que trabalhava como ferroviário, e Mercedes Ramirez, que era dona de casa. No total, o casal tinha cinco filhos, sendo que o Ricardo – ou Richard, como ele era chamado por todos – era o filho mais novo. Infelizmente o Júlian tinha problemas com bebida e ficava descontrolado em alguns momentos, agredindo fisicamente a esposa e os filhos.

Aos 6 anos de idade, Richard foi diagnosticado com epilepsia, mais precisamente a do tipo lobo temporal, ou TLE. Ele tinha crises de perda de consciência e foi levado para o hospital diversas vezes. Aos 10 anos, ele começou a beber e a fumar maconha, além de apresentar um comportamento mais agressivo e sexual. Aos 12, ele brigava tanto com o seu pai que passou a dormir em um cemitério apenas para não ficar em casa com ele.


Richard acompanhado de seus pais e de uma sobrinha


Uma das pessoas mais próximas do Richard era um primo chamado Miguel Ramirez, que era militar e tinha servido na Guerra do Vietnam. A relação dos dois era como de irmãos, e o Miguel – ou Mike – era muito protetor com o Richard. Outra coisa que o Mike fazia era se gabar das coisas que ele tinha feito na guerra, como por exemplo, invadir casas, estuprar mulheres e matar seus inimigos de formas cruéis, inclusive decapitando os corpos. Essas histórias impressionaram muito o Richard, que começou a ter algumas “aulas” sobre táticas de guerra, de fuga e de invasão de casas.

Em maio de 1973, Richard estava na casa de Mike quando ele começou uma briga com sua esposa, Jessie. A discussão foi aumentando até o momento que Mike atirou no rosto da esposa, matando ela na hora, e o Richard presenciou tudo. Posteriormente, Mike foi considerado inocente por motivo de insanidade e mandado para um hospital psiquiátrico.

Algum tempo depois, Richard foi morar com a sua irmã mais velha, Ruth, e seu marido, Roberto, outro homem que também tinha influência negativa sobre ele: Roberto era um um voyeurista, que gostava de sair para caminhar à noite e espionar mulheres pelas janelas. Roberto passou a levar Richard para suas caminhadas, e em 1977, Mike se juntou a eles após ter deixado o hospital psiquiátrico.


Mike Ramirez


Quando Richard Ramirez fez 14 anos, ele passou a usar LSD com certa frequência, mais uma vez incentivado pelo primo. Ele também começou a se interessar por ocultismo e satanismo, algo que impactaria muito na sua personalidade, além de passar a ter fantasias sexuais violentas como estupro e mutilação. Nessa época, Richard começou a trabalhar em um hotel local e usava a chave mestra para entrar nos quartos e roubar os clientes enquanto eles dormiam. Algum tempo depois, ele tentou estuprar uma mulher em um dos quartos, mas foi flagrado e apanhou do marido da vítima. Posteriormente as acusações foram retiradas pelo casal, pois eles moravam em outro estado e não podiam se deslocar até o Texas para prosseguir com o caso.

Nessa época ele também abandonou a escola, vivendo de bicos e pequenos crimes até 1982, quando ele se mudou para a Califórnia. Nessa época ele começou a usar cocaína e rapidamente ficou dependente, aumentando a quantidade de roubos para conseguir dinheiro para sustentar o novo vício. Ele viveu como nômade entre São Francisco e o condado de Los Angeles durante esse período antes de ser preso e fichado pela polícia.


Los Angeles nos anos 80


Em março de 1985, Richard Ramirez atacou uma mulher chamada Maria Hernandez, de 22 anos. Ela estava entrando pela porta da garagem quando foi surpreendida por ele. Ele atirou no seu rosto com uma arma calibre .22, mas ela sobreviveu porque a bala, antes de aceitá-la, bateu no molho de chaves que ela segurava. Ela se fingiu de morta enquanto Richard entrava na sua casa. Infelizmente, a sua colega de quarto, Dayle Okazaki, não teve a mesma sorte: ela se escondeu atrás de um balcão quando ouviu os tiros, mas Richard encontrou ela e a matou com um tiro na testa. Maria deu a volta e tentou entrar na casa pela porta da frente, pensando que o bandido sairia pela porta da garagem, mas acabou dando de cara com ele. Ela perguntou se ele iria atirar nela de novo, mas ele apenas foi embora.

O detetive responsável pela investigação desse caso foi o Gil Carrillo. Ele foi muito minucioso na hora de documentar a cena do crime, o que acabou ajudando posteriormente a conectar com os outros casos. Por uma coincidência muito grande do destino, o detetive Carrillo era vizinho da mãe da Maria Hernandez, e isso transformou o caso em algo ainda mais pessoal para ele.

40 minutos depois desse ataque, Richard Ramirez fez mais uma vítima: Veronica Yu. Ela foi atingida duas vezes por uma arma calibre .22 enquanto estava estacionando em no bairro de Monterey Park. Ela chegou a ser levada para o hospital, mas não resistiu. Os detetives ainda não sabiam que as duas vítimas estavam conectadas, porque, apesar do calibre das balas serem o mesmo, ainda não era possível dizer que era a mesma arma. Apesar disso, havia desconfianças já que as duas vítimas eram mulheres asiáticas-americanas com as mesmas características físicas.

Maria Hernandez foi interrogada e foi feito um retrato falado baseado no seu relato: segundo ela, o assassino tinha mais ou menos 1.75m, cabelos cacheados, olhos fundos e dentes apodrecidos. Usava roupas escuras e um boné do AC/DC. O detetive Carrillo mostrou o retrato falado para um amigo que trabalhava na delegacia do leste de Los Angeles, e ele disse que esse homem era muito parecido com o suspeito de uma tentativa de sequestro em Pico Rivera – ou seja, era provável que esse homem fosse um criminoso de carreira.


Dayle Okazaki e Veronica Yu


No dia 27 de março, uma semana depois dos ataques, Richard Ramirez entrou em uma casa nos arredores de Whittier e encontrou o casal Vincent e Maxine Zazzara dormindo. Ele deu um tiro na cabeça do Vincent, que morreu na hora. O barulho acordou a Maxine, que foi agredida e amarrada pelo Richard. Enquanto ele insistia em querer saber onde estavam as joias e outros objetos de valor, Maxine conseguiu se soltar e pegou uma uma espingarda que ficava debaixo da cama. Ela puxou o gatilho na direção do Richard, mas a arma não estava carregada. Richard ficou com muita raiva e atirou três vezes na Maxine, que também faleceu. E não foi só isso: ele desenhou uma cruz invertida em seu peito e removeu seus olhos, colocando em uma caixa de jóias que ele levou para casa. Ele também tentou abusar do cadáver, mas não conseguiu ter uma ereção.

Os responsáveis pela investigação desse caso foram os detetives JD Smith e Russ Yuloth. No total, Richard tinha roubado mais de 40 mil dólares em jóias e objetos. Também foi constatado que o calibre da arma usada era .22.- Como a cena do crime era parecida com o primeiro ataque, os detetives chamaram o Gil Carrillo para verificar. Ele conseguiu encontrar uma evidência que seria importantíssima para conectar casos futuros: uma pegada, provavelmente tamanho 43 ou 44.


Maxine Vincent e Zazzara


Ao mesmo tempo em que esses ataques aconteciam, havia outro criminoso que também invadia casas em Los Angeles, mas para sequestrar crianças. Elas eram levadas para lugares diferentes, eram estupradas várias vezes e depois liberadas. Foram pelo menos 4 ataques desse tipo, e o criminoso estava sendo chamado de Boogeyman (Bicho-papão). Uma dessas vítimas foi a Anastasia Hronas, que tinha 6 anos na época. Na noite do crime, ela lembra de ter sido acordada por um homem e levada para fora pela janela. Ela não achou estranho no momento, pois ela achou que era alguém da sua família. Ele colocou ela no banco do passageiro e saiu dirigindo. No carro, o criminoso disse para ela abrir o porta-luvas. Ela fez isso e viu uma arma ali. Isso tinha sido um aviso, e ele disse que era “só para você saber”.

Quando o carro parou, ele colocou a Anastacia dentro de uma mala e disse para ela fazer o que ele mandasse. Quando ele a liberou, ela estava dentro de uma casa muito escura e também muito suja. Ela também lembra de ter ouvido um rádio tocando algumas músicas da Madonna em looping. Após ser estuprada repetidas vezes, ele ordenou que a Anastacia voltasse para a mala. No carro, ele a soltou e disse que deixaria ela em um posto de gasolina, onde ela poderia pedir ajuda e ligar para seus pais.

O detetive Carrillo estava desconfiado que esses crimes poderia estar de alguma forma conectado com os latrocínios que ele investigava, mas como o modus operandi era totalmente diferente, foi difícil encontrar alguém que concordasse com ele naquela época. Entretanto, ao analisar o caso de um garoto que tinha sido sequestrado pelo mesmo homem, Gil Carrillo decidiu voltar até o local onde o menino tinha sido abusado, que era uma construção no leste da cidade. Ao investigar o local, ele encontrou uma pegada deixada no cimento, e ao comparar com a pegada no caso do casal Zazzara, ficou comprovado que era a mesma. Ou seja: além dos latrocínios, Richard Ramirez também era o sequestrador de crianças.


Anastasia Hronas


No dia 10 de maio de 1985, Ramirez voltou ao Monterey Park. Dessa vez ele invadiu a casa do casal Bill e Lillian Doi. Assim que Bill viu o invasor, ele tentou pegar uma arma que ele tinha em casa, mas o Richard foi mais rápido e atirou no seu rosto. Quando Bill caiu no chão, o Richard bateu nele até deixá-lo inconsciente. Após isso, ele entrou no quarto do casal, amarrou e estuprou a Lillian, e depois roubou os objetos de valor. Bill acabou falecendo, mas Lillian sobreviveu e conseguiu dar uma descrição do invasor.

Pouco tempo depois, a polícia acabou aprendendo o primeiro suspeito: um homem chamado Arturo Robles. Além de ter algumas características parecidas com os retratos falados, ele ainda foi pego por estar perseguindo mulheres com o seu carro. Quando os policiais foram investigar a casa do Arturo, encontraram muito material pornográfico. Ele foi colocado em uma fila para reconhecimento, mas a Maria Hernandez, que era a principal testemunha até o momento, não o reconheceu (no final das contas, ele era só um tarado sexual, mas não era um homicida).


Bill e Lillian Doi

Com os casos aumentando, o detetive Carrillo precisava de alguém para ajudá-lo, e foi aí que entrou em cena o detetive Frank Salerno. Frank já era conhecido por seu senso de justiça e por trabalhar em diversos casos de repercussão nacional, dentre eles, o dos primos Kenneth Bianchi e Angelo Buono Jr, que juntos tinham matado pelo menos 10 vítimas e ficaram conhecidos como o Estrangulador de Hillside (no singular, pois por muito tempo acreditavam que era um único assassino).


Gil Carrillo e Frank Salerno


No dia seguinte, Richard usou o mesmo carro para ir até a cidade de Burbank. Lá ele invadiu a casa da Ruth Wilson, de 42 anos, que morava com seu filho (que tinha 11 ou 12 anos, dependendo da fonte). Richard prendeu a criança dentro do guarda-roupa, enquanto ordenava que a Ruth entregasse os objetos de valor. Ele também a estuprou várias vezes, e enquanto cometia o ato, ele dizia para ela não olhar para ele ou ele cortaria seus olhos.

Alguns dias depois, julho de 1985, ele fez mais uma vítima: Mary Louise Cannon, uma viúva de 75 anos que morava na cidade de Arcadia. Ele espancou a senhora até deixá-la inconsciente e depois usou uma faca de açougueiro para esfaqueala várias vezes, inclusive depois que ela já estava morta. Três dias depois, ele invadiu a casa da família Bennet na cidade de Sierra Madre, e encontrou Whitney Bennett, de 16 anos, dormindo no seu quarto. Ele a espancou com uma chave de roda e tentou estrangulá-la com um fio de telefone. O fio acabou soltando algumas faíscas, o que fez ele fugir do local.

Whitney acordou seus pais, que a levaram rapidamente para o hospital. Ela sobreviveu, mas precisou levar quase 500 pontos na cabeça. Na cama da Whitney havia um edredom, e lá a perícia encontrou uma pegada de sangue, que batia com a pegada encontrada na casa dos Zazzara. Mais tarde, Richard explicou porque ele deixou a Whitney sobreviver: ao ver as faíscas, ele acreditou que Jesus estava intervindo pela vida da sua vítima, e como ele era um satanista, decidiu fugir.


Pegada encontrada no edredom de Whitney Bennett


No dia 06 de julho de 1985, Richard Ramirez invadiu a casa da família Rodriguez. O casal John e Lorraine Rodriguez estavam dormindo, quando ela ouviu um barulho alto. Ela acordou o marido insistindo que ligasse para a polícia, mas como ele era policial, resolveu fazer uma ronda pela casa com a arma em punho.- Felizmente ele não encontrou nada dentro da casa, mas se deparou com uma janela aberta, uma que estava emperrada a anos. Os detetives encontraram uma pegada na lama ao lado da janela, e perceberam que o Night Stalker tinha tentado invadir a casa dos Rodriguez naquela noite, mas por algum motivo ele desistiu.

No dia 7 de julho, Richard invadiu a casa da Joyce Nelson, de 60 anos, em Monterey Park. Ela estava dormindo no sofá quando foi atacada violentamente, espancada até a morte. Ele inclusive pisou no rosto dela com tanta força que conseguiram tirar um molde da pegada, que novamente bateu com as pegadas anteriores. Na mesma noite, uma das peritas que estava trabalhando no caso chamada Linda Arthur foi acordada por gritos na porta: alguém tinha entrado na casa da sua vizinha, a Sophie Dickman, de 63 anos. Ela tinha sido estuprada e roubada, mas sobreviveu.

Após o caso da Joyce Nelson foi quando o caso começou a ganhar força na mídia: uma das repórteres que mais cobriu o caso foi a Laurel Erickson, da NBC. Ao conversar com um policial, ele acabou soltando a informação sobre as pegadas. Laurel comentou sobre as pegadas com os detetives, que ficaram apreensivos com a ideia dessa informação vazar e o suspeito se livrar dos sapatos. Os detetives pediram ajuda do chefe da polícia de Los Angeles, que precisou intervir e conseguiu uma “troca”: eles dariam uma entrevista exclusiva para a Laurel Erickson, e ela não comentaria nada sobre a pegada. E assim foi feito.


Laurel Erickson


Até o momento as pegadas eram a maior pista que os detetives tinham, então eles decidiram que iriam tentar descobrir de que tênis elas vinham. Aquilo era um tiro no escuro: além de não ser comum esse tipo de investigação naquela época, a pegada poderia ser de um tênis popular, o que não ajudaria a encontrar o suspeito. Um perito criminal chamado Gerry Burke foi designado para essa atividade. A única coisa que ele sabia era que o tênis era preto, isso graças ao relato das testemunhas. Ele visitou várias lojas de tênis na cidade e conseguiu descobrir que o tênis do suspeito era da marca Avia, uma marca recém-lançada, com poucos pares vendidos.

Gerry viajou até Portland, no Oregon, para falar com o dono da marca, que também era o desenvolvedor dos tênis. Com a ajuda dele, Gerry descobriu que a pegada vinha de um tênis do modelo Avia 440, número 43. Através das planilhas de vendas foi constatado que somente 6 tênis Avia 440 43 pretos foram distribuídos pelos EUA: 5 no Arizona e 1 na Califórnia.


Avia 440, o tênis usado por Richard Ramirez


Agora que a polícia que o tênis a qual pegada pertencia era bem específico, eles sabiam que se tratava sempre do mesmo bandido. Procurando nos arquivos da polícia, eles descobriram um caso sem solução onde a pegada também tinha aparecido: foi na cidade de Monrovia, onde o Richard Ramirez invadiu a casa das irmãs Mabel e Florence Collings, de 83 e 81 anos, respectivamente. Essa foi uma das cenas mais violentas de todo o caso: as duas foram agredidas com um martelo, foram estupradas e levaram choques elétricos com um fio desencapado. Richard usou um batom para desenhar um pentagrama no corpo da Florence e nas paredes da casa.

Com elas eram idosas, moravam sozinhas e não tinham parentes próximos, os vizinhos só sentiram falta delas dois dias depois. Quando a polícia chegou, milagrosamente elas ainda estavam vivas e foram levadas com urgência para o hospital, mas infelizmente as duas acabaram sucumbindo aos seus ferimentos dias depois.


O quarto das irmãs Collings: Richard desenhou um pentagrama na parede


Outro caso ligado ao Richard foi a tentativa de sequestro de uma jovem em Eagle Rock. Ela conseguiu escapar e o sequestrador fugiu dirigindo um carro Toyota. Momentos depois, Richard foi parado por dirigir em alta velocidade. Como ele estava sem carteira, o policial pediu para que ele esperasse fora do veículo enquanto falava com a central. Enquanto estava próximo do carro da polícia, o Richard ouviu pelo rádio que uma jovem tinha sofrido uma tentativa de sequestro, mas que o culpado tinha fugido. Com medo de ser preso, ele saiu correndo, deixando o carro para trás.

A polícia levou o carro para a divisão nordeste da cidade, onde foi constatado que ele era roubado. Os detetives foram até lá para inspecionar o veículo, mas os policiais de lá não permitiram, já que ele agora estava sob jurisdição deles. Como é dito no documentário Night Stalker: The Hunt for a Serial Killer, esses problemas de jurisdição eram comuns, pois todos os policiais de Los Angeles queria mostrar serviço e ganhar fama com o caso, mesmo que isso dificultasse o fim do processo. Acontece que esses policiais demoraram dias para começar a periciar o veículo, que ficou ao sol e ao vento, estragando a maioria das pistas do lado de fora do carro.

Os detetives Gil e Frank, completamente descontentes com esse povo, foram inspecionar dentro do veículo e encontraram um cartão de um dentista que ficava em Chinatown. Eles foram até o consultório e o dentista foi interrogado: ele confirmou que um homem suspeito esteve lá, e as características batiam com o do retrato falado. Na ficha desse sujeito estava o nome Richard Mena, além de um endereço na Branik Street. Eles foram até o local, mas o endereço era falso.

Entretanto, essa visita ao dentista não foi à toa: eles conseguiram cópias do Raio X do suspeito. Um dentista amigo do detetive Carrillo disse que aqueles dentes estavam tão prejudicados que ele com certeza voltaria ao consultório. Foram colocadas câmeras e policiais infiltrados no consultório, e a polícia de L.A. instalou um botão que acionaria as autoridades caso ele aparecesse. E ele realmente voltou: o dentista acionou o botão várias vezes, mas nenhum policial apareceu. Ele ligou para os detetives posteriormente, eles foram até o local e perceberam que o botão simplesmente não funcionava.



Chinatown, Los Angeles


Duas semanas depois, no dia 20 de julho, Richard roubou um carro e foi até a cidade de Glendale. Lá, ele invadiu a casa do casal Max e Lela Kneiding e atacou eles com um facão antes de matá-los com um tiro na cabeça. Depois, ele mutilou os seus corpos e roubou vários objetos de valor. Na mesma noite, ele dirigiu até Sun Valley e invadiu a casa da família Khovananth, de imigrantes tailandeses. Primeiro, ele matou o pai, Chainarong, com um tiro na cabeça. Depois, ele agrediu sexualmente o filho do casal, de 8 anos, e a mãe, Somkid. Por fim, ele fez ela entregar os objetos de valor da casa e jurar para Satanás que não estava escondendo nada. O depoimento dos dois foi muito importante para melhorar o retrato falado.

No dia 6 de agosto de 1985, Richard foi até a cidade de Northridge e invadiu a casa do Chris e Virginia Peterson. Quando ele invadiu o quarto, ele acabou acordando a Virginia e atirou no rosto dela. O som do disparo acordou o Chris, que levou um tiro no pescoço. Mesmo baleado, ele entrou em luta com o agressor e conseguiu colocar ele pra fora. O casal foi levado para o hospital e ambos sobreviveram.- Essa foi a primeira vez que o agressor usou outra arma: uma calibre .25. Quando realizaram exames de balística, viram que a munição era muito antiga, e um dos lados apresentava uma pintura vermelha.

O jornal Herald-Examiner estava divulgando muito os casos, e foi ele que apelidou o agressor de Night Stalker (perseguidor da noite). Enquanto isso, a população de Los Angeles estava apavorada: as vendas de armas de fogo dispararam, assim como a procura de aulas de defesa pessoal. Quem não podia gastar tanto, comprava cadeados e fazia barricadas nas portas e janelas antes de dormir.


Retrato falado do Night Stalker


No dia 8 de agosto, o detetive Carrillo recebeu um telefonema. Ele já sabia que se tratava de mais um ataque, mas ficou surpreso quando soube que o agressor tinha atacado em Diamond Bar, um bairro muito próximo da casa dele. Pearl, a esposa do detetive, ficou com tanto medo que ela mudou com os filhos de casa e disse que só voltaria quando aquilo acabasse. As vítimas foram o casal Elyas e Sakina Abowath. Ele levou um tiro e morreu na hora, e ela foi violada de diversas maneiras. Enquanto ele cometia o estupro, ele dizia para ela não olhar para ele. Ela disse “eu juro por Deus que não estou olhando” e ele gritou “não jure por Deus, jure por Satã”. A mesma munição .25 foi usada, e eles puderam constatar que era o mesmo agressor já que as balas eram identicas ao ataque anterior.

Após esse caso, os detetives gravaram um pronunciamento em que informavam sobre o Night Stalker, dando diversas características e informações sobre os casos. Eles também salientaram que algumas informações não deveriam ser divulgadas, pois somente eles e o agressor sabiam. Esse material foi enviado para todas as delegacias do condado de L.A.

No dia 18 de agosto, a polícia de São Francisco percebeu um crime com um modus operandi muito parecido com o do Night Stalker: alguém havia invadido a casa do casal Peter e Barbara Pan. Lá ele atirou contra o Peter, que faleceu na mesma hora. Ele então espancou e agrediu sexualmente a Bárbara antes de dar um tiro na sua cabeça. Ela foi levada às pressas ao hospital e sobreviveu. Ele novamente usou um batom para desenhar um pentagrama, além da frase “Jack the Knife”, uma alusão ao serial killer Jack, o Estripador, que é chamado de “Jack the Ripper” em inglês.

Os detetives de Los Angeles foram para São Francisco e ao processarem as balas, eles perceberam que eram as mesmas .25 dos crimes anteriores. Além deles, quem também foi para lá foram os repórteres que cobriam o caso, incluindo a Laurel Erickson. Um colega de emissora dela entrevistou alguns vizinhos da casa atacada, e um deles contou que os detetives tinham comentado algo sobre pentagramas desenhados na cena do crime. Ao questionar o detetive Frank Salerno em entrevista, ele disse negou que aquilo fosse verdade, pois ele sabia que se a informação sobre o Night Stalker ser um possível satanista vazasse, ia causar ainda mais pânico na população. Além disso, o suspeito poderia fugir ou mudar seu modus operandi ao ver aquilo nos noticiários, o que dificultaria ainda mais a sua captura.

Antes de irem embora, Gil e o Frank trocaram várias informações confidenciais com a polícia de São Francisco, e deixou claro que elas não poderiam vir a público de nenhuma forma. Entretanto, Dianne Feinstein, a prefeita de San Francisco, resolveu ir até a polícia para se inteirar do que estava acontecendo e alguém passou essas informações para ela, mas não disse que era para manter segredo. No mesmo dia, ela fez uma coletiva de imprensa e divulgou absolutamente tudo que até então apenas a polícia e o criminoso sabiam, como o calibre das armas e a pegada do tênis Avia. Quando viram aquilo, os detetives ficaram muito irritados e pediram ajuda do xerife do condado, Sherman Block. Ele chamou a imprensa e falou que aquilo tinha sido um grande erro que comprometeria totalmente a investigação.


A prefeita Dianne Feinstein segura o cartaz do Night Stalker


No dia 24 de agosto de 1985, Richard roubou outro carro e foi até a cidade de Mission Viejo. Ele escolheu atacar a casa da família Romero, que tinham voltado recentemente de uma viagem ao México. Enquanto ele se preparava para invadir a residência, suas atitudes suspeitas chamaram a atenção de um dos filhos da família, James Romero III, de 13 anos. Quando ele escutou passos, foi até a janela e conseguiu ver o Richard Ramirez rondando a casa. Ele acordou os seus pais, que rapidamente chamaram a polícia. Enquanto o Richard fugia, James correu até a rua e conseguiu memorizar parte da marca, o modelo e a cor do carro.

Após fugir da casa da família Romero, ele invadiu a casa do Bill Carns e da sua noiva Inez Erickson. O casal estava dormindo quando Richard atirou três vezes na cabeça do Bill. Depois, ele arrastou a Inez, a estuprou e pediu para ela entregar os objetos de valor. Antes de ir embora, ele disse: "Diga a eles que o Night Stalker esteve aqui". A Inez conseguiu se soltar e foi até a casa de um vizinho pedir ajuda. Bill precisou fazer uma cirurgia de emergência e sobreviveu. Após divulgarem a informação sobre o carro nos noticiários, a polícia recebeu a ligação de um homem que confirmou que o carro usado naqueles ataques era do seu amigo, mas que tinha sido roubado no final de semana. O carro foi encontrado e periciado, e pela primeira vez eles obtiveram uma impressão digital.


Reportagem sobre o carro encontrado


Poucos dias depois, os detetives receberam a ligação de uma mulher que contou uma história interessante: seu pai, que era morador de rua e ficava nos arredores do terminal rodoviário, contou a ela que tinha feito amizade com um homem chamado Rick, que parecia muito com o retrato falado do Night Stalker. Ao entrevistarem o morador de rua, ele contou que o Rick disse que era de El Paso, no Texas, e se gabou de ter matado um casal asiático em Monterey Park com uma pistola .22.

Desconfiados que esse casal poderia ser o Bill e Lillian Doi, eles decidiram continuar ouvindo o morador de rua. Ele também disse que tinha comprado uma arma e um rádio desse tal Rick, mas que tinha vendido os itens na cidade de Tijuana, fronteira dos EUA com o México. A polícia conseguiu recuperar os objetos e descobriu que o rádio foi roubado na casa das irmãs Mabel e Florence Collings.

Enquanto isso, em São Francisco, um informante da polícia chamado Eearl Gregg foi até a delegacia e entregou um bracelete dizendo que era possível que o objeto estivesse ligado ao Night Stalker: segundo ele, a mãe da sua esposa, que morava em San Pablo, tinha ganhado esse bracelete do seu namorado, Armando Rodriguez. Armando, por sua vez, disse que tinha conseguido o bracelete com um amigo de El Paso chamado Rick, que usava um boné de AC/DC, uma jaqueta escura e tinha os dentes pobres, uma descrição idêntica a que a Maria Hernandez tinha dado lá no primeiro ataque.

A polícia foi atrás do Armando, mas ele se recusou a ajudar. Eles então levaram ele para dentro da viatura para conversar com mais calma e pediram novamente o nome do seu amigo, mas ele começou a ofender e ameaçar a polícia. Foi nessa hora que um dos detetives de São Francisco deu um soco muito forte no Armando, que caiu no banco de trás. Com medo, ele finalmente soltou o nome: Richard Ramirez.

No dia 30 de agosto de 1985, os detetives de L.A. receberam a notícia de que a polícia de São Francisco tinha um nome. No total, foram encontradas oito pessoas chamadas Richard Ramirez, todas com ficha criminal. Os peritos precisaram comparar manualmente as impressões digitais dos arquivos com aquela achada no espelho retrovisor, e foi quando eles conseguiram identificar o Richard Ramirez correto. A polícia pegou a foto que tinha na ficha do Richard e conseguiu confirmar com uma testemunha que realmente era ele.

Foi feita mais uma coletiva de imprensa unindo a polícia de Los Angeles com a de São Francisco, informando que Richard Ramirez era procurado pelos crimes do Night Stalker. Um bibliotecário de São Francisco estava lendo o jornal no dia seguinte quando viu a reportagem sobre o caso. Ele identificou que o homem daquela foto tinha ido até a biblioteca um dia antes e perguntado sobre os livros sobre “horóscopo e tortura”. Ele informou onde ficava, mas não conseguiu não notar que ele tinha os dentes podres e um mal cheiro terrível.

A polícia já imaginava que o Richard ia tentar fugir assim que ele visse o seu retrato nos jornais, então a polícia montou uma operação na rodoviária para tentar capturá-lo assim que ele embarcasse. O que ninguém sabia é que ele já estava fora do estado, não fugindo, mas visitando o irmão dele no Arizona. Quando ele voltou para Los Angeles, ele percebeu que tinha uma movimentação anormal de policiais, mas não imaginava que eles estavam atrás dele. Como estavam esperando que ele entrasse em um ônibus, e não saísse, ele conseguiu deixar a rodoviária sem maiores problemas.

Ele se dirigiu até uma loja de bebidas e assim que entrou, viu a cara dele em todos os jornais. Ele entrou em pânico, saiu correndo e entrou no primeiro ônibus que viu. Após um tempo, um dos passageiros – que estava lendo o jornal do dia – reconheceu o Richard Ramirez, mas não teve tempo de fazer algo porque ele desceu assim que percebeu a situação. A polícia já tinha sido informada dos acontecimentos e começou uma verdadeira caçada pelas ruas de Los Angeles.

Depois de descer do ônibus, ele tentou roubar um carro de uma mulher, mas foi impedido pelo marido dela. A confusão foi aumentando à medida que as pessoas em volta reconheciam ele, e a cena virou um verdadeiro caos: enquanto alguns gritavam e chamavam a polícia, outros tentavam entrar em luta corporal com ele. Um homem arrancou uma barra de ferro de um portão e acertou na cabeça do Richard, que caiu no chão e começou a ser agredido por todo mundo que estava a sua volta. Uma viatura que estava nas proximidades recebeu o aviso sobre uma perturbação da paz e foi até o local. Chegando lá, um dos policiais teve que pular na multidão e levantar o Richard para prendê-lo. Mesmo assim, era tanta gente em volta da viatura que eles quase não conseguiram deixar o local.

Esse frenesi todo se estendeu até a delegacia: os policiais precisaram fazer barricadas para impedir que a população invadisse e terminasse de linchar o Richard.- Segundo testemunhas e sobreviventes, houve uma comoção gigantesca na cidade: as pessoas comemoravam, gritavam, pulavam, batiam palmas e cantavam o hino nacional. Era como se o país tivesse ganhado a copa do mundo.


Richard Ramirez na viatura após ter recebido os primeiros socorros


Como o caso era muito famoso, foi muito difícil encontrar um júri imparcial, tanto que o julgamento só começou em julho de 1989. Logo na sua primeira aparição no tribunal, ele mostrou um pentagrama desenhado na sua mão e gritou: “Salve Satan”. O julgamento foi bastante televisionado. Ramirez tinha dois advogados, que eram considerados inexperientes para um caso grande, mesmo tendo sucesso na absolvição de todos os seus clientes.

Como aconteceu em outros casos famosos, o júri foi tumultuado: uma ameaça de tiroteio fez com que detectores de metais fossem instalados no tribunal, além de revistas rigorosas com todos que entravam ou saíam do local. Depois, o júri precisou ser adiado porque uma das juradas acabou não comparecendo e posteriormente foi encontrada morta no seu apartamento. Alguns especularam se algum comparsa do Richard Ramirez poderia ter feito aquilo, tanto que o jurado suplente precisou de escolta para voltar para casa de tão apavorado que ele estava. No fim, foi identificado que a jurada tinha sido morta pelo namorado e que o Richard não tinha nada a ver com esse caso.

No dia 20 de setembro de 1989, Richard Ramirez foi condenado pelas quarenta e três acusações que ele enfrentava: treze acusações de homicídio, cinco tentativas de homicídio, onze agressões sexuais e quatorze roubos. Quanto às acusações de molestar crianças, os promotores, juntamente com os detetives, decidiram não levá-las adiante para poupar as crianças de terem que reviver tudo o que eles passaram. Em novembro, o juiz determinou a pena: morte na câmara de gás.

No tempo que ficou preso, Richard Ramirez recebeu diversas cartas, fotos e poemas de fãs. Até foi feito uma reportagem sobre elas, que sempre estavam na frente do juizado e da prisão estadual de San Quentin, onde ele ficava. Em 1996, ele chegou a casar com uma delas, uma mulher chamada Doreen Lioy, que disse que cometeria suicídio assim que ele fosse executado. Felizmente ou não, eles se separaram pouco tempo depois. Durante o tempo que ele esteve preso, foram feitas várias apelações pela sua condenação, mas todas foram rejeitadas. Em setembro de 2006, a Suprema Corte da Califórnia negou o pedido de uma nova audiência. A sua defesa entrou com novos recursos que ficaram tramitando por anos, mas sem sucesso. No dia 7 de junho de 2013, Richard Ramirez faleceu aos 53 anos em decorrência de um linfoma.


Richard Ramirez e sua esposa Doreen Lioy


Em 2009, a polícia fez testes de DNA em casos sem solução e descobriu que o ataque contra a Maria Hernandez e a Dayle Okazaki não tinha sido o primeiro crime grave do Richard Ramirez: alguns meses antes ele tinha estuprado, espancado e assassinado com um canivete uma menina de 9 anos chamada Mei Leung. Segundo notícias da época, a Mei estava junto com seu irmão procurando uma nota de 1 dólar que eles tinham derrubado quando um homem hispânico e magro apareceu dizendo que sabia onde o dinheiro estava, e infelizmente a Mei o seguiu.

Outro caso que só foi posteriormente ligado a ele foi o assassinato da Jennie Vincow, de 79 anos. Ela foi encontrada morta em seu apartamento em Glassell Park, em Los Angeles, tendo sido esfaqueada na cabeça, no pescoço e no peito enquanto dormia. Além disso, o assassino cortou a sua garganta. Ao examinar o local, a polícia encontrou uma impressão digital na tela que ficava na janela que o assassino usou para entrar, mas essa foi a única pista e o caso foi arquivado na época.

Além dessa vítima confirmada, Richard Ramirez também é suspeito de outros dois casos: o primeiro é do assassinato da Patty Higgins, em junho de 1985, em Arcadia. Richard até chegou a ser acusado do crime pela similaridade da cena, mas não havia evidências suficientes para incriminá-lo. O segundo é o duplo assassinato das irmãs Christina e Mary Caldwell, em São Francisco. Elas foram encontradas mortas a facadas no apartamento em que elas moravam em Telegraph Hill, em fevereiro de 1985. Novamente, faltaram evidências físicas para ligarem ele ao caso.


Poster da série documental "Night Stalker: The Hunt for a Serial Killer"


• FONTES: Night Stalker: The Hunt for a Serial Killer, The Independent, CBS News, Real Crime, Biography, NBC Los Angeles, CNN, Los Angeles Times, Epilepsy Foundation.

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