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  • Foto do escritorRodolfo Brenner

#52 - Estefanía Gutiérrez: Possessão, Insanidade ou Farsa? | MISTÉRIOS

Uma jovem usa uma tábua ouija e acaba atraindo algo maligno para sua casa. Nos meses seguintes, sua família experiencia sons, visões e outros fenômenos que ninguém consegue explicar. O caso acabou ganhando notoriedade quando a própria polícia foi chamada e descreveu em relatório as coisas estranhas que viu. Mas será que o caso mais famoso de assombração da Espanha não passou de uma grande farsa?


Essa é a versão escrita do episódio #52 - Estefanía Gutiérrez: Possessão, Insanidade ou Farsa? | MISTÉRIOS:



O caso aconteceu em Vallecas, um bairro que fica localizado na cidade de Madrid, capital da Espanha. Em um apartamento localizado na Rua Luís Marín morava Estefanía Gutiérrez Lázaro, uma estudante de 17 anos, juntamente com a sua família. Ela era filha de Máximo Gutiérrez e Concepción Lázaro, e tinha 5 irmãos mais novos, e segundo os relatos, ela era quase como uma figura materna para eles.

A história começa com o avô da garota, o pai de Concepción. Ele estava internado e bastante doente, sofrendo de uma demência que causava delírios. Antes de morrer, ele teria dito para a neta (algumas fontes dizem que quem teria ouvido era a própria Concepción) que ele não tinha conseguido fazer a filha infeliz em vida, então ele faria isso “na próxima”. Aparentemente ninguém levou o que ele disse a sério por causa do seu estado de saúde. Aquele evento impactou a garota, que teria começado a se interessar por ocultismo, fantasmas e outras coisas sobrenaturais. Alguns meses depois, o namorado de uma das amigas de Estefánia morreu em um acidente de moto, e ela teve contato pela primeira vez com uma tábua ouija, utilizada para tentar conversar com o recém falecido.

Para quem não sabe, a tábua ouija ou tabuleiro ouija é um artefato místico utilizado para entrar em contato com o mundo espiritual. A versão original é uma tábua de madeira com as letras do alfabeto, números de 0 a 9 e as palavras “sim”, “não” e “adeus”. Além disso, o jogo conta com um ponteiro, uma espécie de prancheta pequena. Para jogar, as pessoas sentam em roda ao redor da tábua, e todos colocam o dedo sobre o ponteiro. Após isso, perguntam se há um espírito no local, e caso tiver, o ponteiro se mexe até o sim. A partir de agora os jogadores podem fazer qualquer pergunta, e o espírito responderá levando o ponteiro para as letras, formando as palavras. Para terminar o jogo, você precisa pedir permissão para sair, e caso o espírito permita, você deve levar o ponteiro até o “adeus”. Segundo as regras, você nunca deve jogar sozinho ou não se despedir do espírito, caso contrário, você será assombrado por ele.


Exemplo de Tábua Ouija


Estefánia, juntamente com mais duas amigas, resolveram fazer uma sessão de evocação de espíritos na escola onde estudavam. Para isso, elas usaram uma tábua ouija e um copo. Acontece que, quando elas estavam no meio da sessão, foram pegas por uma professora, que quebrou a tábua no meio. Quando a tábua se quebrou, as amigas de Estefanía viram uma fumaça saindo do copo e que foi inalada pela Estefanía.

Nos dias seguintes a sessão, Estefanía começou a sofrer de insônia, alucinações e crises epilépticas. À noite, ela dizia que via formas humanas sem rosto e cobertas por um manto. Segundo a mãe, que é a principal porta-voz do caso, a filha começou a se comportar como um animal, fazendo sons estranhos e andando de 4 pela casa. Seus pais levaram ela a diferentes hospitais, mas nenhum médico conseguiu diagnosticar nada de anormal.

No dia 13 de julho de 1991 (algumas fontes dizem 11 de agosto), Estefanía atacou a sua irmã, Marianela. Depois do ataque, ela caiu no chão com espuma saindo de sua boca. No dia seguinte, ela ficou inconsciente e foi levada para o Hospital Gregorio Marañón, onde entrou em coma e posteriormente faleceu. O laudo do legista colocou a causa da morte como “morte súbita”, mas colocou uma observação de “morte suspeita”. Posteriormente, foi teorizado que ela sofria de epilepsia e de surtos psicóticos.


Estefanía Gutiérrez


Após a morte de Estefanía, as coisas ficaram ainda pior no apartamento da família Gutiérrez: a mãe de Estefanía passou a ouvir a voz da filha pelos cômodos, assim como a risada de um homem idoso. Vidros quebravam, objetos mudavam de lugar, cômodos esfriavam sem explicação e as portas abriam e fechavam sozinhas. O foco das coisas paranormais parecia ser o quarto da jovem: certa vez, sua mãe entrou no quarto e viu que todos os pertences dela estavam espalhados pelo local.

Em uma noite, a mãe de Estefanía sentiu alguém tocando suas mãos e pés enquanto ela dorme. Outra noite, os irmãos dela acordaram com o barulho de alguém batendo nas paredes do quarto. O pai relatou que, uma vez estava brincando com um dos filhos, quando o garoto teria sido arremessado para o outro lado do cômodo. Certa noite, todos estavam reunidos na sala quando a porta abriu sozinha e uma vento muito forte entrou, derrubando um porta-retrato com uma foto de Estefanía. Quando sua mãe pegou a foto, ela ficou chocada ao ver que ela tinha começado a pegar fogo, de dentro para fora.


Concepción segurando o retrato queimado de Estefánia


No dia 14 de outubro de 1992, foi feita uma reportagem sobre a família. No local estavam presentes também um parapsicólogo chamado Tristan Braker e uma médium. Segundo eles, foi possível sentir a presença de dois espíritos: o de Estefánia e o de seu avô. Eles gravaram um EVP (Fenômenos de Voz Eletrônica), em que o espírito da garota dizia "¡Cuidado con el abuelo!", ou "Cuidado com o vovô". A médium também teria ficado possuída pelo espírito do avô, e tudo isso foi transmitido por um telejornal.

Reportagem sobre o Caso Vallecas


Na noite do dia 27 de novembro de 1992, a família Gutiérrez decidiu chamar a polícia: o inspetor José Negri e sua equipe chegam ao local e encontraram a família apavorada, na chuva, do lado de fora do apartamento. Enquanto alguns policiais ficaram do lado de fora colhendo o depoimento da família, o inspetor Negri e dois outros policiais entraram no apartamento.

Lá dentro eles presenciaram a porta de um armário que abria e fechava, barulhos altos vindos da varanda e um lodo marrom que escorria da mesa de cabeceira do quarto de Estefánia. A coisa mais assustadora, porém, foi um crucifixo de madeira que foi arrancado da parede quando os policiais estavam lá dentro. Na parede onde ele estava, era possível ver a marca de três garras. Tudo o que aconteceu foi descrito no relatório policial, e essa foi a única vez, em toda a história espanhola, que uma autoridade descreveu um evento sobrenatural em um relatório oficial.

Pouco tempo depois disso, a família Gutiérrez vendeu o apartamento e se mudou, e os eventos paranormais pararam. Os novos moradores nunca testemunharam nenhum fenômeno inexplicável. Algum tempo depois, a mãe de Estefanía foi submetida a um exame psicológico, que constatou sinais de instabilidade emocional, ansiedade e necessidade de atenção, o que poderia indicar que ela teria acentuado a magnitude dos eventos sobrenaturais. Ela disse em entrevistas que a situação era tão horrível que ela tentou o suicídio por não saber como lidar com aquilo.


O prédio onde ficava localizado o apartamento da família


Em 2018, dois irmãos de Estefánia, Ricardo e Maximiliano, que na época do caso tinham 16 e 10 anos respectivamente, deram uma entrevista exclusiva ao jornal El Mundo. Segundo eles, muitas das histórias que circulavam a vida da falecida irmã tinham sido aumentadas ou inventadas. Segundo eles, sua irmã sofria de crises epilépticas e de ausência, na qual a pessoa parece “sair de si”. O problema era familiar, tanto que a mãe deles sofria do mesmo mal, e para eles, não tinha nada a ver com uma possessão.

Segundo os irmãos, a mãe deles começou a aumentar muito as histórias de fenômenos estranhos, e isso foi piorando a medida que parapsicólogos começaram a frequentar a casa da família. Eles também achavam que muitas das coisas que aconteceram, como a porta do armário abrindo sozinha, tinha uma explicação normal.

Quanto ao dia do relatório policial, Maximiliano disse que seus pais ficaram o tempo todo informando aos policiais do que estava acontecendo, o que, para eles, ajudou a sugestionar. Sobre o barulho alto que vinha da varanda, Ricardo disse que tinha sido ele que teria ocasionado, a mando de sua mãe: “minha mãe secretamente me pediu para jogar algo no terraço para impressionar mais a polícia. Peguei uma pedrinha que estava na sala, fui até a sacada e quando a arremessei, ela atingiu uma despensa de ferro que tínhamos no terraço. Esse foi o som que os agentes ouviram e que, de fato, ficou refletido no relatório”. Após a morte de Estefánia, seus irmãos relataram que sofreram muito bullying na escola, principalmente os mais novos.


Ricardo (à esquerda) e Maximiliano em entrevista para o jornal El Mundo


Em 2017, o diretor Paco Plaza, responsável pela franquia [REC], escreveu e dirigiu o filme Verónica, baseado no caso Valescas. O filme foi bastante elogiado e chegou a ganhar alguns prêmios na Espanha, como o Goya Awards, considerado o prêmio mais importante do cinema espanhol. O filme é bem fiel aos acontecimentos, e, segundo os irmãos de Estefánia, eles foram consultados e deram aprovação ao roteiro.


Poster do filme Verónica (2017)


FONTES: Auralcrave, El Mundo, 20minutos, The Paranormal Scholar, Revista Galileu, Mi Verdad: Expediente Vallecas, RTVE, Vocal Media.

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