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  • Foto do escritorRodolfo Brenner

#42 - Os Maníacos de Dnepropetrovsk | SERIAL KILLER

Em menos de um mês, uma cidade da Ucrânia foi palco de 21 mortes violentas, deixando a população completamente aterrorizada. Mas quem estaria por trás dessa verdadeira chacina?


Essa é a versão escrita do episódio #42 - Os Maníacos de Dnepropetrovsk:



O caso aconteceu na cidade de Dnepropetrovsk, a quarta maior cidade da Ucrânia e que fica a 391 km da capital Kiev. A cidade é muito importante historicamente, tendo sido um dos centros administrativos do antigo império russo no século XIX, foi ocupada pelos nazistas na década de 40 e se transformou em uma cidade-chave para a produção de equipamentos nucleares quando fazia parte da União Soviética.

Em 2014 a cidade foi marcada pelos protestos da Primavera Ucraniana, quando a população depôs o presidente eleito Viktor Yanukovych por causa da insatisfação com a aproximação do país com a Rússia. Para promover o fortalecimento do estado ucraniano, foram removidos diversos símbolos da era soviética, incluindo o sufixo russo "Petrovsk" do nome da cidade, que passou a ser chamada apenas de Dnipro pelos ucranianos.

Com a invasão russa no país em 2022, a cidade virou ponto estratégico para o recebimento de ajuda humanitária e também está servindo como um local de recepção para os fugitivos das frentes de batalha.

Dnipro, antiga Dnepropetrovsk


O caso começou no dia 24 junho de 2007, quando Vadim Bogdan, um policial de 23 anos, foi encontrado morto. Aparentemente ele tinha sido atacado com um objeto contundente e estava quase desfigurado. A polícia acreditava que se tratava de um roubo, mas era só o primeiro de uma sequência de ataques violentos.

No dia 25 de junho de 2007, Ekaterina Ilchenko, uma professora de 33 anos, estava voltando para casa depois de tomar um chá da tarde na casa de uma amiga, quando se deparou com dois homens parados no meio da estrada. Quando ela passou ao lado deles, um desses homens se virou e acertou a cabeça dela com um martelo várias vezes. No outro dia pela manhã a mãe da Ekaterina saiu para procura-lá e encontrou seu corpo.

90 minutos depois da Ekaterina ter sido atacada, um homem chamado Roman Tatarevich estava dormindo em um banco quando foi atingido várias vezes na cabeça com um martelo. Além de bater nele, os agressores ainda arrancaram seus olhos com uma chave de fenda. O ataque foi tão brutal que o rosto do Roman ficou completamente irreconhecível. Ainda no mesmo dia, um homem chamado Viktor Pertsev, de 58 anos, foi atacado com uma barra de ferro. Apesar da gravidade dos seus ferimentos, ele sobreviveu, mas ficou em um estado tão grave e com tanto medo que não conseguiu identificar quem tinha feito aquilo com ele.


Ekaterina Ilchenko


No dia 28, mais dois ataques aconteceram em Dnepropetrovsk: Alexey Kovbasa de 69 anos e Valery Krivospitsky de 53 anos. Infelizmente não existem muitas informações sobre eles ou sobre o ataque em si. Uma semana depois foram encontrados mais dois corpos na cidade vizinha de Novomoskovsk: Yevgenia Grischenko e Nikolai Serchuk, novamente com o mesmo tipo de ferimento. Apesar de toda a brutalidade, até o momento a polícia ainda não tinha conectado os crimes.

Na noite de 6 de julho, um recruta do exército chamado Egor Nechvoloda saiu de um bar e estava caminhando para casa quando foi atacado com um martelo. Na manhã seguinte, sua mãe saiu para procurá-lo e encontrou seu corpo perto do prédio onde eles moravam. Chamou a atenção que, além da brutalidade, os assassinos ainda desenharam uma suástica nazista na testa de Egor.

Na mesma noite, uma guarda noturna chamada Yelena Shram estava patrulhando uma área na Kosiora Street quando viu dois homens vindo em sua direção. Um deles tirou um martelo que estava escondido debaixo de sua camiseta e acertou ela várias vezes. Ainda houve mais uma vítima naquela noite, uma mulher chamada Valentina Hanzha.

Yelena Shram

No dia 7 de julho, Andrei Sidyuk e Vadim Lyakhov, ambos de 14 anos, estavam pescando em um local próximo da cidade de Pidhorodne quando foram atacados. Andrei morreu no local, mas Vadim conseguiu escapar e se esconder na floresta.

No dia 11 houve mais dois ataques em Dnepropetrovsk: Nikolai Pshenichko, de 53 anos, e um outro homem que não teve a identidade revelada, ambos atacados com um objeto contundente, assim como as outras vítimas. No dia 12 de julho, Sergei Yatzenko, de 48 anos, saiu de bicicleta para visitar o neto. Quando estava passando por uma rua meio deserta, ele avistou um carro com dois jovens parados, conversando do lado de fora. Quando ele passou perto deles, um desses jovens acertou ele com um martelo, fazendo ele cair da bicicleta. Além de ter sido atingido no rosto pelo menos 10 vezes, os assassinos perfuraram seus olhos, seu abdômen e seu cranio com uma chave de fenda.


Retrato de Sergei Yatzenko


No dia 13, houve dois ataques brutais contra um homem chamado Nikolai Maryanchikova e uma mulher chamada Valeria Lobachenko. Não existem muitas informações sobre esses ataques, entretanto, foi divulgado que que Valeria estava grávida, e os assassinos retiraram o feto da sua barriga.

No dia 14 de julho, uma mulher de 45 anos chamada Natalia Mamarchuk estava andando de scooter na cidade de Diyovka quando foi atacada por dois homens. Eles derrubaram e espancaram ela até a morte com um martelo. Algumas pessoas acabaram testemunhando o ataque e correram atrás dos agressores, mas eles fugiram na scooter roubada. Nos dias 15 de julho e 16 de julho, tiveram as duas últimas vítimas em Dnipropetrovsk: Vladimir Rakovsky, de 51 anos e Yuri Pekhotin, de 47 anos. Posteriormente foi divulgado que havia mais uma sobrevivente dos ataques, uma mulher de 70 anos chamada Lidia Mikrenischeva, mas não foi divulgado onde e quando ela foi atacada.

Lidia Mikrenischeva


A polícia só foi conectar os casos após o ataque aos dois meninos em Pidhorodne. Quando chegaram na cena do crime, eles prenderam o Vadim Lyakhov por suspeita de ter matado o amigo. Pra piorar, ele ainda foi espancado pelos policiais e foi proibido de contactar um advogado. Como a prisão do Vadim não parou as mortes, ficou claro que ele não era o culpado e ele foi liberado. Ele ajudou a criar um esboço dos criminosos, que segundo ele eram dois jovens na faixa dos 18-20 anos. Além dele, apareceram duas testemunhas do ataque contra a Natalia Mamarchuk que ajudaram a dar mais descrições dos assassinos.


Retrato falado de Igor e Viktor


Foi enviada uma força-tarefa de Kiev para a cidade de Dnepropetrovsk, que foi chefiada pelo investigador criminal Vasily Paskalov e contou com mais de 2 mil autoridades trabalhando. A investigação oficial estava em sigilo e nenhuma informação oficial sobre os ataques ou sobre os criminosos foi divulgada. Mesmo assim, os boatos já estavam rondando a cidade, a população estava com medo e ninguém queria mais sair de casa durante a noite.

Após a liberação dos corpos, os familiares de algumas vítimas informaram a falta de alguns itens, então foi liberada uma lista de objetos de valor para lojas de penhores e de usados na região. No dia 23 de junho, dois jovens foram até uma loja de penhores para vender um celular usado. Quando o dono da loja ligou o celular para ver se ele estava funcionando, a polícia conseguiu rastrear a localização e rapidamente se dirigiu para o local, já que o celular era de uma das vítimas. Os dois jovens eram Viktor Sayenko e Igor Suprunyuck. Na delegacia, eles confessaram os ataques e deram o nome de uma terceira pessoa, Alexander Hanzha, que foi preso no mesmo dia.

Quando a polícia chegou na casa de Alexander, ele rapidamente tentou se livrar das jóias e dos celulares das vítimas jogando no vaso sanitário, mas os objetos foram recuperados mais tarde. Algumas fontes dizem que os dois deixaram os objetos da casa do Alexander e pediram para ele se livrar deles caso a polícia fosse até lá, e ele, com medo dos dois, acabou guardando. Mas afinal, quem eram Viktor, Igor e Alexander, e por que eles mataram 21 pessoas dessa forma?


Viktor, Igor e Alexander


Os três suspeitos tinham nascido em 1988, tinham 19 anos na época e também tinham frequentado a escola juntos. Viktor e Igor viviam vidas relativamente confortáveis, o pai do Igor era piloto de avião e o pai do Viktor era advogado. Os dois eram considerados esquisitos entre os outros alunos, e também sofriam bullying. Na adolescência eles passavam muito tempo juntos, jogando videogame e assistindo filmes, além de passarem horas no computador.

Certo dia, Igor contou para o Viktor que ele tinha medo de altura, e os dois tiveram uma ideia “genial”: fazer um tratamento de choque que consistia em ficar pendurado sobre o parapeito da sacada do apartamento do Igor, que ficava no 14º andar. Segundo o Igor, aquilo tinha funcionado, e por isso eles começaram a fazer mais coisas para desafiar o perigo. Alexander era um pouco diferente, vinha de uma família mais humilde, era mais tímido e, apesar de ser amigo dos dois, mantinha certa distância devido ao envolvimento deles com coisas erradas, como fazer pequenos roubos, matar animais de rua, desenhar suásticas e fazer saudações nazistas, sempre fotografando todo o processo.

Aos 17 anos, o Igor espancou um menino e roubou sua bicicleta, tendo vendido para o Viktor posteriormente. Eles até chegaram a serem detidos por isso, mas o processo não foi para a frente. Na época dos crimes, Alexander trabalhava como confeiteiro, Viktor como segurança e Igor dirigia um táxi clandestino. O carro dele, inclusive, foi posteriormente identificado como tendo sido visto nos locais de alguns assassinatos. Ainda segundo o testemunho deles, algumas das vítimas eram passageiros do táxi.


Viktor realizando uma saudação nazista após terem matado uma de suas vítimas


Igor Suprunyuk foi acusado de 21 homicídios (incluindo do bebê que a Valeria Lobachenko estava esperando), 8 assaltos à mão armada e uma acusação de crueldade contra animais. Viktor Sayenko foi acusado de 18 homicídios, 5 roubos e uma acusação de crueldade contra animais. Alexander Hanzha foi acusado apenas de dois assaltos a mão armada que aconteceram em março de 2007.

No julgamento, o Igor se declarou inocente por motivo de insanidade, enquanto o Viktor e o Alexander se declararam culpados de todas as acusações. A maior prova eram os vídeos dos assassinatos, além de manchas de sangue nas roupas dos jovens. Além disso, na casa de Igor foram encontrados recortes de jornais sobre os assassinatos, e algumas fotos estavam com a legenda "Os fracos devem morrer. Os mais fortes vencerão".

A polícia prendeu os celulares e computadores pessoais dos suspeitos e identificou diversas gravações em vídeo dos assassinatos. Infelizmente, um desses vídeos acabou vazando na Internet. O vídeo ficou conhecido como “3 guys, 1 hammer”, e mostrava o assassinato do Sergei Yatzenko. Além de diversas fotos de crueldade com animais e de ataques com outras vítimas, ainda foram encontradas fotos do Igor e do Viktor no funeral de diversas vítimas, com eles rindo e mostrando o dedo do meio para as lápides. No total haviam mais de 300 fotografias e vídeos.


Igor mostrando o dedo do meio para a lápide de uma das vítimas


Quando foram questionados sobre o material, os acusados disseram que não eram eles nas fotos, e que eles não sabiam quem eram aquelas pessoas. O juiz ficou tão indignado com a resposta que disse “vocês não são cegos”. Também foi chamado um especialista em edição de vídeos que garantiu que o material era genuíno. A defesa primeiramente alegou que os vídeos tinham sido modificados para incriminar Igor e Viktor, e depois disse que aquelas provas tinham sido obtidas sem autorização judicial.

Enquanto o caso estava sendo julgado, começaram a aparecer informações de que o plano dos jovens era o de enriquecer vendendo os vídeos dos assassinatos na internet. Essa informação chegou a ser relatada pela namorada do Viktor, que ouviu ele planejando fazer pelo menos 40 vídeos do tipo para vender. Um ex-colega de classe dos jovens alegou ter ouvido Igor dizer que estava em contato com alguém de outro país que encomendou os vídeos de morte para eles, e que eles receberiam bastante dinheiro para isso. No fim, apesar das acusações, o juiz do caso rejeitou a alegação por falta de provas disso.

No fim do julgamento, a promotoria não estabeleceu nenhuma motivação para os assassinatos, e os jovens foram considerados “spree killers”. Diferente dos serial killers, os spree killers matam de forma impulsiva, cometendo diversos crimes sem premeditação até serem parados. Um dos exemplos mais recentes que tivemos é o de Lázaro Barbosa, um assassino que moveu uma enorme busca de 20 dias em Goiás após assassinar 4 pessoas.


Os três acusados durante o julgamento


Em 11 de fevereiro de 2009, o tribunal de Dnepropetrovsk considerou Viktor Sayenko e Igor Suprunyuk culpados de assassinato e ambos foram condenados à prisão perpétua e mais 15 anos pelas acusações de roubo e crueldade contra animais. A defesa de Alexander Hanzha comprovou que ele não participou de nenhum assassinato e ele foi considerado culpado apenas de roubo, sendo condenado a nove anos de prisão.

O julgamento desse caso foi extremamente longo e midiático, com diversos testemunhos do juiz, da promotoria, da defesa e de familiares das vítimas. O veredito do tribunal tinha centenas de páginas e demorou 2 dias só para ser lido.

Os pais dos acusados acreditavam que os filhos eram inocentes e que eles tinham sido torturados para confessar. Os advogados do Viktor Sayenko e do Igor Suprunyuck anunciaram que iriam apelar e provar que as fotos e vídeos eram forjados. O caso seguiu para o Supremo Tribunal da Ucrânia, que negou o recurso e manteve a prisão perpétua dos dois, que seguem presos. Já Alexander Hanzha cumpriu sua pena e foi liberado em abril de 2019. Posteriormente, foi relatado que ele é casado, tem dois filhos e vive uma vida normal.

Em 2010, um canal no Chile fez um documentário sobre o caso intitulado “Os Maníacos do Martelo”, que conversou com parentes das vítimas e com a sobrevivente Lidia Mikrenischeva. O documentário também mostra imagens inéditas dos assassinatos, e está disponível no YouTube.


Os pais de Igor Suprunyuck ainda acreditam que o filho é inocente


FONTES: Los maníacos del martillo, Eleanor Neale, I Could Murder a Podcast, Murderpedia, A Little Bit Human, Gazeta.ua, Dnepr.info, Ginger's Crime Museum.

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