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  • Foto do escritorRodolfo Brenner

#43 - Bashir Kouchacji: Ligações Misteriosa | MISTÉRIOS

Você também odeia atender o telefone? Durante quase 10 anos, o dono de um restaurante recebeu uma série de ligações anônimas e perturbadoras, que por pouco não levaram ele a insanidade. Mas quem poderia estar por trás disso?


Essa é a versão escrita do episódio #43 - Bashir Kouchacji: Ligações Misteriosa:



Bashir Kouchacji nasceu na Síria, era filho de armênios católicos, mas cresceu no Líbano. No início dos anos 70, ele trabalhava como escritor para uma revista de língua francesa em Beirute quando conheceu e se casou com uma cantora americana chamada Gail. Os dois se mudaram para os Estados Unidos, onde ele conseguiu a cidade americana, e passou a trabalhar como sommelier em restaurantes da área de Nova York.

Na noite de 30 de junho de 1974, Bashir e sua esposa estavam em Beirute, capital do Líbano, onde ela estava cantando na festa de noivado de uma princesa saudita. Bashir tinha combinado de buscar a esposa às 23h30, ele esperou até 1h da manhã, mas ela não apareceu. Por algum motivo que não fica bem explicado, ele entendeu que estava esperando no lugar errado e decidiu voltar para casa.

Quando ele estava virando a esquina, viu que a rua estava bloqueada por um carro. Quando ele se aproximou, quatro homens armados com metralhadoras saíram, arrastaram ele para fora do seu carro e o levaram até um campo de refugiados palestinos. Até o momento ele estava pensando que os sequestradores eram ladrões, mas quando chegou ao local ele percebeu que provavelmente era por algum grupo que estava envolvido nos conflitos políticos da região após o estabelecimento do estado de Israel. Como ele não era árabe e nem judeu, pensou que rapidamente conseguiria esclarecer o mal entendido e seria liberado.

Quando perguntaram sua identidade e ele disse que era um cidadão americano, ao invés de ser acusado de estar no conflito étnico-político da região, ele foi acusado de ser um espião da CIA. Por causa disso, ele foi deixado em um porão sem janelas por cinco dias, e lá ele era torturado a cada duas horas. Convencido de que ia ser torturado até a morte, Bashir cortou os pulsos com a ajuda de uma tigela de plástico e abriu os cortes com os dentes. Os sequestradores encontraram ele em uma poça de sangue e levaram ele para um hospital, onde foi tratado, conseguiu falar com a embaixada americana e posteriormente liberado.

Bashir Kouchacji


Depois de se divorciar da esposa e voltar para os Estados Unidos, Bashir decidiu abrir o próprio restaurante: depois de um restaurante de sucesso em Hollywood, em 1983, ele e a irmã abriram um restaurante marroquino chamado Marrakesh Restaurant em Washington, DC, que posteriormente chegou a ter uma segunda unidade na Filadélfia.

Ainda durante a construção do restaurante de Washington, Bashir instalou uma linha telefônica no local, porque seria importante no futuro do restaurante, e naquela época esse procedimento demorava um pouco mais do que hoje. Entretanto, ele começou a receber algumas ligações no mínimo “esquisitas”: primeiro eram ligações silenciosas, em que a pessoa do outro lado da linha não falava nada. Depois, as ligações tinham sons estranhos e risadas macabras. Ele até colocou uma secretária eletrônica, mas as ligações não paravam.

Depois que o restaurante abriu, o conteúdo das ligações piorou ainda mais: agora, um alguém ameaçava a vida de Bashir ou de qualquer outro funcionário que atendesse. Também eram ouvidos gritos e sons de tiros. Depois, a pessoa do outro lado da linha começou a contar detalhes da vida de Bashir, como se conhecesse ele pessoalmente.

Uma das coisas mais bizarras é que, na maioria das vezes, quem ligava falava com uma voz infantil. Por causa disso, o estranho do outro lado da linha ganhou o apelido de “L'Enfant”, que significa "a criança" em francês. Outras vezes, quem fazia as ameaças era uma voz feminina ou um homem com sotaque do oriente médio. No total, o restaurante recebia em média de 15 a 20 ligações por dia, e quando ele viajava para o restaurante da Filadélfia, as ligações seguiam ele até a outra unidade.


Marrakesh Restaurant em Washington: hoje o lugar não existe mais


Além das ligações, Bashir começou a suspeitar que alguém estava sabotando seus carros: primeiro, ele descobriu que alguém tinha desenhado estrelas de Davi em uma Mercedes; em outra ocasião, seu Jeep começou a superaquecer e ele descobriu que alguém havia adulterado os cabos das velas de ignição, que por pouco não acenderam as linhas de combustível.

A rotatividade dos funcionários do restaurante era muito alta: muitos tinham medo das ameaças que sofriam ao atender o telefone. Uma fonte diz que um dos funcionários teve um colapso nervoso e ficou um mês internado. Depois dessas ameaças, Bashir procurou o FBI para dizer o que estava acontecendo. Os agentes montaram uma unidade para cuidar do caso, e se surpreenderam com o que encontraram: durante um período de 18 meses, Bashir recebeu mais de 3.000 ligações ameaçadoras.

Foi descoberto que as ligações eram feitas de diversos telefones públicos da área metropolitana de Washington, e que algumas delas tinham um intervalo de segundos, o que significava que pelo menos mais de uma pessoa estava envolvida. Mesmo identificando os orelhões e colocar agentes disfarçados, o FBI não conseguiu pegar ninguém em flagrante.

Depois de tanto transtorno causado pelas ligações, Bashir não estava mais comendo ou dormindo, e decidiu se internar voluntariamente na ala psiquiátrica do Sibley Memorial Hospital. Entretanto, as ligações do L’Enfant continuaram por lá, pelo menos uma vez por dia. Apenas três semanas depois de Bashir ter dado entrada no hospital, o filho do gerente substituto do seu restaurante foi atacado por dois homens enquanto voltava da escola para casa. L'Enfant ligou para o gerente e assumiu o ataque, e alguns dias depois, uma mensagem ameaçando a vida do filho do gerente foi pintada com spray na porta da frente da casa deles.

As ligações só pararam em 1993, quando a história de Bashir foi apresentada no programa Unsolved Mysteries, que hoje pertence a Netflix, mas na década de 80 e 90 tinha um formato parecido com o Linha Direta.

O caso de Bashir Kouchacji no programa Unsolved Mysteries

A única teoria que Bashir tinha era de que as ligações estavam ligadas com o sequestro que ele tinha sofrido nos anos 70, para lembra-lo que ele tinha escapado e lembrava do rosto dos sequestradores. Posteriormente, foi revelado através de documentos do Departamento de Estado que os sequestradores de Bashir provavelmente faziam parte da Organização de Libertação da Palestina.

O jornalista Lewis Beale, que chegou a cobrir o caso na época, tinha uma teoria interessante: os sequestradores ou seus superiores estavam envolvidos com políticos ou traficantes de armas que frequentavam as festas da alta sociedade que a esposa de Bashir cantava. Essa pessoa pode ter ido para os Estados Unidos e, com medo de ser identificado por Bashir, resolveu ameaçá-lo.

Em 2002, Bashir e seu restaurante se envolveram em uma polêmica: em um anúncio do Marrakesh no Washington Post, ele colocou a frase “Os sionistas transformaram as crenças judaicas em um partido político a serviço do ódio e ganância?”. Nesse ponto, ele acreditava que o responsável pelo seu sequestro tinha sido o governo israelense. Para piorar, Bashir lançou um site de extremista com discursos antissemitas, racistas, homofóbicos e misóginos, que posteriormente foi retirado do ar.

Segundo médicos e familiares, ele, que era um homem culto, elegante, alegre e que falava 5 idiomas, teve uma grande piora no seu estado mental depois das ligações, um quadro sério de Transtorno de Estresse Pós-Traumático com sintomas de paranoicos. Até hoje, o responsável pelo sequestro e pelas ligações misteriosas permanece desconhecido.


FONTES: Unsolved Mysteries, The Washington Post, Los Angeles Times.

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