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#9 - As Mortes de Burari | CRIMES REAIS

Foto do escritor: Rodolfo BrennerRodolfo Brenner

A descoberta dos corpos de 11 membros da mesma família abala a Índia: a policia fala em suicídio, porém muita gente especulou que eles foram assassinados. O caso foi exposto na minissérie da Netflix “O Mistério das Mortes de Burari”, da diretora Leena Yadav.


Essa é a versão escrita do episódio #9 - As Mortes de Burari:


AVISO: a série trata de temas sensíveis como luto e suicídio, então fica um aviso de gatilho.



Para entendermos esse crime, precisamos contar a história da família Chundawat: Bhopal Singh e Narayan Devi se casaram e tiveram 3 filhos. Eles viviam em uma zona rural na cidade de Tohana, até se mudarem para Deli no comecinho dos anos 90 com o filho mais novo, Lalit. Com o passar do tempo, a família foi aumentando: Lalit se casou com Teena, e juntos tiveram um filho, Shivam; a filha mais velha de Bhopal e Narayan, Pratibha, recém viúva, foi morar com os pais junto com a filha Priyanka; outro filho do casal, Bhavnesh, também foi morar com eles junto com a esposa Savita, e juntos eles tiveram 3 filhos, Maneka, Neetu e Dhruv.

A família tinha um armazém no andar de baixo do sobrado onde moravam, que ficava no bairro de Burari. Eles conseguiam manter uma boa renda, além do dinheiro dos membros que trabalhavam fora. A família também era muito querida pelos vizinhos: Os homens da família costumavam ir às celebrações religiosas toda a semana; Narayan Devi, Savita e Tina eram donas de casa capazes, gostavam muito de cozinhar e eram muito atenciosas com todos. Os netos eram descritos como muito inteligentes, principalmente Neetu, que na época estava fazendo mestrado em Comércio na Lovely Professional University.

Em 2006, tudo mudou depois que Bhopal faleceu. A morte mexeu bastante com toda a família, porém foi Lalit que mais sentiu: ele, que já era reservado, se tornou mais introvertido ainda.


A família Chundawat


O armazém da família costumava abrir bem cedo, porém na manhã do dia 1º de julho de 2018, um vizinho chamado Gurucharan Singh notou que eles ainda não tinham aberto e resolveu bater na porta. Ao perceber que estava aberta, ele entrou no local e subiu as escadas, quando se deparou com uma cena terrível. - Havia 10 corpos enforcados, pendurados em uma grade de metal que ficava no teto: Bhavnesh (50); seu irmão, Lalit (45); suas esposas, Savita (48) e Tina (42), respectivamente; os netos Neetu (25), Maneka (23), Dhruv (15) e Shivam (15); Pratibha (48) e sua filha Priyanka (33). Eles estavam em uma formação circular, com as mãos amarradas, vendas nos olhos e boca amordaçada. Narayan Devi (77), a matriarca, estava morta no chão da sala.

O vizinho que encontrou os corpos ficou totalmente apavorado com o que viu, saiu correndo da casa e começou a avisar os vizinhos que a família tinha sido assassinada. Por volta das 7h20, Rajeev Tomar, um policial de ronda de Burari, chegou à casa depois de uma chamada de PCR (Sala de Controle da Polícia). Ele entrou e viu os corpos, e imediatamente chamou seus superiores: “Em minha carreira de 17 anos até agora, nunca vi uma cena de crime como está e espero nunca ver novamente”.

A notícia das mortes se espalhou muito rápido: em questão de minutos uma multidão começou a se juntar na porta da casa da família, incluindo vizinhos, repórteres, curiosos e outros familiares que queriam saber o que tinha acontecido. Antes do meio-dia o caso já estava sendo conhecido nacionalmente, e até o ministro-chefe do estado de Deli foi até o local ficar a par da situação. No meio da confusão, alguém conseguiu passar a barreira policial, entrar na casa e filmar os corpos. O vídeo começou a se espalhar nos grupos de WhatsApp, que é tão popular na Índia quanto no Brasil, e chegou a ser exibido em jornais sensacionalistas.


Os corpos estavam enforcados em lenços amarrados em uma grade de metal que ficava no telhado


A primeira hipótese foi a de que a família foi assassinada, porém câmeras de segurança de casas vizinhas não mostravam ninguém estranho entrando ou saindo da casa, apenas os membros da família. Por volta das 22h, a filmagem mostrou Savita e a filha Neetu, trazendo cinco banquinhos, e mais tarde, Dhruv e Shivam são vistos entrando na casa com vários cabos. Os dois itens foram usados no enforcamento.

Nesse ponto, a teoria dos assassinatos estava praticamente descartada: apesar de estarem amarrados e vendados, não havia sinal de luta ou roubo. Além disso, eles estimaram que seria necessário de 2 ou 3 pessoas para cada membro da família ser colocado nessa situação sem interferência dos outros, mas não foi encontrado nenhuma digital, pegada ou cabelo que não pertencesse a família.


Câmeras de segurança mostrando Savita e Neetu trazendo cinco banquinhos: itens foram usados para o enforcamento


A disposição dos corpos em formato circular, os olhos vendados, a boca amordaçada e uma pira ritualística que ainda estava quente começaram a dar um ar ritualístico para as mortes. O número 11 começou a circundar em volta do caso: a polícia encontrou 11 diários que relatava os últimos 11 anos de vida da família; no total 11 pessoas morrem; havia 11 hastes de metal em uma porta recém-instalada; e em uma parede sem janelas da casa, 11 canos davam para o lado de fora, canos que não tinham nenhuma ligação com hidráulica ou fiação. 7 desses tubos eram estreitos e curvados para baixo, enquanto os outros 4 eram largos e retos, e coincidentemente, entre os mortos estavam 7 mulheres e 4 homens.

Com essas informações, a mídia começou a divulgar que a família tinha sido morta em um ritual macabro. O sensacionalismo em cima do caso foi tanto que as autoridades começaram a ser muito pressionadas para resolver o caso de uma vez. E eles não estavam longe disso, porque foram nos diários que eles encontraram as respostas que precisavam.


Os 11 canos misteriosos que encontrados do lado de fora da casa


Os diários eram escritos por Lalit, o filho mais novo do casal e considerado o chefe da família. Todos os vizinhos e amigos disseram que era ele quem controlava a família e decidia o que eles faziam ou não. Esse papel aparentemente apareceu depois da morte de Bhopal.

Lalit tinha um histórico de traumas: quando era jovem sofreu um acidente de bicicleta que causou um ferimento grave em sua cabeça; ele ficou preso em um depósito em chamas durante um atentado e também teve que lidar com a morte do pai. Profissionais da área da saúde mental entenderam que Lalit passou a sofrer de transtorno de estresse pós-traumático desencadeado por esses eventos, e um dos sintomas que corroboram com essa afirmação é que Lalit ficou meses completamente mudo depois que Bhopal morreu.

Com o passar do tempo, ele começou a dizer para os familiares que estava recebendo visitas do seu pai em seu sonho, que lhe passava orações e conselhos, e que teria sido responsável por trazer sua voz de volta. Em 2007 ele afirmava que estava possuído pelo espírito do pai, que estaria tentando falar com a família sobre um investimento que eles deveriam fazer. E deu certo: eles cresceram financeiramente depois dos conselhos de Lalit, que conquistou a confiança de todos na casa. Por 11 anos, todos seguiam os conselhos de Lalit, com tudo sendo anotado nos diários.


Uma das entradas do diário de Lalit


No fatídico dia, Lalit convenceu a família a realizar um ritual que consistiria em se enforcar de uma forma que eles ficassem pendurados como falhos de uma figueira-de-bengala. Eles deveriam permanecer assim até que a água de uma panela ficasse vermelha, o que levaria de 10 a 15 minutos. Caso fosse tudo feito de forma correta, eles sobreviveriam.

Não se sabe exatamente para que esse ritual serviria, mas uma teoria interessante foi apresentada: Priyanka, a sobrinha de Lalit, estava noiva. Ele pode ter tido medo de que, uma vez que ela fosse para uma família diferente, o segredo da família pudesse ser revelado, ou que com ela fora de casa a benção do espírito de seu pai não caísse mais sobre eles.

Quanto ao número 11, provavelmente tudo não passou de uma coincidência: o empreiteiro e o soldador que instalaram as hastes e os canos disseram que, embora tenha sido ideia de Lalit colocar canos para melhorar a ventilação e a iluminação, em nenhum momento ele deu instruções sobre o número de canos que deviam ser colocados. Sobre os canos retos ou não, eles garantem que também foi aleatório, pois foram usados pedaços de cano que estavam sobrando.

No fim, as investigações concluíram que as mortes de Burari não foram diretamente um suicídio, mas sim um acidente trágico. Tanto Lalit quanto seus familiares estavam sofrendo de psicose compartilhada, e por isso seguiam as ordens dele sem oposição.


Lalit Chundawat


• FONTES: Hindustan Times, DNA India, MensXP, Aventuras na História, The Indian Express, The Hindu, Digital Mafia Talkies.

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