A família Goldman viveu uma noite de terror quando um homem armado entrou na casa deles e exigiu uma grande quantia em dinheiro. Como eles não tinham aquele valor no momento, o sequestrador levou Danny, o filho do casal, como refém, e essa foi a última vez que ele foi visto. O que tinha tudo para ser um caso sem solução tomou um rumo inesperado quando, mais de 50 anos depois, um grupo conseguiu desvendar exatamente o que aconteceu..
Essa é a versão escrita do episódio #61 - O Sequestro de Danny Goldman:

Daniel Jess Goldman nasceu no dia 29 de março de 1948, sendo o único filho do casal Aaron e Sally Goldman. A família morava em Surfside, um subúrbio de Miami que, segundo os dados de 2021, tem 5.531 habitantes. Danny, como era normalmente chamado, vivia uma vida bastante confortável com seus pais: Aaron era dono de uma construtora de bastante sucesso, enquanto Sally trabalhava como designer de interiores. Além disso, a família dela tinha um hotel e um restaurante em Miami.
Os Goldman eram judeus, e quando Danny completou 12 anos ele viajou com os pais para Israel para comemorar seu Bar Mitzvá, a cerimônia que insere o jovem judeu como um membro na comunidade judaica. Todos que conheciam Danny disseram que ele nunca deu nenhum problema durante a sua infância e adolescência: ele sempre foi muito gentil, educado, inteligente, mas sua maior qualidade era que ele gostava muito de ajudar os outros. Apesar de ser um jovem tímido com desconhecidos, ele se tornava engraçado quando fazia amizade com alguém.

Danny (ao meio) junto com dois amigos
Mesmo crescendo em uma família com posses, Danny nunca esbanjou o dinheiro dos pais, pelo contrário: ele usou o seu interesse em equipamentos eletrônicos para ganhar o seu próprio dinheiro consertando televisores e rádios dos seus vizinhos. Por falar em rádio, é dito que um dos seus hobbies era o radioamadorismo, que são pessoas que usam aparelhos de rádio para se comunicar a longas distâncias com outras, sem propósito comercial. Ele inclusive tinha uma antena grande instalada na sua casa.
Durante o ensino médio, Danny conheceu Sharon Lloyd e os dois começaram a namorar. Eles passavam bastante tempo juntos e sempre estavam conversando no telefone. Nessa época ele também ganhou do seu pai um Nash Rambler branco que ele passou a dirigir.

Nash Rambler de Danny Goldman
Na madrugada do dia 28 de março de 1966, apenas um dia antes do aniversário de 18 anos de Danny, Aaron e Sally foram acordados por um homem desconhecido usando boné e óculos de sol, apontando um revólver para eles. Esse homem pediu uma quantia de $10.000, que seria equivalente a mais ou menos $80.000 ajustando a inflação. O casal disse que não tinha esse valor em casa e Aaron sugeriu que poderia assinar um cheque com o valor, mas o homem não aceitou. Ele então decidiu amarrar o casal, colocando uma faca e uma tesoura entre a corda e eles, dizendo que, se eles tentassem se soltar, iriam se cortar. Ele também colocou fita isolante na boca deles.
O homem então decidiu procurar o dinheiro pela casa. Durante a busca, o homem acabou encontrando Danny dormindo em seu quarto. Ele acordou o jovem, mandou ele se vestir, amarrou e levou ele para sala sob a mira do revólver. Para o desespero dos pais, o homem avisou que levaria Danny com ele e que o resgate custaria $25.000, quase $200.000 nos dias de hoje. O agora sequestrador disse também que ligaria para acertar os detalhes, e que se ele não tivesse o dinheiro até às 18h daquele dia, o resgate subiria para $50.000, $387.000 nos dias de hoje.
O sequestrador então saiu da casa com Danny, pegou o carro do próprio garoto e dirigiu para longe com ele. Nesse momento, Aaron conseguiu tirar a fita da boca e começou a gritar em desespero por ajuda. Alguns vizinhos ouviram os gritos, um deles foi até a casa dos Goldman e encontrou o casal amarrado. Ele tirou as amarras com cuidado por causa dos objetos cortantes e eles contaram o que tinha acontecido.

Matéria do jornal The Miami News sobre o sequestro de Danny Goldman
A polícia recebeu uma ligação dos Goldman e as buscas começaram 20 minutos após o sequestro. No início, a polícia acreditava que o sequestrador seria alguém conhecido da família, isso porque os Goldman relataram que o homem teria se referido a eles pelos seus nomes, além de que o cachorro da família, que costumava latir bastante, não fez nenhum barulho naquela madrugada.
Perto das 9h30 da manhã, uma mulher que tinha ficado sabendo do sequestro ligou para a polícia de Miami afirmando ter visto um Nash Rambler branco parado em uma rua próxima do seu trabalho. A polícia ligou para Aaron e perguntou as informações do carro, mas como ele estava muito nervoso, ele não conseguiu se lembrar nem ao menos da placa. Por causa disso a polícia acabou descartando inicialmente que fosse o carro de Danny. Entretanto, às 16h da tarde, Harvey Farr, primo de Danny, reconheceu o carro como sendo dele e ligou para a polícia, que agora sim foi até o local e constatou que era o carro certo. Foram retiradas algumas impressões digitais, mas como não havia tecnologia suficiente, nenhum material de DNA foi colhido.
Como o caso envolvia uma família com dinheiro em uma cidade considerada altamente segura, logo a mídia tomou conhecimento e os repórteres começaram a fazer um verdadeiro acampamento na frente da casa dos Goldman, na expectativa por entrevistas e novidades do caso. Por causa da alta cobertura da mídia, tanto o casal quanto a polícia começaram a receber inúmeras ligações de pessoas afirmando terem visto Danny em algum lugar, alegando que conheciam o sequestrador ou apenas para desejar que tudo desse certo. Eles ficaram por horas ao lado do telefone, entretanto, a ligação do sequestrador nunca veio.

Aaron e Sally Goldman
A polícia local não tinha novas pistas e o caso começou a esfriar. Nessa época, Aaron começou a dar algumas entrevistas mostrando um descontentamento com a investigação. O FBI assumiu o caso, e como parecia que o sequestrador não estava interessado no dinheiro, eles partiram para outras direções: Aaron era uma figura bastante conhecida na região de Miami, então era possível que alguém tivesse feito algo com seu filho como uma espécie de retaliação.
Alguns meses antes do sequestro, Aaron tinha participado como membro da mesa diretora de dois bancos locais, além de acionista. Em um desses bancos, o Banco Nacional de Miami, Aaron teria descoberto um desvio de dinheiro por parte dos diretores e se afastou. Mas não foi o caso do Banco Nacional de Miami que chamou a atenção do FBI, mas sim o do Five Points Bank: segundo relatórios, Aaron teria cooperado com investigações sobre lavagem de dinheiro e fraudes que aconteciam lá dentro e envolviam membros do alto escalão e da máfia local.

Detetives interrogando vizinhos da família Goldman
Dentre os membros da máfia investigados estavam Meyer Lansky, Jimmy Hoffa e Santo Trafficante, considerado um dos maiores mafiosos da História americana. Também foi descoberto que, 4 dias antes do sequestro, um dossiê tinha sido apresentado contendo muitas evidências contra mafiosos locais. Mesmo sabendo do envolvimento de Meyes e Santo, eles não eram citados. Por causa disso, começou um burburinho de que alguém tinha mexido os pauzinhos para livrar eles das investigações, ao mesmo tempo em que o nome de Aaron Goldman teria vazado como sendo um informante.
Parecia que o caso estava tomando um novo rumo e que seria possível descobrir a verdade, mas foi nesse exato momento que a investigação parou completamente. Ninguém foi oficialmente investigado como suspeito e o caso foi classificado como “fechado administrativamente”. Durante décadas os Goldman tentaram manter alguma esperança de uma nova pista ou da reabertura do caso, mas ele permaneceu praticamente intocável. Aaron faleceu em 2010 e Sally em 2012, sem nunca terem descoberto o que aconteceu com seu único filho. O caso tinha tudo para se tornar um grande mistério que nunca teria solução, até que, 55 anos depois, um grupo de moradores locais se uniu e conseguiu desvendar o que aconteceu com Danny Goldman naquela noite.

Santo Trafficante, um dos maiores mafiosos dos Estados Unidos
Em março de 2012, um grupo de residentes de Surfside decidiu fazer uma investigação por conta própria. Nesse grupo haviam pessoas que conheciam Danny pessoalmente, incluindo Paul Novack, um advogado que já tinha sido prefeito de Surfside e era vizinho e amigo de Danny na época do caso. O grupo analisou diversos relatórios da época, fizeram entrevistas e encontraram novas pistas: dentre elas, diversas conexões entre o crime organizado e autoridades locais, que trabalhavam para ocultar diversas irregularidades na região.
Como foi dito anteriormente, Aaron Goldman realmente trabalhou junto com agentes federais como informante desses casos, e o grupo descobriu que foi isso que motivou o sequestro de Danny. A investigação conseguiu montar uma linha do tempo com diversos detalhes dos crimes da máfia, pessoas daquela época foram entrevistadas e apareceu algo muito importante: uma amostra de DNA e uma impressão digital que foram recuperados dos arquivos do caso. A equipe compartilhou as descobertas com a Unidade de Casos Arquivados do Departamento de Homicídios da Flórida, que oficialmente reabriu o caso.

Paul Novack
Com a ajuda de pistas circunstanciais, entrevistas e do material que foi coletado, a equipe conseguiu descobrir a identidade do sequestrador: um mafioso chamado George Defeis, que tinha ligações com membros do Chefe dos Detetives e do Gabinete do Xerife, responsáveis originalmente pelo caso, e foi por isso que a investigação não saiu do lugar. Posteriormente, muitas dessas autoridades foram indiciadas por diversos crimes de corrupção, mas todos foram liberados sem nunca terem sido julgados.
Além de George Defeis, outro homem chamado Joe Cacciatore também participou do crime. Os dois eram próximos do mafioso Santo Trafficante, sendo que Joe inclusive era primo de primeiro grau dele. A equipe comparou as impressões dos mafiosos com as que tinham sido retiradas do carro de Danny e conseguiu colocar os dois na cena do crime. Eles também descobriram que Joe Cacciatore tinha um apartamento a apenas 2 quarteirões de onde o carro de Danny foi abandonado após o sequestro. Após ter sido levado para lá, Danny foi assassinado. George e Joe levaram o corpo para a Maule Lake Marina em North Miami Beach e jogaram ao mar.

George Defeis
Além de George Defeis e Joe Cacciatore, também foi descoberto que mais pessoas participaram do plano para sequestrar Danny, incluindo Wally Jefferson, que era motorista da Polícia de Miami; David Helman, chefe interino de inteligência do departamento do xerife do condado de Dade; e Charlie Lloyd, um contrabandista local. Reconhece o sobrenome Lloyd? Charlie era pai de Sharon Lloyd, a namorada de Danny.
Com as novas descobertas, o caso foi oficialmente encerrado no dia 28 de dezembro de 2021, porém, todos os envolvidos já estavam mortos e ninguém foi preso ou indiciado pelo crime. Sharon Lloyd acabou se envolvendo com Wally Jefferson e se casou com ele. Ela chegou a dar uma entrevista dizendo que nunca tinha passado pela sua cabeça que seu falecido marido tivesse algo a ver com o sequestro do seu ex namorado.
Reportagem sobre a resolução do sequestro (em inglês)
• FONTES: Surfside Kidnapping, People, Oxygen, Miami Herald, Daily Mail, CBS, NewsNation.
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