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#103 - Lee Yoon-Hee: Mistério na Coréia do Sul | DESAPARECIDOS

  • Foto do escritor: Rodolfo Brenner
    Rodolfo Brenner
  • 7 de nov.
  • 9 min de leitura

Em 2006, uma estudante de veterinária desapareceu de forma misteriosa dentro do dormitório de sua universidade. As investigações mostraram que alguém apagou vários arquivos do seu computador pessoal, além de trazer uma teoria de que o corpo dela poderia nunca ter saído do local.


Essa é a versão escrita do episódio #103 - Lee Yoon-Hee: Mistério na Coréia do Sul


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Lee Yoon-Hee nasceu em 1977 na cidade de Namyangju-si, uma cidade de 700 mil habitantes que fica na província de Gyeonggi, no noroeste da Coréia do Sul. A Lee Yoon era filha do Lee Dong-se e da Song Hwa-ja. Desde criança ela sempre teve um ótimo desempenho acadêmico, e isso ajudou a entrar na Ewha Womans University, uma universidade privada e exclusiva para mulheres, que fica localizada no centro de Seul. Ela fez uma formação dupla de Estatística e Artes e se formou em 6 anos.

Quando a Lee Yoon tinha 25 anos, ela chegou para os seus pais e disse que gostaria de fazer uma nova formação, desta vez em veterinária. Trocar de curso ou fazer uma nova graduação é algo até normal para a nossa realidade, mas é extremamente incomum entre os asiáticos, que costumam seguir a profissão dos pais ou entrar no curso que os pais querem que eles entrem. Em 2003, a Lee Yoon foi aprovada no curso de veterinária na Chonbuk National University. Ela tirou boas notas durante toda a graduação e chegou a trabalhar dando aula de matemática para crianças.

No dia 02/06/2006, Lee Yoon estava com 29 anos e estava no último semestre da graduação. Naquele dia ela assistiu às aulas no período da manhã e trabalhou no período da tarde. Ao retornar para casa à noite, dois caras em uma moto roubaram a sua bolsa. Ela tentou correr atrás dos bandidos, mas não conseguiu alcançar. Dois homens em um carro viram o assalto e perguntaram se ela queria ir atrás dos bandidos com eles, e ela foi. Eles dirigiram até que a moto entrou em um beco que o carro deles não conseguia entrar. Um dos homens perguntou se a Lee Yoon queria telefonar para alguém, mas ela disse que não lembrava de nenhum número de cabeça. Ela então foi embora a pé e chegou no seu apartamento próximo do campus da Universidade perto da meia-noite. Lee Yoon usou o NateOn, que era uma espécie de MSN coreano, para contar para amigos e familiares sobre o roubo e avisar que ela estaria sem celular.


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Lee Yoon-Hee era estudante de veterinária


No dia 05/07/2006, a Lee Yoon não estava muito bem: ela e seus colegas fizeram uma cirurgia como parte de uma prova, e no final ela chorou por não se sentir útil durante o procedimento. Seus colegas a confortaram e convidaram para uma festa para comemorar o fim do semestre. Ela relutou no começo, mas acabou aceitando. Essa festa aconteceu em um bar de karaokê e teve a presença de 40 alunos e um professor. Os alunos festejaram até as 2 da manhã, quando começaram a sair para voltar para suas casa, incluindo a Lee Yoon. Um dos colegas era um homem que vamos chamar de Kim – sem sobrenome porque cada fonte coloca um diferente, então será apenas Kim – se ofereceu para acompanhar a Lee até o seu apartamento. Os dois caminharam até a frente do apartamento da Lee, quando ela disse que o Kim já poderia ir embora. Kim então foi em sentido ao seu dormitório e viu quando as luzes do apartamento da Lee foram acesas, o que significava que ela tinha entrado em casa.

No dia 06/07 era feriado de Memorial Day e não teve aula na universidade. A Lee Yoon não foi vista naquele dia, mas como ela estava sem celular, não havia como contatá-la. No dia 07/07, a Lee Yoon não compareceu às aulas, mas foi só no dia 08/07, quando ela faltou novamente, que seus colegas perceberam que havia algo errado. Alguns deles foram até o seu apartamento, tocaram a campainha, mas a Lee não atendeu. Esses colegas decidiram ligar para a irmã da Lee Yoon, que contou não ter notícias da jovem desde quando ela havia perdido o celular. Por conta disso, seus amigos chamaram a polícia. A polícia arrombou a porta e encontrou um cenário, no mínimo, estranho: a casa estava toda revirada, com várias roupas e objetos espalhados pelo ambiente. Além disso, a Lee Yoon tinha dois cachorros, que ela cuidava muito bem, mas eles estavam sem água, sem comida e haviam feito as necessidades pelo local.


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Chonbuk National University


No começo a polícia não levou o caso a sério, acreditando que a Lee Yoon deveria ter saído por um tempo e logo voltaria. Como eles não isolaram o apartamento dela, seus colegas foram até o local e fizeram uma limpeza, faxinando o apartamento e lavando as roupas, algo que comprometeu qualquer evidência que poderia haver ali. Quando a irmã da Lee chegou no seu apartamento, ela encontrou uma bituca de cigarro. A Lee realmente fumava, mas era algo bem esporádico. Como a irmã não sabia sobre esse hábito, ela acabou jogando a evidência fora. Foi só no dia 10/07, após 5 dias como desaparecida, é que a polícia começou a investigar de fato o sumiço da Lee.

A polícia conversou com os vizinhos da Lee Yoon, mas ninguém tinha ouvido nada estranho naquela noite. Entretanto, uma vizinha contou algo que chamou a atenção da polícia: ela contou que tinha sido seguida por um homem até a porta do seu apartamento, mas que ela havia feito um escândalo e o homem foi embora. Com essa informação em mãos, a polícia investigou os criminosos sexuais registrados nas proximidades, mas nenhum deles foi considerado suspeito. Ao fazer uma inspeção no apartamento da Lee Yoon, a polícia descobriu que uma mesa de centro e um martelo estavam faltando. No dia 13, o pai da Lee encontrou o tampo dessa mesa em uma pilha de móveis descartados pelo condomínio onde ficava o apartamento, já o martelo nunca foi achado.

Outra pista importante encontrada no apartamento da Lee foram ampolas de cetamina, um anestésico veterinário que também é usado como droga recreativa. A cetamina induz um estado de sedação, mas pode causar problemas de memória. As ampolas estavam no armário do banheiro da Lee, o que poderia indicar que ela estaria usando de forma indiscriminada.


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A cetamina é usada como droga recreativa


A polícia interrogou os amigos e colegas de faculdade da Lee Yoon, e eles contaram que ela tinha um caderno em que ela anotava todos os compromissos, recados e datas, mas que ele tinha sido roubado naquele dia junto com a sua mochila. Entretanto, ela havia comprado outro caderno para substituir. Esse outro caderno acabou sendo encontrado na sala de cirurgia veterinária atrás de um computador, mas não tinha nada importante escrito nele. Será que ela tinha esquecido lá ou alguém tinha tentado escondê-lo?

Lembram do computador que ficava no quarto da Lee Yoon? A polícia verificou e encontrou várias coisas estranhas: no dia 8, alguém havia mexido novamente nele e apagado todo o histórico de navegação desde a manhã do dia 4 até o dia 8, porém, deixou apenas um única pesquisa no dia 6, com as palavras “assédio sexual” e “112”, que é o número de emergência da Coréia do Sul. Também foi excluído todos os registros do NateOn, aquele bate-papo que a Lee Yoon tinha usado para falar com sua família e amigos.

Com base nessas evidências, a polícia passou a investigar as últimas pessoas que viram a Lee, ou seja, as que estavam na festa com ela. Eles checaram os álibis dos alunos, professores e colegas do curso, incluindo o Kim, aquele que acompanhou ela até em casa. Alguns chegaram a fazer testes do polígrafo, mas todos passaram. Além disso, foi realizada uma busca completa com bombeiros, voluntários e cães farejadores nos locais próximos do seu apartamento, incluindo a universidade, mas nada foi encontrado. Enquanto isso, a família da Lee Yoon distribuiu mais de 30 mil panfletos com informações sobre ela.


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Panfleto sobre o desaparecimento da Lee Yoon

No dia 10/07 surgiu uma pista interessante: alguém tinha tentado acessar um site de música com a conta da Lee Yoon. A polícia conseguiu rastrear o endereço IP até um hotel, mas não conseguiu encontrar o suspeito. A polícia começou a suspeitar que o responsável pelo desaparecimento da Lee Yoon deveria estar de olho nela a algum tempo. Eles então notaram que o apartamento dela ficava diretamente à vista de um prédio vizinho. O responsável pelo condomínio disse que esse apartamento em si estava vazio, mas ao investigar, a polícia descobriu lenços de papel e maços de cigarros vazios. Era um palpite, mas será que alguém estava ali observando a Lee Yoon?

No início de 2007, a irmã da Lee Yoon recebeu um telefonema de um homem desconhecido. Esse homem disse: “Lee Yoon não tem dinheiro para fazer uma ligação, então ela me pediu para transmitir esta mensagem. Ela sente muito a sua falta”. A polícia conseguiu rastrear a ligação até uma cabine telefônica pública no centro de Gwangju e, após verificar as imagens do circuito interno de TV, o autor da ligação foi identificado como um homem de 27 anos que foi aparentemente descartado como suspeito por sofrer de esquizofrenia. Ainda em 2007, uma médium abordou a polícia e disse que o corpo de Lee Yoon estava escondido no sistema de tratamento de água e esgoto da cidade. Por incrível que pareça, a polícia fez uma verificação nessa pista, vasculhando o sistema de água próximo do apartamento da Lee Yoon, mas não encontrou nada.


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Lee Yoon-Hee


O único suspeito do caso é o Kim, aquele colega que acompanhou a Lee Yoon até o seu apartamento. Segundo as poucas informações que temos sobre o Kim, ele tinha 27 anos na época do caso e ele não tinha um bom histórico: colegas teriam dito que, quando o Kim gostava de alguém, ele se tornava obsessivo por aquela pessoa, ao ponto de guardar fios de cabelo dela. Nunca ficou claro qual era a relação da Lee Yoon e o do Kim, mas o mais provável é que eles estariam “se conhecendo melhor”. Eles tinham até mesmo trocado alguns presentes alguns dias antes dela desaparecer, e o Kim era um dos contatos de emergência do celular da Lee Yoon antes dele ser roubado.

Como falado anteriormente, o Kim deixou a Lee Yoon próximo do seu apartamento. Ele alegou ter voltado para o seu quarto e passado o resto da noite dormindo, mas isso foi um álibi que ninguém pôde confirmar. Um colega de dormitório disse ter ouvido quando alguém chegou no local, mas não pôde confirmar se era o Kim. Um dia após a Lee Yoon ter desaparecido, o Kim também faltou às aulas. Mas isso mudou quando a família dela chegou na universidade, e o Kim se fez presente em tudo, desde as buscas até ir atrás de testemunhas. Ele inclusive disse ter encontrado uma pessoa que afirmou ter ouvido uma mulher gritar próximo das 6 da manhã. Ele disse que essa testemunha não queria ir até a polícia, mas quando a família da Lee Yoon pediu mais informações sobre, ele desconversou.

A principal teoria do caso é bastante macabra: havia um incinerador no departamento veterinário da universidade onde a Lee Yoon estudava, que era usado para incinerar carcaças de animais seguindo um protocolo de biossegurança. No dia 08/07, a empresa responsável por coletar as cinzas do incinerador marcou que havia retirado 110 quilos de cinzas, um volume quase 3 vezes maior do que o habitual, que geralmente era de 40 kg. Um responsável pelo incinerador disse que o volume poderia variar caso fosse incinerado um animal grande, mas que não tinha acontecido algo assim no último mês.- A teoria diz que alguém – provavelmente o Kim – pode ter matado a Lee Yoon e jogado o corpo dela no incinerador, e isso explicaria os 70 kg extras de cinza. Infelizmente, com as cinzas jogadas fora, ninguém pode dizer se existia algum vestígio de que isso de fato aconteceu.


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Exemplo de incinerador


Todos os anos, próximo da data em que a Lee Yoon desapareceu, a polícia local realiza uma coletiva de imprensa pedindo ao público para que, quem tenha mais informações sobre o caso, se apresente voluntariamente. Em 2019, o caso foi destaque no programa de TV coreano “Unanswered Questions”, que é uma espécie de Linha Direta coreano que existe desde 1992. No episódio, foi feita uma progressão de idade em 3D de como a Lee Yoon seria se ainda estivesse viva aos 43 anos. Como na Coréia do Sul não existe prescrição para casos de assassinato acontecidos depois de 2000, o desaparecimento da Lee Yoon continua sob investigação.

Os mais afetados pelo desaparecimento da Lee Yoon foram seus pais, que chegaram a vender todos os seus pertences na época para oferecer uma recompensa de 100 milhões de wons a qualquer pessoa que tivesse informações relevantes sobre o caso. Em 2024, o pai e a mãe da Lee Yoon, com 87 e 84 anos respectivamente, fizeram um protesto silencioso em frente a delegacia de polícia e deram uma entrevista para o jornal Maeil Business. Lee Dong-Se, o pai, disse: “Não tenho nem energia para esperar pela minha filha agora, mas vim aqui com a sensação de que é o último dia. Completei 87 anos este ano, então, se minha filha mais nova estiver viva, ela terá 47 anos. É certo eu desistir de procurar minha filha depois de 18 anos desde o desaparecimento dela?”.

Quem também deu entrevista em 2025 foi o próprio Kim: ele revelou que sofreu muito estresse por ser considerado o principal suspeito. Ele chegou a mover uma ação contra a família da Lee Yoon, que estaria colando cartazes, inclusive na casa dele, com alegações que ele seria o responsável pelo desaparecimento da estudante. Kim se casou, constituiu família e ainda vive em Namyangju-si.


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Pais da Lee Yoon fazem protesto na frente de uma delegacia


• FONTES: NamuWiki, Unanswered Questions, FM Korea, Maeil Business, English News.

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