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  • Foto do escritorRodolfo Brenner

#72 - O OVNI de Kera | MISTÉRIOS

Nos anos 70, um grupo de crianças viveu uma história digna de um filme de aventura quando um estranho objeto começou a aparecer em uma pequena vila no Japão. Seria esse um dos maiores casos da ufologia japonesa ou tudo não passou de uma brincadeira de criança?


Essa é a versão escrita do episódio #72 - O OVNI de Kera:



O caso aconteceu em Kera, uma vila que ficava localizada na Prefeitura de Kochi, no sul do Japão. O local já chegou a ter mais de 4 mil habitantes, mas com o tempo e a diminuição da população, a vila foi incorporada e passou a ser uma região dentro da cidade de Kochi. No anoitecer do dia 25/08/1972, um garoto chamado Michio Seo estava voltando da escola quando viu algo estranho sobrevoando um campo de arroz que ficava na parte leste da vila. No começo ele achou que se tratava de um morcego, mas percebeu que esse objeto se movia de um jeito muito estranho, indo quase instantaneamente de um lado para o outro, como se estivesse se teletransportando.

Depois de voltar para casa, ele contou sobre o que tinha visto para um amigo chamado Yasuo Mori. Esse amigo contou para o irmão, Hiroshi, e os 3 decidiram ir até o campo de arroz junto com mais um amigo chamado Kei Ojima. Eles ficaram lá por mais de 1 hora, até que Michio viu o objeto sobrevoando o campo e pousando a cerca de 400 metros dali. As crianças correram até lá e viram um pequeno objeto metálico que parecia uma cartola e emitia uma luz prateada. Hiroshi decidiu chegar mais certo do objeto, e quando ele ia tocá-lo, a luz mudou para um azul cintilante e os garotos saíram correndo, com medo. Depois de se acalmarem, eles decidiram voltar ao local cerca de 30 minutos depois, mas o objeto já havia sumido.


Kochi, Japão


As crianças ficaram tão entusiasmadas com aquele evento que começaram a sair todas as noites para procurar o objeto. Uma semana após o primeiro avistamento, pouco depois das 20h, os quatro meninos e mais um amigo chamado Keikou Fujimoto viram um objeto brilhante aparecer no campo de arroz. Um dos garotos estava com uma câmera e conseguiu tirar uma foto. Eles chegaram a cerca de dez metros da luz e confirmaram que se tratava do mesmo objeto. Dessa vez ele emitia uma luz multicolorida enquanto girava e flutuava levemente para a esquerda e para a direita. Novamente eles ficaram com medo e decidiram voltar para casa.

Dois dias depois, Yasuo, Hiroshi e mais um amigo deles chamado Toshiaki Kuzuoka viram o objeto voando no mesmo local onde ele tinha aparecido da última vez. Toshiaki conseguiu tirar uma foto, quando, de repente, ele fez uma subida rápida que assustou os garotos e eles correram de novo. Posteriormente, foram reveladas as fotos que eles tinham tirado: a primeira mostrava uma luz brilhante em cima do campo de arroz, enquanto a segunda era um borrão com alguma visibilidade. Segundo relatos, outra das crianças tentou tirar uma foto com uma câmera SLR — que tinha uma excelente qualidade na época — mas como ele não tinha experiência com câmeras, ele não sabia que precisava colocar o filme antes. Após isso, toda a vez que o objeto aparecia, as crianças tentaram tirar diversas fotos, mas o obturador da câmera não disparava, ou as fotos ficavam completamente pretas ou desfocadas.


Uma das fotos do OVNI no campo de arroz


Não se sabe exatamente quando — os próprios garotos divergem da data como sendo 19 ou 20 de setembro — mas eles conseguiram capturar o objeto. Nesse dia, eles teriam ido até o campo com mais 3 amigos que se juntaram às expedições: Sadao Fujiwara, Ikuo Higashiyama e Kiyomitsu Ohara, totalizando 9 crianças atrás do OVNI. Quando estavam andando pelo local, eles encontraram o objeto caído. Eles esperaram um tempo para ver se ele emitia alguma luz ou som, mas ele continuou parado.

Com medo, eles conversaram para decidir o que fazer e decidiram capturar o objeto jogando um pano sobre ele. Eles também jogaram água sobre ele, porque acreditavam que ele era vulnerável à água por não aparecer em dias de chuva. Quem teria capturado o objeto seria Keikou ou Hiroshi, dependendo da fonte. Além do pano e da água, quem pegou o objeto também bateu no objeto com um bloco de concreto para ver se ele se mexia, mas ele continuou parado. Eles também ficaram com medo do objeto emitir alguma radiação, então fizeram de tudo para não tocá-lo diretamente.

Eles levaram o OVNI até a casa do Hiroshi, onde observaram ele por vários minutos: de perto, o objeto tinha cor prata, textura áspera e tinha o formato de um chapéu com abas curtas. Ele também era muito leve para o seu tamanho. Um dos meninos, Kei, resolveu tirar algumas medidas do objeto: segundo a documentação que as crianças fizeram, ele tinha mais ou menos 1,4 kg, 7 cm de altura e 18,2 cm de diâmetro. Além das medidas, eles fizeram diversos desenhos detalhados do OVNI, mostrando que na superfície havia um desenho representando ondas, sulcos circulares na parte superior das abas e algo que lembrava uma tampa com pequenos buracos na parte inferior.

Após a medição, eles decidiram ir mais além e tentar desmontar o OVNI: tentaram abrir aquela tampa na parte de baixo, bateram nele com várias ferramentas, tentaram serrar a parte de cima e até botaram fogo nele, mas o objeto permaneceu intacto. Eles só tiveram um pequeno progresso quando um dos meninos bateu um prego em um dos buracos que existiam na tampa. Apesar do prego sair torto, ele tinha conseguido aumentar o furo. Eles olharam com a ajuda de uma lupa e viram diversos componentes eletrônicos, descrevendo o interior do objeto como o interior de um rádio..


Reconstituição de como seria o OVNI


Naquela noite, Hiroshi colocou o objeto em um saco plástico e depois dentro de uma mochila, fechando com um barbante para garantir que ele não escapasse. Porém, pela manhã, o objeto tinha desaparecido. Inconformados, eles voltaram ao campo de arroz na mesma noite e viram o objeto de novo. Dessa vez, sem medo, eles conseguiram capturar sem maiores problemas. Hiroshi, Michio e Yasuo levaram o objeto de volta para casa e tacaram água por aqueles buracos na tampa, mas não aconteceu nada. Eles deixaram o objeto de lado e foram fazer outras coisas, até que ele começou a emitir uma luz na parte de baixo e um som que parecia com um zumbido de cigarra. Para a surpresa deles, o buraco que eles fizeram estava tapado por dentro com algo que parecia algodão.

Um dos meninos amarrou um fio no objeto e levantou no batente de uma porta, conseguindo fazer a tampa abrir um pouco. Quando olhou lá dentro, ele confirmou o que pareciam ser peças de rádio. Rapidamente a porta se fechou e depois não abriu mais. Hiroshi pediu para Michio e Yasuo olharem o objeto enquanto ele ia chamar os outros para contar sobre as descobertas recentes. Eles decidiram colocar diversas almofadas sobre ele e ficar em cima para garantir que ele não fugisse. Quando Hiroshi chegou com Keikou, para a surpresa de todos, o objeto tinha sumido, ali, bem embaixo das suas mãos.

Poucas horas depois, Kei, que não estava presente quando o objeto sumiu debaixo das almofadas, estava jogando vôlei com Mori no quintal da sua casa. Durante uma jogada, a bola rolou para fora e Kei foi atrás. Para sua surpresa, ele achou o objeto jogado em uma vala que ficava no meio fio e tratou de levar para a casa do Hiroshi. Imaginando que o objeto iria sumir de novo, e preocupados em saber se o objeto que reapareceria era o mesmo, eles pintaram a superfície da borda com um esmalte prateado e também marcaram a com uma caneta à óleo.


Desenhos feitos pelo Kei Ojima


Assim como eles esperavam, o objeto sumiu novamente. O grupo ficou nessa coisa de capturar o OVNI e ele sumir por mais cinco ou seis vezes. Eles puderam confirmar que o objeto era o mesmo, pois a marca feita com caneta na borda continuava lá. Em uma dessas vezes, Hiroshi tinha embrulhado o objeto em um pano e colocado dentro da mochila. Quando estava andando com a mochila nas costas, ele ouviu um som fraco vindo de dentro e rapidamente tratou de abri-la, mas ela estava vazia. Isso aconteceu mais de uma vez. Com medo, um dos garotos chegou a jogar a mochila fora. Para a surpresa deles, Toshiaki encontrou a mochila e o objeto dentro dela.

Em outro dia, Toshiaki amarrou o objeto com um fio elétrico e o colocou em um quarto no andar de cima, fechando bem as janelas para que ele não pudesse escapar. Após uma breve saída, ele voltou e não encontrou mais o objeto, mesmo com todas as portas e janelas fechadas. Quando ele levou o objeto novamente para casa e deixou dentro da mochila, sua mãe disse ter visto uma luz estranha dentro dela. Após a confirmação da mãe de Toshiaki, eles decidiram mostrar o objeto para os pais de Keikou, mas o resultado não foi bem o que eles imaginaram: a mãe dele simplesmente não acreditou na história, enquanto o pai, que era diretor de educação do Centro de Ciências da Cidade de Kochi, viu o objeto e até deu algumas batidas nele com um peso de papel, mas acreditava que não era nada demais.

Os meninos foram até a cidade de Kochi para fazer compras e decidiram levar o objeto na mochila. Para evitar uma nova fuga, eles encheram um saco plástico com água e mergulharam o objeto lá dentro, fechando tudo com barbantes. Eles ainda acreditavam que a água era o ponto fraco dele.- Entretanto, o saco acabou vazando no meio do caminho. Quando eles abriram a mochila, ele não estava mais lá. Estranhamente, o nó da mochila e o arame usado para amarrar a sacola plástica ainda estavam intactos.

Na noite do dia 22 de setembro, eles reencontraram o objeto e decidiram que iriam mostrar para uma das professoras da escola. Para isso, eles colocaram o OVNI em um saco com água, amarraram duas vezes e partiram para a casa de Ikuo de bicicleta. No meio do caminho, Yasuo, que estava segurando o objeto, sentiu um choque forte na mão, como se alguém tivesse puxado ela com toda a força para a direita. Isso fez ele perder o equilíbrio e cair da bicicleta. Depois de ajudar o amigo a se levantar, eles abriram o saco e o objeto novamente tinha sumido. Eles voltaram a procurar o objeto nos campos de arroz, mas ele nunca mais foi encontrado. Nos dias seguintes, as crianças tentaram mostrar as fotos e os desenhos para vários adultos, mas aparentemente ninguém deu atenção para eles. Isso só mudaria quando dois astrônomos se interessassem pelo caso.


O astrônomo Tsutomu Seki


Tsutomu Seki e Koichi Ike eram astrônomos com vasta experiência em meteoros. Koichi inclusive era da cidade vizinha de Kochi e Tsutomu tinha um programa de rádio que falava sobre astronomia e era bastante popular na época. Na esperança de serem ouvidos, os meninos ligaram para o programa 10 dias depois do incidente. Um produtor atendeu a ligação e passou a mensagem para Tsutomu: "Perto do final das férias de verão, um estranho disco voador em forma de chapéu foi descoberto em um campo de arroz perto do complexo Yokohori, na região de Kera. Tinha cerca de 20 centímetros de diâmetro, brilhava à noite e às vezes voava. Desde setembro, nós o capturamos diversas vezes e tentamos trazê-lo para a escola para mostrar aos professores, mas por mais que o pegássemos, ele sempre escapava antes que percebêssemos. Nós nos perguntamos o que era esse objeto estranho".

Sem entender direito do que se tratava, Tsutomu contatou Koichi, que tinha interesse pela área ufológica, e pediu para ele investigar o relato dos meninos. A primeira coisa que Koichi fez foi investigar o campo de arroz, e ele acabou descobrindo que o local já tinha fama de ser assombrado antes mesmo do objeto aparecer: segundo as lendas locais, ali existia um Shiba-ten, um yokai — monstro do folclore japonês — que se parecia com uma criança com pelos por todo o corpo. Uma das coisas que Koichi notou foi que existiam muitas luzes ao redor do local que poderiam ser confundidas com luzes estranhas, inclusive vários holofotes enormes em um campo de golfe próximo do campo do arroz.


Luzes dos holofotes perto do campo de arroz


Depois, ele entrevistou cada uma das crianças para ver se as histórias batiam, e sim, apesar de alguns detalhes diferentes, a história contada por cada um deles era a mesma. Ainda segundo ele, os depoimentos pareciam muito verídicos e os meninos eram estudantes exemplares, sem qualquer tipo de problema de conduta e que não teriam motivo para mentir. Outra coisa que impressionou Koichi foram os desenhos que as crianças fizeram do OVNI, principalmente aquelas marcas estranhas que ele tinha na parte de cima. Koichi também aproveitou a presença dos meninos para tirar várias fotos encenando o que eles tinham vivido com uma réplica do objeto. Ele compilou todas as informações e transformou em um relatório, que posteriormente virou um artigo em uma revista de astronomia, onde ele afirmou que a história era verdadeira e o objeto capturado pelas crianças era “provavelmente um OVNI”.

O artigo chamou a atenção de várias pessoas, inclusive de Junichi Yaoi, diretor do programa noturno “11 PM” da Nippon Television. Esse programa semanal tratava de assuntos sobrenaturais e a história do OVNI de Kera parecia ser uma pauta excelente para o programa. A matéria foi ao ar no dia 10/10/1974 e mostrava entrevistas com os meninos e imagens dos locais onde o objeto apareceu. Dois meses depois, o escritor Shusaku Endo tinha assistido o episódio do 11 PM e decidiu entrevistar novamente as crianças. Como resultado, ele escreveu o ensaio “O disco voador da cidade de Kera”, que tornou o caso mais conhecido.


As crianças em entrevista para Koichi Ike


O caso ficou anos sendo considerado um dos relatos mais confiáveis da ufologia japonesa até que, em 2009, foi realizada uma reinvestigação pelo escritor Kenichi Nishimoto. Ele voltou a Kera e conversou com Keikou Fujimoto, um dos meninos que capturaram o OVNI na época, e ele contou a mesma história de quase 40 anos atrás. Kenichi também conversou com um parente de um dos meninos da época. Esse parente não teve o nome revelado, mas contou que existia uma grande preocupação dos locais com a história do OVNI: Kera tinha recentemente sido incorporada com Kochi e tinha grandes chances de crescer, mas o aparecimento do objeto poderia assustar os investidores e abaixar o valor dos terrenos. Por causa disso, as crianças foram obrigadas a fazer silêncio sobre o que viram durante muito tempo.

Após todas as suas investigações, Kenichi deduziu a seguinte explicação sobre o incidente: segundo ele, apesar do grupo ter 9 meninos, a maioria dos incidentes aconteceu com 3 deles: Hiroshi, Yasuo e Toshiaki. Kenichi disse que seria possível que as crianças tivessem inventado tudo para chamar a atenção, e que o OVNI seria uma criação dos 3 utilizando peças de rádio e adereços de metal de um aterro sanitário que existia no local. Em 2016, uma nova entrevista com o astrônomo Tsutomu Seki trouxe algo inédito até então: segundo ele, um de seus amigos era professor do ensino médio na escola em que alguns dos meninos envolvidos estudavam. Um dia, uma das professoras que dava aula para eles perguntou “Você pode me dizer se essa história é verdadeira?”, quando um dos meninos respondeu “Para falar a verdade, isso foi uma invenção”.


• FONTES: The Flying Saucer That Fell on Kera Village, Otakupapa, Digital Ultra Project, Friday Magazine.

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