Em uma pequena cidade no litoral do sul brasileiro, o desaparecimento de uma criança chama a atenção de todo o país. Durante a investigação, muitas pistas apontam para um sujeito, entretanto, elas não foram o suficiente para resolver o caso.
Essa é a versão escrita do episódio #58 - Bruno Leal: Mistério na Praia:

O caso aconteceu na cidade de Imbé, no Rio Grande do Sul. Imbé fica localizada no litoral norte do estado, a 130 km de Porto Alegre. A cidade tem uma população fixa de pouco mais de 23 mil habitantes, mas que ultrapassa 100 mil durante a alta temporada. As praias de Imbé são extensas e tem o mar agitado, o que atrai muitos surfistas para a região. Além disso, existe uma região chamada de Beira Rio, onde desemboca o Rio Tramandaí. O encontro das águas do rio com o mar provoca a pororoca, uma onda que pode chegar a até 6m de altura e uma atração turística local.
Em Imbé, mais precisamente no Balneário de Imara, morava Bruno Leal da Silva, nascido em 15/08/1989 e que tinha 9 anos na época do caso. Bruno era filho da cozinheira Deversina Franca Leal e do construtor Nazareno Cardoso da Silva. Ele tinha um irmão e uma irmã.

Balneário de Imara, em Imbé/RS
Na manhã do dia 10 de julho de 1999, Bruno pediu autorização da mãe para ir de bicicleta até a obra onde o pai estava trabalhando, que ficava no Balneário Atlântida Sul, um caminho que levava cerca de 10 minutos. A mãe permitiu, instruindo que o garoto deveria voltar cedo para o almoço porque teria catequese naquela tarde. Próximo ao meio-dia, Nazareno retornou da obra sem o filho. Quando foi questionado por Deversina sobre onde estava Bruno, o pai não sabia que o filho tinha ido até o seu trabalho.
Preocupados, os pais saíram para procurá-lo: eles realizaram uma busca de moto pelas ruas do balneário, e depois foram procurar na praia. Deversina percebeu que havia marcas dos pneus da bicicleta de Bruno saindo da casa da família e indo em direção ao Atlântida Sul, porém, em certo momento, elas cruzavam com marcas de pneu de carro e pegadas de um adulto. No fim dessas marcas eles acharam a bicicleta de Bruno jogada em um banco de areia.

Poster de desaparecido de Bruno Leal
Uma semana após o desaparecimento, um homem desconhecido procurou os pais de Bruno dizendo se tratar de um vidente que teria pistas de onde o garoto estava. Esse homem era Vilson Roque Bonamigo, um massoterapeuta que em algumas fontes também seria dono de um “centro espírita”. Vilson indicou alguns locais que chegaram a ser periciados pela polícia, mas sem nenhum resultado. Como as pistas que Vilson dava eram muito desconexas, o delegado responsável pelo caso na época começou a desconfiar que ele tinha algum envolvimento no desaparecimento. Em 25 de julho de 1999, Vilson foi preso por atrapalhar a investigação, mas foi solto 3 dias depois. Em agosto, o delegado pediu uma perícia no carro dele e encontrou marcas de pedais de uma bicicleta na lataria.
Posteriormente, o Instituto Médico Legal de São Paulo realizou um exame específico que confirmou que a tinta encontrada nessas marcas era compatível com tinta utilizada na pintura de bicicletas, porém, nunca foi concluído se era especificamente da bicicleta do Bruno. Além disso, foi encontrado sangue no porta-malas desse mesmo carro, que foi inicialmente testado e confirmado que se tratava de sangue humano. A amostra foi enviada para Brasília para confirmar se o sangue era de Bruno, porém, o resultado foi inconclusivo. Algumas matérias dizem que também foram encontrados fios de cabelo loiros no porta-malas, mas não há informações se esse material chegou a ser analisado.

Vilson Roque Bonamigo
A hipótese inicial era de que Vilson teria derrubado Bruno da bicicleta, de forma acidental ou não, e colocado o corpo no porta-malas. Depois, ele teria enterrado o corpo em algum lugar ao longo da praia. Em setembro, a polícia teria ido até a casa de Vilson e encontrado diversos recortes de jornais e revistas com fotos de crianças, dentre elas, uma foto de Bruno, além de uma arma sem registro e um cadeado que, segundo os pais de Bruno, era usado por ele para prender a bicicleta.
Realizando escavações na praia, foi encontrada uma estátua considerada “satânica”, além de um papel com o nome completo de Bruno escrito 7 vezes em um pedaço de papel preso em uma cruz de madeira, próximo a onde foi localizada a bicicleta do garoto. Algumas fontes dizem que na realidade isso teria sido encontrado no tal centro espírita que era comandado pelo suspeito.
Após essa descoberta, Vilson foi preso juntamente com outras pessoas (algumas fontes dizem duas, outras, cinco), e a teoria mudou: Bruno teria sido morto em um ritual de magia negra. Vilson teria passado por um teste de polígrafo, mas o resultado foi inconclusivo, e o motivo seria a de que Vilson teria tomado medicações que influenciavam no resultado. Com a conclusão do inquérito, o Ministério Público denunciou Vilson por porte ilegal de armas, homicídio culposo e ocultação de cadáver, mas a Justiça não aceitou as denúncias de homicídio alegando falta de provas e de um corpo. O MP recorreu, e mesmo assim a denúncia foi arquivada em outubro de 2000.

Estátua macabra e papel com nome de Bruno juntamente com uma cruz foram encontrados perto da bicicleta
Durante as investigações, o caso de Bruno foi ligado com o desaparecimento de outra criança que aconteceu na mesma cidade: 6 meses antes, Gisele da Silva, de 4 anos, desapareceu enquanto brincava na frente de casa. Na época, a mãe, Zilda, colocou cartazes e uma faixa com a foto e informações da garota. A polícia realizou buscas e interrogou algumas pessoas, mas não havia pistas sobre o paradeiro dela. Os vizinhos da família Silva se mobilizaram para ajudar, mas também não houve sucesso.
Dois anos depois do desaparecimento, Zilda recebeu a ligação de uma pessoa dizendo que tinha visto Gisele em uma escola na cidade de Criciúma, em Santa Catarina. A mãe foi até o local e localizou a menina, mas, apesar da semelhança física, não era Gisele.

Gisele da Silva desapareceu na mesma época que Bruno
Levando em consideração que Vilson foi realmente o culpado, existem 4 teorias do que teria acontecido com Bruno:
1. A primeira é de que ele teria acidentalmente atropelado o garoto enquanto ele andava de bicicleta. Desesperado, ele colocou o corpo no porta-malas e enterrou em algum lugar desconhecido.
2. A segunda teoria é de que se trata de um sequestro: Vilson deliberadamente teria atropelado Bruno, sequestrado e depois ocultado o cadáver. A participação de uma única pessoa é corroborada porque, apesar de terem interrogado outras pessoas, todas as provas do caso estavam ligadas unicamente à Vilson.
3. A terceira teoria é de que o garoto teria sido morto em um ritual de Magia Negra. A estátua, a cruz e o papel com seu nome seriam provas desse ritual, e os suspeitos presos seriam todos pertencentes à mesma seita. Durante os anos 80 e 90, muitos casos de desaparecimento e morte de crianças foram ligados a supostas seitas satânicas, incluindo o caso Evandro no litoral do Paraná e o de Michel Mendes em Goiás. O caso de Bruno inclusive chegou a ser ligado com o caso Leandro Bossi, também no litoral do Paraná. Entretanto, como o corpo de Bruno nunca foi encontrado, nunca ficou comprovado que ele teria sido morto de forma ritualística.
4. A quarta teoria vem de uma informação que foi dada pela mãe de Bruno em uma entrevista para o programa Domingo Espetacular: segunda ela, na casa de Vilson foram encontrados passaportes pertencentes a duas mulheres, uma da Itália e a outra da Alemanha, que teriam ficado hospedadas na casa dele no período em que Bruno desapareceu. Deversina acredita que o filho tenha sido levado para fora do país e ainda esteja vivo.

Deversina ainda tem esperança de encontrar Bruno vivo
Em 2001, um ano após a liberação dos suspeitos, um pescador encontrou um crânio humano na beira da praia de Atlântida Sul, a apenas 200 metros de onde foi encontrada a bicicleta de Bruno. O crânio foi levado para análise no Departamento Médico Legal (DML) e foi realizado um teste de DNA que acabou descartando que o crânio fosse do garoto.
Em 2019, quando o caso completou 20 anos, a rede de TV RBS realizou uma reportagem especial sobre o desaparecimento de Bruno. Devido a repercussão, o delegado Antônio Ractz Jr. decidiu revisar o inquérito. Segundo ele, como o caso foi arquivado pela justiça, só poderia ser reaberto se fosse encontrada uma nova pista, que ainda não existia no momento. Além disso, mesmo se ficasse comprovado o homicídio, ele já teria prescrito. Foi realizado uma projeção de como Bruno estaria com 30 anos. Em outubro do mesmo ano, a mãe cedeu uma amostra de DNA que foi enviada para comparação com bancos de dados nacionais e também dos Estados Unidos, porém, não houve nenhum resultado positivo. Quanto às amostras coletadas naquela época, é dito em uma matéria que elas foram perdidas.

Projeção de Bruno com 30 anos
• FONTES: Viagens e Caminhos, G1, Domingo Espetacular, Freak TV, Sem Solução, GZH, Zero Hora.
Meu pai era o delegado