No final do século XIX, uma viúva americana colocou um aviso no jornal procurando por um pretendente para casar, mas os homens que chegavam lá nunca saíam. Para piorar, existem dúvidas até hoje sobre o que realmente aconteceu com ela.
Essa é a versão escrita do episódio #32 - Belle Gunnes, a Açougueira de Homens:

Brynhild Paulsdatter Størset nasceu em 11 de novembro de 1859, em Inngbya, um pequeno vilarejo no distrito de Selbu. Ela era filha de Paul e Berit Størset, e vivia em uma pequena fazenda onde a família plantava e criava animais para consumo próprio. As informações sobre a vida dela antes de ir para os Estados Unidos quase não existem, e o que é encontrado na literatura nunca pode ser confirmado, mas sabe-se que ela tinha 6 irmãos, e que a família era bastante pobre, e recebia até ajuda do governo da época.
Como a sua família não tinha dinheiro para comprar lenha, Brynhild saía todos os dias para coletar galhos secos, o que rendeu o apelido de Snurkvistpåla, que pode ser traduzido como “filha do galho de Paulo”, que pode não parecer, mas era bastante pejorativo para uma menina. Quando tinha 14 anos, ela foi contratada para tirar leite em uma fazenda vizinha, e foi descrita como uma boa profissional. Quando ela voltava pra casa, ela se reunia com familiares ao redor do fogo, e ficava tricotando enquanto ouvia as histórias de sua família.

Distrito de Selbu, Noruega
A família Størset era luterana, e aos quatorze anos a Brynhild passou pelos ritos de passagem acompanhada de um instrutor religioso, o pastor Agaton Hansteen, que a descreveu como uma menina boa que tinha um bom conhecimento religioso. Entretanto, um jornal local, após o caso ficar famoso, descreveu ela como sendo o “um ser humano muito mau, caprichoso e extremamente malicioso. Ela tinha hábitos desagradáveis, sempre com disposição para brincadeiras sujas, falava pouco e era mentirosa desde criança”.
Uma história que nunca pode ser comprovada é a de que Brynhild estava grávida aos 17 anos, e o pai era rico fazendeiro. Como ele não tinha a intenção de se casar com ela, ele a espancou e ela perdeu o bebê. Seu agressor morreu um tempo depois. As descrições retratam Brynhild como uma mulher não muito atraente: ela tinha uma cabeça grande, olhos pequenos, nariz curto e uma boca larga com lábios grossos, e que, segundo o livro “Lady Killers Profile: Belle Gunness”, que foi usado como base para essa pauta, parecia com a de um sapo.

Belle Gunness
A irmã mais velha de Brynhild, Olina, se mudou para Chicago anos antes, onde se casou com um americano e mudou de nome para Nellie. Ela convidou Belle para morar com ela, e inclusive chegou a pagar a passagem dela. Foi depois de chegar em Chicago que Brynhild Størset mudou de nome para Bella Peterson, e realizava trabalhos de doméstica, dando seu salário para a irmã e para o cunhado.
Alguns anos depois, Bella conhece Mads Ditlev Anton Sorenson e se casa com ele em março de 1884. Sorenson trabalhava em uma loja de departamentos e ganhava um salário baixo (quinze dólares por semana). Segundo os historiadores, a pressa do casamento foi porque Bella queria ser mãe, chegando inclusive a pedir para levar uma de suas sobrinhas e criar como sua filha. Como sua irmã Nellie não aceitou, Bella parou de falar com ela.

Mads Sorenson
Em 1891, Bella adota uma menina chamada Jennie Olson, que tinha perdido a mãe recentemente e que o pai não conseguia criar. Segundo relatos, Bella tratava a menina muito bem, que andava sempre alegre e bem-vestida. Anos mais tarde, o pai de Jennie tentou recuperar a guarda da filha, mas o tribunal deu razão para Bella. Em 1894, o casal comprou uma loja de doces que ficava em uma boa localização em um distrito comercial de Chicago. Entretanto, a loja nunca teve o movimento esperado, e eles já estavam gastando mais do que ganhavam. Menos de um ano depois, um incêndio destruiu a loja, e o casal recebeu o dinheiro do seguro. Após isso, eles se mudaram para Austin, no Texas.
Entre 1896 e 1898, eles tiveram 4 filhos: Caroline, Myrtle, Axel e Lucy. Logo após o nascimento, dois morreram: Caroline com cinco meses e Axel com três meses, e a causa das mortes foram dadas como enterocolite e hidrocefalia, respectivamente. Lembrando que, naquela época, a taxa de mortalidade infantil nos Estados Unidos era de cem mortes por mil nascidos vivos, então não foi levantada nenhuma suspeita sobre a morte dos dois bebês.
No dia 1º de outubro de 1897, a família foi visitada por um homem chamado Angus Ralston, que se apresentou como o engenheiro-chefe de uma empresa chamada Yukon Mining & Trading Company, que estava contratando mineiros dispostos a viajar para o Alasca para procurar ouro. Bella convenceu Mads a aceitar o emprego, e a companhia pagaria trinta e cinco dólares por mês enquanto seu marido estivesse longe. Além de aceitar o emprego, o casal também investiu uma quantia considerável para que Mads pudesse buscar ouro por um ano: Mads e Bella assinaram uma nota promissória conjunta de setecentos dólares (equivalente a mais de vinte mil hoje), colocando a escritura da sua casa como garantia.
Acontece que tudo não passava de um golpe, e depois de dois meses eles perceberam que foram enganados. Eles quase perderam a casa, se não fosse um incêndio no dia 10 de abril de 1900, que queimou parte da casa e alguns móveis. Como o casal tinha seguro, eles receberam cerca de US $ 650. Se o incêndio foi causado por eles ou não, assim como na loja de doces, jamais saberemos.

Belle com seus filhos: Jennie, Myrtle e Lucy
No dia 30 de julho de 1900, um médico chamado J.C. Miller recebeu um pedido de socorro da casa dos Sorensons. Quando ele chegou lá, encontrou Mads morto na cama. Bella contou que o marido estava sofrendo de uma gripe forte, e tinha voltado do trabalho se queixando de dor de cabeça. Ela deu uma dose de quinino em pó (uma substância analgésica e antitérmica) e depois foi preparar o jantar. Quando ela subiu para ver como estava o marido, ele já estava morto.
O médico pensou que talvez poderia ter sido um erro do farmacêutico e pediu para ver a embalagem do quinino, mas Bella disse que tinha jogado fora. Como não havia motivos para suspeitar da agora viúva, o médico colocou a causa da morte como hemorragia cerebral. O que ninguém sabia é que, com a morte de Mads Sorensons, Bella ganharia não uma, mas duas apólices de seguro, um total de US $ 5.000, $173 mil dólares hoje.
Três dias depois, na manhã de 2 de agosto de 1900, Mads Ditlev Anton Sorenson foi sepultado ao lado de seus dois filhos pequenos no cemitério Forest Home. Entre as pessoas que compareceram ao funeral estava Nellie. Posteriormente, ela deu uma entrevista falando que se sentiu muito mal naquele dia: “Enquanto eu estava lá, uma sensação terrível tomou conta de mim. Eu senti que algo estava para acontecer”.

O cemitério de Forest Home
Com o dinheiro que recebeu do seguro, Bella comprou uma fazenda que ficava em La Porte, estado de Indiana, e mudou para lá com suas três filhas, Jennie, Myrtle e Lucy. Essa propriedade já tinha um histórico “diferenciado”: por ali passaram bandidos perigosos, foi registrado um suicídio de um fazendeiro e o local até chegou a ser usado como bordel por um tempo. Quando chegou ao local, Bella Sorenson adotou outro nome, Belle.
Alguns meses antes de se mudar, Belle visitou um primo em Minneapolis e reencontrou Peter Gunness, um trabalhador que ficou um tempo hospedado em sua casa em Chicago. A exposa de Peter tinha morrinho no parto, e ele, além de viúvo, agora era um pai solo. Belle não pensou duas vezes em se aproximar do homem. Os dois começaram uma relação e se casaram em 1º de abril de 1902, e finalmente ela adotou o sobrenome Gunness.

Peter Gunness
Entretanto, uma tragédia aconteceu: apenas cinco dias depois do casamento, a filha de Peter faleceu de edema pulmonar. E essa só seria a primeira: oito meses depois, os vizinhos mais próximos dos Gunnesses foram acordados por batidas na porta. Era Jennie, dizendo que seu pai adotivo tinha se queimado. Quando eles foram até a fazenda, encontraram Belle completamente exausta, e Peter caído na sala, já sem pulso. Um médico foi chamado, Dr. Bowell, que constatou que ele já estava morto e tinha um ferimento atrás da cabeça.
Belle estava tão histérica que mal conseguia contar o que tinha acontecido. Depois que os vizinhos a acalmaram, ela contou a série de eventos que levaram a morte do marido: Peter deixava os sapatos perto do fogão para esquentá-los. Quando ele foi abaixar para pegá-los, um moedor de carne caiu de uma prateleira e atingiu ele na cabeça. Para piorar, o moedor derrubando uma tigela de salmoura quente, que acabou escaldou seu pescoço. Todos acharam a história suspeita, inclusive Dr. Bowell, mas ele resolveu esperar os resultados da autópsia, que seria feita no dia seguinte. Um dia depois, Dr. Bowell, com o auxílio de outro médico, realizou uma autópsia no corpo de Peter Gunness. Dr. Bowell não encontrou nenhuma evidência de queimadura pelo corpo, o que contestava a versão da tigela de salmoura quente. Além do ferimento na cabeça, Peter estava com lacerações no rosto e com o nariz quebrado.
Dr. Bowell estava muito desconfiado da história de Belle, e por isso ele anunciou intenção de formar um júri e conduzir um inquérito sobre o caso. Esse inquérito foi realizado no dia 18 de dezembro de 1902, e Belle e Jennie foram interrogadas por várias horas, contando com detalhes a mesma versão da história. E se muita gente já desconfiava de Belle, o comportamento dela no funeral de Peter só aprofundou as suspeitas: segundo relatos, ela colocou as mãos na frente dos olhos para chorar, porém, estava olhando entre os dedos para ver como as pessoas estavam reagindo a isso.
Para a surpresa de todos, o relatório final do Dr. Bowell creditou a história, afirmando que Peter Gunness realmente tinha morrido pela queda acidental de um moedor de carne. Mesmo com o caso encerrado, a população continuava especulando que a viúva tinha assassinado o marido. Algum tempo depois, uma das filhas de Belle, Myrtle, teria dito a um colega na escola “Minha mãe matou meu papai, ela o atingiu com um cutelo e ele morreu, não diga a ninguém”. Uma semana depois disso, a pequena Myrtle também morreu.

Lápide de Peter Gunness
Poucos meses depois que o segundo marido de Belle faleceu, ela teve outro filho: um menino chamado Phillip. Quando a parteira chegou na fazenda encontrou o bebê nascido, de banho tomado e vestido. Começaram a circular boatos de que Belle não tinha dado à luz: vizinhas viram ela lavando roupa e correndo atrás da criação de porcos; e o bebê parecia muito velho para ser um recém-nascido.
Enquanto isso, o irmão de Peter Gunness, Gust, ainda suspeitava que a morte da sobrinha e do irmão não foram simples acidentes, e queria garantir que a sua outra sobrinha, Swanhild, estava bem. Gust viajou para La Porte e encontrou ela em bons cuidados. Antes de ir embora, para sua surpresa, Belle convidou ele para ajudar a administrar a fazenda. Como ele ainda suspeitava dela, ele recusou a oferta. Gust permaneceu no local por alguns dias, e foi embora sem avisar ninguém, e levando Swanhild com ele.
Em fevereiro daquele ano, um imigrante norueguês chamado Olaf Lindboe, de trinta anos, encontrou um anúncio no jornal de trabalho na fazenda de Belle Gunness. Pouco tempo depois de sua chegada, os vizinhos começaram a notar que ele e Belle pareciam ter uma relação mais próxima do que empregado e patrão. O próprio Olaf escreveu para alguns familiares e amigos avisando que poderia se casar em breve com a Sra. Gunness.
Algum tempo depois, um homem chamado Chris Christofferson, que era vizinho da fazenda, recebeu uma proposta de trabalho de Belle, dizendo que ela precisava de alguém com certa urgência porque o antigo funcionário, Olaf, tinha saído do emprego. Chris perguntou por que Olaf tinha pedido demissão, e ela disse que ele teria ido para St. Louis.

Olaf Lindboe
Poucos meses depois, Chris estava na casa de Belle quando um homem, se apresentando como Henry Gurholt, explicou que veio trabalhar para a Sra. Gunness. Henry era um bom trabalhador e gostava muito de morar na fazenda, sempre deixando isso claro nas cartas que enviava para a família. Um dia, em agosto de 1905, Belle voltou a pedir a ajuda de Chris, dizendo que Henry estava doente e tinha ido para Chicago levando apenas uma bolsa com algumas roupas. Isso era bastante estranho, porque o Henry tinha levado para a fazenda um grande baú com várias roupas, incluindo um casaco de pele. No inverno de 1905, Chris viu a Sra. Gunness vestindo o casaco que Henry havia deixado. Ao perguntar se ele tinha mandado alguma notícia de Chicago, Belle disse que “não tinha ouvido uma palavra dele”.
Logo após o desaparecimento de Henry Gurholt, Belle colocou um anuncio no jornal: “Uma mulher que possui uma fazenda valiosa e lindamente localizada em condições de primeira classe deseja um homem bom e confiável como parceiro dela. Um pouco de dinheiro é necessário e será fornecido uma garantia de primeira classe”. Não se sabe exatamente quantos, mas depois do anúncio Belle recebeu muitos homens na fazenda, sempre apresentando como um primo de outro estado. Esses homens chegavam com dinheiro e malas de roupa achando que iriam se casar, mas desapareciam misteriosamente. A desculpa era sempre a mesma: eles tinham ido embora e deixado suas roupas para trás. No verão de 1906, Belle contratou um imigrante polonês chamado William Brogiski para realizar um trabalho bem específico: cavar fossas que seriam usados para colocar lixo. Estranhamente, Belle pediu para que os buracos tivessem 1,80 m de comprimento, 1,20 m de largura e 1,20 m de profundidade.
Naquele mesmo ano, a filha adotiva de Belle, Jennie Olson, já era uma jovem de 16 anos, e era descrita como muito bonita, tendo “cabelos loiros abundantes, olhos suaves e pele impecável”. Por causa de sua beleza, vários homens tentaram se aproximar e ter um relacionamento com ela, incluindo Emil Greening, um lavrador que trabalhava na fazenda de Gunness. Não fica claro se os dois tiveram um relacionamento amoroso, mas o que as fontes falam é que eles ficaram grandes amigos, compartilhando segredos e experiências de vida.
No inverno de 1906, Jennie contou para Emil que sua mãe decidiu mandar ela para estudar na Califórnia, e que um professor viria até La Porte para acompanhar Jennie até a escola. Alguns dias antes do Natal, Emil precisou se ausentar da fazenda por apenas um dia, e quando voltou, descobriu que Jennie já tinha partido. John Weidner, outro homem que cortejava Jennie, também achou esquisita a partida repentina dela. Ele mandou diversas cartas, mas ela nunca respondeu.

Jennie Olson
Depois que Emil Greening foi embora, em junho de 1907, Belle contratou Ray Lamphere, que além de agricultor, também era marceneiro. Mas ele também assumiu outro papel: o de amante de Belle. Em janeiro de 1908, um homem estranho chegou a Fazenda: era Andrew Helgelien, com quem Belle tinha mantido contato por correspondência durante muito tempo. Ray não entendeu muito bem o que ele estava fazendo ali, até que Belle informou para ele que o seu quarto seria agora usado pelo convidado.
Na manhã seguinte, Ray encontrou Andrew na cozinha e os dois começaram a conversar. A conversa foi interrompida por Belle, que chamou Ray de lado e pediu para que ele deixasse Andrew em paz. Foi aí que Ray descobriu tudo: Andrew era um grande fazendeiro na Dakota do Sul, e Belle estava de olho nas posses dele. Na manhã do dia 6 de janeiro, Belle e Andrew foram até o banco fazer um saque no valor de $ 2.839 (mais de $ 75.000 em dólares de hoje), metade do valor em moedas de ouro.
Mais tarde, Belle enviou Ray para tratar de negócios com um primo dela, que morava no Michigan. Ray e foi para lá com mais um amigo, porém, como esse primo de Belle não apareceu, os dois resolveram voltar para La Porte. Quando voltou, ele discutiu com Belle sobre salários não pagos e foi embora da fazenda na mesma noite. Um tempo depois, com a ajuda de um advogado, ele entrou com uma ação para recuperar seus bens deixados no local, além dos salários não pagos. Ao invés de ficar intimidada, Belle ficou furiosa: expulsou ele da fazenda e escreveu várias cartas para o xerife do condado alegando que estava sendo intimidada por Ray. No mês seguinte, Ray foi até a fazenda e resolveu se esconder, na tentativa de vigiar Belle. Acontece que ela acabou descobrindo e chamou as autoridades: ele foi preso por invasão de propriedade e condenado a pagar uma multa de mil dólares.

Ray Lamphere e Andrew Helgelien
Lembram do Andrew Helgelien? Assim como outros homens, ele também não tinha sido mais visto pela região. Seu irmão, Asle Helgelien, enviou uma carta à Belle perguntando onde ele estava, e ela deu o seguinte relato: Andrew tinha saído para procurar um de seus irmãos, que ele acreditava estar em alguma cidade grande no nordeste americano. Conforme ele mandava outras cartas, ela ia aumentando a história. Enquanto isso, Ray Lamphere tinha sido preso novamente por invadir a fazenda de Belle Gunness, e seu julgamento tinha sido marcado para meados de abril. Para representá-lo, ele contratou o advogado local Wirt Worden, que seria importante para o caso no futuro: isso porque, durante o interrogatório de Belle, o advogado lançou as primeiras sementes de que tinha algo estranho sobre o passado de Belle.
Worden lembrou da morte repentina de Peter Gunness e do seguro de vida que ela ganhou, sempre sendo interrompido pelo promotor. Worden também questionou Belle sobre a morte repentina de seu primeiro marido, Mads Sorenson, e de como existia uma história sobre ele ter sido envenenado. O juiz acabou aceitando os protestos da promotoria e interrompeu as perguntas. Quando Belle estava se levantando do banco das testemunhas, Worden perguntou: “Quando sua filha, Jennie Olson, retornará, Sra. Gunness?”. Belle não respondeu nenhuma das perguntas, e o juiz reprendeu o advogado. No fim das contas, Ray Lamphere foi considerado culpado e condenado a pagar uma multa de cinco dólares mais despesas, que foi paga pelo seu empregador atual, um fazendeiro chamado John Wheatbrook.

A fazenda de Belle Gunness
Na manhã do dia 27 de abril, a professora de duas das filhas de Belle entraram chorando na sala de aula. Quando questionadas do que tinha acontecido, elas falaram que tinham levado uma surra da mãe naquela manhã: as duas estavam brincando e correndo perto do porão da casa. Quando Belle percebeu onde elas estavam, ela bateu nas duas e disse para que elas não irem até lá.
Mais tarde naquele dia, Belle foi até a cidade conversar com seu advogado, Melvin E. Leliter. Ela disse que ainda tinha medo de Ray Lamphere, e que ele estava ameaçando botar fogo em sua casa. O advogado até sugeriu que ela atirasse nele com uma de suas armas, mas Belle recusou, e disse que gostaria de fazer seu testamento. Ela deixaria tudo para os três filhos (Myrtle, Lucy e Phillip), mas em caso de morte de todos, tudo iria para o lar infantil norueguês de Chicago. No mesmo dia, Belle foi até um armazém e comprou doces, mantimentos e dois galões de querosene.
Naquela noite, a família jantou, jogou diversos jogos na sala, e foram dormir. O faz-tudo Maxson foi se deitar por volta das 20h30. Posteriormente, ele disse que lembrava de ver a Sra. Gunness sentada no chão com seus filhos. Quando Maxson acordou no outro dia, percebeu que seu quarto estava cheio de fumaça. Ao abrir a janela, percebeu que a casa estava em chamas. O empregado saiu correndo, bateu na porta que separava a o quarto dele do restante da casa e gritou que havia fogo, mas a fumaça era tanta que ele mal conseguia respirar.
Quando ele conseguiu sair, viu que alguns vizinhos já estavam do lado de fora tentando ajudar de alguma forma. Eles pegaram uma escada e tentaram alcançar as janelas dos quartos, mas, para a surpresa deles, as camas estavam vazias e não havia ninguém lá. Maxson correu até a cidade para chamar as autoridades, mas quando voltou, a casa já tinha quase toda desabado. Depois que o fogo foi controlado, vários homens, entre vizinhos e autoridades, pegaram pás e começaram a cavar nos escombros, na tentativa de encontrar algum sinal de Belle Gunness e de seus filhos. Mas depois de escavar por horas, eles chegaram no porão e ainda não tinham encontrado os corpos, e começaram a desconfiar que algo mais sinistro tinha acontecido.
Por volta das 15h45, um dos homens estava escavando os destroços do canto sudeste quando sua pá bateu em algo macio. Ele chamou o xerife, que junto com os outros homens começaram a desenterrar os corpos de Belle e de seus três filhos. Um jornalista noticiou o incêndio e escreveu que “A mãe evidentemente havia feito um esforço para escapar de casa com os filhos agarrados a ela”. Depois de recuperarem os corpos, as autoridades notaram que faltava algo importante: o crânio do corpo de Belle não estava nos escombros.

Ruínas da casa de Belle Gunness
Obviamente, Ray Lamphere foi considerado suspeito de ter colocado fogo na casa, e no dia seguinte ele foi levado para a delegacia. Ao ser interrogado, ele disse que viu fumaça saindo das janelas da casa enquanto ia de casa para o trabalho, mas achou que “não era da sua conta”. Posteriormente, foi descoberto que ele não tinha visto o incêndio, pois tinha passado a noite com uma mulher afro-americana. Mas porque ele mentiria, mesmo tendo um álibi? O começo do século XX foi marcado pela segregação racial nos Estados Unidos, e a situação em Indiana não era nada amigável, tanto que a Ku Klux Klan teria ali a sua maior célula, com 250.000 membros - um quarto da população masculina branca do estado. Ray mentiu para não assumir que estava com uma mulher negra.
Mesmo com o álibi confirmado, a mídia ainda estava apontando para Ray como o culpado. Ele foi preso e aguardaria julgamento. Para piorar, sem a cabeça de Belle, falavam que Ray não apenas tinha colocado fogo na casa, mas provavelmente decapitado a ex-patroa antes. - Enquanto isso, Asle Helgelien, depois de saber do incêndio, entrou em contato com o chefe da polícia de La Porte para ter notícias do irmão, Andrew. O chefe da policia confirmou que um homem com as características de Andrew foi visto na cidade. Quando Asle viu as movimentações bancárias do irmão, enviou uma foto dele para o Banco de La Porte, e o funcionário confirmou que ele esteve por lá. No dia seguinte, Asle Helgelien estava a caminho de La Porte. Mas onde estava Andrew?

Vista da fazenda de Belle Gunness
Asle Helgelien chegou na cidade na tarde de 3 de maio, e ficou hospedado em um hotel até o dia seguinte, quando foi ao escritório do xerife falar sobre o irmão. Asle e o xerife Al Smutzer foram até a fazenda Gunness, onde apenas dois homens ainda estavam empenhados em cavar os escombros: o empregado Joe Maxson, e um vizinho chamado Daniel Hutson. Asle se juntou a eles para continuar cavando, mas eles não encontraram nada.
No outro dia, Asle perguntou para Maxson se ele sabia de algum buraco ou cava usados para colocar lixo, e o funcionário lembrou que ajudou a Sra. Gunness a carregar um carrinho de mão com diversas coisas velhas para um buraco feito na parte externa do chiqueiro dos porcos. Os três foram até lá e começaram a cavar, e conforme eles iam cavando, um cheiro horrível começou a aparecer. Conforme eles foram cavando, encontraram um saco de tecido, e dentro dele havia um corpo.
Quando eles terminaram de desenterrar o corpo, o xerife Smutzer apareceu junto com o legista Charles S. Mack, e puderam noticiar que o corpo desenterrado estava esquartejado. O legista deduziu que a vítima tinha lutado por sua vida, e que levou golpes de um objeto cortante, golpes tão profundos que chegaram até os ossos. Asle reconheceu pelo formato do rosto e por algumas roupas enterradas que aquele era Andrew Helgelien.

Buraco onde estava Andrew Helgelien
Joe Maxson disse que tinha outros buracos na fazenda que também foram usados para colocar lixo, e o medo de todos se concretizou: logo eles encontraram uma ossada de uma adolescente. Ela tinham uma característica marcante: uma trança de longos cabelos loiros parcialmente preservados. A partir dessa evidência, testemunhas identificaram ela como Jennie Olson, a filha adotiva de Belle, que supostamente deveria estar estudando na Califórnia.
Com a continuação das escavações, eles foram desenterrando um corpo atrás do outro. A maioria dos restos encontrados não pôde ser identificada, nem ao menos o número exato de corpos, já que, naquela época, não existia um método de recuperação cuidadoso, mas acredita-se que sejam pelo menos 12 vítimas. No dia 19 de maio de 1908, restos mortais de sete vítimas desconhecidas foram enterrados em dois caixões em sepulturas não identificadas no Cemitério de Pine Lake. Já Andrew Helgelien e Jennie Olson foram enterrados no Cemitério Patton, perto de Peter Gunness.

Túmulo de Andrew Helgelien
Do dia para a noite, Belle Gunness passou de uma fazendeira viúva para uma assassina cruel: ela conhecia homens, roubava seu dinheiro e depois matava e esquartejava. E não foram só com desconhecidos, mas também com seus maridos e com seus próprios filhos, tudo em nome do dinheiro. Também foi nessa época que surgiu uma teoria: aquele corpo encontrado no incêndio não era de Belle Gunness. Ela havia plantado o corpo ali para pensarem que ela tinha morrido junto com seus filhos. Alguns vizinhos e amigos pessoais de Belle olharam os restos mortais e disseram que ele era muito pequeno para ser dela.
Os médicos mediram os restos mortais e, levando em conta a falta do pescoço e da cabeça, afirmaram que o cadáver era de uma mulher que media 1,70m de altura e não pesava 70kg, diferente de Belle, que tinha mais de 1,75m e pesava entre 80 e 90 quilos. Além disso, um patologista em Chicago relatou que os órgãos continham doses letais de estricnina. No mesmo dia que as vítimas foram enterradas, foi encontrada uma ponte dentária com dois caninos, dentes de porcelana e coroa de ouro. O dentista de Gunness foi chamado para fazer uma identificação e disse que aquele era um trabalho dele feito para ela. Por causa disso, ficou concluído que, mesmo com aquelas aparentes diferenças, o corpo era de Belle Gunness. Ela foi enterrada ao lado de seu primeiro marido em Forest Park, Illinois.
Nas décadas seguintes, Belle teria sido avistada aos arredores de várias cidades, como Chicago, São Francisco, Nova York e Los Angeles. Em 1931, houve um relato de que ela estaria vivendo no Mississippi, sendo dona de diversas propriedades. No mesmo ano, uma mulher chamada Esther Carlson foi presa em Los Angeles por envenenar um homem August Lindstrom por dinheiro. Duas pessoas que conheceram Belle afirmaram que Esther e ela eram a mesma pessoa, mas a identificação nunca foi provada.

Esther Carlson: seria ela Belle Gunness
Em 5 de novembro de 2007, o corpo foi exumado para a realização de um teste de DNA, comparando com uma descendente da irmã de Belle. Foi montada uma equipe de antropólogos forenses e estudantes de pós-graduação da Universidade de Indianápolis para realizar o exame. Infelizmente, o resultado foi inconclusivo.
Até hoje, Belle Gunness é considerada uma das maiores assassinas em série da história dos Estados Unidos: o número total de vítimas pode ter chegado a 40. Ela ficou conhecida pelos apelidos de Lady Barba Azul, Açougueira de Homens e por “Hell's Belle”, que é um trocadilho com o nome Belle e a palavra inferno.

Exposição de Belle Gunnes no La Porte County Historical Society
• FONTES: Lady Killers Profile: Belle Gunness, Murderpedia.
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