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#85 - A Misteriosa Chuva de Bolhas em Oakville | MISTÉRIOS

Foto do escritor: Rodolfo BrennerRodolfo Brenner

Em 1994, uma chuva anormal caiu sobre uma pequena cidade no estado de Washington, causando problemas de saúde nos moradores e a morte de animais. Será um fenômeno natural, uma conspiração militar ou algo vindo do espaço?


Essa é a versão escrita do episódio #85 - A Misteriosa Chuva de Bolhas em Oakville.



O caso aconteceu em Oakville, uma pequena vila no estado de Washington, que, segundo o censo de 2020, tem 715 habitantes. Oakville tem esse nome por conta da grande concentração de Carvalhos (Oak) no local, muito importante para a economia da cidade, que por muito tempo dependeu da exportação de madeira. No dia 7 de agosto de 1994, por volta das 16h30, uma tempestade caiu sobre a cidade. Entretanto, os moradores notaram que havia algo estranho: juntamente com a água, caíram bolhas de uma substância grossa, gelatinosa e translúcida, que lembrava um gel de cabelo.

Uma das moradoras que presenciou o fenômeno foi Sonja Barclift, cujo apelido era Sunny. Ela morava em uma fazenda junto com a sua mãe, Dotty. As duas viviam uma vida bastante tranquila: criavam galinhas, faziam doces e conservas caseiras e tinham uma belíssima horta. Depois que a chuva parou, sua mãe foi até o lado de fora e percebeu que, em cima da casinha onde elas guardavam lenha, havia resquícios daquela substância. As duas então olharam pela fazenda e perceberam que a propriedade estava cheia daquelas bolhas.


Bolhas misteriosas que caíram juntamente com a chuva


Na época, Sunny trabalhava no Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional, e por ter certa noção de questões de biossegurança, decidiu fazer um relatório escrito do fenômeno, além de algumas experiências. Primeiro, ela e seu irmão recolheram amostras do material usando luvas para manipular a substância desconhecida (guardem essa informação). Depois, ela conduziu alguns testes simples e chegou a algumas conclusões: a substância flutuava em água; não se dissolvia em álcool e também não pegava fogo.

A preocupação maior da Sunny era quanto a toxicidade da substância, uma vez que a chuva de bolhas tinha caído sobre a horta da sua mãe e possivelmente de outros moradores de Oakville. Ela então fez alguns telefonemas: primeiro para o Departamento de Agricultura, depois para o Departamento de Ecologia e para o Serviço de Meteorologia Nacional, mas nenhum deles tinha conhecimento de algo parecido com aquilo.

Ela também ligou para Bill Dunbar, que na época trabalhava como assessor de um membro do congresso que representava Oakville. Quando contou sobre a chuva, Bill achou que ela estava passando um trote e desligou, mas com o passar do dia, chegaram mais e mais ligações relatando o mesmo fenômeno, e foi aí que ele decidiu entrar em contato com algumas autoridades para verificar o que poderia estar acontecendo, mas, assim como Sunny, não conseguiu nenhuma resposta.


Sunny em entrevista para a série Arquivos do Inexplicável


No dia 8 de agosto, um dia após a chuva, cerca de 30 moradores de Oakville relataram sintomas como tontura e náusea. Uma das pessoas que ficou doente foi a Dotty, mãe da Sunny: ela foi encontrada quase inconsciente no chão do banheiro. Ela ficou hospitalizada por 4 dias e no seu prontuário constava que o motivo do mal estar teria sido uma “virose”. Além de seres humanos doentes, alguns animais como gatos, cães e até vacas morreram após a chuva. Sunny começou a conversar com os moradores da cidade e descobriu que todas as pessoas que ficaram doentes encostaram diretamente nas bolhas sem nenhum tipo de proteção. O mesmo aconteceu com os animais que morreram: todos tinham ficado diretamente expostos à chuva.

Sunny então levou uma das amostras para o hospital local: uma técnica de laboratório colocou uma amostra no microscópio e descreveu que haviam células humanas, mais precisamente, glóbulos brancos, que são células responsáveis pela defesa do nosso organismo. Apesar da descoberta surpreendente, neste laboratório não havia equipamentos para fazer análises mais completas. Ela então enviou amostras para o Departamento de Ecologia na esperança de que eles pudessem trazer melhores resultados. Diferente do primeiro teste, essa análise descartou que aquelas células eram glóbulos brancos, mas não conseguiu identificar exatamente o que elas eram e de qual espécie teriam vindo.


A pequena cidade de Oakville


Enquanto repórteres iam até a cidade para entrevistar os moradores e os cientistas tentavam explicar o fenômeno, choveram mais vezes: no total foram 6 chuvas de bolhas em um período de 3 semanas.- Ainda mais preocupada com a situação, Sunny entrou em contato com o Departamento de Saúde do Estado de Washington e foi atendida por Mike McDowell, um microbiologista muito respeitado nacionalmente: ele já tinha trabalhado junto com o governo americano nos surtos de E. coli em 1992 e criptosporidiose em 1993.

Mike pesquisou as bolhas por vários meses e os resultados da sua pesquisa apareceram na série Unsolved Mysteries em Maio de 1997. Ele analisou o material em vários microscópios diferentes e, contradizendo os dois testes anteriores, não conseguiu identificar nenhuma estrutura celular visível.


Episódio de Unsolved Mysteries sobre o caso de Oakville


TEORIAS


• CHUVA DE ÁGUA-VIVA:

A primeira teoria foi levantada por um jornal local e corroborado por alguns pesquisadores: as bolhas seriam partes de águas-vivas. Para explicar como esses seres saíram do mar e foram parar em Oakville, a 60 km do mar, é preciso explicar um outro fenômeno chamado de chuva de animais. Parece algo saído diretamente do antigo testamento, mas realmente é possível que caiam animais junto com a chuva caso aconteçam as condições certas. O mais comum é a chuva de peixes, mas já foram registradas chuvas de sapos, minhocas e até aranhas.

Para isso acontecer, é preciso de uma corrente de ar ascendente muito forte, mais precisamente um mesociclone. Se o fenômeno ocorrer sobre o mar, ela vai sugar a água junto com os animais marinhos e levar para as nuvens de tempestade. Os animais ficam presos na turbulência que existe dentro das nuvens por conta das correntes de vento, até o momento que a chuva realmente cair, e isso pode ser a quilômetros de distância.

Seguindo esse raciocínio, o vento forte teria retirado as águas-vivas do mar e os animais teriam caído como chuva em Oakville. O veneno presente nesses animais explicaria o adoecimento de pessoas e morte dos animais.

Ao investigar, Sunny descobriu que realmente existia uma ligação da costa do mar com a cidade: no mesmo dia em que aconteceu a chuva, uma mulher chamada Kathleen Belanger e seu marido estavam acampando na praia de Kalaloch, que fica a 136 km da cidade. Ao saírem de manhã para caminhar, os dois viram que havia centenas de caranguejos mortos na costa, além das mesmas bolhas que foram encontradas na cidade.


Praia de Kalaloch


• GELO AZUL:

A segunda teoria levantada foi a de que as bolhas seriam substâncias orgânicas que se desprenderam dos aviões e acabaram caindo na cidade. Sim, é isso que você está pensando: cocô caindo do céu. Quando você usa o banheiro de um avião, os seus dejetos vão para um compartimento que contém uma mistura de desinfetante e anticongelante, que é usado para que o material não congele devido às baixas temperaturas do espaço aéreo. Depois que o avião pousa, existe um serviço especializado que limpa o compartimento com uma espécie de aspirador gigante.

Entretanto, pode acontecer da porta do compartimento ter um vazamento e parte do seu cocô cair do céu, e nesse caso ele será um bloco de material orgânico congelado (por estar fora do compartimento), azul (por conta do desinfetante) e tóxico (porque o anticongelante leva várias substâncias nocivas como metanol e propilenoglicol.- Por conta das suas características, o fenômeno ganhou o nome de “gelo azul”.

E agora vem o mais assustador: só entre 1979 e 2003 foram registrados oficialmente 27 casos, isso somente nos Estados Unidos. Até onde se sabe, nunca foi registrada nenhuma morte por conta do gelo azul, mas os estragos materiais podem ser grandes: em fevereiro de 2013, uma pedra de gelo azul do tamanho de uma bola de futebol caiu em cima de uma casa em Clanfield, na Inglaterra. O gelo atravessou o telhado e destruiu um jardim de inverno, causando um prejuízo de £ 10.000. Essa teoria acabou sendo descartada porque a substância não era azul, e porque elas caíram por mais de uma vez.


Gelo azul que caiu sobre uma casa na cidade de Imphal, na Índia

• TESTE MILITAR: A terceira teoria foi levantada com a ajuda da Kathleen, a mesma mulher que viu as bolhas na praia. Segundo ela, um dia antes do acontecimento, ela e o marido ouviram explosões altas vindas do mar. Um jornal publicou em uma matéria que o barulho que foi ouvido pelo casal era de bombas que a Força Aérea Americana estava testando na costa do estado.

O uso de armas biológicas são tão polêmicas quanto armas nucleares, então os testes feitos pelas agências de segurança costumam ser ultra secretos. Um dos exemplos foi a “Operação Sea-Spray”, realizada pela Marinha dos EUA em 1950: navios pulverizaram a baía de São Francisco com bactérias para determinar o quão vulnerável a cidade estava em um ataque com armas biológicas. As bactérias usadas foram das espécies Serratia marcescens e Bacillus globigii. Os agentes naquela época acreditavam que elas seriam de fácil rastreio e inofensivas, sem saber que, na realidade, elas costumam causar infecções hospitalares no trato urinário e são difíceis de tratar. Durante o monitoramento da cidade, foi constatado que 11 pessoas deram entrada no mesmo hospital com infecção urinária grave, e o surto chegou a ser noticiado pelos médicos.

Dentre os pacientes estava um homem chamado Edward J. Nevin. Ele tinha passado recentemente por uma cirurgia na próstata e acabou não resistindo. O caso só veio a público em 1977, quando o Subcomitê de Saúde e Pesquisa Científica do Senado dos EUA realizou uma série de audiências sobre testes secretos nos órgãos de defesa. A Marinha admitiu os testes, porém, disse que não havia provas de que as bactérias adquiridas não tinham vindo de dentro dos hospitais.

A família de Edward J. Nevin processou o governo federal em 1981 por conta dos danos financeiros e emocionais causados ​​à família por conta do tratamento e morte de Edward. Eles acabaram perdendo porque o tribunal entendeu que realmente não era possível saber se a bactéria realmente tinha vindo dos testes. Por mais que seja oficialmente proibido o uso de agentes biológicos pelos Estados Unidos desde 1969, muitos acreditam que a chuva de Oakville foi resultado de um desses testes secretos.


São Francisco coberta por névoa


Com o passar dos anos, apareceram outras teorias para tentar explicar o fenômeno, além de comparações com outros casos semelhantes: existe um fenômeno chamado star jelly (geleia estelar), na qual uma substância parecida com a que caiu em Oakville pode ser encontrada em gramados ou sobre árvores.- O fenômeno é registrado desde o século XIV e tem esse nome porque acreditava-se que essa “geleia” caía do céu durante chuvas de meteoros. Não existe uma explicação definida para o fenômeno, mas cada caso parece ter a sua própria resolução, que vão desde restos de animais, produções de bactérias e fungos que produzem gosma. Diferente do que aconteceu em Oakville, esses casos são pontuais, não estão associadas com chuva e as amostras se desintegram ainda no mesmo dia.

Em 1997, 3 anos após as chuvas, Sunny estava trabalhando em uma lanchonete quando 3 homens usando chapéu e sobretudo chegaram e questionaram ela sobre a chuva e os helicópteros. Segundo ela, a conversa foi muito desconfortável e tinha um certo tom de ameaça. Depois que esses homens foram embora, uma cliente da lanchonete que presenciou a cena anotou a placa do carro. Com a ajuda da polícia, ela descobriu que o carro estava registrado em Fort Hood, uma base militar que fica na cidade de Killeen, no Texas. Para adicionar uma camada extra de mistério, Dotty, mãe da Sunny, registrou um helicóptero preto sobrevoando Oakville após as chuvas. Segundo os teóricos da conspiração, essas naves sem identificação costumam sobrevoar regiões onde estão acontecendo fenômenos estranhos como casos ufológicos e sobrenaturais.

Lembram que Mike McDowell deu uma entrevista sobre o caso para o Unsolved Mysteries? Sunny o contatou após as novas descobertas e ele contou novidades e montou a sua própria teoria: ele teria usado a amostra para cultivar duas espécies de bactérias que são comumente encontradas no aparelho digestivo humano. Para sua surpresa, ele notou o rápido desenvolvimento delas na amostra. Mike então passou a chamar o material de matriz: as bolhas seriam uma espécie de cápsula onde poderiam ser inseridos material biológico como vírus e bactérias para serem usados como arma biológica. Entretanto, pouco tempo depois disso, as amostras simplesmente desapareceram do laboratório: a secretária do local contou que um homem se identificou como sendo do serviço secreto americano e levou as amostras embora, deixando o mistério da chuva de Oakville sem resposta.


Base de Fort Hood, Texas


• FONTES: this is MONSTERS, Criminologia, Life Issues Institute, Crime Library, KPAX, Crystal Gutierrez TV, CBS News, The Charley Project, Real Stories, NightDocs, Unfiltered Stories.

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