Rodolfo Brenner
#7 - O Assassino do Zodíaco | SERIAL KILLER
Um dos seriais killers mais famosos da história, o Assassino do Zodíaco aterrorizou os moradores da Califórnia no final dos anos 60. Entre poucas pistas, cartas criptografadas e suspeitos, sua identidade permanecia um mistério... até esse ano, quando uma equipe anunciou que finalmente descobriu quem é ele. Será?
Essa é a versão escrita do episódio #7 - O Assassino do Zodíaco:

No dia 20 de dezembro de 1968, Betty Lou Jensen (16) e David Arthur Faraday (17) estavam tendo o seu primeiro encontro dentro de um carro perto do Lago Herman, na cidade de Benicia, na Califórnia. Esse local era conhecido como “Lover’s Lane”, um ponto de encontro onde casais costumavam se encontrar.
Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas baseado nas evidências encontradas no local e no relato de algumas testemunhas que viram o carro do casal, acredita-se que, em uma janela de alguns minutos, um outro carro estacionou próximo a eles e de lá saiu alguém armado e atirando: o assassino deu um tiro na cabeça de David enquanto a Betty começou a correr, mas recebeu 5 tiros pelas costas e seu corpo foi encontrado a 28 metros do carro.

David Faraday e Betty Jensen
Um pouco depois das 23h, uma moradora da região chamada Stella Borges encontrou os corpos e chamou a polícia. O Departamento do Xerife do Condado de Solano investigou o crime, mas nenhuma pista foi descoberta, apenas foi constatado que a arma do crime era uma pistola semiautomática calibre .22. A morte dos dois jovens chocou a pequena cidade, que não encontrava nenhum motivo para o crime. Nesse momento a figura do Zodíaco ainda não tinha aparecido, já que ele só assumiu a autoria desse crime um ano depois.

A cena do crime no Lago Herman
A próxima vítima foi Darlene Ferrin, de 22 anos. Ela trabalhava como garçonete em um restaurante na cidade de Vallejo e era bem conhecida na cidade. Na noite de 4 para 5 de julho de 1969, ela e o amigo Michael Mageau estavam parados no estacionamento do Blue Rock Springs Park quando um carro entrou por volta da meia-noite, saiu e voltou minutos depois: nesse momento, o motorista saiu do carro, acendeu uma lanterna forte na direção dos olhos deles e atirou cinco vezes em direção ao carro. O assassino então ouviu os gemidos de Michael e atirou mais duas vezes em cada um. A Darlene infelizmente faleceu assim que chegou no hospital, mas o Michael sobreviveu.
À 0h40, um homem ligou para o departamento de polícia de Vallejo e disse que queria denunciar um homicídio: “se você for uma milha a leste na Columbus Parkway, encontrará crianças em um carro marrom. Eles foram baleados com uma Luger .9. milímetros. Eu também matei aquelas crianças no ano passado. Adeus”. A ligação foi rastreada de um telefone público de um posto de gasolina, mas nenhuma outra pista foi encontrada.

Michael Mageau e Darlene Ferrin
Em 1º de agosto de 1969, três cartas foram enviadas para 3 jornais diferentes: Vallejo Times Herald, o San Francisco Chronicle e o The San Francisco Examiner. Nas cartas o assassino assumiu a responsabilidade pelas mortes no Lago Herman e no Blue Rock Springs além de fornecer vários detalhes que só a polícia sabia como o tipo de munição, as armas do crime e o número de disparos.
Além disso, em cada carta havia um pedaço de um criptograma, um texto feito com 408 símbolos em que o assassino alegava que ali estava a sua verdadeira identidade. Ele exigia que tudo fosse publicado na primeira página de cada jornal ou ele mataria novamente na mesma semana. O San Francisco Chronicle foi o primeiro a publicar o conteúdo, junto com uma nota de Jack E. Stiltz, que era o chefe de polícia de Vallejo. Ele disse que não acreditava que a carta foi mesmo escrita pelo assassino e solicitou que ele enviasse uma segunda carta com mais provas. Acontece que ninguém foi assassinado naquela semana, e as outras partes acabaram sendo publicadas.
No dia 7 de agosto, outra carta foi recebida no The San Francisco Examiner. A carta começava dizendo "Prezado editor, aqui é o Zodíaco falando." Essa foi a primeira vez que o assassino usou o nome Zodíaco para se identificar. Essa carta era uma resposta ao pedido do Jake Stiltz, e incluía mais detalhes sobre os assassinatos e uma mensagem dizendo que bastava a polícia decifrar o criptograma que ele seria pego.
Após a publicação das partes do criptograma, o professor universitário Donald Harden e a esposa Bettye, moradores de Salinas, também na Califórnia, decidiram tentar decifrar o código. No dia 8 de agosto de 1969, depois de 20 horas de muito trabalho, eles anunciaram que haviam conseguido decifrar o criptograma, onde se lia:
"Eu gosto de matar gente porque é tão divertido. É mais divertido que matar animais selvagens na floresta porque o homem é o animal mais perigoso de todos. Matar coisas me dá a experiência mais prazerosa, é ainda melhor que ficar com uma garota. A melhor parte é que, quando eu morrer, eu irei renascer no paraíso e todos aqueles que eu matei se tornarão meus escravos. Eu não te darei meu nome porque você tentará me atrasar ou me impedir de colecionar escravos para meu pós-vida”.
Os últimos 18 símbolos foram traduzidos para "ebeorietemethhpiti", e ninguém até hoje sabe o significado disso. Para quebrar o código, Donald e Bettye primeiramente usaram o método de substituição homofônica: eles presumiram que o assassino usaria o verbo “kill” (“matar”, em inglês), o que ajudaria a identificar o duplo L, bem comum na língua inglesa. Além disso, eles também supuseram que ele usaria as palavras “I” (“eu”) e “fun” (“diversão”), o que já dava 5 letras diferentes.
Depois, eles usaram a análise de frequência: foram determinados quais símbolos foram mais usados e comparado com as letras mais usadas no inglês. A partir disso, eles começam a tentar substituir os símbolos pelas letras até encontrar uma substituição que fazia sentido. Mesmo com Donald tendo experiência em quebrar códigos, o processo foi bem trabalhoso porque haviam mais de um símbolo para a mesma letra, além de erros de ortografia.

Reportagem sobre a resolução do primeiro criptograma
Algum tempo depois, o casal Bryan Hartnell (20) e Cecelia Shepard (22) estava deitados, relaxando em um local remoto à beira do lago Berryessa, em Napa, na Califórnia. De repente, um homem se aproximou deles. Esse homem estava usando um traje preto com luvas, óculos de sol e uma espécie de capuz sobre a cabeça. No meio do seu peito havia um símbolo, um círculo com uma cruz no meio, desenhado em branco. Esse homem era alto e tinha um porte grande.
Os jovens se assustaram quando viram ele chegando já que ele estava armado. Ele alegou que estava fugindo da prisão e só queria o dinheiro e carro deles, então o Bryan entregou a carteira e as chaves do carro para ele. Ele então falou pra Cecelia amarrar o Bryan usando um pedaço de corda de varal e depois ele mesmo a amarrou. Depois de verificar as amarras, ele começou a esfaquear o casal: Bryan e Cecelia levaram seis e dez facadas, respectivamente.
Um pescador próximo ouviu o casal gritando e alertou os guardas florestais, que chamaram o socorro. O problema foi que a ambulância demorou quase uma hora para chegar: os dois foram levados para o hospital em estado crítico. O Bryan conseguiu sobreviver, mas a Cecelia faleceu 48 horas depois.

Cecelia Shepard e Bryan Hartnell
Pouco mais de uma hora após o ataque, o Departamento de Polícia de Napa recebeu uma ligação de um homem que assumiu a responsabilidade pelo ataque. Essa ligação foi rastreada para uma cabine telefônica no centro de Napa, de onde foram recolhidas impressões digitais.
Os delegados do Departamento do Xerife do Condado de Napa foram até o local do crime e descobriram uma mensagem escrita na porta do carro do casal, que continha as datas dos dois ataques anteriores e desse ataque, além do mesmo símbolo que ele tinha desenhado na roupa. Foram colhidos rastros de pneus, pegadas, e relatos de testemunhas que viram um homem estranho rondando a área, além do testemunho do Bryan, mas a investigação não conseguiu prosseguir.

Para provar que era ele, o Zodíaco escreveu a data dos 3 assassinatos na porta do carro do casal
Em 11 de outubro de 1969, um homem entrou no táxi de Paul Stine (29) perto da Union Square, no centro de São Francisco. Quando o carro chegou na Cherry Street, o passageiro atirou na cabeça de Paul com uma pistola 9 mm, pegou a carteira, as chaves do carro e um pedaço da camisa do motorista. Três adolescentes que estavam em uma casa do outro lado da rua presenciaram o crime e ligaram para a polícia perto das 22h. Eles deram a descrição do homem, que nesse ponto estava limpando o táxi e se afastando do local. Dois policiais que estavam em patrulha foram alertados pela central para procurar o suspeito.

O taxista Paul Stine: a última vítima oficial do Zodíaco
Acontece que, em uma cena digna de Todo Mundo Odeia o Chris, eles foram informados para procurar um homem negro, e o suspeito do assassinato do Paul era branco. Por causa disso, os policiais viram o suspeito caminhando e não sabiam que era ele. Posteriormente um deles descreveu o suspeito como um homem branco, entre 35 e 45 anos, mais ou menos 1,78 de altura e cabelo bem curto.
As três testemunhas da festa foram interrogadas e foi criado o famoso retrato falado do assassino. Mais de 2.500 pessoas entraram na lista de suspeitos, mas todos foram descartados. Essa é a última morte confirmada atribuída ao Zodíaco.

Retrato falado do assassino de Paul Stine
O caso do Paul Stine foi primeiramente considerado um roubo, porém em 13 de outubro, o San Francisco Chronicle recebeu uma nova carta do Zodíaco: ele reivindicava o assassinato do taxista, e, em anexo, mandou o pedaço rasgado da camisa dele. Nessa carta o assassino ainda zombava da polícia por não ter descoberto sua identidade. outra carta chegou no jornal em 14 de outubro de 1969: dessa vez o assassino ameaçou matar alunos em um ônibus escolar dizendo "basta atirar no pneu dianteiro e, em seguida, arrancar as crianças quando elas saltarem".
No dia 20 de outubro, alguém alegando ser o Zodíaco ligou para o Departamento de Polícia de Oakland exigindo falar com um advogado e que ele deveria ir até o programa AM San Francisco, apresentado por Jim Dunbar. O suspeito ligou para o programa e conversou com o apresentador e com o advogado Melvin Belly: ele disse que tinha vários problemas internos e que tinha medo de ser mandado para a câmara de gás, que era o método usado na pena de morte no estado da Califórnia. Melvin marcou um encontro com ele do lado de fora de uma loja na Mission Street em Daly City, mas ninguém apareceu. Posteriormente a ligação foi rastreada até um hospital psiquiátrico, e ficou comprovado que a pessoa que ligou era um paciente que não poderia ser o Zodíaco.
Foram mandadas mais algumas cartas, incluindo uma de 7 páginas que afirmava que os dois policiais pararam e falaram com ele depois de atirar no Paul no dia 11 de outubro. Além das cartas, foi enviado um novo criptograma com 340 caracteres que ninguém conseguiu decifrar na época. A última carta chegou em 29 de janeiro de 1974, depois de 3 anos sem entrar em contato: nela, o Zodíaco classificava o filme “O Exorcista” como a melhor comédia que ele já tinha visto, além de um trecho da ópera “O Mikado”. No fim da carta estava a pontuação "Eu = 37, SFPD = 0". Todas as cartas posteriores a essa data são inconclusivas ou falsas.

A última carta oficial do Zodíaco
A contagem oficial de vítimas do Zodíaco ficou em 5 mortos e dois feridos, porém nas cartas ele alegou que matou 37 pessoas. A polícia investigou uma série de outros crimes e categorizou eles como “possíveis vítimas”: o primeiro caso é o do Robert Domingos e da Linda Edwards em Santa Bárbara, no sul da Califórnia. Em junho de 1963, o casal foi até uma praia perto do Gaviota State Park e não voltou para casa.
O pai do Robert foi até o local e encontrou os corpos deles dentro de uma cabana em ruínas. Os dois estavam amarrados e tinham sido baleados com uma arma calibre .22: o Robert foi baleado 11 vezes e Linda 9 vezes. A polícia não tinha nenhuma pista até 1972, quando descobriram possíveis ligações com os crimes do Zodíaco: a munição usada era a mesma munição do caso da Betty Jensen e do David Faraday em 1968, além das semelhanças com o caso do Bryan Hartnell e da Cecelia Shepard. Se esse caso realmente for do Zodíaco, esse seria o seu primeiro crime na linha do tempo.

Reportagem sobre o assassinato de Robert Domingos e Linda Edwards
Outro caso que pode ter relação com o Zodíaco é o assassinato da Cheri Jo Bates em 30 de outubro de 1966. Ela era estudante do Riverside City College e estava estudando na biblioteca do campus naquela noite. Por volta das 22h30, vizinhos relataram ter ouvido um grito, mas ninguém chamou a polícia. Na manhã seguinte ela foi encontrada morta em uma área não utilizada do campus, espancada e esfaqueada até a morte. Os policiais descobriram que os fios da tampa do distribuidor do carro dela tinham sido arrancados e encontraram um relógio masculino com a pulseira rasgada perto do corpo e uma pegada de uma bota militar.
No dia 29 de novembro de 1966, foram enviadas cartas para a polícia de Riverside e ao jornal Riverside Press-Enterprise com o título "A Confissão". O autor das cartas assume a responsabilidade pelo assassinato da Cheri e fornece detalhes do crime que não foram divulgados ao público. Ele também dizia que ela não era a primeira e que não seria a última vítima. Em dezembro foi encontrado um poema talhado na parte inferior de uma mesa da biblioteca do Riverside City College que se chamada "Doente de viver / sem vontade de morrer". Especialistas disseram que a linguagem e a caligrafia do poema eram semelhantes às das cartas do Zodíaco.
Seis meses depois, em abril de 1967, o pai da Cheri, o jornal Press-Enterprise e a polícia de Riverside receberam cartas manuscritas que reivindicavam a autoria do assassinato. Por muito tempo se acreditou que essas cartas poderiam ser do Zodíaco, porém muitos anos depois, em agosto de 2021, o Departamento de Polícia de Riverside anunciou que o autor dessas cartas contatou os investigadores anonimamente em 2016 e confessou que elas eram falsas, feitas por ele apenas para chamar a atenção. Por meio de exame de DNA foi constatado que o homem, que não quis se identificar, realmente tinha escrito as cartas, porém não teve participação no assassinato da Cheri.

Reportagem sobre o assassinato de Cheri Jo Bates
No dia 22 de março de 1970, uma mulher chamada Kathleen Johns, de 22 anos, saiu da cidade de San Bernardino com destino a Petaluma, no norte da Califórnia. Ela estava grávida e também estava levando a sua filha de 10 meses. Quando ela passou pela Rodovia 132 perto da cidade de Modesto, um veículo sinalizou para que ela parasse e ela fez isso.
O homem do outro carro se aproximou e disse que a roda traseira direita estava oscilando e se ofereceu para arrumar. Depois, ele foi embora. A Kathleen então voltou a dirigir, porém a roda caiu quase imediatamente. O homem então voltou e ofereceu uma carona para ela até o posto de gasolina mais próximo. Ela conta que, durante a viagem, o carro passou por vários postos, mas o homem não parou em nenhum deles. Ele ficou 90 minutos rodando com ela e a filha, e não respondia quando ela perguntava por que ele não parava. Ela esperou o carro parar em um cruzamento e não pensou duas vezes: pegou a filha no colo, abriu a porta e se jogou para fora.

Kathleen Johns
Alguns relatos dizem que ele a ameaçava durante o percurso, mas outros negam. O que ela fez depois de sair do carro também varia: o motorista teria saído e procurado por ela, que estava escondida, mas o relatório policial diz que ele não saiu do carro para procurá-la.
Depois que ele foi embora, ela conseguiu pegar uma carona até a cidade de Patterson. Assim que ela entrou na delegacia, ela observou o retrato falado do Zodíaco e disse que aquele homem a tinha sequestrado. Meses depois, uma carta do Zodíaco para o San Francisco Chronicle mencionou “um passeio bastante interessante” com uma mulher e seu bebê.

A carta do Zodíaco que menciona o incidente com Kathleen Johns
O último caso que pode ter ligação com o Zodíaco é o desaparecimento de Donna Lass em 6 de setembro de 1970. A Donna era enfermeira e trabalhava no hotel e cassino Sahara Tahoe e a última vez que ela foi vista foi as 2h da manhã, depois de tratar seu último paciente. No mesmo dia, tanto o chefe da Donna quanto o dono do apartamento que ela morava receberam telefonemas de um homem dizendo que ela teve uma emergência familiar e ficaria longe por uns dias, porém ela nunca mais foi vista.

Donna Lass
Em 22 de março de 1971, um cartão postal para foi enviado para o San Francisco Chronicle, endereçado ao repórter Paul Avery, que na época era quem estava investigando as histórias do Zodíaco. O cartão era uma colagem de várias letras de revistas e mostrava um anúncio do condomínio Forest Pines e as palavras "Sierra Club", "Vítima procurada 12", "espreite pelos pinheiros", "passe áreas do Lago Tahoe", e "ao redor na neve", além do símbolo característico do Zodíaco no lugar do endereço do remetente.

O cartão postal enviado para o San Francisco Chronicle
Lembram do criptograma que ficou por muito tempo indecifrável? Em dezembro de 2020 ele foi decodificado por um grupo internacional de pesquisadores e entusiastas em cifras, encabeçados por um engenheiro de software, um matemático e um programador: eles descobriram que a carta usava cifra de transposição, um método bem mais difícil do que foi usado no primeiro criptograma. Nesse método, o autor pega uma frase ou texto e rearranja as posições das letras, usando uma estrutura pré-determinada que transforma tudo em um grande bloco de texto e ainda dá para dificultar a leitura incluindo letras aleatórias no meio das palavras.
Utilizando dois softwares de criptografia, eles encontraram algumas frases como "TRYING TO CATCH ME" (“TENTE ME PEGAR”) e "GAS CHAMBER" (CÂMARA DE GÁS). Lembra do telefonema do Zodíaco para o programa de TV falando do medo da pena de morte na câmara de gás? Isso indicou que eles estavam indo pelo caminho certo e a carta foi descriptografada.
"Espero que estejam se divertindo ao tentar me pegar não era eu no programa de tv isso levanta um ponto sobre mim não tenho medo da câmara de gás porque vou para o paraíso em breve porque agora tenho escravos suficientes para trabalharem para mim onde todos os outros não têm nada quando alcançam o paraíso então eles têm medo da morte não tenho medo porque sei que minha nova vida será fácil no paraíso morte”
O FBI lançou uma nota dizendo ter conhecimento de que a cifra foi decodificada e que as investigações continuam abertas.
SUSPEITOS
Arthur Leigh Allen:
Uma das pessoas mais importantes na investigação do caso foi o jornalista Robert Graysmith: Robert trabalhava como cartunista para o San Francisco Chronicle em 1969, quando o caso estava ganhando destaque. Ele ficou “obcecado” e passou anos investigando o caso.
Segundo ele, a verdadeira identidade do Zodíaco era Arthur Leigh Allen, que na época do caso tinha 36 anos. Ele não tinha um bom histórico: em 1958 ele foi dispensado da Marinha por mal comportamento; e em 1968 ele foi demitido do seu trabalho como professor por acusações de ter molestado crianças. No dia 27 de setembro de 1969, o Arthur disse para a família que sairia para praticar mergulho no Lago Barryessa, o mesmo local onde Bryan e a Cecelia foram atacados. Segundo familiares, quando ele voltou para casa ele estava coberto de sangue e tinha uma faca ensanguentada com ele.
Em 1971, um amigo do Arthur chamado Donald Cheney disse para a polícia que ele havia expressado um desejo de matar pessoas, se autointitulava Zodíaco e queria colocar uma lanterna em uma arma de fogo para visibilidade à noite, parecido com o que aconteceu no caso da Darlene Ferrin. A maior coincidência talvez fosse a de que o Arthur usava um relógio da marca Zodiac, cujo símbolo era o mesmo utilizado pelo assassino.
Outras pistas sobre o Arthur incluíam: ele morava em Vallejo, próximo aos locais dos dois primeiros ataques; ele tirou uma licença médica em 1º de novembro de 1966, um dia antes do assassinato da Cheri; uma máquina de escrever encontrada na casa dele seria do mesmo modelo da usada para escrever algumas cartas; ele disse que seu livro favorito era “The Most Dangerous Game”, livro que foi mencionado em uma correspondência do Zodíaco; e um amigo do Arthur tinha um carro da mesma marca e cor descrita pelo Michael Mageau e que ele tinha acesso.
Tirando essas pistas circunstanciais, a única prova contra o Arthur era o depoimento dos dois sobreviventes, o Michael Mageau e o Bryan Hartnell. Michael confirmou que o Arthur era o homem que atirou nele e na Darlene, enquanto Bryan disse que a voz e a aparência física batiam com a do homem em vestes estranhas que atacou ele. O DNA do Arthur foi comparado com uma amostra de saliva de um selo de uma das cartas que o Zodíaco mandou, mas não foi compatível, assim como caligrafia dele não batia com a caligrafia das cartas. Arthur morreu em 1992.

Arthur Leigh Allen
Richard Gaikowski:
Assim como o Arthur, Richard também foi militar: ele serviu ao Exército na década de 50, e isso poderia ter dado a ele alguns conhecimentos importantes que a polícia acreditavam que o Zodíaco tinha. Depois que saiu ele passou a trabalhar como jornalista, inclusive ele cometeu uma infração de propósito em outubro de 1965 para poder ser preso e escrever um artigo sobre como era uma prisão na perspectiva de alguém de dentro.
Lembram da ligação que o suspeito fez após o ataque à Darlene e ao Michael? Nancy Slover, a despachante policial que atendeu essa ligação disse, depois de ouvir uma gravação da voz de Richard, que ela era a mesma do assassino. Richard usava nomes como “Gaik” ou “Gike” como seu sobrenome para os artigos que ele publicou em 1969. Em um dos criptogramas, o Zodíaco usou a palavra “GYKE”, que foi interpretado como outra forma abreviada do sobrenome de Richard. Entretanto, a caligrafia dele e das cartas foram comparadas e o resultado foi negativo.
Richard trabalhou por anos em um jornal semanal chamado Good Times, conhecido pela política da contracultura radical e a favor da violência contra a polícia. Na redação do jornal, as quarta-feira eram reservadas para os dias de produção, ou seja, o momento em que todos trabalhavam mais. Das cartas enviadas pelo Zodíaco, nenhuma foi em uma quarta-feira, o que poderia indicar que o assassino não conseguia escrever nesse dia por estar ocupado com outras coisas. A residência de Paul Stine era localizada perto da redação do Good Times. Não se tem certeza de Richard e Paul se conhecia antes do crime, porém a irmã da vítima disse que o jornalista compareceu ao funeral de Paul.
Durante 3 anos, Richard ficou internado no Hospital Mount Zion de São Francisco, no mesmo período em que as cartas pararam. Ele faleceu em 30 de abril de 2004, vítima de um câncer.

Richard Gaikowski
Lawrence Kane:
Lawrence nasceu em Nova York em 1924. Em 1962 ele sofreu uma lesão cerebral grave em um acidente de carro, e essa lesão foi tão séria que comprometeu a capacidade dele de controlar a raiva. Também nos anos 60 ele foi preso acusado de voyeurismo e peregrinação. A irmã da Darlene, do caso do Blue Rock Springs, disse que o Lawrence estava perseguindo sua irmã meses antes dela ser assassinada.
Outras evidências: ele trabalhou no mesmo hotel que a Donna Lass atuava como enfermeira antes de desaparecer; a Kethleen Johns, a quase vítima do carro, reconheceu ele como o seu sequestrador; e um dos policiais que estavam na cena do caso do taxista disse que o Lawrence era muito parecido com o homem suspeito de cometer o crime naquele dia. Em uma das cifras do criptograma em que o Zodíaco supostamente diria seu nome, uma das combinações possíveis é "KANE". Os resultados da comparação entre as caligrafias mostraram algumas semelhanças, mas não foi uma correspondência total.
Lawrence se mudou para Las Vegas em 1971, e esse pode ter sido o motivo dos crimes terem cessado. Acontece que por lá ele foi suspeito de um crime parecido em 1974: o sequestro de Dana Lull e Roy Tophigh. Dana infelizmente foi morta e seu corpo foi encontrado dias depois, porém o Roy sobreviveu e deu diversas descrições do carro do sequestrador como a cor, o bagageiro, as rodas e uma placa da Califórnia, e todas batiam com o carro de Lawrence. A semelhança do caso da Kethleen Johns foi tanta que isso chegou a ser noticiado em alguns jornais locais.
Lawrence morreu em 2010 e nunca foi provado sua ligação com nenhum dos crimes.

Lawrence Kane em 1943
Earl Van Best Jr:
Um suspeito bem polêmico, Earl foi apontado como sendo o Zodíaco por Gary Stewart no livro "O Animal Mais Perigoso de Todos" de 2014. Gary era adotado e decidiu procurar pelos pais biológicos, e foi nessa busca que ele encontrou diversas “evidências” dos crimes do seu pai.
No começo dos anos 60, Earl virou notícia depois de começar a namorar uma atendente de sorveteria chamada Judy Chandler. O problema é que ele tinha 28 anos e ela apenas 14 anos, e isso configurava crime de estupro. Ela acabou engravidando de Gary, que foi dado para adoção com apenas 1 mês de vida. Segundo Judy, ele era extremamente abusivo e violento.
Não dá para negar que Earl é bem parecido com o retrato falado do caso do taxista, porém essa parece ser a única ligação forte. Outras provas circunstanciais seriam a de que Earl era muito fã da ópera "O Mikado" - aquela referenciada em uma das cartas do Zodíaco - e também de cifras e criptogramas. Uma análise feita na certidão de casamento dele foi e posteriormente comparada com amostras da caligrafia do Zodíaco apontaram uma combinação provável. Acontece que, segundo Audrey Phelps, a administradora da Igreja em que Earl se casou, não foi ele que preencheu a certidão, e sim o Reverendo Edward Fliger.
Ainda segundo o livro, uma impressão parcial encontrada em uma das cenas de crime corresponde à de Earl, porém essa prova foi amplamente questionada por que Gary teve que inverter ela para chegar ao resultado. Em uma coincidência bizarra, Judy, a mãe biológica de Gary, acabou se casando com um detetive do Departamento de Polícia de São Francisco. Ele diz que as ligações de seu pai com o Zodíaco foram encobertas pelo SFPD para proteger este detetive, porém não apresenta nenhuma resposta de porque eles fariam isso.

Earl Van Best Jr. ao lado do retrato falado do Zodíaco
Gary Francis Poste:
Todos foram pegos de surpresa quando, semanas atrás, uma força-tarefa com mais de 40 pessoas - incluindo ex-agentes do FBI, jornalistas e agentes da lei aposentados - declarou ter encontrado o culpado por trás dos crimes do Assassino do Zodíaco: um homem chamado Gary Francis Poste.
O nome dele entrou na lista de suspeitos depois que um parente próximo contatou os investigadores dizendo que Gary era violento e já tinha até mesmo tentado matar ele com um martelo. Fotos antigas de Gary mostraram cicatrizes na sua testa depois de um acidente de carro. Essas cicatrizes corresponderiam perfeitamente a marcas encontradas no retrato falado. Outra pista seria uma correspondência com o assassinato de Cheri Jo Bates. Lembram do relógio encontrado na cena do crime? Os investigadores acreditam que ele foi comprado dentro de uma base militar e era exclusivo para soldados, o que também explicaria a pegada da bota.
Um cabelo encontrado em Cheri pode ser a peça-chave para desvendar se Gary é ou não culpado: o exame de DNA depende do Departamento de Polícia de Riverside, porém o caso é considerado arquivado, mesmo havendo uma recompensa de US$ 50.000,00 por informações. Apesar disso, as notícias não parecem ser tão promissoras: a polícia local e o FBI parecem ter rejeitado a teoria. E vale ressaltar que Cheri não é nem mesmo considerada uma vítima oficial do criminoso.

Gary Francis Poste
Baseado no livro do Robert Graysmith, em 2007 saiu o filme “Zodíaco”, dirigido pelo David Fincher. O filme mostra como foi a caçada ao assassino no final dos anos 60 pelo olhar da polícia e dos jornalistas e foca em Arhur como o principal e único suspeito. Contou com Jake Gyllenhaal (Robert Graysmith), Robert Downey Jr. (Paul Avery) e Mark Ruffalo (David Toschi).

Robert Downey Jr. e Jake Gyllenhaal em cena de Zodíaco (2007)
A mística por trás da figura do Zodíaco é tão grande que ele inspirou diversas músicas sobre seus crimes, de bandas como Macabre, Atmosphere e Machine Head. Ele também foi referenciado diversas vezes em séries como Millennium, Nash Bridges, Criminal Minds, American Horror Story e até Riverdale. No ano passado foi lançado um jogo chamado “This is the Zodiac Speaking” onde o jogador assume o papel de um sobrevivente do assassino que parte em busca de descobrir a sua identidade.

This is the Zodiac Speaking: o jogo foi lançado em 2020
• FONTES: Superinteressante, Zodiac Ciphers, Meio Bit, Zodiackiller.com, History, The San Francisco Examiner, OddyBugs, BuzzFeed Unsolved, SFGATE, Vulture, Riverside Police Department, NationalWorld, Junkee, UOL.