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#4 - O Castelinho da Rua Apa | MISTÉRIOS

  • Foto do escritor: Rodolfo Brenner
    Rodolfo Brenner
  • 24 de set. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de mai. de 2022

Depois de uma chacina familiar não esclarecida, uma das construções mais emblemáticas de São Paulo tem fama de assombrada até os dias de hoje, mas o que é lenda e o que é real?


Essa é a versão escrita do episódio #4 - O Castelinho da Rua Apa:



Em 1912, a família César Reis era dona do cinema Broadway, um dos cinemas de rua de maior sucesso na Avenida São João. Com o dinheiro, a família ergueu um verdadeiro castelo na esquina da Rua Apa com a Avenida General Olímpio da Silveira.

O patriarca da família era o Virgílio César Reis, que morreu dois meses antes do crime. A recém-viúva era a Maria Cândida dos Reis de 73 anos, e juntos eles tinham 2 filhos: Álvaro César Reis, 45 anos e Armando César Reis de 43 anos. Os dois eram advogados, porém as similaridades paravam por aí: Álvaro era descrito como um ótimo esportista, que estava sempre cercado de mulheres, diferente do Armando, que era uma pessoa totalmente discreta, que não gostava de expor sua vida pessoal.

Após a morte do pai, era o Armando que estava tomando conta dos negócios da família, já que Álvaro viajava muito, inclusive em uma dessas viagens ele chegou a ganhar alguns títulos como patinador na França. Quando voltou ao Brasil ele queria abrir uma pista de patinação no lugar do cinema.

Obviamente a ideia foi rejeitada, afinal o cinema de rua estava em alta naquela época e o investimento da pista seria arriscado e sem perspectiva de lucro. Essa ideia estaria gerando brigas entre os irmãos.


A família César Reis: Maria Cândida à esquerda, Virgílio dentro do carro, Armando sentado em frente à porta e Álvaro do seu lado direito. O restante eram amigos da família.


Na noite do dia 12 de maio de 1937, os irmãos teriam iniciado mais uma briga por conta dos negócios, mas dessa vez teria sido tão séria que eles chegaram a apontar revolveres um para o outro. Quando a mãe percebeu o que estava acontecendo, ela tentou interferir e apaziguar a briga: a versão oficial diz que os dois começaram uma troca de tiros, Álvaro teria sem querer acertado a mãe e posteriormente atirado em Armando. Depois de ver o que ele teria feito, ele cometeu suicídio.

Um policial que estava na rua foi chamado pela cozinheira Elza Lengfelder, que trabalhava para a família e morava em uma casa anexa à residência. Os corpos estavam perto de uma escadaria, na entrada do escritório.

Embora a versão oficial seja a de que Álvaro foi o responsável pelas mortes, houve divergências entre as autoridades, principalmente quanto ao posicionamento dos corpos, que davam a ideia de que na realidade havia sido um triplo homicídio. A Polícia Técnica e os legistas do Serviço Médico-Legal de São Paulo não entraram em um acordo quanto ao responsável: enquanto a polícia técnica tentava reforçar a ideia de que teria sido Álvaro, os médicos-legistas colocaram a culpa em Armando, pois teriam encontrado resíduo de pólvora somente nas mãos dele.

A arma do crime - uma pistola Mauser calibre 9mm - estava registrada em nome de Álvaro. Seu corpo foi encontrado a segurando mão esquerda, porém ele era destro. Além disso, o suicídio dele teria sido com dois tiros no peito, um local muito incomum para se fazer isso, quando as opções mais usadas são na cabeça, na boca ou no pescoço. Para piorar, Maria Cândida levou 4 tiros, e duas balas eram de um calibre diferente da arma de Álvaro, porém essa outra arma nunca foi encontrada.

As investigações também descobriram notas promissórias assinadas por Álvaro que estavam adulteradas com um zero a mais. Especula-se que esse dinheiro seria para ele construir a tal pista de patinação, porém nunca encontraram quem emprestou o dinheiro a ele.


Reportagem sobre o caso no jornal "A Gazeta" em maio de 1937


Uma lei da época não permitia que parentes de segundo ou terceiro grau herdassem propriedades, então como não haviam outros herdeiros diretos o Castelinho da Rua Apa foi parar nas mãos do governo federal, e depois para o INSS.

O local ficou abandonado por anos, até ser entregue para a ONG Clube de Mães do Brasil, que já ocupava o imóvel anexo desde 1997. Em 2004 o imóvel foi tombado, e em 2015 começou uma reforma de mais de um ano para que o local virasse a sede da ONG, que funciona até hoje.


O Castelinho quando estava abandonado


A ONG foi fundada por Maria Eulina Hilsenbeck em 1993, e é voltada às pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. Ela oferece alimentação, capacitação profissional e atividades livres de forma gratuita. Maria é ex-moradora de rua e inclusive chegou a dormir no Castelinho quando ele ainda estava abandonado.

A história do Castelinho recebeu um novo olhar com o lançamento do livro “O Crime do Castelinho: Mitos e Verdades”, de Leda de Castro Kiehl, que é sobrinha-neta de Maria Cândida. Foi ela que trouxe teorias alternativas a explicação oficial desse crime que chocou a sociedade paulistana na época.


Maria Eulina Hilsenbeck, fundadora do Clube de Mães do Brasil


Desde que o imóvel ficou abandonado, a fama de assombrado atraiu a atenção dos moradores da região: segundo alguns deles, era possível ver vultos e gemidos vindos de dentro do castelinho. Um dos programais mais famosos de caça-fantamas, o Ghost Hunters, investigou o local em 2009 e chegou a gravar um EVP (fenômeno eletrônico de voz) com uma voz feminina chamando por “Eduardo”.

Em 2015, o casal de caça-fantasmas Rosa Maria Jaques e João Tocchetto foram até o local realizar uma investigação: eles registraram alguns fenômenos eletromagnéticos e Rosa, que é médium, chegou a conversar com os espíritos e fazer uma limpeza no local. Posteriormente ela disse em seu livro que “a casa está carregada de ódio, de rancor, de vingança” e que até o Castelinho na Rua Apa era o local mais assombrado do Brasil. Alguns vídeos sobre o local também foram analisados pelo canal Spooky Houses, especialista em casas assombradas.

Maria já disse em entrevistas que nunca viu ou ouviu nada no local. Coincidência ou não, as reformas só começaram depois que Rosa e João realizaram a limpeza espiritual no local. Será que o pessoal da prefeitura tinha medo de entrar lá?


O Castelinho reformado


• FONTES: Estadão, Jusbrasil, Educativa FM 105,9, São Paulo Antiga, Aventuras na História, Veja São Paulo, Superinteressante, G1, Clube das Mães do Brasil, Caça Fantasmas Brasil.

1 Comment


Danilo Silva Fernandes
Danilo Silva Fernandes
Sep 26, 2021

Sinto que esse crime foi motivado por dívidas com agiota, um dos irmãos tinha pretensão de abrir uma pista de patinação, deve ter feito um empréstimo, daí a nota promissória sem identificação. O agiota foi até a casa e matou os três. Sobre a suposta assombração, não duvido que o lugar tenha atraído todo tipo de entidade, primeiro pelo crime que ocorreu, segundo pelo local estar abandonado e provavelmente ter sido um lugar em que as pessoas iam para consumir drogas ou praticar crimes. Mesmo depois de reformado ainda sinto um negócio estranho quando olho a foto do lugar.

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