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#10 - Marco Aurélio | DESAPARECIDOS

Foto do escritor: Rodolfo BrennerRodolfo Brenner

Em 1985, um escoteiro desaparece enquanto escalava uma montanha. Desde assassinato até OVNIs, muito foi dito sobre o que aconteceu com ele, mas nenhuma prova concreta foi encontrada até que, 36 anos depois, uma nova pista promete dar fim no caso.


Essa é a versão escrita do episódio #10 - Marco Aurélio:



Marco Aurélio Simon era filho de Tereza e Ivo Simon. Existem pouquíssimas informações sobre a sua vida antes do incidente, mas o que se sabe é que ele tinha um irmão gêmeo chamado Marco Antônio e os dois sempre faziam atividades juntos. Os dois garotos tinham nascido prematuros e cresceram com certas dificuldades. Por causa disso, seus pais acharam que seria interessante eles entrarem para um grupo de escoteiros para praticar atividades físicas ao ar livre.

No dia 7 de junho de 1985, um grupo de 4 escoteiros se preparava para subir o Pico dos Marins, que fica na Serra da Mantiqueira, entre os municípios de Piquete e Cruzeiro, no estado de São Paulo. Eles eram: Ricardo Salvati, Ramatis Rohm, Osvaldo Lobeiro e o Marco Aurélio, todos com 15 anos. Junto deles estava Juan Céspedes, o chefe do grupo dos escoteiros que tinha 36 anos e era amigo da família do garoto. Marco Antônio não foi junto porque estava doente.


Juan Céspedes

Naquele dia, o grupo seguiu de ônibus da rodoviária do Tietê até Piquete, onde foram recepcionados por Sebastião Augusto Ramos, cujo apelido era “Gugu”, o chefe de um grupo de escoteiros locais. Ele designou o chefe de tropa Paulo Roberto, o “Paulinho”, que levaria o grupo de carro até um sítio no começo da trilha. O sítio pertencia a um homem chamado Afonso Xavier, que era bem conhecido na região e tinha experiência nas trilhas.

Os garotos acamparam no sítio do dia 7 para o dia 8, e realizaram algumas atividades, entre elas o “fogo de conselho”, que marca a passagem de nível dos escoteiros, que no caso deu a Marco Aurélio a qualificação de escoteiro sênior.

No sábado, dia 8 de junho, o grupo acordou cedo e começou os preparativos para a ascensão à montanha. Um grupo local com três escoteiros mais velhos convidou Juan e o grupo para irem juntos, mas eles recusaram. Afonso Xavier também iria subir com eles, mas acabou não indo junto, e algumas fontes dizem que foi o Juan que dispensou a ajuda dele.


Pico dos Marins


Enquanto estavam subindo, mais ou menos às 14 horas, o garoto Osvaldo tropeça e machuca o joelho. Juan primeiramente tentou improvisar uma maca, mas não conseguiu devido ao peso de Osvaldo. Marco Aurélio se voluntaria para descer até a base da montanha e pedir ajuda. Segundo depoimento, Juan não queria aceitar pois o garoto não era experiente naquela trilha, porém ele acabou concordando.

Enquanto estavam descendo, Juan trocou o caminho por acreditar que pegaria um mais limpo, sem tantas pedras e menos íngreme, porém acabou se perdendo e o grupo levou 14 horas para chegar ao sítio. Para surpresa de todos, a barraca dos escoteiros estava remexida e a mochila de Marco Aurélio estava aberta do lado de fora, porém não havia nenhum sinal dele.


A trilha em que Marco Aurélio desapareceu


Ao perceber que o garoto não estava lá, Juan saiu para procurá-lo por volta das 6 da manhã e regressou às 10, mas não encontrou sinais dele. Um pouco antes dele voltar, Paulinho chegou ao sítio, ficou sabendo do desaparecimento e resolveu informar o chefe Gugu, que conseguiu mais 4 voluntários para procurar.

Enquanto as crianças voltaram para São Paulo, Juan foi até a delegacia de Piquete informar o desaparecimento. O caso passa então para o delegado Izidro Ferraz, que chama diversos homens da polícia para ajudar. Durante uma das primeiras noites de busca ocorre uma forte geada que deixa tudo coberto de uma fina camada de gelo. Dois voluntários de busca encontraram pegadas perto de uma cruz de ferro que ficava localizada em uma das trilhas. Eles tentaram seguir as pegadas, porém elas desapareceram em certo momento.

Neste mesmo dia um incêndio começou em parte da montanha, e alguns oficiais que estavam na missão de resgaste precisaram ser realocados. Na época, a polícia suspeitou que alguém houvesse provocado o incêndio para atrapalhar nas buscas. Alguns voluntários também passaram a observar a movimentação de urubus na montanha, pensando que, se Marco Aurélio tivesse morrido, os animais seriam os primeiros a encontrar seu corpo. Ao seguir os urubus eles não encontraram o garoto, apenas um boi já em avançado estado de putrefação.


Uma das reportagens da época sobre o desaparecimento


O pai do garoto, o Sr. Ivo Simon, era jornalista, e assim que ficou sabendo do desaparecimento começou a entrar em contato com diferentes veículos de comunicação: por causa disso, a notícia se espalhou por todo o país. Como é comum em casos de desaparecimento, algumas pistas falsas começaram a ser dadas, como avistamentos de Marco Aurélio em cidades próximas, mas quando os investigadores chegavam lá, não encontravam nada.


Ivo Simon, pai do escoteiro

Com as notícias, mais voluntários passaram a procurar pelo garoto: foram mais de 300 pessoas, cães farejadores, bombeiros, helicópteros e até aviões do exército, porém, após um mês de busca sem sucesso, a operação foi suspensa.


Foto de uma das equipes de busca: nada foi encontrado


Sem contar as teorias de que o garoto tenha se perdido ou sido atacado por um animal selvagem, o principal suspeito do desaparecimento foi Juan: um dos garotos disse em depoimento que, na noite anterior ao sumiço, Marco Aurélio saiu de sua barraca para usar o banheiro, e ele teria sido seguido por Juan.

Quando Gugu providenciou um médico para Osvaldo, ele relatou que o machucado do garoto não era grave e que ele podia andar normalmente, aumentando especulações de que talvez Juan, por algum motivo, quis parecer que a situação de Osvaldo era pior para separar Marco Aurélio dos demais.

Um major da Polícia chamado Edmundo Zaborski acreditava piamente na culpa de Juan, tanto que pressionou ele a se submeter a uma sessão de hipnose para que ele se lembrasse de possíveis informações. Juan chegou a participar, porém não deu nenhuma informação que já não tinha dado. A sessão de hipnose foi bem polêmica: ela aconteceu no Morro do Careca, último ponto mais próximo do local do desaparecimento em que era possível chegar de carro. Além disso, Juan disse que foi torturado por policiais para confessar que havia sumido com o garoto.

Nem os outros garotos fugiram de ameaças: eles foram intimados a depor, com o Osvaldo inclusive sendo levado de camburão até a delegacia, porque o major Edmundo acreditava que ele era cumplice de Juan. Eles foram colocados em salas separadas e forçados a denunciar Juan pelo crime de homicídio, chegando até mesmo a ficarem sob a mira de um revólver, porém os três negaram a participação do chefe dos escoteiros, que nunca foi indiciado.


Reportagem da época que destaca as suspeitas sobre Juan


Uma outra teoria dizia que, após passar diversos dias no morro passando fome, frio e sede, Marco Aurélio teria sido encontrado por alguém que o levou para casa e, por algum motivo, não relatou isso para a polícia. Uma delegada da época disse que um motorista de ônibus chamado José Benedito da Silva procurou as autoridades para informar que teria dado uma carona para o menino, porém só relatou 10 meses depois que a busca foi encerrada. Na ocasião, ele admitiu que ficou com medo de falar antes por acharem que ele tinha relação com o desaparecimento.

Muitos videntes na época afirmavam que o garoto não havia morrido, até mesmo o médium Chico Xavier em encontro com o pai de Marco Aurélio disse não conseguiria contato com ele, pois “só contatava mortos e não vivos”. Especialistas dizem que a hipótese de o garoto estar vivo é muito improvável dado a repercussão do caso.


Reportagem do jornal sensacionalista "Notícias Populares" sobre uma suposta mensagem de Marco Aurélio enviada do além

Uma teoria que inclusive era aceita pelo pai de Marco Aurélio era a de que seu filho tenha sido abduzido: na noite do desaparecimento, o grupo ouviu um grito e um barulho de apito vindo da mata. Todos os escoteiros andavam com um apito no caso de se perderem, então poderia ser do menino.

Ao saírem fora de casa, se depararam com uma forte luz azul, tão forte que chegou a cegá-los. Ao se deparar com aquilo, Juan se embrenhou no mato gritando por Marco Aurélio, mas não o encontrou. Apesar de alguns dizerem que a luz vinha de um carro ou de uma casa distante, muito ufólogos chegaram a ir até o local alegando que o desaparecimento era na realidade uma abdução.


Inquérito do desaparecimento de Marco Aurélio: caso foi arquivado

Em 2021, 36 anos depois, o caso foi reaberto: segundo o delegado Fábio Cabett, que agora passou a cuidar das investigações, foi o pai de Marco Aurélio que procurou a polícia com novas informações - segundo ele, Marco Aurélio teria sido morto e enterrado em um local onde hoje fica uma pequena casa, na área em que os escoteiros haviam acampado à época, na zona rural de Piquete.

Foram feitas escavações no local com a ajuda de detectores de metais e cães farejadores, porém nada foi encontrado dentro da casa. Entretanto, um fragmento de osso apareceu do lado de fora da casa, porém foi descartado porque se tratava do osso de um animal doméstico.


Escavações na casa não encontraram nada


Ao mesmo tempo, a polícia também estava trabalhando com a hipótese de que o garoto ainda estivesse vivo: o delegado recebeu a foto de um morador de rua da cidade de Taubaté e que seria parecido com o irmão gêmeo de Marco Aurélio, que é usado como referência para uma progressão de idade, porém não há mais informações sobre essa busca.


Progressão de idade de Marco Aurélio: imagem foi comparada com a de um morador de rua da cidade de Taubaté, SP


O desaparecimento de Marco Aurélio foi um trauma na vida de todos os envolvidos: os pais que não sabem o que aconteceu; Osvaldo disse que se sente culpado porque, se ele não tivesse se machucado, nada daquilo teria acontecido; e Juan, que foi torturado e expulso da União dos Escoteiros do Brasil, hoje é advogado e não comenta mais sobre o caso.

A mãe de Marco Aurélio morreu a 6 anos, porém seu pai continua com a busca até hoje, porém não esconde a angústia da procura: “nós sofremos demais com todo esse processo e destruiu a nossa família. Todos os sonhos que nós tínhamos. Vivemos em função dessa busca”. O irmão Marco Antônio fala menos sobre o caso, porém nas entrevistas ele diz que ainda ajuda o pai procurar o irmão, e que acredita na hipótese de que ele ainda esteja vivo.


Marco Antônio, irmão gêmeo de Marco Aurélio

• FONTES: Aventuras na História, Alta Montanha, G1, Yahoo, Band, Correio Braziliense, Estadão.

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