#96 - David Berkowitz, o Filho de Sam | SERIAL KILLER
- Rodolfo Brenner
- 26 de jun.
- 15 min de leitura
Nos anos 70, Nova York foi aterrorizada por um atirador misterioso que matava mulheres e mandava cartas para se corresponder com a polícia e com jornalistas, em uma história envolvendo traições, demônios e cachorros que falam.
Essa é a versão escrita do episódio #96 - David Berkowitz, o Filho de Sam.

Elizabeth Broder, mais conhecida como Betty, era uma garçonete vinda de uma família humilde que morava no Brooklyn, uma das regiões que compõem a cidade de Nova York. Em 1936, ela se casou com um italiano chamado Tony Falco, com quem teve uma filha. Esse casamento era muito conturbado e durou apenas 4 anos, quando Tony saiu de casa para viver com outra mulher. Na década de 50, Betty se envolveu com o empresário Joseph Kleinman e acabou engravidando. O problema é que ele era casado, e assim que ela contou sobre a criança, Joseph falou para ela fazer um aborto. Ela decidiu continuar a gestação, e em 01/06/1953 nasceu Richard David Falco, que chegou a ser registrado com o nome do pai, o Tony, porque ele e a Betty ainda eram casados. Poucos dias após o nascimento, Betty entregou o bebê para o casal Nathan e Pearl Berkowitz, que o adotaram legalmente e inverteram o seu nome, e assim ele foi rebatizado como David Richard Berkowitz.
David cresceu em uma família estruturada e tinha uma ótima relação com a mãe, mas não com pai: ambos foram descritos como tendo “personalidade forte”, e por isso viviam brigando. David tinha uma inteligência acima da média e era um ótimo jogador de baseball, porém, passou a ter um comportamento problemático com o tempo: ele entrava em brigas na vizinhança, furtava lojas e botava fogo em objetos. Em 1967, a mãe, Pearl, morreu de câncer de mama. O pai acabou se casando novamente pouco tempo depois, e como ele não se dava bem com a madrasta, ele saiu de casa e foi servir ao exército entre 1971 até 1974. Depois da baixa, David passou a trabalhar como segurança e começou a frequentar uma igreja, sendo essa a sua época mais “tranquila”. Ele também reencontrou Betty, a sua mãe biológica, mas ficou incomodado com o fato dele ter sido entregue para adoção e os dois logo perderam o contato.

David durante a época da escola
Em 1975, David largou a igreja e começou a cometer diversos assaltos, primeiro com uma faca, depois com uma pistola. Suas áreas de atuação eram o Bronx, o Brooklyn e o Queens, que são 3 das 5 macrorregiões que dividem a cidade de Nova York. Com o tempo, esses roubos foram ficando cada vez mais violentos, e ele cometeu sua primeira tentativa de assassinato no natal de 1975. Naquele dia, David atacou com uma faca duas mulheres no bairro de Co-op City, no Bronx. Uma das vítimas era a Michelle Forman (15), ela foi esfaqueada seis vezes, ficou internada em estado grave, mas sobreviveu. A outra mulher nunca teve a identidade revelada ao público. Na época, nenhum dos casos foi solucionado.
Após isso, David comprou um revólver calibre .44, que seria a marca registrada dos seus crimes. Em 09/04/1976, Wendy Savino tinha acabado de entrar dentro do seu carro, que estava estacionado no Bronx, quando viu um homem que ela descreveu como “bonito e arrumado” se aproximando. Ele bateu no vidro da janela pedindo por informações, e quando Wendy abaixou, David deu 5 tiros nela. Mesmo sendo atingida no peito, no braço, no rosto e nas costas, ela sobreviveu, apesar de ter perdido a visão em um dos olhos. Depois de se recuperar, Wendy foi interrogada pela polícia e foi feito um retrato falado do criminoso. Wendy foi morar na Inglaterra por conta do medo que ela passou a sentir em Nova York, e, por conta disso, o caso acabou ficando esquecido e só foi ligado oficialmente em 2024, quando a Wendy passou a ser oficialmente a primeira vítima do David utilizando a arma com a qual ele ficaria conhecido.

Wendy Savino com o retrato falado de David Berkowitz
Na madrugada de 29/07/1976, as amigas Donna Lauria (18) e Jody Valenti (19), estavam estacionadas em um carro na frente da casa da Donna, no bairro de Pelham Bay, no Bronx, conversando sobre uma festa que elas tinham ido. Quando Donna saiu do carro, viu um homem se aproximando. Esse homem era o David, e ele efetuou 3 disparos contra elas: o primeiro matou a Donna instantaneamente, enquanto a Jody levou um tiro na coxa. David fugiu sem levar nada. Jody foi levada para o hospital e se recuperou. Segundo seu depoimento, o atirador era um homem branco, na média de 30 anos, 1.70m, pesava cerca de 90 kg e tinha cabelo curto e escuro. Não houve testemunhas do atentado, mas algumas pessoas na região, incluindo o pai da Donna, relataram que tinham visto um carro amarelo estranho rondando o bairro.

Donna Lauria (18) e Jody Valenti (19)
No dia 23/10/1976, o casal Carl Denaro (20) e Rosemary Keenan (18) estavam em um carro estacionado no bairro de Flushing, no Queens, quando foram atingidos por disparos. Rosemary, que estava ao volante, saiu em disparada. Os dois foram levados para o hospital, mas sobreviveram: Carl precisou ficar internado porque ele tinha levado um tiro na cabeça, e precisou colocar uma placa de metal no crânio. Rosemary só teve ferimentos superficiais por conta do vidro quebrado da janela do carro. Ambos tiveram seus depoimentos colhidos, mas nenhum deles tinha visto o atirador. Como o pai da Rosemary era detetive da polícia de Nova York, o caso foi intensamente investigado, mas a única pista descoberta foi que as balas usadas no ataque eram de calibre .44. Apesar de algumas similaridades com o ataque contra a Donna e a Jody, os casos não foram conectados porque um tinha acontecido no Bronx e outro no Queens.

Carl Denaro (20) e Rosemary Keenan (18)
O último ataque de 1976 aconteceu no dia 27/11: as estudantes Donna DeMasi (16) e Joanne Lomino (18) estavam voltando do cinema a pé no bairro de Floral Park, no Queens. Quando já estavam na frente da casa da Joanne, um homem com roupas militares se aproximou e pediu orientações, mas antes delas responderem, ele sacou um revólver e disparou contra elas. Quando elas caíram, David atirou mais algumas vezes. Um vizinho que escutou os disparos correu para fora e viu um homem correndo da cena do crime. As duas sobreviveram: Donna foi atingida no pescoço, mas se recuperou rapidamente; enquanto a Joanne foi atingida nas costas e acabou ficando paraplégica.

Donna DeMasi (16) e Joanne Lomino (18)
No dia 30/01/1977, o casal Christine Freund (26) e John Diel (30) estavam sentados em um carro em Forest Hills, no Queens, se preparando para ir até uma danceteria, quando David alvejou o automóvel: três tiros entraram no carro, dois atingiram a Christine, enquanto um pegou de raspão em John. Ele só teve ferimentos superficiais, mas infelizmente faleceu horas depois. John foi entrevistado, mas ele não tinha visto o agressor. Foi depois desse ataque que a polícia notou similaridade com os crimes anteriores: todas as vítimas tinham sido atingidas no início da madrugada, com balas calibre .44, a maioria estavam em carros estacionados e as mulheres todas eram jovens com cabelo longo e escuro. Foi liberado um retrato falado baseado nas poucas testemunhas, mas havia uma diferença bem importante: por mais que a face fosse parecida, no caso de Pelham Bay, o suspeito teria cabelo escuro, enquanto em Floral Park, ele seria loiro.

Christine Freund (26) e John Diel (30)
No dia 08/03/1977, a estudante universitária Virginia Voskerichian (20) estava voltando para casa, que ficava próximo de onde a Christine e o John foram baleados, quando foi parada por um homem armado, que era o David. Ela se assustou e ele acabou atirando nela. Virginia tentou usar o seu caderno para se proteger, mas a bala passou por ele e acabou acertando ela na cabeça, que morreu na hora. Após o assassinato da Virginia Voskerichian, a polícia de Nova York, juntamente com o prefeito Abraham Beame, fez uma coletiva de imprensa para falar sobre os casos. Nesse momento, os crimes já estavam sendo amplamente divulgados por jornais como New York Post e o Daily News, que chamavam o atirador de “Assassino do Calibre .44”.
Na madrugada do dia 17/04/1977, Alexander Esau (20) e Valentina Suriani (18) estavam sentados em um carro estacionado em Hutchinson, no Bronx, quando alguém atirou quatro vezes contra eles: Valentina levou um tiro e Alexander levou dois, ambos na cabeça. Ela morreu na hora e ele morreu no hospital. A única testemunha foi um morador que ouviu os tiros e chamou a polícia, mas ninguém viu o atirador.

Alexander Esau (20) e Valentina Suriani (18)
Ao investigar a cena de crime do Alexander e da Valentina, a polícia descobriu uma carta escrita a mão que estava endereçada para o capitão Joseph Borrelli, que estava à frente da investigação dos tiroteios:
Eu estou muito triste por vocês me chamarem de um odiador de mulheres. Eu não sou. Mas eu sou um monstro. Eu sou o “Filho de Sam”. Eu sou um pouco infantil. Quando o pai Sam fica bêbado ele fica mal. Ele bate em sua família. Às vezes ele me amarra nos fundos da sua casa. Outras vezes ele me tranca em sua garagem. Sam ama beber sangue. “Vá lá fora e mate” comanda o pai Sam. Atrás da nossa casa, algum descanso. A maioria jovem — estuprada e estraçalhada — seu sangue drenado — apenas ossos agora. Pai Sam me mantém trancado no ático. Eu não consigo sair, mas eu olho para fora da janela e assisto o mundo. Eu me sinto como um estranho. Estou em uma sintonia diferente de todos os outros: programado para matar. Porém, para me parar vocês terão que me matar.
Atenção todos os policiais: atirem em mim primeiro — atirem para matar. Saiam do meu caminho ou vocês morrerão! Pai Sam está velho agora. Ele precisa de um pouco de sangue para preservar sua juventude. Ele teve muitos ataques cardíacos. Muitos ataques cardíacos mesmo. Sinto muita falta da minha linda princesa. Ela está descansando na casa das nossas senhoras, mas a verei em breve. Eu sou o "Monstro" - "Belzebu" - o "Behemouth Fofinho". Eu amo caçar. Rondando as ruas em busca de caça justa - carne saborosa. As mulheres do Queens são as mais bonitas de todas. Eu devo ser a água que elas bebem. Eu vivo para a caça - minha vida. Sangue para o papai.
Sr. Borrelli, senhor, eu não quero mais matar, não senhor, não mais, mas devo "honrar teu pai". Eu quero fazer amor com o mundo. Eu amo as pessoas. Eu não pertenço à Terra. Devolva-me aos brutos. Para o povo do Queens, eu amo vocês. E eu quero desejar a todos vocês uma feliz Páscoa. Que Deus os abençoe nesta vida e na próxima e por enquanto eu digo adeus e boa noite. Polícia - Deixe-me assombrá-los com estas palavras; eu voltarei! Eu voltarei! Para ser interpretado como—bang, bang, bang, banco, bang—ugh!! Seu assassino.
Sr. Monstro
Analisando a carta, de cara se percebeu que tinham várias gírias e palavras erradas, o que talvez indicasse que o assassino não era de uma camada social avançada e que não tivesse terminado a escola. Outra coisa que chamou a atenção foram algumas frases da carta que se aproximavam de um inglês escocês. Eles também achavam que esse suposto “Sam” poderia ser uma representação do pai do assassino, que estaria matando mulheres para vingá-lo de alguma forma. O fato de duas das vítimas trabalharem na área da saúde também instigou os detetives.
Serial killers que deixam cartas não era novidade: o caso do Assassino do Zodíaco tinha acontecido apenas alguns anos antes. Outros assassinos como o Estrangulador de Boston, Jack o Estripador e posteriormente o BTK também escreveram para a polícia. Segundo estudos, isso é uma forma de chamar a atenção e se gabar sobre os crimes. Em alguns casos, também é uma forma de pedir ajuda, como aconteceu com William Heirens, que ficou conhecido como Lipstick Killer. Esse nome vem do fato dele ter deixado uma mensagem escrita em batom afirmando que não conseguia se controlar e que queria ser preso.
No caso do David, a mensagem parecia muito mais como uma ameaça do que como um pedido de ajuda. Em 26/05/1977, após inúmeras consultas com especialistas, foi divulgado um perfil psicológico do assassino, que agora já era chamado de Filho de Sam: o suspeito seria um homem neurótico, que provavelmente sofreria de esquizofrenia e que acreditava que estaria sendo possuído por um demônio. Em 30/05/1977, David mandou uma outra carta, desta vez para o colunista Jimmy Breslin, que trabalhava no Daily News. A carta tinha sido postada em Englewood, Nova Jersey, e estava marcada como: Sangue e Família – Escuridão e Morte – Depravação Absoluta – .44. Mais uma vez a carta é imensa, e ela vai estar por completo lá no nosso site.
Olá das sarjetas de N.Y.C. que estão cheias de cocô de cachorro, vômito, vinho vencido, urina e sangue. Olá dos esgotos de N.Y.C. que engolem essas iguarias quando são levadas pelos caminhões de limpeza. Olá das rachaduras nas calçadas de N.Y.C. e das formigas que moram nessas rachaduras e se alimentam do sangue seco dos mortos que se acumulou nas rachaduras. J.B., estou apenas escrevendo para que você saiba que aprecio seu interesse nesses recentes e horrendos assassinatos do .44. Também quero dizer que leio sua coluna diariamente e a acho bastante informativa. Diga-me, Jim, o que você vai comer no dia 29 de julho? Você pode me esquecer se quiser, porque não ligo para publicidade. No entanto, você não deve esquecer Donna Lauria e não pode deixar que as pessoas a esqueçam também. Ela era uma garota muito, muito doce, mas Sam é um garoto sedento e não me deixa parar de matar até que ele se farte de sangue. Sr. Breslin, senhor, não pense que porque não tem notícias minhas há algum tempo eu fui dormir. Não, pelo contrário, ainda estou aqui. Como um espírito vagando pela noite. Sedento, faminto, raramente parando para descansar; ansioso para agradar Sam. Eu amo meu trabalho. Agora, o vazio foi preenchido. Talvez nos encontremos cara a cara algum dia ou talvez eu seja surpreendido por policiais com fumegantes .38. Seja como for, se eu tiver a sorte de conhecê-lo, contarei tudo sobre Sam, se quiser, e o apresentarei a você. O nome dele é "Sam, o terrível". Sem saber o que o futuro reserva, direi adeus e o verei no próximo trabalho. Ou devo dizer que você verá meu trabalho no próximo trabalho? Lembre-se da Sra. Lauria. Obrigado. No sangue deles e da sarjeta "A criação de Sam" .44 Aqui estão alguns nomes para ajudar você. Encaminhe-os ao inspetor para uso pelo N.C.I.C: "O Duque da Morte" "O Rei Wicker Perverso" "Os Vinte e Dois Discípulos do Inferno" "John 'Wheaties' - Estuprador e Sufocador de Meninas Jovens".
PS: Por favor, informe todos os detetives que trabalham na matança para permanecerem.
P.S: JB, Por favor, informe todos os detetives que trabalham no caso que desejo a eles boa sorte. "Continue cavando, siga em frente, pense positivo, levante suas bundas, bata em caixões, etc." Após minha captura, prometo comprar um novo par de sapatos para todos os caras que trabalham no caso, se eu conseguir o dinheiro.
Filho de Sam

Parte da segunda carta do Filho de Sim
O dia 29/07, que o autor da carta se referiu, foi o dia em David atirou em Donna Lauria e Jody Valenti. A polícia autorizou o Daily News a publicar o texto, contato que algumas partes fossem omitidas. O artigo fez o jornal vender 1,1 milhão de cópias e a polícia recebeu mais de mil dicas, embora a grande maioria era descartável logo de início. Como todas as vítimas tinham cabelos longos e escuros, muitas mulheres cortaram e tingiram para não serem as próximas, inclusive foi noticiado que, na época, as procuras pelos salões de beleza foram tão grandes que formavam filas de espera de até 5 horas.

No dia 26/06/1977, o casal Salvatore Lupo (20) e Judy Placido (17) saíram de uma festa no Queens e estacionaram o carro próximo da casa dele. Os dois estavam conversando justamente sobre o caso do Filho de Sam quando David disparou 3 tiros contra o veículo: Salvatore foi ferido no antebraço direito, enquanto a Judy foi baleada na têmpora direita, ombro e nuca, mas felizmente os dois sobreviveram. Com a aproximação do aniversário do primeiro ataque, a polícia de Nova York montou várias tocaias no Queens, com a certeza de que o Filho de Sam atacaria de novo. E ele realmente atacou, mas no Brooklyn: no dia 31/07/1977, Stacy Moskowitz e Robert Violante, ambos com 20 anos, estavam tendo seu primeiro encontro sentados em um carro em Bath Beach quando David disparou 4 vezes contra eles. Os dois foram atingidos na cabeça: Stacy faleceu, mas Robert sobreviveu. Como o David nunca tinha atacado no Brooklyn e a Stacy era loira, o crime não foi ligado com o Filho de Sam no primeiro momento. Por conta disso, o detetive John Falotico foi designado para o caso.
4 dias depois do último ataque, uma mulher chamada Cacilia Davis procurou a polícia para dizer algo que ela tinha visto no dia 31: Cacilia estava passeando com seu cachorro quando viu um policial multando um carro estacionado. Assim que o policial saiu, um homem saiu de trás desse carro e passou por ela, e ele estava segurando algo na mão. Cacilia sentiu que aquele homem era assustador e saiu correndo, ouvindo três tiros logo depois. Para a polícia, ficou claro que Cacilia tinha visto o assassino no dia do ataque contra a Stacy e o Robert. Eles verificaram todos os carros que haviam sido multados na área naquela noite e encontraram um Ford Galaxie amarelo cuja descrição batia com um carro visto perto da cena do primeiro ataque. O detetive James Justis ligou para vários moradores do prédio em que David morava, e uma delas chamou a atenção: uma menina chamada Wheat Carr disse que David Berkowitz era vizinho de porta deles e que ele já tinha atirado contra o labrador do seu pai, e que o seu pai chamava Sam. Assim que James escutou o nome Sam, ele se tocou que estava na pista certa.

Sam, o labador
No dia 10/08/1977, a polícia investigou o carro do David e encontrou uma arma no banco de trás, além de uma mochila cheia de munição, mapas das cenas do crime e uma carta endereçada ao inspetor Timothy Dowd, que era um dos principais responsáveis pela força-tarefa contra o Filho de Sam. A polícia pediu um mandado de busca para sua casa, e decidiram esperar David do lado de fora. Por volta das 22h, ele saiu e entrou no seu carro. Nesse momento, os detetives John Falotico e William Gardella foram cada um para um lado do carro e apontaram as armas para o David. Nesse momento, David disse “Bem, você me pegou”.
A polícia entrou no apartamento de Berkowitz e descobriram um lugar totalmente bagunçado e com pichações satânicas nas paredes. Lá, foram encontrados 3 diários onde David anotava todos os seus movimentos criminosos, e foi assim que a polícia descobriu que, antes de matar, David tinha cometido nada menos do que 2 mil incêndios criminosos no Bronx. David foi levado para a 60ª Delegacia em Coney Island, onde ficava o QG da força-tarefa do Filho de Sam. Por volta da 1h, o prefeito Abraham Beame foi até o local conversar com os policiais e viu o suspeito pessoalmente. Foi realizada uma coletiva de imprensa onde Abraham disse: “O povo da cidade de Nova York pode ficar tranquilo porque a polícia capturou um homem que eles acreditam ser o Filho de Sam”.
David Berkowitz foi interrogado por cerca de trinta minutos na madrugada do dia 11/08, no qual ele confessou e se declarou culpado. Lembram daquele telefonema que o detetive James Justis tinha feito e a menina falou do cachorro e do seu pai? Quando foi perguntado sobre a motivação dos seus crimes, David disse que o cachorro do seu vizinho estava possuído por um demônio e que falava com ele, pedindo o sangue de garotas bonitas. O vizinho do David se chamava Sam Carr e ele tinha um labrador preto chamado Harvey. No dia 19/09, uma carta de David foi enviada para a imprensa confessando os ataques. No final da carta, David escreveu “Existem outros Filhos por aí, Deus ajude o mundo”. Essa fala deu brecha para muitos acreditarem que David tinha cúmplices, mas ele mesmo negou. Algumas pessoas acreditam até hoje que existia uma gangue e atiradores, inclusive existe um documentário da Netflix chamado “Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração” que trata desse assunto, mas a grande maioria dos estudiosos do caso descartam que existia outra pessoa atuando com David.

O prefeito de NYC anunciando a prisão do Filho de Sam
Foram realizadas 3 avaliações de saúde mental e todas determinaram que David era mentalmente capaz e poderia ser julgado. O julgamento começou calmo no dia 08/05/1978: David estava tranquilo e se declarou culpado de todos os tiroteios. Quando chegou a hora da sentença, duas semanas depois, David estava muito agitado, ameaçou se jogar da janela e gritou que mataria todas as vítimas de novo. Por conta disso, foi feita uma nova avaliação psicológica e novamente ele foi considerado apto.
David Berkowitz foi sentenciado a uma sentença de prisão perpétua para cada vítima, com possibilidade de condicional depois de 25 anos. Ele foi mandado para a Attica Correctional Facility, que é uma prisão de segurança máxima no interior do estado de Nova York. Posteriormente ele foi para o Sullivan Correctional Facility e atualmente está no Shawangunk Correctional Facility. Em 1979, David foi atacado com um objeto cortante na região do pescoço e precisou levar mais de 50 pontos. Ele se recusou a declarar quem tinha sido o seu agressor e disse que tinha recebido a punição que merece.
Logo depois da prisão, muitos autores correram para escrever um livro sobre o David, e naquela época, se você escrevesse um livro sobre algum caso, era possível que ele ou a sua família recebessem parte dos lucros. Entretanto, quando o primeiro livro sobre o David Berkowitz estava para sair, o estado de Nova York instituiu uma lei que impedia que criminosos lucrassem com a publicidade de seus crimes. A lei recebeu o nome de Son of Sam Law e proíbe que criminosos vendam suas histórias para editoras e produtores de filmes e que parte dos lucros das obras sejam dados às vítimas. Posteriormente, outros 40 estados adotaram leis parecidas.

Recorte de jornal sobre Son of Sam Law
Em 1987, ele se converteu para o cristianismo após ler o Salmo 36 em uma bíblia que ganhou de um dos seus companheiros de cela. Ele disse que não queria mais ser chamado de “Filho de Sam”, mas sim de “Filho da Esperança”. Em 1998, ele começou a escrever um livro intitulado “Son of Hope: The Prison Journals of David Berkowitz”, lançado em 2006. Conforme lei estadual, após cumprir 25 anos, David tem direito a uma audiência de liberdade condicional a cada dois anos. A primeira aconteceu em 2002, mas David enviou uma carta ao governador George Pataki solicitando que ela fosse cancelada. Ele escreveu: “Com toda a honestidade, acredito que mereço ficar na prisão pelo resto da minha vida. Com a ajuda de Deus, há muito tempo aceitei minha situação e aceitei minha punição”.
Em 2016, ele disse que havia melhorado e que não era mais um risco para a sociedade, sendo considerado um prisioneiro modelo. Sua última audiência foi em maio de 2024 e novamente foi negada. A próxima será em maio de 2026. Existem muitos livros, filmes e documentários sobre o caso, sendo o mais famoso o filme “Summer of Sam”, dirigido pelo Spike Lee e lançado em 1999. O filme não é exatamente sobre o David Berkowitz, mas sim sobre dois amigos de infância que enfrentam alguns dilemas em uma vizinhança de maioria italiana no Bronx. David também apareceu em 2019 na série Mindhunter.

David Berkowitz X Oliver Cooper na série Mindhunter
• FONTES: Biography.com, New York Magazine, Serial Killers & Mass Murderers: Profiles of the World's Most Barbaric Criminals, David Berkowitz: In His Own Words, Real Crime, BBC News, The Independent.
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