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#34 - Voo da Malaysia Airlines 370 | MISTÉRIOS

Foto do escritor: Rodolfo BrennerRodolfo Brenner

Em 2014, um avião saiu do aeroporto de Kuala Lumpur em direção a China, porém, nunca chegou ao seu destino. Muitas teorias e poucas pistas marcaram esse, que ficaria conhecido como o maior mistério da aviação mundial.


Essa é a versão escrita do episódio #34 - Voo da Malaysia Airlines 370:



O voo 370 era um Boeing 777, que tinha voado pela primeira vez em 2002, nunca tendo se envolvido em nenhum acidente, somente um incidente em 2012 quando quebrou a ponta de uma asa no Aeroporto Internacional de Shanghai. Semanas antes de levantar voo, ele tinha passado por uma manutenção nas câmaras de oxigênio, além de uma inspeção geral que não encontrou nada de anormal. A tripulação era composta pelo piloto, pelo co-piloto e mais 10 funcionários, todos cidadãos da Malásia.

O piloto era o capitão Zaharie Ahmad Shah, de 53 anos. Ele ingressou na Malaysia Airlines em 1981, e se tornou segundo oficial da companhia aérea em 1983. Foi promovido em 1991 e também era instrutor de qualificação desde 2007, tendo mais de 18 mil horas de voo. O copiloto era o primeiro oficial Fariq Abdul Hamid, de 27 anos. Ele tinha ingressado na Malaysia Airlines como piloto em 2007, virou segundo oficial em 2010 e começou a treinar para ser primeiro oficial em 2013. Aquele voo seria o seu último de treinamento, e ele tinha 2.763 horas de voo. Além da tripulação, haviam 227 passageiros a bordo: 153 eram chineses, 38 eram malaios e o restante eram de 12 países diferentes, incluindo Austrália, França, Canadá e Indonésia.


O piloto Zaharie Shah e o co-piloto Fariq Hamid


O voo saiu de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim, na China, às 00h41 do dia 8 de março de 2014. A duração planejada do voo era de mais ou menos 5 horas e 30 minutos. A nave estava abastecida, inclusive tinha combustível suficiente caso precisasse desviar para aeroportos alternativos. - O levantamento do voo aconteceu normalmente, e às 01:01, a tripulação informou ao controle aéreo que tinha atingido o nível de voo. A 1h07, o sistema de relatórios de dados do avião foi desligado, e à 1h21 o transponder que transmite a localização e a altitude é desligado, ou seja, não era mais possível que o avião transmitisse dados para as torres.

O capitão de outra aeronave tentou entrar em contato com a tripulação pouco depois das 01h30. Ele conseguiu estabelecer comunicação, mas disse que só ouviu estática. Foram feitas outras tentativas de contato, mas elas não foram atendidas. Às 2h40, o Controle de Tráfego Aéreo de outro aeroporto informou que perdeu contato com o voo MH370 cerca de 2 horas e meia após a decolagem. O último sinal no radar do avião foi recebido quando ele foi transferido para o espaço aéreo do Vietnã. Às 06h30, o avião deveria pousar no Aeroporto Internacional de Pequim, mas isso não aconteceu. Com a demora e falta de contato, familiares e amigos dos passageiros começaram a questionar a companhia aérea, que um tempo depois confirmou o desaparecimento da aeronave.


Aeroporto Internacional de Pequim


A Malaysia Airlines providenciou acomodações para os parentes dos passageiros em hotéis, tanto em Pequim como em Kuala Lumpur, para que acompanhassem as buscas. O presidente chinês Xi Jinping disse que o país faria todos os esforços para encontrar o avião, e enviou dois navios para o último local em que a aeronave foi vista nos radares. A área de buscas no Mar da China foi aumentada para um raio de 180 km, o que cobria toda a área provável, desde a região leste da Malásia até o sul do Vietnã. Foram observadas duas grandes manchas de óleo no mar da China, que prontamente foram investigadas, mas se tratavam de óleo despejado por alguns barcos de pesca.

No dia 11 a Força Aérea da Malásia informou, após fazer leituras de seus radares, que o avião havia mudado sua rota durante o voo, indo para a direção oeste. Um radar da Força Aérea próximo ao Estreito de Malaca, na Península da Malásia, teria detectado o avião passando por lá por volta de 2h40. A partir dessa informação as buscas passaram a se concentrar nessa região, mais precisamente perto da Tailândia, mas também não encontraram nada. Posteriormente, essa informação foi questionada pelo comandante da Força Aérea, que afirmou não ter certeza se os sinais eram do avião desaparecido. As equipes continuaram as buscas, mas sem uma evidência precisa do paradeiro do avião não havia uma direção para seguir.


Parentes dos desaparecidos


A China divulgou imagens de satélite indicando possíveis destroços do avião no Golfo da Tailândia, ao sul do Vietnã: as fotos mostravam três objetos, cada um com mais ou menos 20 metros. Essas informações foram refutadas pelo ministro dos transportes da Malásia, que disse se tratar de um engano da China. No dia 13, o jornal norte-americano Wall Street Journal publicou dados que mostravam que a aeronave voou por cerca de quatro horas depois de desaparecer dos radares, o que poderia indicar que o avião foi sequestrado. Posteriormente as autoridades da Malásia confirmaram que a aeronave mudou de rota e voou durante horas para o oeste, tendo enviado um sinal para um satélite por volta das 8h14. Além disso, eles acreditavam que o avião tinha mudado deliberadamente de rota e desligado a comunicação manualmente.

No dia 17, o presidente da Malaysia Airlines, Ahmad Jauhari Yahy, comunicou em uma coletiva de imprensa que o último contato tinha sido feito pelo copiloto da aeronave, uma rápida mensagem de “boa noite”. As buscas passaram a se concentrar em dois pontos principais: ao sul da Indonésia e ao norte da Tailândia, na fronteira com o Cazaquistão. Nesse momento já haviam 26 países envolvidos nas operações de busca.


Um avião australiano AP-3C Orion e um navio britânico HMS Echo que participaram das buscas


As buscas continuaram nos dias que seguiram, mas havia muita área para procurar: segundo os cálculos, mais de 7,5 milhões de km2, uma área equivalente a Austrália. No dia 19, parentes dos desaparecidos entraram em confronto com a polícia da Malásia ao invadirem uma coletiva de imprensa, reclamando da falta de informações. No dia 20, a Austrália divulgou imagens de satélite, registradas no dia 16, em que apareciam dois objetos flutuantes a cerca de 2500 da costa sudoeste australiana. O país mandou 5 aviões, além de navios que estavam próximos, para buscar os objetos. Infelizmente, devido ao mau tempo, as buscas atrasaram e, quando foram retomadas, nada foi encontrado.


Imagens de satélite divulgadas pela Austrália: setas apontam para possíveis objetos


Com o passar do tempo as autoridades da Malásia começaram a receber várias críticas pelo desencontro de informações: parecia que outros países estavam mais envolvidos e com melhores informações do que eles. No dia 24, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, confirmou que, após uma análise dos dados recebidos pelos satélites, não havia mais dúvidas de que o avião havia caído no oceano. Também foi dito que as buscas foram dificultadas por fortes correntes marítimas, tempestades e falta de visibilidade. Além disso, naquela região do oceano existe uma grande quantidade de lixo que poderia ser confundido com os destroços.

No dia 5 de abril, um dos navios chineses que participavam das buscas detectou sinais vindos do Oceano Índico que poderiam ser das caixas-pretas do avião, mas o comandante da equipe australiana de buscas declarou que não era possível confirmar que esse sinal era de fato uma pista importante. - No dia 6 de abril foram captados novos sinais, desta vez pelo navio australiano Ocean Shield, a mil quilômetros da costa da Austrália, em uma profundidade de 4500 metros. Esse mesmo sinal foi captado novamente um dia depois, o que direcionou e restringiu novamente a área de buscas. No total foram realizadas 13 missões, e 95% da área de busca foi vasculhada, mas nenhum destroço ou resquício do avião foi localizado. No dia 30 de abril, as buscas foram encerradas oficialmente.


Mapa com as rotas originais. Fonte: UOL


7 meses depois as buscas foram retomadas, agora com equipamentos de sonar com capacidade para submergir até seis mil metros de profundidade. Mesmo assim, nada foi encontrado. No dia 29 de janeiro de 2015, quase onze meses depois, o Departamento de Aviação Civil da Malásia declarou que o desaparecimento do voo MH370 foi oficialmente considerado um acidente e todos os ocupantes foram considerados oficialmente mortos.

No final de julho de 2015, foi encontrada uma parte de uma asa no litoral de uma ilha próximo a Madagascar. A peça foi submetida a uma perícia por especialistas e identificada como sendo do MH370. Além dela, foram encontradas almofadas de poltronas e janelas de avião que possivelmente eram da mesma aeronave. Em janeiro de 2017, quase 3 três anos após o acidente, as buscas foram oficialmente terminadas. Autoridades dos países envolvidos concordaram que toda área de busca foi vasculhada, e que o avião deveria estar em profundidade tão grande que seria praticamente impossível resgatá-lo. Os custos totais das buscas foram estimados em 145 milhões de dólares, a mais cara da história da aviação.


Destroços do voo MH-370 encontrados na Ilha de Réunion, perto de Madagascar


  • TEORIAS:

1. TERRORISMO:

A primeira teoria leva em conta que haveria terroristas infiltrados entre os passageiros, e que eles foram responsáveis por derrubar a aeronave. A principal pista era o relato de um funcionário de uma plataforma de petróleo no sul da China: ele afirmou ter visto um objeto em chamas no céu durante as primeiras horas do sábado. Como esse relato não pode ser confirmado, foi impossível determinar se era ou não o avião.

Ao realizarem uma investigação minuciosa sobre os passageiros, um grupo de especialistas em segurança descobriu que dois homens embarcaram usando passaportes de outras pessoas, que tinham sido roubados meses antes na Tailândia: Pouria Nour Mohammad Mehrdad, de 19 anos e Delavar Seyed Mohammad Reza, de 29 anos, ambos de nacionalidade iraniana, entraram usando passaportes de um italiano e de um austríaco.

Outras coisas que poderiam indicar atos terroristas: o fato de que o avião fez uma manobra não prevista e não comunicada pela tripulação e a ausência de cinco passageiros que fizeram check-in, mas não compareceram ao portão de embarque e suas bagagens, que já estavam no avião, foram retiradas antes da decolagem.


Pouria Mohammad Mehrdad e Delavar Mohammad Reza embarcaram com passaportes roubados


2. SEQUESTRO:


Sequestrar um avião parece um tanto absurdo, mas não era tão incomum antes, principalmente nos anos 60 e 70. Uma hipótese levantada por alguns teóricos da conspiração é de que o MH370 foi sequestrado, especificamente pelas forças armadas dos Estados Unidos, e levado para uma base militar no atol de Diego Garcia, que fica no Oceano Índico. Existiam alguns elementos que corroboram com essa teoria: um contato do celular do co-piloto e o giro do avião para oeste, ambos consistentes com uma trajetória de voo em direção à ilha. O jornal Daily Mirror relatou que o piloto era especialista em pouso de grandes aeronaves em pistas curtas, inclusive havia treinado o pouso em 5 pistas diferentes em um simulador que tinha em sua casa, entre elas, a pista de Diego Garcia. Ou seja, segundo a teoria, o piloto saberia do sequestro.

O FBI contestou as informações, alegando que não encontrou nada suspeito nas simulações de voo, e que os relatórios do Daily Mirror eram infundados e sem fontes. Os Estados Unidos negaram qualquer envolvimento através de um comunicado do secretário de imprensa Jay Carney. Um ex-chefe de uma companhia aérea francesa concordou com a teoria de que o voo da Malaysia Airlines tinha sido sequestrado ou abatido perto da base em Diego Garcia. Dois jornalistas afirmaram que moradores da ilha de Kuda Huvadhoo viram um grande avião voando em baixa altitude por volta das 06h15 do dia 8 de março. Segundo eles, a aeronave era branca com listras vermelhas – características dos aviões da Malaysia Airlines. Esse relato foi considerado de alta credibilidade, uma vez que havia um grande número de testemunhas.

Entretanto, a descoberta dos destroços que posteriormente foi confirmado como sendo do MH370 acabaram dividindo quem acreditava nessa teoria: algumas pessoas disseram que as partes do avião eram falsas e implantadas, enquanto outros, como a professora Charitha Pattiaratchi, da Universidade da Austrália Ocidental, disseram que os destroços seguiram os caminhos esperados pelas correntes oceânicas.


Relatos de testemunhas da ilha de Kuda Huvadhoo (opção de legenda em inglês)


3. SUICÍDIO DO PILOTO:


Existem alguns casos de acidentes da aviação em que, na realidade, foram os pilotos cometem suicídio e, por consequência, levam toda a tripulação com ele. O caso mais recente foi o do copiloto Andreas Lubit no voo Germanwings 9525 em 2015. Logo após o desaparecimento do voo 370, começaram a aparecer relatos de que o capitão Zaharie Ahmad Shah havia se separado e que sua esposa e seus três filhos tinham saído de casa no dia anterior ao desaparecimento do avião. Um colega e amigo de longa data afirmou que Zaharie estava “terrivelmente chateado” com o fim do seu casamento.

A polícia passou a investigar relatos de que Zaharie recebeu um telefonema de dois minutos antes da partida do voo, de uma mulher não identificada usando um número de celular desconhecido e obtido através de uma identidade falsa. Além disso, havia outra coisa estranha: começaram a surgir boatos de que Zaharie não tinha feito nenhum plano, social ou profissional, depois do dia 8 de março. Essa informação foi confrontada pela jornalista Florence de Changy, que escreveu um livro sobre o voo e descobriu que Zaharie tinha marcado uma consulta com seu dentista alguns dias antes do dia 8 de março.

Outra informação que apontava para o piloto eram as simulações em pistas de outros locais. O FBI conseguiu recuperar dados apagados do simulador de voo e encontrou uma rota que combinava com o voo projetado sobre o Oceano Índico. Apesar das autoridades da Malásia considerarem que isso não era um indicativo forte suficiente, muitos especialistas em aviação e autoridades ao redor do mundo concordavam que essa seria a teoria mais provável. A família de Shah negou veementemente que ele tinha tendências suicidas.


O capitão Zaharie Ahmad Shah em seu simulador de voo


4. TEORIAS SOBRENATURAIS:


Alguns teóricos da conspiração apontaram para o lado da ficção científica, indicando que o avião poderia ter sido “sugado” por um buraco de minhoca. Os buracos de minhoca foram teorizados em 1935 por Albert Einstein e Nathan Rosen, que utilizaram a teoria da relatividade geral para elaborar a ideia de que existiam "pontes" em que era possível viajar pelo espaço-tempo, reduzindo o tempo de viagem. As portas de entrada e saída dessas pontes seriam os buracos de minhoca. O conceito é bem exemplificado no filme Interestelar, por exemplo. Apesar dos buracos de minhoca existirem na teoria, até hoje não foi possível confirmar na prática.

Outra teoria levantada foi a de que o avião desapareceu por interferência de alienígenas. Não é incomum haver relatos de OVNIs acompanhando aeronaves, e até de alguns desaparecimentos misteriosos. O mais famoso é o caso do piloto Frederick Valentich que desapareceu em 1978 após informar ao serviço de voo que havia uma nave desconhecida sobrevoando seu avião. Apesar disso, nunca foi comprovado que extraterrestres estivessem envolvidos neste em outros casos.


Buracos de minhoca ainda não foram encontrados na prática


FONTES: BBC, El País, CBS, G1, 60 Minutes Australia, National Geographic.

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