Ter um brinquedo é o sonho de toda criança, mas e quando ele vem acompanhado de histórias bizarras? Aproveitando que outubro, além de ser o mês de Halloween também é o mês das crianças, vamos falar sobre alguns brinquedos com histórias assustadoras, bizarras e até mortais.
Essa é a versão escrita do episódio #38 - Brinquedos Assombrados, Bizarros e Assustadores:

1. Annabelle:
Talvez o brinquedo assombrado mais famoso do mundo, a verdadeira Annabelle não é nada parecida com a do filme: ela é uma boneca Raggedy Ann, feita de pano, com cabelo ruivo e um nariz em forma de triângulo, e foi baseada em uma personagem de tirinhas criada pelo ilustrador Johnny Gruelle em 1915.
Em 1970, a mãe de uma estudante de enfermagem chamada Donna comprou uma dessas bonecas para ela de presente de aniversário. Nessa época ela morava em um apartamento com uma colega chamada Angie. Donna gostou bastante da boneca e deixava ela sentada em cima da cama dela como decoração. Alguns dias depois, as duas amigas começaram a perceber que alguma coisa errada estava acontecendo: primeiro a boneca parecia mudar de posição, depois ela era encontrada em outros cômodos, mesmo que as portas estivessem fechadas. Cerca de um mês depois, as duas encontraram mensagens escritas com uma letra infantil e manchas vermelhas na boneca. Foi depois dessa experiência que elas decidiram buscar ajuda.
Donna procurou um médium que realizou uma sessão na casa delas. Ele disse que ali morava o espírito de uma menina chamada Annabelle Higgins, que gostava da presença das jovens e queria ficar próxima a elas. O médium disse para Donna dar permissão para o espírito entrar na boneca, e foi isso que ela fez.

As versões de Annabelle: Real vs. Hollywood
Depois disso, a situação ficou ainda pior: um amigo das jovens chamado Lou disse para Donna se livrar da boneca, porque ele tinha tido um pesadelo horrível com ela. No dia seguinte ele estava no apartamento com a Angie quando ouviram os vidros da janela do quarto da Donna se quebrando. Lou foi até lá e encontrou a Annabelle jogada no chão, mas quando foi pega-la, sentiu que não estava sozinho no quarto. Nesse momento ele sentiu uma dor muito forte no peito e viu que sua camisa estava suja de sangue. Quando ele tirou a camisa viu que no seu peito tinha 7 marcas de garras, três na vertical e quatro na horizontal.
Depois disso, Donna percebeu que aquilo não parecia ser o espírito de uma menina e pediu ajuda: ela contatou o padre de uma igreja próxima, que passou o caso para um superior que entendia mais do assunto, o Padre Cooke. Esse padre por sua vez contatou um casal de conhecidos que investigavam casos sobrenaturais para ajudar: esse casal era Ed e Lorraine Warren, um casal famosíssimo no meio sobrenatural. Eles passaram a vida investigando casos de assombrações, alguns dos mais famosos como o da casa de Amytiville e o Poltergeist de Enfield, e seus casos deram origem a franquia Invocação do Mal.

Ed e Lorraine Warren
Os Warrens explicaram para eles que aquilo não era um espírito humano, mas sim algo demoníaco que estava usando a boneca para manipular e tentar possuir uma das jovens. O Padre Cooke benzeu o apartamento e os Warren decidiram levar a boneca com eles. No caminho para casa, Ed sentiu como se algo estivesse empurrando o carro para fora da pista a cada curva, e isso só parou quando ele jogou água benta e fez o sinal da cruz sobre a boneca.
Na casa dos Warren a boneca se manifestou várias vezes: em uma delas, um padre chamado Jason Bradford não acreditava que uma boneca podia fazer tudo aquilo e desdenhou dela. No caminho de volta para casa ele quase se envolveu em um acidente fatal. Posteriormente a boneca foi colocada em uma caixa de vidro e levada para o Museu do Oculto, que ficava no porão da casa dos Warren e estava repleto de objetos considerados assombrados ou amaldiçoados.

Ed e Lorraine Warren observam Annabelle "aprisionada" em uma caixa dentro do museu
Em uma entrevista para o Fantástico em 2013, Lorraine disse que Annabelle era, de longe, o objeto mais assombrado que tinha em seu museu. Mesmo depois de ter parado de se mexer, a boneca continuava causando acidentes: o caso mais famoso foi de um jovem e de sua namorada que foram visitar o museu. O jovem riu quando Ed contou a história de Annabelle e desafiou a boneca a fazer algo contra ele. Na volta pra casa, os dois sofreram um acidente de moto e ele morreu ao bater de frente com uma árvore.
Entrevista de Lorraine Warren para o Fantástico
2. Robert:
No início do século XX, em uma casa na Flórida, um garoto chamado Eugene Robert Otto ganhou de presente um boneco feito à mão. Ele rapidamente se apegou a ele e passou a chamar o boneco de Robert. Existem duas versões para a origem do boneco: a mais famosa diz que ele foi dado para Eugene por uma empregada da família. Essa mulher supostamente mexia com voodoo e teria amaldiçoado o boneco como forma de vingança pelo tratamento que seus patrões davam a ela. A outra versão diz que o boneco na verdade teria sido comprado pelo avô do Eugene em uma viagem para a Alemanha.
Não demorou muito para que as coisas ficassem estranhas: Robert apareceria em locais diferentes de onde tinha sido deixado e os pais de Eugene ouviam o garoto conversando com o boneco e uma voz diferente respondendo. Ele também era visto andando pela casa e sentado na frente de uma das janelas do quarto do Eugene, como se estivesse observando o movimento da rua. Certa noite, a mãe de Eugene acordou com ele gritando: quando ela chegou no quarto viu que os objetos estavam todos espalhados pelo local, e o garoto acusou Robert de ter feito aquilo.

Eugene Otto com sua irmã
Anos depois, quando já era adulto, Eugene decidiu voltar a morar naquela casa com a sua esposa. Assim que chegaram, a esposa ficou com medo de boneco e disse para ele tranca-lo no sótão. Depois disso os moradores e visitantes ouviam passos e risadas estranhas vindo de lá. As crianças do bairro contavam que viam Robert olhando para elas da janela do antigo quarto do Eugene. Ele disse que era impossível, porque o boneco estava trancado no sótão, mas mesmo assim decidiu checar. Pra sua surpresa, o boneco realmente estava no quarto, olhando pela janela.
Após a morte de Eugene em 1974, um casal se mudou para sua antiga casa junto com a sua filha, que tinha 10 anos. Entre os objetos deixados pelo proprietário no sótão estava o boneco Robert, que foi dado para a garotinha que agora vivia lá. Não demorou muito e a menina começou a dizer que o boneco estava vivo, se mexia durante a noite e queria machucá-la. Depois de um tempo os pais decidiram doar o boneco para o Museu Fort East Martello, onde está até hoje. Segundo os visitantes do museu, é preciso pedir permissão para fotografar Robert: caso isso seja desrespeitado, as câmeras não funcionam ou as imagens saem todas borradas.

Robert no Museu Fort East Martello
3. Boneco do Elmo:
Em 2005 a Fisher-Price lançou Elmo: Knows Your Name, um boneco do Elmo da Vila Sésamo personalizável que sabia mais de 15 mil nomes e podia falar 100 frases personalizadas, bastava conectar ele no PC e configurar.
A família Bowman, de Lithia, na Flórida, comprou o brinquedo para seu filho de 2 anos chamado James. O problema começou quando as pilhas dele foram trocadas: a partir daí, o boneco começou a repetir a frase “Kill James” (Mate James) para o espanto de todos. Para piorar, como o garoto ainda era muito pequeno e não entendia direito aquilo, ele começou a repetir a frase para o desespero da sua mãe, Melissa.
Em reportagem para o canal FoxNews, Melissa disse: “Não é algo que você pensaria que sairia de um brinquedo”. A fabricante recolheu o boneco e emitiu um voucher de troca, mas o que levou o boneco a começar a ameaçar o garoto ainda é um mistério.
4. Okiku: Em 1918, Eikichi Suzuki, um jovem de 17 anos, estava passeando na cidade de Sapporo quando decidiu levar um presente para sua irmã de 2 anos, a pequena Okiku: uma boneca de porcelana com o cabelo na altura dos ombros e vestindo um quimono. Okiku imediatamente se apaixonou pela boneca, brincava com ela todos os dias, comia e dormia com ela, e passou a chamar a boneca com o seu próprio nome. - Infelizmente, um ano depois, a pequena Okiku acabou falecendo de febre amarela. Como a boneca era o brinquedo favorito dela, a família Suzuki queria enterra-la junto com ela, mas segundo as fontes isso não foi possível por ordens do governo. A família então decidiu deixar a boneca do altar familiar que eles tinham em casa.
A grande maioria dos japoneses – cerca de 96% – são adeptos ao Xintoísmo, uma religião formada por um conjunto de crenças históricas baseadas na relação do homem com a natureza. Uma dessas tradições é manter um altar para seus familiares em que são colocados objetos pessoais e oferendas para os espíritos das pessoas que já se foram.

Exemplo de um altar familiar japonês
Foi depois de colocar a boneca no altar que coisas estranhas começaram a acontecer: luzes piscando, barulhos pela casa, os membros da família sonhavam com Okiku constantemente e as vezes encontravam ela na cama com eles. A coisas mais bizarra é que o cabelo da boneca parecia crescer a cada dia, chegando até a cintura. Ao procuraram os líderes espirituais da sua região, a família passou a acreditar que o espírito da verdadeira Okiku estava na boneca, e eles passaram a aceitar aquela presença.
Em 1938, a família precisou mudar de cidade e decidiu que deixaria a boneca em um templo mais próximo ao túmulo de Okiku. Com o tempo, a história passou a atrair curiosos que dizem ter testemunhado os mesmos fenômenos que a família Suzuki presenciava. A maior prova de que toda a história seria real é que os sacerdotes mandaram amostras do cabelo para um exame microscópico, que garantiu que de fato era cabelo humano. Se você for corajoso, pode visita-la no altar no Templo Mannen-ji, na cidade de Iwamizawa.

Okiku no altar no Templo Mannen-ji
5. Evilstick:
Em 2014, uma mãe em Dayton, Ohio, comprou um brinquedo aparentemente comum para sua filha: uma varinha mágica com uma grande flor na ponta e que prometia tocar músicas fofas. O brinquedo e a embalagem eram coloridos e tinham personagens de anime, e talvez seja por isso que ela não percebeu que o brinquedo se chamava “Evilstick”, Varinha do Mal. Quando a criança foi brincar eles descobriram que, ao invés de tocar música, o brinquedo soltava uma gargalhada macabra, e ao retirar um papel metálico que simulava um espelho havia uma imagem horrível de uma mulher com olhos vermelhos e dentes de vampiro se cortando com uma faca.
A história tomou conta da internet e depois dos jornais. Pais furiosos encontraram outros modelos com outras fotos e pediram para que o brinquedo fosse retirado das prateleiras. O dono da loja onde o brinquedo foi comprado se limitou a dizer que aquilo era um brinquedo chinês barato vendido por US$ 1 e culpou a mãe dizendo que ela deveria esperar por aquilo quando comprou um brinquedo com aquele nome.

Quando o papel metálico que cobria a varinha era retirado, revelava a foto de uma mulher se cortando
6. Dardos de Grama:
Um dos brinquedos mais famosos entre a garotada dos Estados Unidos entre os anos 50 e 80 eram os Dardos de Gramado. Também chamados de Jarts, eram uma versão grande dos dardos convencionais e vinham com um alvo para ser colocado na grama.
Com o tempo o brinquedo foi se tornando um verdadeiro problema de saúde pública, já que a ponta do dardo era extremamente perigosa e causava acidentes graves quando acertava alguém. O caso mais grave aconteceu em abril de 1987, quando uma menina de 7 anos chamada Michelle Snow acabou morrendo quando a ponta do dardo acertou sua cabeça e causou um traumatismo fatal. O pai de Michelle começou a advogar pela proibição do brinquedo, que aconteceu em dezembro de 1988.
Segundo os dados da Comissão de Segurança de Produtos de Consumo dos EUA, somente nos anos 80 mais de 6 mil pessoas deram entrada em hospitais por causa de ferimentos causados pelos dardos e pelo menos 3 mortes foram confirmadas.

Jarts: considerados um dos brinquedos mais perigosos já inventados
7. Laboratório de Energia Atômica Gilbert U-238:
Os anos 50 foram marcados pela grande disputa entre EUA e União Soviética, a chamada Guerra Fria. Dentre as disputas mais fervorosas, o uso da radiação marcou o mundo para sempre, seja pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki, seja pelo acidente nuclear de Chernobyl.
Antes de perceberem o quão perigoso a radiação poderia ser, a empresa AC Gilbert Company lançou em 1950 o Laboratório de Energia Atômica Gilbert U-238, uma versão de kit de laboratório, mas com a intenção de permitir que as crianças criassem e observassem reações nucleares usando material radioativo de verdade. O brinquedo vinha com um contador geiger, um eletroscópio, uma câmara de nuvem de Wilson, 4 frascos de vidro contendo urânio e um manual explicando como fazer e medir as radiações.
Felizmente o kit ficou disponível por apenas um ano e vendeu só 5.000 unidades, e isso não foi por causa dos perigos em potencial, mas sim porque o preço era muito alto, US$ 49,50 (equivalente a US$ 560 hoje).

Laboratório de Energia Atômica Gilbert U-238
8. Converse com o seu Anjo:
Se você costuma ver filmes de terror ou pesquisar sobre o ocultismo deve conhecer o que é uma tábua ouija, um artefato que consiste em uma tábua com letras e números e é usado para se comunicar com espíritos. Por algum motivo, a Estrela achou que seria interessante lançar uma versão infantil da tábua ouija e criou o jogo Converse com o seu Anjo, que prometia para as crianças a possibilidade de conversar com o anjo da guarda delas.
Segundo o manual do jogo, ele foi criado com a ajuda da escritora Monica Buonfiglio, especialista em anjos, almas gêmeas, vida após morte, cabala, regressão de memória, numerologia, salmos e etc. Por motivos óbvios o jogo causou muita polêmica e logo foi descontinuado. Ao ser questionado sobre o tema sensível e a polêmica do jogo, a Estrela disse que não havia problema porque a idade indicativa era de 10 anos.

O polêmico jogo Converse com o seu Anjo foi logo descontinuado
9. Boneca da Xuxa:
De todas as apresentadoras infantis que tivemos no país, com certeza a Xuxa foi a que mais teve sucesso: no ar desde 1983, com 20 filmes, 36 álbuns, 30 milhões de cópias vendidas, 217 discos de ouro, 12 troféus imprensa, 6 indicações ao Grammy (tendo ganhado 2) e muito mais. Em 1987, Xuxa fechou uma parceria com a Mimo (a mesma do boneco do Fofão) e lançou a sua boneca, que foi um sucesso instantâneo, com mais de 800 mil unidades vendidas. Com tanto prestígio, começou a surgir um rumor de que a apresentadora tinha feito um pacto com o diabo para garantir fama e fortuna, e que você podia encontrar mensagens satânicas se ouvisse seus discos ao contrário.

A boneca da Xuxa
Mas o pior teria acontecido na cidade de Sorocaba – SP, quando uma garota de dois anos começou a pedir uma boneca da Xuxa para sua mãe, que não podia comprar pois estava desempregada. Irritada com a insistência da filha, ela teria dito que só conseguia comprar “se o diabo mandasse o dinheiro”. A mulher acabou conseguindo o dinheiro e comprado o brinquedo, porém, a sua filha passou a ter pesadelos constantes quando a boneca dormia com ela. Além disso, as unhas da boneca teriam crescido e ela teria atacado a menina. Assustada, a mãe teria levado o brinquedo para a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte, onde um padre teria exorcizado a boneca e mantido ela em observação dentro da igreja.
A história se espalhou e foi parar nos jornais, e o mais bizarro: uma multidão chegou a se reunir na frente da Catedral exigindo ver o brinquedo, e o padre teve que fechar o local para que ninguém invadisse. - A história acabou virando lenda urbana, e a própria Xuxa decidiu tirar sarro da situação: em 2016, a Netflix chamou a apresentadora para um comercial da série Stranger Things e usou diversas referências da sua carreira, dentre eles a boneca, que aparece com os olhos vermelhos e citando o Demogorgon.
Comercial da série Stranger Things com a participação da Boneca da Xuxa
10. Boneco do Fofão:
Em 1983, a TV Globo lançou o programa Balão Mágico, que na época era apresentado pelos integrantes da banda Balão Mágico junto com um personagem humanoide chamado Fofão, que usava uma jardineira azul e tinha bochechas enormes. Apesar de ter um conceito meio assustador, o personagem fez bastante sucesso na época e ganhou um programa próprio na Band 3 anos depois. Com a popularidade do personagem, a fabricante Mimo decidiu criar um boneco do Fofão, que foi um sucesso comercial com mais de 4 milhões de unidades vendidas.
No entanto, algum tempo depois surgiu um boato de que existia um punhal negro dentro do brinquedo, gerando uma verdadeira histeria coletiva. Alguns diziam que o objeto era inserido para que o boneco atacasse as crianças durante a noite, outros diziam que aquilo era resultado de um pacto que o ator Orival Pessini, interprete do Fofão, havia feito com o diabo para conseguir fama e dinheiro.
Em 2015, o gerente de desenvolvimento da Mimo deu uma entrevista para esclarecer os boatos que circulavam desde os anos 80: a tal adaga era na verdade uma haste de sustentação para que a cabeça do boneco ficasse fixa, já que o interior era preenchido somente com bolinhas de isopor. Ninguém sabe direito de onde veio o boato, mas duas hipóteses curiosas são a de foi algum grupo religioso ou alguém de alguma das emissoras concorrentes da Band para manchar a imagem do personagem.

Imagens da cabeça do boneco com a suposta faca
• FONTES: New England Society For Psychic Research, Ghosts & Gravestones, FoxNews, Old City Ghosts, KZR News, HannahTheHorrible, Mashable, Ludopedia, Aventuras na História.
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