#47 - João Prestes: o Homem que Derreteu | MISTÉRIOS
- Rodolfo Brenner
- 2 de abr de 2023
- 5 min de leitura
Nos anos 40, um estranho incidente afetou para sempre a vida de um homem em uma pequena cidade no estado de São Paulo. Seria um caso de ataque alienígena ou haveria uma explicação natural? Esse é o podcast Clube dos Detetives, eu sou o Rodolfo, e hoje vamos falar do caso João Prestes, o homem que derreteu.
Essa é a versão escrita do episódio #47 - João Prestes: o Homem que Derreteu:

O caso aconteceu em 4 de março de 1946, na cidade de Araçariguama, região metropolitana de Sorocaba. Naquela época a cidade era um vilarejo que ficava a 7km da cidade mais próxima, São Roque. Era época de carnaval, e um lavrador chamado João Prestes Filho, de 44 anos, decidiu aproveitar o feriado para pescar enquanto sua esposa e filhos foram para a festa. Ao retornar para casa, João abriu uma das janelas da residência quando foi irradiado por uma luz muito forte, mas algumas fontes mais próximas dizem que João relatou que era algo como uma “tocha de fogo”. Na mesma hora ele caiu no chão e sentiu que seu corpo estava ardendo.
Sem entender direito o que tinha acontecido, João se enrolou em uma manta e caminhou mais de 2 quilômetros até a casa da sua irmã, que chamou o delegado João Malaquias para ver o seu estado. João disse para o delegado que o que tinha atacado ele “não era coisa desse mundo”. O irmão e o sobrinho de João relataram que ele estava queimado da cintura pra cima, e que foi levado para o hospital mais próximo, que ficava em Santana do Parnaíba, à 20 km de distância. Infelizmente ele morreu antes de chegar ao hospital. Na sua certidão de óbito constava que João Prestes morreu por colapso cardíaco, e que apresentava queimaduras generalizadas de primeiro e segundo grau.
Aqui existe uma divergência muito grande de algumas publicações: segundo o que é relatado pela pesquisa dos ufólogos Pablo Villarrubia e Cláudio Suenaga, diversas publicações internacionais sobre o caso relataram que a morte de João Prestes teria sido horrível, quase como em um filme de terror, com pedaços desprendendo de seu corpo. Entretanto, parentes da vítima disseram que, apesar de apresentar queimaduras graves pelo corpo, principalmente nas mãos e no rosto, não haviam lesões corporais. Seus cabelos e pelos corporais também estavam intactos. O irmão de João, Roque Prestes, era subdelegado da polícia de Santana do Parnaíba, e pediu que uma equipe da polícia científica da época investigar o caso. Foi constatado que, na casa de João, não havia mais nada queimado, nem mesmo suas roupas. Eles também não conseguiram encontrar nenhuma testemunha ou suspeito de ter feito aquilo.

Araçariguama - SP
O caso de João não era isolado: outros fenômenos estavam sendo relatados na região de Araçariguama, principalmente bolas de fogo que eram vistas cruzando o céu durante a noite. Também haviam relatos de um lobisomem na década de 20. Emiliano Prestes, outro irmão de João, contou que alguns meses após a morte dele, estava caminhando por um bosque de Araçariguama quando viu uma tocha de fogo no ar. Ele ficou bastante assustando e se escondeu em um barranco, quando percebeu que aquilo estava seguindo ele. Emiliano se ajoelhou e rezou pela sua vida, e chegou a sentir o calor intenso que emanava daquilo. De repente, a tocha se afastou e desapareceu.
Uma testemunha dos ferimentos de João, Vergílio Francisco Alves, deu entrevista aos ufólogos e contou uma informação até então desconhecida: segundo ele, quando João era jovem e trabalhava como tropeiro juntamente com seu pai, ele viu uma bola fogo que caiu do céu e quase acertou ele. Segundo Vergílio, naquela época era muito comum os relatos de bolas de fogo descendo do céu e caindo no chão, com cores que variavam do vermelho ou amarelo. Os moradores do local chamavam aquilo de “luz do boitatá” ou “mãe de ouro”.

Vergílio Francisco Alves
Boitatá é a junção de duas palavras em tupi: mba'e (coisa) e tatá (fogo), e é usada para designar fenômenos de bolas de fogo na cultura popular. Existem algumas variações do nome pelo Brasil, como baitatá ou batatá no Sul, biatatá e batatão no Nordeste e bata em partes do Sudeste. No folclore nacional, o boitatá é descrito como uma enorme cobra de fogo que vive dentro de rios e lagos dentro das florestas brasileiras. Algumas versões dizem que o boitatá pode se transformar em um tronco de árvore flamejante, que ataca aqueles que não respeitam a mata, principalmente os que colocam fogo nela.
Um dos primeiros registros escritos sobre a lenda é de 1560, em uma carta do Padre José de Anchieta: "Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer coisa de fogo [...] Não se vê outra coisa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza”.
Hoje as visões de boitatá e de bolas de fogo no céu são atribuídas a um fenômeno chamado de fogo-fátuo: o fogo-fátuo ocorre quando um ser vivo morre e começa a ser decomposto pelas bactérias. Esse processo produz gases que se desprendem do corpo e, em contato com o ar, entram em combustão espontânea, produzindo uma chama que dura poucos segundos.

Imagem de Fogo-fátuo em cima de lago
Após a morte de João Prestes, sua família ficou com medo de voltar para casa e precisou se mudar. A casa foi derrubada, pois alguns acreditavam que ela era amaldiçoada. Posteriormente surgiram outras histórias de aparições pela cidade: em 1955, trabalhadores de uma fábrica de cimento viram um objeto voador no céu, do tamanho de um caminhão e de uma cor que lembrava alumínio, que soltava uma fumaça esbranquiçada. Menos de 1 hora depois, os trabalhadores viram pelo menos cinco aviões da FAB sobrevoado o local.
Em 1960, um motorista de ônibus chamado Celso Gomide vinha de São Roque para Araçariguama quando viu uma luz vermelha que fez ele parar o veículo. A luz rodeou o ônibus por 20 minutos até desaparecer. Em 1989, o coveiro Nelson Oliveira relatou ter visto um objeto redondo, segundo ele “era como um chapéu, mas ao contrário”, feito de alumínio cintilante e que se movimentava devagar e em linha reta.

Representação de João Prestes sendo atingido pela luz misteriosa
Para o ufólogo Antonio Ribera, João teria sido queimado acidentalmente pelo sistema de propulsão de uma nave espacial. Do outro lado, cientistas e estudiosos mais céticos que estudaram o caso acreditam que João foi atingido por um raio, algo que não é raro, principalmente se tratando do Brasil: o nosso país é o local onde mais caem raios no mundo, matando em média 110 pessoas por ano.
Os raios podem ser perigosos até quando o céu não está coberto por nuvens de tempestade: quando a chuva cai em regiões muito secas, ela pode evaporar antes mesmo de chegar ao solo, podendo apresentar raios sem chuva. Outro fenômeno raro e perigoso é o “raio de céu azul”, quando uma descarga sai de uma nuvem e se desloca na horizontal e atinge um local distante. Em 2019, uma mãe e sua filha morreram em Registro, no estado de São Paulo, enquanto estavam colhendo frutas em um sítio e foram atingidas por um desses raios. Segundo testemunhas, havia nuvens carregadas nas redondezas, mas não no local onde ele caiu.

Infográfico com informações sobre raios no Brasil (Fonte: Superinteressante)
O caso foi documentado por uma TV espanhola, que gravou um pequeno documentário sobre o caso. Além dele, o programa Balanço Geral fez uma extensa matéria sobre o caso, entrevistando antigos moradores da cidade que confirmaram as presenças de luzes estranhas no céu. Apesar das pesquisas, nunca se soube o que exatamente aconteceu com João Prestes naquele dia.
• FONTES: Portal Fenomenum, Superinteressante, Revista Galileu, G1.