top of page
Foto do escritorRodolfo Brenner

#25 - Incidente em Dyatlov Pass | MISTÉRIOS

Um grupo de esquiadores soviéticos resolve fazer uma expedição e enfrentar o frio e outros perigos para chegar até uma montanha. Quando eles não retornam, uma busca se inicia, mas quando eles finalmente são encontrados, já é tarde demais. Entretanto, o que exatamente aconteceu com o grupo de 9 esquiadores é um mistério até hoje.


Essa é a versão escrita do episódio #25 - Incidente em Dyatlov Pass:



O ano era 1959, e um grupo formado por estudantes do Instituto Politécnico dos Urais se juntou para realizar uma expedição afim de esquiar ao norte dos Montes Urais, uma cadeia de montanhas que ficava na União Soviética, atualmente entre a Rússia e o Cazaquistão. Esse grupo era composto por oito homens e duas mulheres: Igor Dyatlov, Yuri Doroshenko, Lyudmila Dubinina, Yuri Krivonischenko, Alexander Kolevatov, Zinaida Kolmogorova, Rustem Slobodin, Nikolai Vladimirovich, Alexander Zolotaryov e Yuri Yudin. Todos eram esquiadores experientes, e o objetivo da expedição era subir do título de alpinista de grau II para grau III, e para conseguir isso eles precisavam, dentre outras coisas, percorrer mais de 300 quilômetros na neve.

O grupo projetou uma rota que foi aprovada pela Comissão de Rotas da cidade de Sverdlovsk, cujo objetivo final era chegar na montanha Otorten. Os esquiadores sabiam que não seria fácil, já que o percurso era classificado como de Categoria III, a mais difícil, e poderia levar até 3 semanas. Além disso, as temperaturas no local podem chegar à -30°C. Eles saíram de Sverdlovsk e chegaram de trem a Ivdel na manhã de 25 de janeiro. Lá eles pegaram carona em um caminhão até Vizhai, onde ficaram até o dia 27, quando começaram a jornada em direção à montanha.


Localização dos Montes Urais


Um dia depois, um dos membros do grupo, Yuri Yudin, estava sentindo fortes dores no joelho e decidiu que seria melhor voltar. Os nove membros restantes continuaram caminhando até o dia 31 de janeiro, e toda a expedição foi fotografada e registrada em diários. Quando eles chegaram à beira de uma área montanhosa, se prepararam para começar a escalar. Não se sabe direito o que aconteceu, mas o grupo acabou se perdendo e desviando da rota inicial, indo parar em uma montanha com o nome singelo de “Montanha da Morte”.


O grupo de esquiadores


Igor Dyatlov tinha 23 anos e era engenheiro de Rádio formado pelo Instituto Politécnico dos Urais. Ele foi descrito como bastante talentoso, tendo criado alguns pequenos aparelhos como um rádio e um forno portátil, que inclusive foi levado para a expedição. Ele também era bastante meticuloso, e justamente por isso era o líder do grupo. Ele também gostava de radioamador e de fotografia.

Yuri Doroshenko tinha 21 anos, e era aluno do 4º ano de engenharia de rádio. Ele era conhecido por ter uma personalidade um pouco impulsiva, e era famoso nos Clubes de Caminhada por ter afugentado um urso com um martelo durante um acampamento. Ele já tinha namorado uma das mulheres do grupo, a Zinaida Kolmogorova, mas agora eles eram apenas amigos.

Lyudmila Dubinina era a mais nova do grupo, com 20 anos. Ela foi descrita como muito boa em esportes e inteligente, tanto que entrou na faculdade de Engenharia Civil com apenas 17 anos. Nas horas vagas gostava de cantar e tirar fotografias. Uma curiosidade é que durante uma caminhada pelas montanhas orientais de Sayan em 1957, ela foi acidentalmente baleada na perna por um caçador, mas conseguiu voltar a salvo.

Yuri Krivonischenko tinha 23 anos. Ele era amigo do Igor Dyatlov, sempre acompanhando ele em todas as expedições. Yuri era seu apelido, seu nome de verdade era Georgiy. Ele era formado em Construção e Hidráulica. Ele foi descrito como bastante animado e engraçado, sempre contando piadas e tocando um bandolim que ele levava para todos os lugares.

Alexander Kolevatov tinha 24 anos e era aluno do 4º ano do curso de Física. Não existem muitas informações sobre a personalidade dele, mas o que se sabe é que seu pai faleceu atropelado por um trem, e ele precisou cuidar da mãe e das suas 4 irmãs depois que eles perderam quase tudo, já que era o pai que sustentava a casa e a mãe tinha uma condição médica que a impedia de trabalhar.

Zinaida Kolmogorova tinha 22 anos e era estudante do 5º ano de Engenheiro de Rádio. Foi descrita como bastante extrovertida e tão amigável que todos que a conheciam gostavam dela. Seu apelido era Zina, e como foi dito anteriormente, ela era ex-namorada do Yuri Doroshenko. Em uma passagem no seu diário, disse que se sentia insegura de viajar com ele. Não é confirmado, mas alguns relatos dizem que era porque ela estava gostando do Igor Dyatlov, e não queria causar uma desunião do grupo.

Rustem Slobodin tinha 23 anos e era formado pelo Instituto Politécnico dos Urais. Ele era descrito como atlético, praticante de corrida e de montanhismo, também era considerado um homem muito bonito e corajoso, tendo feito várias excursões perigosas junto com o seu pai.

Nikolai Vladimirovich tinha 23 anos e era formado em Engenharia Civil. Ele era filho de um francês e uma russa, e seu outro sobrenome era Thibeaux-Brignolle. Foi descrito como bastante simpático, bem-humorado e popular entre os membros do Clube de Caminhadas.

Alexander Zolotaryov tinha 38 anos, e era o mais velho do grupo. Ele era instrutor da base de turismo Kourovka e formado pelo Instituto de Educação Física em Minsk. Diferente dos outros, ele não fazia parte do grupo original, mas se juntou a eles posteriormente por estar fazendo o mesmo caminho. Alguns estudiosos do caso dizem que o Zolotaryov foi inserido no grupo pelo Partido Comunista local ou pela KGB para vigiar os jovens mais de perto. Sabe-se que ele serviu durante a Segunda Guerra Mundial, que era solteiro e tinha várias tatuagens, o que era bastante incomum na época.


Yudin, Dyatlov, Dubinina, Vladimirovich, Kolevatov e Kolmogorova com madeireiros:

provavelmente a foto foi tirada em Vizhai


Igor Dyatlov tinha combinado com a Comissão de Rotas de Sverdlovsk de enviar um telegrama assim que eles retornassem da expedição e chegassem de volta em Vizhai. Eles acreditavam que isso ia acontecesse mais ou menos no dia 12 de fevereiro, mas nenhuma mensagem foi recebida. Os dias foram passando e ninguém tinha notícia deles. No dia 20 de fevereiro, parentes dos esquiadores foram até a polícia e exigiram uma operação de resgate, que foi realizada por alunos e professores da Comissão, junto com o exército e a polícia, que utilizaram aviões e helicópteros nas buscas.

No dia 26 de fevereiro, eles encontraram a barraca utilizada pelos esquiadores. Ela estava danificada e coberta de neve, mas não havia nenhum sinal deles. Aqui surge a primeira coisa estranha do caso: os investigadores disseram que havia um grande rasgo na barraca, mas que tinha sido feito pelo lado de dentro. Eles também encontraram diversas pegadas saindo da barraca, mas o estranho é que algumas delas foram feitas por alguém usando apenas meias, e outras por alguém sem sapatos.


Um dos maiores mistérios do caso: por que o grupo rasgou a barraca por dentro?


Seguindo as pegadas, eles andaram 1,5 km até uma floresta de pinheiros, quando encontraram, debaixo de uma árvore, restos de uma fogueira e dois corpos: do Yuri Doroshenko e do Yuri Krivonischenko, que estavam usando apenas roupas íntimas. Os galhos da árvore estavam quebrados, sugerindo que alguém tentou subir por algum motivo. Entre essa árvore e o acampamento, os pesquisadores encontraram mais três corpos: do Igor Dyatlov, da Zinaida Kolmogorova e do Rustem Slobodin, que morreram provavelmente tentando voltar para a barraca.

Os corpos da Lyudmila Dubinina, do Alexander Kolevatov, do Nikolai Vladimirovich e do Alexander Zolotaryov só foram encontrados dois meses depois, em uma ravina que ficava depois da floresta. Alguns deles estavam usando roupas que tinham sido tiradas dos outros membros do grupo, além de faixas enroladas nos pés.


Mapa (em inglês) que mostra a localização e a distância dos corpos


Se o caso já estava esquisito, as autópsias do grupo só deixaram as coisas ainda mais confusas: todos eles estavam com hematomas, arranhões e ferimentos causados pelo frio. Yuri Krivonishchenko tinha queimaduras de terceiro grau na canela e no pé, e dentro de sua boca havia um pedaço da sua própria mão direita, que ele tinha arrancado com uma mordida. Yuri Doroshenko tinha cabelos queimados uma das suas meias estava carbonizada.

Nikolai Vladimirovich tinha traumatismo craniano e afundamento do crânio, tão grave que havia pedaços de osso dentro do cérebro. Alexander Zolotaryov e a Lyudmila Dubinina tinham várias costelas quebradas e hemorragias, além dele estar sem os olhos e dela estar sem os olhos, sem a língua e sem parte do lábio superior. O médico legista que fez as autópsias declarou que o dano era semelhante a um “impacto de automóvel em alta velocidade”.

Foi concluído que somente três membros do grupo não morreram de hipotermia: Lyudmila Dubinina (hemorragia interna), Nikolai Vladimirovich (traumatismo craniano) e Alexander Zolotaryov (trauma toráxico grave). Os professores e alunos que participavam do grupo de busca fizeram mais uma descoberta: havia radiação nas roupas dessas 3 vítimas.

Os corpos foram enterrados juntos em um cemitério em Ecaterimburgo, onde foi construído um memorial para homenagear os esquiadores.


Memorial do grupo no cemitério de Mihaylovskoe, Ecaterimburgo


Primeiramente foi aberta uma investigação de homicídio, liderada por um promotor chamado Lev Ivanov. Ele foi bastante cuidadoso com o caso: pediu exames toxicológicos, colheu o depoimento de várias pessoas e traçou mapas do local. A pergunta que todos queriam responder é: por que um grupo de esquiadores experientes precisou rasgar a barraca e sair correndo, com poucas roupas, em uma temperatura negativa?

Os esforços duraram até 28 de maio, quando Ivanov encerrou a investigação alegando que o objetivo principal era determinar se um crime havia ou não sido cometido, e como não foi encontrada nenhuma evidência de homicídio, o trabalho estava finalizado. A conclusão oficial foi a de que o grupo foi atingido por uma “força esmagadora, que eles não foram capazes de superar”.

Várias pessoas envolvidas nas buscas ou nas instituições ligadas ao caso foram demitidas ou punidas de alguma forma, incluindo o diretor da Instituto Politécnico dos Urais e o secretário local do Partido Comunista. Todas as fotografias e diários foram colocados sob sigilo e as informações só foram liberadas anos depois. O local onde tudo aconteceu foi chamado de Passo Dyatlov, uma homenagem ao grupo pelo sobrenome do seu líder.


"Em memória daqueles que partiram e não voltaram, nomeamos este passo para o grupo Dyatlov"


  • TEORIAS:


No total foram levantadas 75 teorias sobre o que aconteceu no Passo Dyatlov. Trouxemos as 7 mais relevantes e comentadas, algumas com evidências científicas e outras mais curiosas que envolvem até o sobrenatural:


1. POVO MANSI:

Mansi é um grupo indígena que vive em Khanty-Mansia, um distrito autônomo na região de Tyumen, na Rússia. Segundo a teoria, que inclusive foi levantada durante a investigação, membros da tribo poderiam ter atacado o grupo por ter invadido seus campos de caça ou algum local sagrado. Além disso, foram encontradas marcas em árvores próximas dos corpos que eram características dos Mansi, marcas que inclusive foram fotografadas pelo grupo. Vários caçadores Mansi foram interrogadas, mas ninguém foi preso ou acusado.


Sinais feitos em uma árvore: especialistas acreditam que não são legítimos, e sim feitos para imitar os Mansi


Não foram encontradas outras pegadas além das pegadas dos esquiadores e nada do grupo foi roubado, incluindo dinheiro, álcool, roupas e lanternas. Além disso, o povo Mansi é conhecido por ser pacífico, inclusive com turistas que passam pela região. Muitos acreditam que essa teoria foi levantada por pessoas sem conhecimento ou com preconceito étnico-religioso contra eles.


Até hoje os Mansi habitam a região dos Urais


2. CONFUNDIDOS COM FUGITIVOS:

Após a Revolução Russa de 1917, foram criados campos de trabalho forçado para onde eram mandados criminosos e “inimigos” do Estado. Esses campos se chamavam Gulag (sigla em russo para “Administração Central dos Campos”) e ficavam em regiões muito afastadas, como na Sibéria. Logo após a morte de Stalin em 1953, esses campos foram quase extintos, mas alguns existiram até os anos 90.

Uma das teorias levantadas era de que o grupo de esquiadores poderia ter sido confundido com fugitivos do Gulag de Ivdellag, que ficava a poucos quilômetros do Passo Dyatlov, e ter sido mortas por oficiais, que fizeram uma verdadeira operação para encobrir o erro. Oficialmente, não foi registrada nenhuma fuga na época do incidente, porém, muitos prisioneiros que haviam fugido anteriormente passavam anos escondidos para não serem reconhecidos.

Um fato que corrobora com essa teoria é que, quando o Yuri Yudin foi chamado para ajudar na investigação, ele notou que havia uma peça de roupa que não pertencia a nenhum dos membros do grupo: um “obmotki”, uma faixa larga de tecido usada para enrolar os membros inferiores para mantê-los aquecidos. Essa peça era usada principalmente por soldados e prisioneiros dos Gulag.


Fotografia de prisioneiros de um Gulag trabalhando no Canal do Mar Branco


3. TESTES MILITARES:

O exército soviético era poderoso e fazia diversos testes militares secretos, e dificilmente algo vazava devido ao governo da época. Essa teoria diz que, ao saírem do roteiro original, o grupo acabou caindo no meio de um desses testes, que poderiam ser de bombas ou de misseis. O grupo acabou no meio da explosão fugiu da barraca em pânico, descalços e sem todas as roupas apropriadas. Depois que alguns membros congelaram até a morte tentando suportar o bombardeio, outros pegaram suas roupas, mas acabaram morrendo nas explosões.

Existem registros da época que mostram testes de minas em paraquedas na área e na época das mortes. Essas minas explodem enquanto ainda estão no ar, o que explicaria os ferimentos nos corpos e a falta de destroços. Além disso, outro grupo de excursionistas que estava em outra montanha diz ter visto estranhos orbes caindo do céu, e esse fenômeno aparece em uma das fotos do grupo.

Muitos acreditavam que a URSS encobriu tudo, mas na década de 80 foram liberados todos os arquivos do caso e não havia nenhuma menção à testes militares, nem mesmo o de minas em paraquedas, que já era confirmado anteriormente.


Fotografia que mostra algo estranho no céu, encontrado na câmera de Yuri Krivonischenko


4. YETI:

O Yeti, também conhecido como Abominável Homem das Neves, é uma criatura mitológica que habitaria as cordilheiras do Himalaia e a Sibéria. Ele seria um grande macaco, com pelos brancos e presas salientes. Segundo essa teoria, o grupo teria sido atacado por essa criatura. A “prova” seria uma foto encontrada em uma das câmeras: a imagem um tanto desfocada mostra um ser bípede perto de uma árvore.


Uma das fotos mais estranhas encontradas nas câmeras do grupo é a do suposto Yeti


Essa teoria foi endossada por um documentário do Discovery Channel intitulado “Russian Yeti: The Killer Lives”, que apontava que o mostro poderia ser o responsável pela morte dos esquiadores. O documentário foi bastante criticado por usar a morte real de pessoas para encaixar uma teoria sem fundamento, o que soava até um pouco desrespeitoso.

Ao longo dos anos, várias expedições foram feitas na tentativa de comprovar se o Yeti existe ou não, registrando pegadas e coletando amostras de pelos, mas nunca conseguiram chegar a uma conclusão. Em 2013, o professor de genética da Universidade de Oxford, Bryan Sykes, testou amostras de pelos consideradas do Yeti e concluiu que eram de espécies de ursos que habitavam a região, ou de híbridos entre eles.


Representação de um Yeti


5. VENTOS CATABÁTICOS:

O vento catabático acontece quando ar frio que está sobre uma geleira ou uma área montanhosa começa a “descer”, formando uma corrente de vento que fica mais forte conforme vai do lugar mais alto para o mais baixo, quase como uma bola de neve que aumenta de tamanho conforme vai descendo a montanha. Em 1978, esquiadores da Suécia foram surpreendidos por ventos catabáticos de mais de 70 km/h, e somente um deles sobreviveu ao vento e ao frio intenso. Em 1992, o país registrou ventos catabáticos de 290 km/h na estação de pesquisa de Tarfala.

Caso o grupo tenha sido pego por um desses ventos, não daria tempo para eles se vestirem e procurarem um abrigo melhor. Além disso, a barraca não era construída para suportar ventos tão fortes, e o única coisa que eles poderiam fazer era correr para fora. Apesar da força do vento explicar alguns ferimentos encontrados nos corpos, os mais graves teriam que, necessariamente, ser causados por outras condições.


Vento catabático registrado na Antártida


6. OVNI:

O período da Guerra Fria foi um dos maiores quando falamos em avistamentos de objetos estranhos no céu. Muitos são explicados através de valões meteorológicos ou aviões secretos testados pelos militares, mas alguns casos ainda intrigam os ufologistas.

Segundo essa teoria, o grupo acabou se assustando com a aparição de uma nave espacial, todos correram para fora da barraca, e acabaram morrendo de hipotermia. Isso explicaria os orbs estranhos observados pelos esquiadores da montanha do lado, e também a radioatividade encontrada nas roupas. Além disso, uma foto (de muita má qualidade) mostraria algo de forma circular, que muitos acreditam se tratar do OVNI.

A verdade é que, por mais que se acredite em vida extraterrestre, até hoje não existe nenhuma prova da existência de discos voadores.


Para os que acreditam, o grupo conseguiu fotografar um OVNI; para os céticos, é a imagem do diafragma de oito lâminas da lente


7. AVALANCHE DE PLACAS:

Uma das teorias oficiais do governo soviético era de que uma avalanche desencadeou a saída dos jovens da barraca. Entretanto, cientistas apontam que o fenômeno deixaria mais evidências espalhadas pelo local, e que a região onde eles acampavam não tinha o declive mínimo para a formação de uma avalanche. Em 2021, porém, dois cientistas suíços, Johan Gaume e Alexander Puzrin, publicaram um artigo na revista Communications Earth & Environment, mostrando que o grupo poderia ter sido vítimas de um tipo raro de avalanche chamada de “avalanche de placas”: ela acontece quando existe duas camadas de neve, uma mais antiga e mais concentrada, e outra mais recente, e mais solta. Um vento mais forte poderia fazer com que a camada de cima se desprendesse e deslizasse.


A avalanche de placa costuma ser mais localizada, porém muito mais forte que uma avalanche comum


Quanto aos ferimentos, os autores argumentam que a força de uma avalanche desse tipo é tão grande que seria capaz até mesmo de quebrar ossos. Outros ferimentos, como a falta de olhos e de língua, poderiam ter sido causados por animais após a morte, já que esses tecidos moles são os primeiros a serem consumidos. Quanto a falta de vestígios, simulações de computador mostraram que a avalanche pode ter sido pequena e repentina, e que quando os investigadores chegaram semanas depois já era tarde demais.

Algo bastante curioso é que os cientistas utilizaram a animação da neve do filme “Frozen - Uma Aventura Congelante” para desenvolver a simulação usada no estudo. Johan e Alexander, que trabalhavam no Laboratório de Simulação de Neve e Avalanches da Escola Politécnica Federal de Lausane, ficaram bastante impressionados com o movimento realístico da neve no filme, e decidiram entrar em contato com os animadores responsáveis. A convite da Disney, Johan viajou até Hollywood para conhecer o especialista responsável pela animação da neve e entender como funcionava o algoritmo usado no filme.


"Frozen" ajudou a construir o modelo para a teoria da avalanche de placas


Vocês lembram que uma das pessoas do grupo original decidiu voltar no meio do percurso? O único “sobrevivente” foi Yuri Yudim, que tinha 21 anos na época e cursava Engenharia e Economia. Como falei anteriormente, ele estava com muitas dores e decidiu não seguir a diante. Antes de ir embora, ele ganhou um ursinho de pelúcia da Lyudmila, que era sua melhor amiga da época.

Durante sua vida, Yuri deu muitas entrevistas sobre o caso e nunca se casou, o que levantou uma teoria de que ele era apaixonado pela amiga. Ele também se culpou muito por não ter salvado seus colegas, e acreditava na teoria de que eles morreram por causa de testes militares secretos. Ele morreu em abril de 2013, aos 75 anos.


Yuri desistiu da caminhada e acabou sobrevivendo: ele morreu 54 anos depois acreditando na teoria dos testes militares


Em 1990, o promotor Ivanov, que já estava aposentado, publicou um artigo afirmando que tinha sido pressionado a encerrar rapidamente o caso e não incluir suas opiniões e constatações sobre o ocorrido. Ivanov era entusiasta da ufologia e acreditava que a morte do grupo estava de alguma forma associada com OVNIs.

Em 2000, parentes e amigos das vítimas fundaram a Dyatlov Group Memorial Foundation. O objetivo é sempre lembrar da memória das vítimas e buscar a verdade do que aconteceu. O presidente da fundação é um homem chamado Yuri Kuntsevich, que tinha 12 anos na época do caso. Ele estudou e virou professor da mesma universidade que os esquiadores estudavam. O grupo também lidera excursões ao Passo Dyatlov.

Em fevereiro de 2019, 60 anos depois das mortes, o caso foi oficialmente reaberto pela procuradoria da região de Sverdlovsk. A notícia foi informada pelo porta-voz do gabinete do Procurador-Geral, Alexander Kurennoy. As novas investigações concluíram que a teoria de uma avalanche era a mais provável (isso antes da teoria da avalanche de placas), e o caso foi fechado novamente.



• FONTES: CNN, CTV News, ScienceAlert, The Atlantic, All That's Interesting, BBC, IFLScience, Vox, The New Yorker, History, National Geographic, Reuters, Interesting Engineering, Insider, Vice, Ermak Travel Guide, The Moskow Times, Things I Learned Last Night, 1079: The Overwhelming Force of Dyatlov Pass, Superinteressante, UOL.

632 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page