#102 - Soumya e Reema Sahu: Bomba de Presente | CRIMES REAIS
- Rodolfo Brenner
- há 23 horas
- 6 min de leitura
Imagine o cenário: você acaba de se casar e está com a sua família abrindo seus presentes de casamento, quando um deles explode. Foi isso que aconteceu com o casal Soumya e Rema em 2018, em um caso que chocou a Índia, com direito a reviravoltas, vingança e muita exposição midiática.
Essa é a versão escrita do episódio #102 - Soumya e Reema Sahu: Bomba de Presente.

O caso aconteceu em Patnagarh, uma cidade de 25 mil habitantes que fica no estado de Odisha, à 1255 km da capital Nova Déli. Soumya Sekhar Sahu tinha 26 anos, era filho do casal Rabindra e da Sanjukta, e tinha uma irmã chamada Abantika. Eles cresceram em um lar repleto de conhecimento, pois ambos os pais eram professores universitários. Soumya se formou em engenharia da computação e tinha começado em um novo emprego a pouco tempo.
Reemarani, cujo apelido era Reema, era a filha adotiva de um casal de comerciantes. Esse casal já tinha dois filhos homens, mas decidiu adotar a Reema porque era o sonho deles serem pais de uma menina. Ela era uma jovem muito alegre, educada e simpática. Ela também se formou na mesma universidade que o Soumya, mas o casamento deles foi arranjado, algo que é comum na Índia.

Soumya e Reema Sahu
No dia 23/02/2018, Soumya e Reema estavam na cozinha conversando e preparando uma sopa de lentilhas quando um entregador bateu à sua porta com um pacote. Como eles tinham casado a apenas 5 dias, o casal acreditou que poderia ser um presente que alguém mandou pelo correio. Ele a levou para cozinha e mostrou para a Reema e também para a sua tia-avó de 85 anos, Jemamani, que estava na casa.
Havia uma etiqueta dizendo que o remetente se chamava S.K. Sharma e tinha enviado o pacote de Raipur, que ficava a 230 km de Patnagarh. Dentro desse pacote havia uma caixa embrulhada com papel verde e uma linha branca que fechava o embrulho. Quando ele puxou a linha, o pacote explodiu. A explosão foi tão forte que as paredes da cozinha racharam, o reboco do teto foi arrancado e a janela da cozinha foi parar no jardim de um vizinho.
Vizinhos que escutaram o barulho da explosão correram para ajudar e encontraram os 3 caídos do chão. Ao socorrerem o Soumya, ele disse “me salve, acho que estou morrendo”. Todas as vítimas foram enviadas para hospitais da região. A primeira a falecer foi a tia-avó, seguida pelo próprio Soumya, que foi declarado morto assim que chegou ao hospital. Por muita sorte, Reema sobreviveu e foi encaminhada para a UTI do SCB Medical College and Hospital. Ela teve 40% do corpo queimado, mas nenhum órgão vital foi atingido.

A cozinha do recém casal após a explosão
As investigações começaram pouco tempo depois do ataque. Ao entrevistarem os pais da Reema, eles disseram que não sabiam de nenhuma desavença do casal, uma vez que eles tinham acabado de casar, eram pessoas simples e queridas por todos. Entre amigos, familiares e colegas de trabalho, a polícia interrogou mais de 100 pessoas, e descobriu a primeira pista: a irmã do Soumya contou que, pouco depois do noivado, ele tinha recebido uma ligação misteriosa: era a voz de um homem que tinha dito para ele não se casar. A polícia conseguiu rastrear essa ligação até um amigo da Reema, que foi chamado para ser interrogado. Ele relatou que tinha sido apenas uma brincadeira e que nunca faria mal ao casal. Esse homem se voluntariou para um teste do polígrafo e passou, e por isso ele foi liberado.
A próxima pista veio do rastreio da encomenda: eles falaram com o entregador responsável pela entrega do pacote e descobriram de qual agência dos correios a bomba tinha vindo. Só que infelizmente essa agência não tinha câmeras de segurança. Ao olharem o caminho que o pacote fez dentro dos correios, os investigadores descobriram que ele tinha viajado por 650 km até ser entregue. Além disso, o entregador contou que ele já tinha tentado entregar o pacote no dia da recepção do casamento, que estava acontecendo na casa do Soumya e da Reema, mas que ele decidiu não entregar justamente para não atrapalhar a festa, ou seja, o estrago poderia ter sido muito maior.
Se você acha que a mídia brasileira é sensacionalista, é porque você ainda não viu a indiana: o caso tomou todos os noticiários do país, que exploravam ao máximo a dor e sofrimento da família das vítimas. Vídeos do momento depois da explosão foram parar o WhatsApp – que é tão usado na Índia quanto no Brasil – inclusive um vídeo de péssimo gosto da Reema chorando quando descobriu que o Soumya tinha falecido. Como a mídia não deixava a população esquecer o caso, a polícia do estado de Odisha decidiu entregar o caso para um grupo tático de Nova Déli que era especialista em explosivos.
Em abril de 2018, dois meses depois da explosão, esse grupo recebeu uma carta anônima, impressa, escrita em inglês e com vários erros de ortografia, que dizia ser sobre o caso da explosão em Patnagarh. A pessoa que escreveu a carta disse que os responsáveis eram três pessoas motivadas por uma traição de Soumya, e que a informação sobre a etiqueta estava errada.
Vocês lembram que na etiqueta estava escrito que o presente tinha sido enviado por S.K. Sharma? Na carta, estava escrito que o nome correto era S.K. Sinha. Essa informação realmente estava correta, os jornais tinham divulgado errado na época, porém, isso era algo que só a polícia sabia, ou seja, a pessoa que enviou a carta provavelmente era sim a responsável pela bomba. Peritos técnicos procuram digitais e DNA na carta, mas não encontraram nada. Por conta disso, eles mostraram o conteúdo da carta para amigos e familiares do casal, e, para a surpresa de todos, a mãe do Soumya, Sanjukta, disse que poderia ter uma pista de quem tinha escrito a carta.

Carta enviada para a polícia
A mãe do Soumya disse que o jeito que a carta estava escrita lembrava muito a de um professor que trabalhava no mesmo Jr. College que ela lecionava. Jr. College é um tipo de instituição que oferece treinamento acadêmico e de habilidades a nível técnico. O colega em questão era Punjilal Meher, um homem na casa dos 40 anos e com um passado um tanto problemático: seu pai havia abandonado a família por uma nova esposa, e ele acreditava que a culpa disso era dele.
Isso aparentemente criou um trauma que o fez se tornar uma pessoa raivosa, que batia de frente com todo mundo, principalmente os que discordavam dele.- Ele cresceu, se casou, teve filhos e um bom emprego, mas esse sentimento de culpa sempre o perseguiu. Ao mesmo tempo, quem conhecia ele dizia que ele tinha uma mania de grandeza, fazendo de tudo para ser reconhecido pelas pessoas ao seu redor. O ego dele aumentou ainda mais quando ele foi convidado a ser diretor do setor em que ele trabalhava.
Algum tempo depois, a mãe do Soumya começou a dar aula nesse mesmo Jr. College, e ela foi crescendo rapidamente e sendo reconhecida como uma ótima profissional. Não demorou muito para o Punjila a visse como uma rival, e isso piorou quando ela foi escolhida como substituta dele no cargo de direção. Punjila achou que muitas pessoas ficariam ao seu lado quando ele voltou ao cargo de professor, mas foi só nesse momento que ele percebeu que ninguém naquele Jr. College gostava dele ou do trabalho que ele fazia. Por causa disso, ele passou a assediar a mãe do Soumya verbalmente, chegando a inventar falsas acusações para que ela fosse mandada embora. Essa situação só parou em 2017, quando o Punjila foi convidado a se retirar do Jr. College por conta do seu comportamento.

Punjilal Meher
A polícia descobriu que, ao ficar sabendo do casamento do filho da mulher que “roubou seu posto de diretor”, o Punjilal começou a procurar em vários sites como fazer uma bomba caseira. Como ele não podia simplesmente comprar os materiais explosivos sem uma credencial adequada, ele passou a coletar pólvora de fogos de artifício. Poucos dias antes do casamento e com o pacote em mãos, Punjilal pegou um trem e foi atrás de uma agência do correio sem câmeras de segurança. Ele até encontrou uma, mas se recusou a entregar o pacote quando o funcionário perguntou o que tinha dentro. Ele rodou por vários km até encontrar uma agência sem câmeras e que não perguntasse sobre o conteúdo da encomenda. Ele inclusive tinha deixado seu celular em casa para servir como álibi e chegou a ir até mesmo no funeral do Soumya.
Com tantas evidências, o Punjila acabou confessando o crime. O julgamento dele só aconteceu agora em 2025, e ele, com 56 anos, foi condenado à prisão perpétua sem possibilidade de condicional. Quando a Reema, o jornal The Times of India procurou por ela após o julgamento, mas ela se recusou a dar entrevistas. Aparentemente ela e casou novamente e está morando fora da Índia.
• FONTES: BBC, Crimes from the East, Kanak News, Cafezinho Investigativo, News Trend, The Indian Express.





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