Durante um período de 9 meses, um assassino estuprou, matou e bebeu o sangue de crianças nos arredores do Rio de Janeiro. Ele quase não foi pego, se não fosse um sobrevivente.
Essa é a versão escrita do episódio #37 - Marcelo Costa de Andrade, o Vampiro de Niterói:

Marcelo Costa de Andrade nasceu no Rio de Janeiro em 2 de janeiro de 1967. Ele morava na favela da Rocinha com seus pais, a mãe dele se chamava Sônia e era empregada doméstica e o pai nunca teve o nome revelado e era balconista de um bar. O pai era muito violento e abusivo com a mãe, com o Marcelo e com os irmãos dele. Quando o Marcelo tinha 5 anos, na expectativa de dar uma vida melhor pra ele, sua mãe mandou ele para morar com os avós maternos em Sobral, no Ceará.
Essa mudança não foi muito fácil pro Marcelo, ele nunca tinha visto os avós, e por isso ele passava muito tempo chorando e pedindo pela mãe. Os avós moravam em um Açude, e lá o Marcelo apanhava muito, chegando a sofrer diversas concussões, algumas delas chegaram a causar sangramentos no nariz. Além disso, ele tinha vários problemas de aprendizagem, sempre ia mal na escola e mal conseguia acompanhar os colegas, que sempre faziam bullying com ele, chamando ele de burro, retardado e outros nomes. Uma coisa que chama a atenção é que, durante a infância, ele chegou a matar alguns gatos, sem nenhum motivo. Ele também dizia ver vultos e ouvir vozes.

O quarto de Marcelo
Quando ele tinha 10 anos, a mãe, já divorciada, reapareceu para busca-lo. Ela tinha ficado tão ausente da vida dele que o Marcelo mal se lembrava dela, e a separação dos avós foi bem traumática para ele. Nessa época ele foi morar com a mãe e com um padrasto em São Gonçalo, no estado do Rio. Da mesma forma que o pai, o padrasto também era abusivo com a Sônia, então o casamento acabou não durando muito. Nesse tempo logo ela arranjou um emprego de doméstica em tempo integral e foi morar na casa onde trabalhava, e mandou o Marcelo morar com o pai em Magalhães Bastos, zona oeste do Rio de Janeiro. Nessa época o pai estava casado com uma mulher chamada Vilma, que não gostava nem um pouco do Marcelo, e apesar de nunca ter batido nele, ela dizia para o pai que não queria que o Marcelo morasse com eles, não dava comida e chamava ele de estranho. O pai decidiu internar ele em um lar temporário, mas ele acabou fugindo.
Depois da fuga, ele passou a morar nas ruas, primeiramente na região da Central do Brasil e da Cinelândia, indo eventualmente visitar o pai em casa. Foi morando na rua que o Marcelo foi abusado sexualmente, e depois de um tempo passou a se prostituir em troca de dinheiro ou comida.

Cinelândia, Rio de Janeiro
Quando Marcelo tinha 16 anos, ele continuava se prostituindo, e já tinha várias passagens pela FEBEM, que na época era a instituição para onde iam os menores infratores. O dinheiro que ele ganhava era usado para ele viajar: Marcelo ia pegando ônibus e pedindo caronas até chegar no seu destino, mas quando o dinheiro acabava, ele ia até uma FEBEM ou FUNABEM e era mandado de volta para o Rio de Janeiro. Com 17 anos, ele decidiu ir para o Ceará atrás dos seus avós. Ele foi pedindo carona e parando nas cidades pelo caminho, e depois de tanto insistir conseguiu chegar até o Açude, mas só encontrou uma tia por lá. Ele até tentou ficar um tempo ali, mas a tia fazia de tudo para ele ir embora, e ele foi, mas antes roubou a sua bolsa como “vingança” pelo tratamento que ela deu a ele.
Quando voltou para o Rio de Janeiro, ele tentou voltar a morar com o pai, mas ele não aceitou o filho de volta, então Marcelo foi obrigado a voltar para as ruas. Algum tempo depois ele conheceu um homem de 48 anos e ficou morando com ele durante 4 anos em um quarto alugado no centro do Rio. O relacionamento terminou quando esse homem decidiu se mudar para Salvador.
Após isso, ele decidiu ir morar com a mãe em Itaboraí, região metropolitana do Rio. Nessa época ele tinha 23 anos e passou a trabalhar em vários empregos temporários como entregador de panfletos e vendedor de bala, mas ele nunca parava neles. Ele também passou a frequentar a Igreja Universal do Reino de Deus, comparecendo nos cultos 4 vezes por semana. Foi em um desses cultos que ele ouviu que, quando uma criança morre, ela ia direto para o céu. Essa frase o impactou muito, e vai ser importante para entender o que levou ele a começar a matar.

Igreja Universal do Reino de Deus em Itaboraí
Nos anos 90, o estado do Rio de Janeiro era bastante perigoso, com altas taxas de homicídio, roubo e de crianças em situação de abandono. Em abril de 1991, Marcelo estava voltando do trabalho quando viu um garoto vendendo doces. Ele ofereceu dinheiro e comida para o garoto, contanto que ele o acompanhasse até um altar para acender velas para São Jorge. Eles pegaram um ônibus até as proximidades do Viaduto do Barreto, que fica na divisa entre Niterói e São Gonçalo.
Chegando lá, ele levou a vítima até um matagal e tentou abusar da criança, mas como ele resistiu, Marcelo enforcou o menino com a própria camiseta dele e deixou o corpo nesse matagal. Como a vítima era uma criança em situação de rua, ela não foi dada como desaparecida, e o caso ficou por isso mesmo. Marcelo chegou a visitar o corpo dele dois meses depois do crime e levou a bermuda que o garoto usava e também alguns dentes. Apesar de se sentir culpado por ter matado o garoto, ele lembrou da frase que tinha ouvido no culto e entendia que aquela criança era pura, não tinha feito nenhum pecado em vida e agora estava no céu.
Algum tempo depois, Marcelo encontrou um garoto que estava em um ponto de ônibus e convenceu ele a segui-lo com a mesma história de acender vela para São Jorge. Ele levou o garoto para um túnel, estuprou e matou ele enforcado. Depois, abandonou o corpo e levou sua bermuda. A terceira vítima foi um menino de 7 anos, que Marcelo encontrou nas ruas de Niterói. Contando a mesma história, ele levou o garoto para uma construção abandonada e abusou dele. Quando o garoto caiu no sono, ele pegou uma pedra e bateu na cabeça dele. Quando ele viu que o sangue começou a escorrer, Marcelo pegou uma vasilha, encheu com o sangue e bebeu. Pra ele, beber o sangue daquela criança significava que ele podia ficar tão lindo e tão puro quanto ela. Antes de ir embora ele estuprou o cadáver e levou a bermuda do garoto. Nessa época, Marcelo trabalhava entregando panfletos para uma loja que comprava ouro em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele contou em entrevista que aconteceu dele chegar sujo de sangue no trabalho, inventar uma desculpa e ninguém questionar.
A quarta vítima foi um menino que estava vendendo Picolé em Niterói. Marcelo atraiu o garoto dizendo que queria acender uma vela para o anjo da guarda dele e levou ele até um morro onde espancou e estuprou o garoto até o dia seguinte. Quando o sol nasceu, ele pegou uma pedra, bateu na cabeça dele, coletou e bebeu o sangue assim como na vítima anterior. Depois enforcou ele para terminar de matar. A quinta vítima foi em São João de Meriti: Marcelo levou um garoto até um túnel, estuprou ele, esfaqueou ele com uma chave de fenda e depois acertou sua cabeça com uma pedra, repetindo o ritual de beber o sangue.
A sexta vítima foi um menino que Marcelo conheceu no trem. Ele levou o garoto para um lugar deserto perto da estação de trem Comendador Soares, bateu e estuprou ele. Ele manteve o garoto vivo a noite toda e só matou ele enforcado quando o dia nasceu. Ele não bebeu o sangue dessa vítima porque, segundo ele, não tinha nada para bater na cabeça do menino. A sétima vítima foi feita em São Pedro da Aldeia: Marcelo atraiu um menino que morava na rua oferecendo café e pão para ele, contanto que ele fosse acender as velas com ele. Quando eles chegaram em um matagal, ele estuprou e enforcou o menino. Esse foi o primeiro crime que ele cometeu durante o dia, e também foi o primeiro que ele não levou a bermuda como troféu.
A oitava vítima era uma criança que morava na Central do Brasil: ele levou o menino para aquela construção abandonada onde ele matou a terceira vítima em Niterói. Dessa vez ele bateu na cabeça do garoto e bebeu o sangue dele antes de cometer o estupro. Depois do ato, ele pegou a bermuda e deixou o garoto lá ainda com vida. Alguns dias depois ele viu que alguém tinha encontrado o corpo e o caso até chegou a ir para um jornal.
A nona vítima foi feita em Manilha, onde Marcelo morava: era um garoto que estava pedindo dinheiro em um posto de gasolina próximo. Marcelo se aproximou e se ofereceu para pagar um lanche para ele. Depois, disse que levaria ele até a casa de uma tia e que lá ele ganharia alguns alimentos para levar para a família dele. Ao invés disso, ele levou o garoto para um matagal, agrediu, estuprou e enforcou ele.
Como o local do crime era perto de sua casa, Marcelo foi até em casa e pediu um facão para sua mãe. Ela achou a atitude estranha e perguntou porque o filho precisava de um facão naquela hora da noite, mas ele só pegou o objeto e não respondeu. Marcelo usou o facão para decapitar o menino e “garantir que ele estava morto”. Quando ele voltou para casa, a Sônia viu que as roupas e o facão estavam sujos de sangue e perguntou o que tinha acontecido, e Marcelo disse que tinha matado um porco. O caso saiu nos jornais e a mãe do Marcelo chegou a comentar com ele sobre, mas ele desconversou.
A décima vítima foi um menino de apenas 5 anos de idade de Duque de Caxias, que Marcelo atraiu com a promessa de um lanche, e depois de conhecer a casa dele. Os dois foram até Niterói onde ele agrediu o menino com uma pedra e bebeu seu sangue. Depois, matou ele afogado em um rio próximo. O décimo primeiro menino foi abordado na Central do Brasil. Da mesma forma que o último, ele pagou um lanche pra ele e convidou ele para ir para a sua casa. Diferente de algumas vítimas, essa criança tinha família, inclusive eles estavam por perto naquele dia, mas aparentemente não deram falta do garoto em um primeiro momento. - Ele levou o menino para um terreno baldio e tentou estupra-lo, mas não conseguiu porque o garoto era novo demais. Depois, ele matou o menino afogado em um riacho que tinha ali.

Central do Brasil
No dia 11 de dezembro de 1991, os irmãos Ivan e Altair saíram de sua casa para ir para o centro de Niterói, na esperança de conseguir um trocado ou algo para comer. Eles moravam em uma casa muito simples junto com a mãe, que era viúva e estava desempregada, e mais 5 irmãos. Os dois garotos passavam pela estação central de Niterói quando foram abordados por Marcelo, que ofereceu uma quantia, algumas fontes dizem 3 ou 4 mil cruzeiros, para que os dois o ajudassem a acender as velas.
Os três pegaram um ônibus e foram parar numa praia deserta, nos arredores do Viaduto do Barreto. Lá eles entraram em uma tubulação de esgoto, onde Marcelo tentou beijar Altair, que ficou com medo e fugiu, mas foi capturado logo em seguida. Depois, ele abusou de Ivan e o enforcou, dizendo para Altair que o seu irmão estava apenas dormindo. Marcelo disse que se ele gritasse ou fugisse ele iria morrer, e Altair, que estava muito assustado, passou a fazer tudo o que Marcelo queria: primeiro ele levou o garoto até um posto de gasolina para ele se limpar, depois dormiu com ele em um matagal próximo, e na manhã seguinte os dois foram para o Rio de Janeiro. No caminho, Marcelo disse que queria morar com Altair, e ele com medo concordou. Posteriormente ele disse que teve piedade do garoto porque ele era "bonzinho”.
Os dois seguiram até o trabalho de Marcelo, que na época era entregador de panfletos, para pegar um cheque de pagamento. Os dois foram até um banco, onde Marcelo disse para o garoto esperar, mas ele fugiu assim que conseguiu. Altair conseguiu chegar em casa horas depois, completamente atordoado. Sua mãe perguntou pelo irmão, e ele disse que os dois tinham se desencontrado no centro de Niterói.
Nos dias que se passaram, a mãe procurou por Ivan em vários lugares, mas não encontrou nada. Uma das irmãs dos garotos estava desconfiada que algo não estava certo e pressionou o garoto a contar a verdade. Quando a mãe ficou sabendo da história, Ivan já estava no IML: um pescador encontrou o corpo e chamou a polícia. Depois do reconhecimento do corpo, finalmente mãe e filho deram seus depoimentos na polícia, que até o momento não sabia por onde começar as investigações. Altair contou onde Marcelo trabalhava, a polícia foi até lá para prendê-lo e ele rapidamente confessou o crime.

Marcelo Costa algemado
Marcelo foi levado para a delegacia de Niterói, e os investigadores pediram um representante do judiciário no interrogatório para assegurar que o suspeito não alegasse posteriormente que foi forçado ou torturado para dar o seu depoimento. Segundo o delegado, Marcelo não parava de rir durante o interrogatório, contando em detalhes o caso enquanto fazia uma cara muito estranha. Mesmo rindo, ele não demonstrava nenhuma emoção.
Até aquele momento as autoridades acreditavam que aquele era o único assassinato, mas logo depois Marcelo confirmou ser o autor de mais doze, incluindo o de mais um menino no período em que Ivan estava desaparecido. No total foram 13 assassinatos de meninos entre 5 e 13 anos em um período de 9 meses. A mãe de Marcelo descobriu que ele estava preso e foi para a delegacia: em seu depoimento, ela disse que Marcelo havia ficado muito agressivo nos últimos meses e evitava que ele tivesse contato com os seus irmãos menores. Na casa de Marcelo, a polícia descobriu uma caixa de isopor com as bermudas que ele guardava de suas vítimas e o facão usado para decapitar uma das crianças.

Sônia, a mãe de Marcelo
Posteriormente Marcelo confessou que havia matado um menino em uma pedreira em Belo Horizonte. Isso levou os investigadores do Rio de Janeiro até Minas Gerais, onde eles procuraram o corpo no local em que ele disse que tinha cometido o crime, mas não encontraram nada. Não se sabe se o garoto sobreviveu e fugiu ou ele realmente morreu e o corpo foi triturado acidentalmente. Em março de 1992, Marcelo foi internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho, no Rio de Janeiro, para ser submetido a um exame de sanidade mental. Ele passou 45 dias sendo observado, além de entrevistas com toda a sua família. Quem cuidou do caso foi o psiquiatra forense Dr. Miguel Chalub, que considerava o Marcelo parcialmente responsável pelos crimes. Segundo ele “Essa vida marginal, sem valores, ligado apenas à sobrevivência pessoal… preocupado apenas com o que que eu vou comer amanhã, onde vou dormir… isso leva uma pessoa a ter esse tipo de conduta, muito desviada da norma social”.

Marcelo sorri enquanto é levado pelos policiais
O juiz não aceitou o laudo e considerou Marcelo como inimputável perante às leis brasileiras. Ele não chegou a ser julgado pelos crimes, e sim foi condenado a internação em um hospital psiquiátrico por tempo indeterminado, e passaria por novas avaliações em um período de três em três anos. A pena causou uma certa comoção entre os estudiosos: no mesmo período, o serial killer Jeffrey Dahmer também estava nos holofotes e tinha sido considerado culpado, julgado e condenado nos Estados Unidos. A comparação entre os casos foi imediata. O diagnóstico de Marcelo varia nas fontes, mas o que mais aparece é esquizofrenia, psicopatia e distúrbios comportamentais oriundos da convergência de transtornos mentais.
Em janeiro de 1997, Marcelo conseguiu fugir do Hospital por um descuido de um policial. Ele foi recapturado 12 dias em Guaraciaba do Norte, no Ceará. Ele foi até a casa do seu pai que aparentemente expulsou ele, que foi para as ruas. Um familiar dele o reconheceu e chamou a polícia. Segundo as autoridades, no momento da captura o Marcelo estava claramente em um surto psicótico, dizia que estava indo para Israel, que para ele seria “a terra prometida”. Ele foi levado novamente para o Rio de Janeiro, em 2003 foi transferido para o Hospital de Custódia Henrique Roxo, em Niterói, onde permanece até hoje.

Marcelo foi recapturado em Guaraciaba do Norte
No Hospital, Marcelo recebia visitas regulares da mãe e algumas poucas do seu pai. No começo ele causava confusão com os outros internos, principalmente por conta de brigas. Ele chegou a ficar isolado por um tempo, e depois teve uma melhora em seu comportamento. Ele também recebeu medicação durante 10 anos.
Sobre uma possível liberdade, o diretor do Hospital psiquiátrico disse em entrevista: “Ele está estabilizado porque tem acompanhamento 24 horas por dia. Se sair, certamente não terá nenhum tipo de condição social, familiar ou estrutura que permita um acompanhamento, e é aí que poderá desequilibrar-se e voltar a cometer crimes”. Em 2021, a defesa entrou com um pedido de liberdade, alegando que ele já tinha cumprido 30 anos, o tempo máximo de prisão na época em que ele foi julgado. A soltura foi negada: no caso de Marcelo, como ele não chegou nem a ser julgado, o tempo máximo não pode ser usado pela defesa porque ele não cumpre pena em um presídio comum.
Durante os anos o Marcelo deu algumas entrevistas, inclusive uma para a Revista Veja, em uma edição em que ele foi a capa. Outra entrevista bastante completa foi para a criminóloga Ilana Casoy. Em ambos os casos, Marcelo deu relatos bastante completos sobre as mortes, parecendo “se gabar” do que tinha feito e não demonstrando arrependimento. - Hoje o Vampiro de Niterói tem hoje 55 anos e continua internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, de onde provavelmente nunca seja libertado.

Capa da revista Veja sobre os crimes do Vampiro de Niterói
• FONTES: Serial Killers: Made in Brazil, Conteúdo Jurídico, Bel Rodrigues, Ficha Criminal, UOL, OAV Crime, Noite Sinistra, Jornal Extra.
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