A virada de ano é representada como uma época de promessas, renovação e mudança de vida, e algo que Amy Fitzpatrick desejava muito era desaparecer de sua casa. Mas seria esse um bom pedido para o ano novo?
Essa é a versão escrita do episódio #49 - Amy Fitzpatrick: Desaparecimento no Ano-Novo | DESAPARECIDOS:

Amy Fitzpatrick nasceu no dia 7 de fevereiro de 1992 em Dublin, na Irlanda. Ela era filha de Christopher e Audrey Fitzpatrick, e tinha um irmão chamado Dean. Os pais da Amy se divorciaram e em 2002 a mãe conheceu um outro homem chamado Dave Mahon. Aparentemente nem a Amy e nem o Dean se davam bem com o padrasto. Em 2004, Dave conseguiu uma oportunidade de trabalho na cidade de Málaga, que ficava no litoral da Espanha. O trabalho consistia em vender imóveis para cidadãos do Reino Unido e da Irlanda, que aparentemente tinham uma grande comunidade no local.
A mudança para a Espanha foi bastante traumática, porque a mãe e o padrasto enganaram a Amy e o Dean dizendo que seria apenas uma viagem familiar durante um feriado. Do tempo que estava morando lá, a Amy demostrou várias vezes que não gostava da cidade e que não queria ter mudado. Ela tinha um diário e sempre escrevia como ela se sentia sozinha e também sentia saudade dos seus amigos e parentes que tinham ficado na Irlanda, incluindo o seu pai. Ela também sofria bullying na escola, o que contribuía ainda mais pra essa vontade que ela tinha de ir embora.

Audrey Fitzpatrick e Dave Mahon
Na época do caso, a família ia passar os dias posteriores ao Natal na Irlanda, uma data chamada Boxing Day, que tradicionalmente é comemorada no dia 26 de dezembro e marca o inicio das liquidações de final de ano no comércio. Não fica claro o porquê, mas a mãe e o padrasto decidiram que não iriam mais. Amy ficou arrasada, foi vista chorando por alguns de seus amigos dizendo que queria fugir daquele lugar e voltar para a Irlanda. Segundo o jornal Olive Press, fica entendido que a mãe adiou a viagem para fevereiro, e que a garota iria voltar a morar com o pai.
Amy passou a virada para 2008 na casa de uma amiga chamada Ashley Rose, trabalhando de babá cuidando de seu irmão. No dia 1 de janeiro, a família da Ashley levou a Amy para passear junto com eles, e a noite, por volta das 22h, ela decidiu voltar para casa. Segundo informações, ela teria ido andando, mas nunca chegou em casa. Naquela época a Amy saía bastante durante a noite e costumava dormir na casa de alguns amigos, então a mãe e o padrasto só relataram o desaparecimento no dia 3 de janeiro.

Cartaz de desaparecimento com informações sobre Amy
Assim que começaram as investigações, a polícia se deparou com algumas divergências de histórias: segundo a mãe e o padrasto, Amy não tinha voltado para casa antes de desaparecer, porém o seu celular foi encontrado na residência. A mãe disse que a garota tinha deixado o celular lá antes de sair, mas a amiga que estava com ela no dia disse que se lembra de Amy estar com ele naquela noite. No mesmo dia em que desapareceu, o carro de um dos vizinhos de Amy também sumiu. Esse vizinho era próximo de Amy e parece que chegou a dar algumas aulas de direção para a garota, mas nunca foi encontrado ligação entre os casos.
Posteriormente, Ashley contou que Amy tinha voltado andando por um atalho que passava por uma região que ainda não era habitada. Segundo informações, a garota já tinha contado que, ao passar por esse local, teria sido perseguida por um homem dentro de um carro. Essa informação foi investigada, mas acabou não dando em nada. Algumas pessoas relataram ter visto Amy na companhia de uma mulher loira no Trafalgar Bar, após a 22h. Os bares da região eram conhecidos por permitirem a entrada de adolescentes, mesmo sendo contra a lei. Apesar das investigações, nem a identidade da mulher e nem a confirmação da presença de Amy no local foram confirmadas.
A polícia espanhola acabou descartando a possibilidade de Amy ter fugido, isso porque, apesar das demonstrações de que estava muito infeliz, todas as suas roupas e objetos pessoais tinham ficado na casa. Além disso, Amy não tinha dinheiro com ela e também não falava espanhol, o que poderia ser um obstáculo pra ela pedir carona ou até mesmo ir para outra cidade por conta própria.

Amy era muito alegre e adorava tirar fotos
Durante as investigações, muitas coisas problemáticas vieram à tona: em seus diários, Amy relatou que sua mãe e seu padrasto eram negligentes, que sua casa era suja e que seu padrasto lhe dava “arrepios”. Audrey, a mãe, foi acusada pelos amigos de Amy de beber excessivamente e fumar maconha perto dos filhos, mas ela negou essas denúncias. No diário de Amy também estava escrito que a garota constantemente dormia na casa de outras pessoas para não ficar próxima da mãe do padrasto, e que já tinha dormido até mesmo na rua quando não pode ficar na casa de alguém. Também estava escrito que ela não tinha a chave da própria casa e não podia voltar quando queria. Novamente, tudo foi negado pela mãe.
Uma mulher da região, que não teve o nome revelado, contou que, em 2005, enviou uma carta para a Embaixada da Irlanda alertando sobre uma suposta negligência da mãe e do padrasto, inclusive ela chamou a Audrey de “uma maluca”. Essa mesma mulher chegou a hospedar Amy na casa dela em 2005 e disse para Audrey que não devolveria a garota por conta dos maus-tratos. Houve uma briga das duas pelo telefone e a Amy só voltou para casa depois que a mãe dela disse que iria chamar a polícia e acusar essa mulher de sequestro.
A questão da educação da Amy também foi bastante relevante para as acusações de negligência: a garota faltava muito, e posteriormente ficou comprovado que ela não estava nem ao menos matriculada em uma escola naquela época. Posteriormente, em uma entrevista ao Olive Press, o pai de Amy disse que estava preocupado com o comportamento da filha, e que, segundo Audrey, a garota estava saindo tarde da noite, frequentando bares, bebendo e fumando. A mãe de uma amiga dela disse que via ela pela região dos bares com certa regularidade, e que achava que a jovem era uma má influência para a sua filha.
Ficou comprovado que Christopher, o pai de Amy, estava tentando levar a garota de volta para a Irlanda, mas não estava conseguindo porque a guarda da jovem estava com a mãe, e para entrar com os papéis ele precisava da certidão de casamento. O problema é que os dois tinham casado em Roma, ou seja, os processos envolviam burocracias na Irlanda, na Espanha e na Itália.

Christopher e Dean Fitzpatrick
Em agosto de 2008, 7 meses depois do desaparecimento, a casa do advogado da família Fitzpatrick foi assaltada, e foram levados diversos objetos incluindo o celular, um notebook e uma pasta com informações sobre o caso. Em 2009, Audrey recebeu uma ligação de um homem que alegou ter sequestrado Amy e levado ela para Madri, e pediu um resgate no valor de 500 mil euros. A polícia investigou a ligação, mas acabou não encontrando muita coisa relevante e foi considerado uma tentativa de extorsão. No mesmo ano, Audrey, Dave e o irmão de Amy, Dean, decidiram voltar para a Irlanda: segundo ela, o local apenas trazia lembranças ruins sobre o desaparecimento da filha. Nessa época ela apareceu em muitos programas da TV da Irlanda e da Inglaterra dando entrevistas e cobrando esclarecimentos da polícia.
Em 2013, a família Fitzpatrick sofreria mais uma perda: Dean, o irmão de Amy, foi assassinato por Dave, o padrasto. Segundo as investigações, os dois começaram uma discussão e Dave acabou esfaqueando o enteado para se defender. Ele foi acusado de homicídio culposo (sem a intenção de matar) e condenado a 7 anos de prisão, mas cumpriu apenas 5 anos em regime fechado. Depois que ele saiu da prisão, ele e a Audrey se casaram.

Audrey se casou com Dave mesmo após ele ter matado seu outro filho
A policia da Espanha acabou encerrando as investigações e o caso foi arquivado. Hoje, os principais divulgadores do caso são o pai e a tia de Amy, que entregaram uma série de petições para que o governo irlandês se responsabilizasse sobre o caso. No dia 7 de fevereiro de 2022, data que seria o aniversário de 30 anos da Amy, o pai dela realizou uma cerimônia no em Springdale Road, que fica em Dublin. Christopher pendurou um cartão de aniversário que dizia: “Para minha linda filha Amy, feliz aniversário de 30 anos. Com muito amor, pai, sinto sua falta mais do que as palavras podem expressar”.
A última notícia sobre o caso é de alguns dias atrás, quando a Audrey recebeu informações de que Amy poderia estar envolvida em um esquema de tráfico de drogas: segundo as informações que ela recebeu, Amy teria recebido cerca de 100 euros para se passar por filha de dois britânicos que estariam traficando na região. Além disso, um amigo de Amy chamado Alan Quieros, que morava na Irlanda, mas conversava com ela quase todos os dias, revelou algumas mensagens que ele trocou com ela um dia antes que ela desapareceu: segundo ele, a garota tinha ficado muito abalada por não conseguir voltar para a Irlanda e revelou que tinha “um esquema” para reverter essa situação.
Essas informações são as primeiras novidades do caso em muitos anos, e Audrey espera que possa levar para algum lugar e finalmente descobrir o que aconteceu com a sua filha naquele ano-novo.

A tia e o pai de Amy durante vigilia para lembrar o seu desaparecimento
• FONTES: The Olive Press, Medium, Freak TV, Irish Mirror.
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