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Foto do escritorRodolfo Brenner

#55 - Takahiro Shiraishi, o Assassino do Twitter | SERIAL KILLER

Durante poucos meses, um homem fingia ter tendências suicidas na internet para atrair pessoas vulneráveis e oferecer um fim para elas. Entretanto, ao chegarem no local, as vítimas eram dopadas, agredidas sexualmente e depois esquartejadas.


Essa é a versão escrita do episódio #55 - Takahiro Shiraishi, o Assassino do Twitter:



Takahiro Shiraishi nasceu em 9 de outubro de 1990 na cidade de Zama, na prefeitura de Kanagawa, no Japão. As prefeituras são subdivisões territoriais e administrativas, como os estados no Brasil. Takahito cresceu com seus pais e uma irmã, e segundo as fontes, ele era bem próximo do seu pai, que trabalhava como designer de peças de automóveis. Posteriormente os pais dele se separaram, e a irmã foi morar com a mãe.

Durante a infância, os vizinhos consideravam Takahiro como uma criança quieta, mas sociável. Na escola, ele não tirava notas excelentes, mas também não era um mau aluno, passando a maior parte do tempo despercebido e sem se destacar em nada. Ele era tão apagado que muitos de seus ex-colegas não o reconheceram quando as notícias sobre ele saíram na mídia. Entretanto, um colega do ensino fundamental disse em uma entrevista à TV Fuji que eles costumavam “brincar de se sufocar”, e que já tinha presenciado o próprio Takahiro desmaiando no meio da “brincadeira”.


Takahiro na época do colégio


Em 2009, Takahiro terminou o colegial e conseguiu um emprego em um supermercado, onde trabalhou por dois anos. Ele também trabalhou em uma fábrica de alimentos e em uma loja de Pachinko, que é um tipo de caça-níquel. Após esse período, ele começou a trabalhar em um emprego menos convencional: como olheiro para casas de prostituição de Kabukichō, que é um distrito de Tóquio conhecido por oferecer esse tipo de entretenimento. Vale ressaltar que a prostituição é ilegal no Japão, e muitas mulheres que trabalham nesse ramo acabam sofrendo com a falta de qualquer tipo de suporte das autoridades.

Segundo matérias, ele trabalhava frequentando bares e restaurantes, procurando por mulheres atraentes que tivessem interesse ou necessidade de ganhar dinheiro rápido, ou mesmo mentia para elas oferecendo outros tipos de emprego, mas que obrigaria elas a se prostituir futuramente. Alguns anos depois, Takahiro foi preso por recrutar uma jovem para trabalhar em um sex shop como atendente, porém, ela foi obrigada a prestar outros serviços e denunciou ele à polícia. Ele foi detido, mas sua prisão foi suspensa.


Distrito de Kabukichō


Em junho de 2017, Takahiro, com 27 anos, teria dito ao seu pai “Não sei por que estou vivo”, e aparentemente o pai não se importou muito com isso, mesmo essa frase sendo uma bandeira vermelha. No Japão, o suicídio é um problema grave: em 2016, a taxa de suicídio era de 18,5 por 100 mil, quase o dobro da taxa mundial, colocando o país em 14º no ranking mundial. Na Ásia, ele só perde para Coreia do Sul, Cazaquistão e Taiwan.

A relação do Japão com o tema é histórica: no Japão feudal, quando um samurai fracassava em uma batalha, ele poderia optar por manter a honra cometendo suicídio cortando a própria barriga com uma espada, em um ritual chamado Seppuku ou Harakiri. Embora as palavras tenham o mesmo significado (cortar a barriga), o Harakiri refere-se à ação de cortar a própria barriga enquanto Seppuku representa o ritual samurai como um todo. Na Segunda Guerra Mundial, existia uma unidade especial de ataque japonesa conhecida como Kamikaze, na qual pilotos de aviões cheios de explosivos jogavam a aeronave em embarcações americanas, fazendo um grande estrago: na Batalha de Okinawa foram 5 mil perdas.


Samurai se preparando para o Seppuku


Infelizmente alguns locais no país também ficaram marcados como locais de suicídios, como a Floresta de Aokigahara, que fica na base do Monte Fuji. Em 2010, houve 247 tentativas de suicídio, sendo 54 delas fatais. São tantos casos de suicídio que a área é patrulhada pela polícia. Outros pontos conhecidos são as linhas de trem rápido, especialmente a Linha de Trem de Chūō, onde foram colocadas telas nas plataformas para evitar que as pessoas pulem.


Entrada da Floresta de Aokigahara com um aviso sobre suícidio


Em agosto de 2017, Takahiro se mudou da casa do seu pai para um apartamento de um quarto em Zama, um subúrbio a sudoeste de Tóquio. Nessa época, ele criou duas contas no Twitter, com o objetivo de entrar em contato com mulheres jovens que estavam tristes e que aparentemente demonstravam tendências suicidas. Na primeira conta, ele fingia ser uma pessoa com ideias suicidas e entrava em contato com as vítimas. Ele conversava e alimentava essas tendências, chegando a dizer que gostaria de se matar junto com a vítima. Na segunda conta, ele dizia que era um profissional especialista em enforcamento e que ajudaria a pessoa a morrer de forma rápida.


O apartamento onde Takahiro cometia os crimes


O modus operandi o Takahiro era: convidar a vítima para o seu apartamento com a promessa de suicídio. Quando a pessoa chegava lá, ele dava uma mistura de álcool, remédios para dormir e tranquilizantes para que a pessoa não sentisse o enforcamento. Depois que a pessoa apagava, ele agredia sexualmente e estrangulava. Posteriormente ele desmembrava os corpos, jogava as partes moles em sacos de lixo e guardava os ossos em caixas térmicas e de armazenamento. Ele também usava areia de gato para amenizar o cheiro dos restos mortais.

É difícil encontrar uma linha do tempo dos crimes, mas pelo que foi divulgado, a primeira vítima foi Mizuki Miura, de 21 anos, que trabalhava em uma empresa de logística. Mizuki ficou amiga do Takahiro ao ponto de eles combinarem de morarem juntos. Ela desapareceu depois de deixar um bilhete na casa de sua família dizendo que queria morar sozinha. Segundo a investigação, ela deu 500.000 ienes (quase R$ 20.000) para Takahiro alugar um apartamento, mas ele embolsou o dinheiro e a matou.

A polícia só conectou os casos depois do desaparecimento da Aiko Tamura, de 23 anos. Ela estava muito deprimida depois de perder a mãe. Depois de prestar queixa, seu irmão entrou na sua conta no Twitter e encontrou um tweet preocupante em que ela dizia estaria procurando alguém para um pacto de suicídio.

Após vasculhar suas mensagens, ele viu conversas dela com um perfil que continha uma foto de anime e que tinha a seguinte mensagem fixada: “As pessoas sofrem bullying o tempo todo na escola e no trabalho, e quando você não consegue lidar com os lugares que vai todos os dias, isso vai te levar cada vez mais longe mentalmente. Acho que muitas pessoas estão sofrendo e tentando suicídio, mesmo que as notícias não estejam cobrindo isso. Eu quero ajudar essas pessoas. #suicídio". O seu nome na plataforma era @hangingpro, que pode ser traduzido como "o carrasco" ou possivelmente "o homem enforcado".


Imagens do twitter de Takahiro


A polícia passou a monitorar o perfil de Takahiro e encontraram uma mulher com quem ele estava conversando online. Essa mulher, que não teve o nome revelado, concordou em se encontrar com ele em uma estação de trem próximo do apartamento. A polícia seguiu os dois e conseguiu chegar no Takahiro. Eles bateram na porta do apartamento e perguntaram pela Aiko, e foi quando ele apontou, sem nenhum tipo de remorso, que ela estava “Naquela geladeira”. Ao abrir o eletrodoméstico, eles realmente encontraram a cabeça da vítima. Takahiro foi preso e levado para a delegacia, enquanto a polícia começava a investigar cada centímetro do seu apartamento.

No total, foram encontradas as cabeças das 9 vítimas além de 240 ossos. Nesse ponto, a mídia já chamava o apartamento de “Casa dos Horrores”. As vítimas de Takahiro foram: Misuki Miura (21), Akari Suda (17), Kureha Ishihara (15), Natsumi Kubo (17), Hinako Sarashina (19), Hitomi Fujima (26), Aiko Tamura (23), Kazumi Maruyama (25) e Shogo Nishinaka (20), o único homem. Segundo as investigações, ele foi morto depois de procurar pela namorada, Misuki, na casa de Takahiro.


A lista de vítimas de Takahiro


Durante seu interrogatório, Takahiro disse que matava motivado por conseguir sexo e dinheiro de suas vítimas. Ele também contou em detalhes como escolhia, convencia e matava suas vítimas, além de relatar os processos de desmembramento. Segundo ele, ele só não se livrou dos ossos das vítimas pois tinha medo de ser descoberto. Ele confessou ter matado uma pessoa em agosto, quatro em setembro e quatro em outubro. Oito das nove vítimas eram mulheres na casa dos 20 anos. Sobre os crimes, ele disse: “Foi difícil no começo. Levei três dias para me livrar do primeiro corpo, mas depois disso consegui lidar com eles em um dia”.

Os vizinhos de Takahiro foram perguntados sobre comportamentos anormais dele, e disseram que achavam estranha a frequência com que ele levava sacos de lixo até a lixeira. Eles também disseram que chegaram a sentir um cheiro esquisito vindo do exaustor do banheiro, mas não era algo tão alarmante. Uma ex namorada de Takahiro disse que ele era “excepcionalmente mais gentil do que as pessoas comuns”, apesar de ter uma fascinação por morte e suicídio.


Takahiro sendo levado ao julgamento por seus advogados


Takahiro foi submetido a avaliações psicológicas e foi considerado mentalmente são. Um dos seus avaliadores foi o professor Yasushi Sugihara, da Universidade de Kyoto. Ele avaliou centenas de mensagens do twitter de Takahiro e disse que o assassino foi capaz de usar a informação tão íntima como a tendência suicida das vítimas para se aproximar e conseguir uma abertura maior, uma técnica utilizada na terapia para contornar a situação e se conectar melhor com os pacientes.

O julgamento aconteceu em 2020 e foi um tanto polêmico, pois a defesa alegou que as vítimas tinham ido até a casa do Takahiro sabendo do seu destino, o que foi classificado como “homicídio consentido”. O juiz Yano Naokuni não concordou com a tese da defesa, alegou que nenhuma vítima concordou em ser morta e sentenciou ele à morte. Atualmente ele segue aguardando o cumprimento da sentença.


Takahiro saindo do julgamento após a sua sentença


Na época do caso, Jack Dorsey, que era CEO do Twitter, disse que era impossível remover todos os tweets com postagens suicidas, apenas aquelas que explicitamente continham conteúdo sobre automutilação. Hoje a plataforma é um pouco diferente, existe uma política de automutilação e suicídio não somente no Twitter, mas em todas as redes sociais.

Segundo essa política, não é permitido promover nem incentivar o suicídio ou a automutilação; incentivar uma pessoa a se ferir fisicamente ou se matar; pedir a outras pessoas incentivo para praticar atos de autoflagelação ou suicídio, inclusive buscando parceiros para suicídios em grupos ou jogos suicidas; e compartilhar informações, estratégias, métodos ou instruções que ajudem as pessoas a praticarem autoflagelação e suicídio. Também são proibidas declarações como "o mais eficiente", "o mais fácil", "o melhor", "o mais bem-sucedido", "você deve", "por que você não faz tal coisa".

Se você sente que precisa conversar sobre ou está apresentando pensamentos e tendências suicidas, você pode ligar para o CVV - Centro de Valorização da Vida através do número 188 ou buscar pelo CAPS - Centro de Atenção Psicossocial da sua região.


• FONTES: SBS News, CNN Brasil, Maikoya, Opera Mundi, The New York Times, Cafezinho Investigativo, Vanguard News, The Straits Times, BBC, Kyodo News, Cracked, ReignBot.

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