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  • Foto do escritorRodolfo Brenner

#59 - Ed Gein, o Açougueiro de Plainfield | SERIAL KILLER

Ed Gein era visto pelos moradores da sua cidade como um homem gentil, prestativo e um pouco esquisito, mas nada fora do normal. O que ninguém sabia é que, na sua fazenda, estava acontecendo alguns dos atos mais perturbadores da História.


Essa é a versão escrita do episódio #59 - Ed Gein, o Açougueiro de Plainfield:



Edward Theodore Gein nasceu no dia 27 de agosto de 1906 em Plainfield, Wisconsin, uma cidade muito pequena localizada no condado de La Crosse. Ele era filho do fazendeiro George e da comerciante Augusta Gein. Ele também tinha um irmão, Henry. Augusta era dona de uma mercearia e era ela a principal provedora da casa. Ela juntou dinheiro suficiente para comprar uma fazenda nos arredores da cidade e se mudou para lá com a família. Os filhos eram proibidos de deixar o local e só podiam sair para ir para a escola. Além disso, ela pregava constantemente sobre os males do mundo, da bebida e das mulheres. Para ela, todas as mulheres, com exceção dela, eram prostitutas e instrumentos do diabo. Ela também fazia Ed e Henry passarem horas lendo o Antigo Testamento.

A falta de convívio social acompanhada de uma mãe fanática religiosa transformou a fazenda em um mundo próprio com regras próprias. George tinha sérios problemas com a bebida e para trabalhar, entretanto, por conta da religião, Augusta era contra o divórcio e viveu a vida toda brigando com o marido, o que afetou ainda mais os filhos.

Segundo os historiadores, Ed era uma criança franzina, tímida e com um comportamento afeminado, o que fazia dele o alvo constante de bullying na escola. Além disso, colegas e professores disseram que ele tinha comportamentos esquisitos, como dar risadas altas sem motivo. Ed era muito próximo da mãe e tentava fazer de tudo para agrada-la, mesmo que ela sempre criticasse o que ele fazia. Ela era bastante abusiva com os filhos, proibia eles de terem amigos e dizia que eles estavam destinados a serem fracassados ​​como seu pai.


A fazenda da família Gein em Plainfield, Wisconsin


Em 1940, George Gein acabou morrendo de um ataque cardíaco e os irmãos precisaram começar a trabalhar para ajudar nas despesas. Apesar de quase não saírem da fazenda, a comunidade de Plainfield considerava os Gein como uma família confiável e honesta. Além de trabalharem como faz-tudo nas fazendas da região, Ed também era babá das crianças da cidade. Ele costumava contar histórias de terror e distribuir doces para as crianças, que consideravam ele como um irmão mais velho.

Com o passar dos anos, Henry, o irmão de Ed, começou a rejeitar a visão religiosa da mãe e a mostrar preocupação da relação entre os dois. Ele começou a falar mal da Augusta para Ed, que não ficou nada feliz com isso. Em 16 de maio de 1944, Ed e Henry decidiram colocar fogo em uma área da propriedade para limpar o local, mas o fogo ficou fora de controle. Cada um correu em uma direção na tentativa de apagar o incêndio, e depois de controlado, somente Ed voltou para casa. Quando percebeu a ausência do irmão, ele chamou algumas pessoas para iniciar uma busca, mas sem sucesso.

Mais tarde, um segundo grupo de busca, dessa vez liderado pelo xerife da cidade, foi até a fazenda. Estranhamente, Ed levou o grupo diretamente até o corpo. Ao encontrar o irmão falecido, Ed teria dito “engraçado como isso funciona”. Segundo o relatório da época, havia algo estranho: Henry estava com hematomas envolta da cabeça, o corpo estava apenas com fuligem e não queimado, e o chão ao redor dele estava intacto. O legista, entretanto, listou a causa da morte como asfixia.

Ed passou a morar sozinho com a mãe até ela falecer devido a complicações de um derrame em dezembro de 1945. Como Ed era muito ligado a ela, a morte foi um choque para sua realidade: segundo ele, naquele momento ele “perdeu seu único amigo e um amor verdadeiro, estando absolutamente sozinho no mundo”. Ele permaneceu morando na fazenda e ganhando dinheiro com os trabalhos que fazia, entretanto, ele trancou os cômodos que sua mãe usava, e isso incluiu o quarto dela, a sala de estar e todo o primeiro andar. Posteriormente esses locais foram abertos e estavam intocáveis, como um cômodo parado no tempo.


Augusta Gein


No final de 1954, Plainfield foi abalada com o desaparecimento de Mary Hogan, uma mulher de 54 anos que administrava uma taverna na cidade (uma taverna é um local que vende bebidas, como um bar, mas que normalmente abre durante o dia). A policia investigou, mas não encontrou pistas do que teria acontecido com ela.

Em 16 de novembro de 1957 houve outro desaparecimento: Bernice Worden, dona de uma loja de ferragens. A polícia queria descobrir quem tinha sido o último cliente a estar no local, pois a caixa registradora estava faltando e havia uma trilha de sangue que ia da loja até a rua. Com a ajuda do filho da Bernice, eles descobriram que Ed Gein havia passado na loja na noite anterior ao desaparecimento, dizendo que voltaria no dia seguinte para comprar um galão de anticongelante. A comprovação de que Ed esteve na loja era um recibo preenchido por Bernice na manhã em que ela desapareceu.

O responsável pela investigação foi o xerife Art Schley: ele foi até a fazenda com um mandado de busca, mas Ed não estava naquele momento e o xerife decidiu entrar na residência mesmo assim. Ele quase não conseguia andar porque a casa estava cheia de lixo e o cheiro era insuportável.Enquanto caminhava pela escuridão, ele acabou esbarrando em algo que estava pendurado no teto, e ao apontar a sua lanterna para aquilo, ele viu possivelmente uma das cenas mais macabras da história dos crimes: era uma mulher, nua, pendurada de cabeça para baixo, decapitada e recém eviscerada. Posteriormente essa mulher foi reconhecida como Bernice Worden.

A polícia foi chamada e encontrou um verdadeiro cenário de filme de horror: diversas partes de corpos sendo usadas como decorações e vestimentas. Dentre as descobertas estavam: nove máscaras feitas de pele humana; tigelas feitas com crânios; dez cabeças femininas com os topos serrados, além das cabeças de Bernice Worden e de Mary Hogan; cadeiras cobertas com pele humana, nove vulvas secas e um abajur feito com rostos.


Mary Hogan e Bernice Worden


De início, Ed negou qualquer envolvimento com o que foi descoberto em sua casa, mas as provas eram tão contundentes que não tinha como negar. Ele admitiu ter matado a Bernice, baleada na cabeça com um rifle calibre 22 e depois levada para a casa da fazenda. Mais tarde, ele confessou o assassinato da Mary Hogan.

Os investigadores pensaram que toda aquela quantidade de material humano tinha vindo de pessoas que Ed tinha matado, mas a realidade era outra: entre 1947 e 1952, ele via os obituários do jornal e procurava por mulheres parecidas com a sua mãe. Depois, ele ia até o cemitério e levava os corpos para casa. Segundo ele, quando ele estava no cemitério era como se ele ficasse em um estado de transe e não podia controlar o que estava fazendo. Na maioria das vezes ele despertou desse transe e foi embora sem levar nada, mas em outras esse transe era tão forte que ele procurou essas mulheres vivas, que foi o caso da Mary e da Bernice. No início os investigadores duvidaram dessa versão e decidiram exumar alguns corpos, e eles realmente encontraram os caixões vazios.

Aqui entra uma parte importante quanto a sexualidade de Ed: segundo ele mesmo, após a morte da sua mãe, ele começou a sentir um desejo de “mudar de sexo”. Um dos objetos encontrados na sua casa foi um traje feito de pele, com seios e que cobria seus órgãos genitais. Essa suposta transexualidade é objeto de debates até os dias de hoje.

Durante as investigações, Ed negou as práticas de necrofilia e de canibalismo: segundo ele, ele não conseguia cometer nenhum ato porque “eles cheiravam muito mal”. Quando a história começou a ser divulgada, um jovem de 16 anos cujos pais eram amigos de Ed admitiu ter visto as cabeças que ele guardava, mas que Ed teria dito que elas eram “relíquias das Filipinas enviadas por um primo que serviu na Segunda Guerra Mundial”.

Segundo informações da época, o xerife Art Schley teria agredido Ed durante o interrogatório, o que tornou a confissão inicial dele inválida. Segundo pessoas próximos, o caso de Ed deixou o xerife tão traumatizado que ele morreu de um ataque cardíaco em dezembro de 1968, apenas um mês depois de testemunhar no julgamento.


Ed Gein foi preso em 1957


Em 21 de novembro de 1957, Ed Gein foi acusado de assassinato em primeiro grau no Tribunal do Condado de Waushara. Ele se declarou inocente por motivo de insanidade, o que foi aceito pelo juiz. Sua pena seria a de passar o resto da vida em um hospital psiquiátrico.

Nessa época Plainfield ficou um caos: a fazenda passou a ser visitada dia e noite por repórteres de todo o país, os pais diziam para os filhos que Ed iria pega-los se eles desobedecessem e começaram a sair notícias que aumentavam muito os crimes de Ed, causando ainda mais pânico. Os moradores da cidade, que não estavam acostumados com a atenção e o assédio da imprensa, não sabiam o que responder quando eram perguntadas sobre Ed, isso porque eles só conheciam a faceta trabalhadora e gentil dele e nunca imaginaram que aquele homem magro e tímido seria capaz de tudo o que foi acusado.

Logo depois que Ed foi para a instituição mental, sua fazenda foi a leilão junto com alguns de seus outros pertences. O lugar passou a virar um museu a céu aberto, atraindo centenas de pessoas. Algum tempo depois, a casa foi destruída em um incêndio, que possivelmente foi colocado por algum morador da cidade. Quando soube que sua casa não existia mais, Ed limitou-se a dizer “tudo bem”. O carro de Ed Gein foi leiloado e vendido para Bunny Gibbons, dono de um circo itinerante que passou a cobrar 25 centavos para quem quisesse ver o carro do “Açougueiro de Plainfield”.


Jornal da época com uma reportagem sobre os crimes de Ed Gein


Depois de 10 anos de institucionalização, Ed passou por um novo julgamento em 1968, isso porque os médicos do hospital determinaram que ele estava são o suficiente para ser julgado. O julgamento durou uma semana e ele foi considerado culpado por assassinato em primeiro grau, porém, ainda era legalmente insano, e apenas voltou para o hospital psiquiátrico. As famílias da Bernice, da Mary e das outras pessoas cujos túmulos foram roubados ficaram indignadas com o resultado, mas infelizmente não puderam fazer nada.

Quem conviveu com ele dentro dos hospitais psiquiátricos disse que Ed era um homem feliz, gentil e que se dava muito bem com os outros pacientes, embora permanecesse a maior do tempo no seu quarto. Ele gostava bastante de ler, de conversar com a equipe e de fazer trabalhos artesanais. Segundo sua ficha, ele nunca teve uma crise ou precisou de tranquilizantes enquanto esteve lá.

No dia 26 de julho de 1984, Ed Gein morreu de insuficiência respiratória e cardíaca em decorrência de um câncer. Ele foi enterrado Cemitério de Plainfield, porém, seu túmulo foi constantemente vandalizado, e não era incomum que pessoas arrancassem pedaços da lápide para vender. Em 2000, a lápide foi roubada e só foi recuperada em junho de 2001, e atualmente está exposta no Museu do Condado de Waushara.


Lápide de Ed Gein


Existe um debate se Ed Gein pode ou não ser considerado um serial killer, isso porque, para muitos especialistas, um assassino só é considerado em série quando o número de vítimas é maior ou igual a 3, e oficialmente ele matou apenas duas (a Mary e a Bernice).

Além das duas vítimas oficiais, existem outras possíveis vítimas: além do irmão Henry, Ed é suspeito de estar envolvido no desaparecimento da adolescente Evelyn Hartley, que tinha 15 anos quando desapareceu na noite de 24 de outubro de 1953. Evelyn estava trabalhando como babá em uma casa no sul de La Crosse quando simplesmente sumiu. Segundo as poucas evidencias encontradas, é provável que a garota tenha sido levada contra sua vontade.

Após a sua prisão, a polícia descobriu que Ed estava visitando parentes em uma casa que ficava próxima a casa onde Evelyn estava trabalhando. Ele foi questionado sobre o caso, mas negou qualquer envolvimento. Segundo informações, ele passou por dois testes de poligrafo com perguntas sobre Evelyn e passou em ambos. Também não foi encontrado nenhum resto mortal dela na casa de Ed.


Evelyn Hartley


Ele também foi suspeito no desaparecimento da menina Georgia Weckler em 1947 e dos caçadores Ray Burgess e Victor Travis em 1950, todos em Plainfield, mas o perfil das vítimas e a falta de evidências não corroboraram para a ligação dos casos.

Existe uma lenda de que os artefatos encontrados na fazenda de Ed Gein estão em museus ou a venda na internet, mas a realidade é que eles foram fotografados e destruídos pela polícia. Mesmo as fotos que circulam por aí como sendo desses objetos não são verdadeiras.

O que não é boato é o impacto de Ed Gein na cultura popular: a figura do Açougueiro de Plainfield serviu de inspiração para vários personagens marcantes, entre eles estão Norman Bates (Psicose), Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica) e Buffalo Bill (O Silêncio dos Inocentes).


Ed Gein, Norman Bates, Leatherface e Buffalo Bill


• FONTES: Murderpedia, BBC, Crime Library, MND, New York Post, The Hanneman Archive, Jump Cut: a Review of Contemporary Media, Thunderwave, Superinteressante.

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